No
meio das tremendas lutas em que nós, Integralistas, nos empenhamos no ardente
desejo de criar a Nação Melhor;
Por
entre as perfídias, ironias, sarcasmos, injúrias, mentiras, calúnias, sofismas,
perseguições e violências que se mobilizam para humilhar-nos, ferir-nos,
oprimir-nos;
por
entre as confusões e as dúvidas do momento atual, os sobressaltos de cada
instante que no seio das famílias sopram como ventos álgidos;
diante
do espetáculo de dissimulações, de dolosas reservas, de silêncios criminosos,
falsas palavras, vagas ameaças, traições e ruínas da hora presente;
-
eis que é preciso, durante, ao menos uma hora, dessarilhar armas, folgar
sentinelas ao mundo exterior, aplacar este elã revolucionário que nos impele
para meditarmos um pouco sobre Aquele cuja morte comemora esta semana toda a
Cristandade.
Abstrair
um pouco dessas preocupações de lutas concretas iminentes, de perigos
inevitáveis, de maldade dos que, para combater-nos, não escolhem armas, das
conjurações de que nos cercam os inimigos da Pátria, e volver os nossos olhos
para dentro de nós mesmos, para aí surpreender novas legiões de inimigos do
nosso próprio Ideal.
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Quando
penso que a massa Integralista, constituída hoje de mais de 400.000 homens, é
feita do mesmo barro humano de que são feitos os nossos adversários. E que só a
vaidade estúpida nos poderá insinuar que somos diferentes;
quando
considero que pesa sobre esse verdadeiro exército de Camisas Verdes a
responsabilidade muito maior, a dos que tiveram ocasião de se aproximar mais de
perto da verdade e da graça que Deus nos deu de compreendermos as causas desses
horríveis efeitos da anarquia social;
quando
medito sobre isso, ó Camisas Verdes, sinto que os nossos mais temíveis
adversários são as nossas próprias condições humanas, a rebelião dos nossos
instintos, a tendência desagregadora que temos de conter, com vontade de aço,
em nosso próprio mundo interior.
Estas
são as minhas palavras na Semana Heroica. Este é meu grito de sentinela dentro
da noite carregada de trevas do Desconhecido Mundo, do Ignorado Universo em que
refervem as larvas do limbo da terra de que proviemos, na escuridão dos nossos
tenebrosos mistérios interiores.
Estas
são as minhas palavras, como as sirenes das naves na cerração traidora; como o
alarme do sineiro na noite tétrica; a voz do aviso...
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Esta
Revolução Integralista é, principalmente, dirigida contra nós mesmos. É um
movimento de libertação. Que cada um se liberte de si próprio. É movimento de
humanidade. Que cada um procure se conhecer e corrigir. É movimento de
patriotismo. Que cada um procure um modelo de vida mais adequado à harmonia
social e à felicidade nacional. É afirmação de espiritualismo. Que cada um
conheça as cadeias que o prendem à tirania da matéria, para se livrar delas na
ânsia suprema do infinito.
Se
este movimento Integralista pretende salvar o nosso Brasil, se pretende fazer
dele a Grande Nação objetivadora das supremas finalidades do Homem, cumpre, ó
Integralistas, que conheçamos a fundo as causas das desgraças que se abatem
sobre nossa Pátria, procurando combate-las, não somente no que vemos em redor
de nós, porém, muito mais, no que existe dentro de nós.
Esta
é a Semana do Sacrifício. Sacrifiquemos as nossas vaidades. Esta é a semana das
meditações: meditemos sobre as enfermidades morais do mundo e do nosso país.
O
mundo está doente de covardia e traição. O mundo está roído de orgulho e de
rebeldia. O mundo está engorgitado de cólera e despeito.
A
reunião de Stresa será nos séculos vindouros considerada ridícula e reveladora
de um estado de espírito mórbido, tão mórbido como o pavor recíproco da
Inglaterra, da Rússia, da Alemanha, da França e da Itália.
Ninguém
mais acredita na letra dos tratados, na ordem interna dos povos, na ordem
externa, internacional. A China está em chamas; descem no solo da África as
legiões romanas do Fascio; a América do Sul está incendiada e ensanguentada; a
Rússia mantém o maior exército do mundo; a Alemanha se arma e o Japão se
prepara. Todos se temem, nas relações internacionais. Ninguém fala a verdade. A
diplomacia é ainda a velha arte de enganar. A economia está nas mãos de grupos
particulares jogando com a sorte do mundo. A imprensa, o cinema, o rádio, todas
as formas de publicidade, ao serviço do espírito das trevas, da confusão, da
mentira e do escândalo. Os povos se desesperam. No desespero, armam-se. A luta
se prepara mais terrível do que nunca.
E,
enquanto isso se passa no mundo, como vai nosso país? Nosso Brasil vive o
instante mais triste, mais desmoralizador, mais tenebroso. Entramos na época do
despistamento. Nunca a política foi mais pérfida, mais perturbadora nas suas
tramas, mais indigna na falta de cumprimento de seus compromissos, mais torpe
nas suas conspirações e nas suas desumanidades.
Nunca
se viu um tempo tão escuro, em que já não se pode escrever o que os homens
falam, nem se pode confiar naquilo mesmo que eles escrevem. Chegamos a tal
ponto que se criaram duas sortes de opiniões e pareceres: uma para efeito da
imprensa, outra apara efeito particular. Mas as próprias opiniões particulares
se dividem em duas castas: uma para iludir, outra para enganar. De sorte que já
ninguém confia, ninguém fica tranquilo a respeito da palavra de seu semelhante.
Ilude-se
o povo diariamente. Inventam-se mentiras que ele engole; injúrias e calúnias
que o envenenam e boatos que o animam ou aterrorizam. As correntes políticas se
infiltram mutuamente. Multiplicam-se os espiões. Proliferam os segredos e
cochichos. Agitam-se as ambições, as vaidades, os orgulhos. Hipertrofiam-se os
personalismos dissolventes. O medo recíproco arma ciladas recíprocas. Os
recíprocos ódios preparam botes mortíferos. O cinismo impera. A aflição popular
aumenta. A desilusão fere os menos maus. O ceticismo anula os esforços. O
materialismo cai sobre todos como um crepúsculo.
Esse
é o panorama da nossa Pátria.
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E,
pois, que os Integralistas se propõem, no meio de tudo isso, impor ordem à
Nação, iniciar uma época de reabilitação de cada um e de todos, é necessário
que cada Camisa Verde se coloque em atitude de penitencia diante do Eterno,
pedindo-lhe para sua fraqueza, energia; para a sua vaidade, humildade; para seu
ódio, coração limpo; para suas ambições, capacidade de renúncia; para seu
instinto de prazeres materiais, a aspiração de alegrias superiores.
Camisas
Verdes, fazei a revolução interior. Não confieis em vós mesmos, porém, nas
virtudes da raça e na graça do Altíssimo. E uma vez que não há modelo na terra
que vos sirva de padrão para vosso esforço no rumo do “perfeito”, lembrai-vos
do Inocente que foi pregado na cruz. Ele é o cordeiro que tira os pecados do
mundo. Só ele nos poderá indicar os seguros caminhos. O mundo esqueceu-se dele.
Por isso é que o mundo está morrendo de medo recíproco. Todos os pactos
internacionais exprimem a covardia do século. Toda a agitada, dolorosa e
humilhante vida nacional que vivemos, entre traições e misérias incríveis,
origina-se das mútuas ambições, dos mútuos ódios, das perfídias e felonias
recíprocas, da falta de coragem, enfim, para dizer alto o que se pensa.
Ora,
toda lição de coragem está na morte do Nazareno. Porque a verdadeira coragem
não é sair armado para encontrar outro homem armado, mas é sair desarmado para
morrer. O Integralismo que está na rua, desde o Manifesto de Outubro, não sairá
das ruas, em hipótese nenhuma, disponha dos elementos que dispuser, encontre-se
em que circunstâncias se encontrar, tenha que enfrentar as perseguições que
vierem; haja de contar com as incompreensões que surgirem; com as infâmias que
lhe assacarem, com as calúnias com que o ferirem e com as violências com que
pretenderem abate-lo.
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Se
o mundo está morrendo de medo e se nossa Pátria está definhando de terrores
generalizados, onde poderemos ir buscar coragem senão n’Aquele que foi o mais
corajoso e que perguntou a Pedro, quando este fugia de Roma: “Para onde vai?”
Se
os homens se calam de medo uns dos outros, é preciso que falemos claramente a
cada um e a todos em conjunto, sempre as mesmas coisas e cada vez mais nítidas.
Se
os homens usam a técnica do despistamento, inauguremos a técnica da franqueza.
Se as coisas neste país se concertam nas trevas, concertaremos as nossas à luz
do sol. Que queremos nós? Uma Pátria cristã; paz nacional pela função política
das corporações; o respeito à autoridade oriunda não das trevas das revoluções
e das traições à palavra dada, mas oriunda das claras e solares campanhas de
formação da consciência popular; a disciplina nacional; o prestígio do Brasil
no Exterior; a consciência do dever para cada um, da dignidade e liberdade da
pessoa humana; a grandeza da Nação, fundamentada na trilogia sagrada: - Deus,
Pátria e Família. Acaso constituirá isso um crime? Se é crime, a Pátria
Brasileira já foi dissolvida; se tal não se dá, por que temermos? E se falarmos
sempre a verdade, se não iludirmos nosso próximo, nem a nossa consciência,
tenhamos certeza, ó Camisas Verdes, que os olhos dos nossos adversários não
verão, mas os olhos de Deus nos enxergam no fundo de nossos espíritos e é a Ele
que teremos um dia de dar contas de quanto fizermos e de quanto pensarmos.
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Para
fazermos tudo isso, poderemos confiar exclusivamente em nós? Que vaidade
imbecil terá entrado no coração Integralista que possa levá-lo a exclamação: eu
sou perfeito! Ninguém é perfeito neste mundo e o mais que poderemos fazer é nos
julgarmos diariamente com severidade antes de julgarmos o próximo. E pedirmos à
Energia Eterna, à Soberana Vontade que nos dê fortaleza para imitarmos, ao
menos de longe, o modelo de todos os modelos, a luz de todas as luzes.
Essa
batalha tremenda nós só poderemos ganha-la contra nós mesmos, pela meditação
diária, na hora dos profundos silêncios e desamparadas solitudes, sem outro
ponto de referência senão nossa própria luz interior, acerca da vida d’Aquele
que foi injuriado pelos maus, que foi guerreado pelos políticos do tempo, que
foi caluniado como perdulário por Judas Iscariotes, como comilão e beberrão,
pelos fariseus escandalizados porque Ele se sentava à mesa dos publicanos, como
desordeiro violento, pelos mercadores do Templo, como transgressor das leis de
Moisés, pelos Sumos Sacerdotes, como inimigo das tradições nacionais pelos
escribas, como revolucionário, anarquista, charlatão e louco, pelas autoridades
romanas.
A
linha do equilíbrio entre a justiça e a misericórdia, entre o coração e a
razão, entre a bondade e a violência, entre a brandura e a energia, entre o
perdão e o castigo, entre a humildade e a autoridade nunca teve um desvio de
milímetro na vida extraordinária do Inocente imolado aos pecados do mundo.
Integralistas,
eu sei que sois fracos, sei que ainda não sois Integralistas, sei que estais
longe do que desejamos todos ser. Eu sei, Camisas Verdes, das vossas
inquietações e dos vossos remorsos, quando verificais que não estais procedendo
integralisticamente.
Que
sabemos nós? Que somos nós? Que nos falta? Como proceder de modo a sermos
Integralistas capazes de realizar a Grande Revolução?
Não
julgueis, Integralistas, que eu não vos conheça, um a um, desde os mais
graduados aos mais obscuros. A circunstância do lugar onde me encontro na
direção do nosso movimento me oferece os dados acerca de todos vós. E, em
verdade, penso que muito deveis de vos esforçardes para que consigais merecer o
título de Integralista.
Nesta
Semana do Sacrifício e do Heroísmo, a Semana da Morte de Jesus, da sua Paixão,
pensei muito em vós e em mim próprio. Pensei em nosso Brasil.
Agora,
que dois mil anos se passaram, e que vemos o espetáculo da Idade Contemporânea,
todas as desgraças e todos os desesperos que desabam sobre os povos, como
furacões e terremotos, compreendemos bem as causas das infelicidades universais
e nacionais. Elas se originam, exclusivamente, da nossa pouca atenção, do nosso
esquecimento, acerca dessa Vida, que é modelo de indivíduos, de famílias, de
nacionalidades e de humanidade.
Camisas
Verdes! Possa o nosso Brasil, na alvorada de uma ressurreição, no milagre de um
movimento que pertence menos a nós que aos Desígnios Eternos, levantar-se na
glória de um Grande Império, iluminado pela verdade imortal, e tendo nas mãos a
chave dos segredos políticos e sociais que, afinal de contas, é modelada pela
mesma pequenina chave com que cada um de vós, à força de meditação e de
sacrifício, de coragem e de fé, abrirá as portas misteriosas do próprio coração.
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Publicado em “A
Offensiva”, Rio de Janeiro, Ano II, Nº 49, 20 de Abril de 1935, páginas 1 e 2.
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