Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
Questão de honestidade (27/10/1936)
Plínio Salgado
Suponhamos
que temos diante de nós um Jornal de Paris. Esse jornal traz um artigo sobre o
Rio de Janeiro. O artigo diz assim:
"O
Rio de Janeiro é uma cidade populosa, com quinhentos mil habitantes. É banhada
pelo Oceano Pacífico, que forma ali a graciosa baía chamada Porto Seguro.
Algumas montanhas emolduram a paisagem daquela capital, entre elas as Montanhas
Rochosas, salientando-se um vulcão chamado Chimborazo. Na ocasião em que visitamos
aquela cidade argentina, que é capital de S. Paulo, não pudemos apreciar a arborização
das avenidas, porque estávamos em pleno inverno, achando-se as arvores completamente
desfolhadas. O povo do Rio de Janeiro é constituído por negros da raça
Moçambique e Peles Vermelhas da raça dos Incas. Há também japoneses, cuja colônia
é considerável, e chineses, em menor escala. Entre as belezas naturais se encontra
um lago denominado Mar de Espanha e uma cascata cujo nome é Sete Quedas. A
cidade possui vários monumentos, entre os quais uma estátua em honra a Napoleão
Bonaparte, que fica no bairro do Bom Retiro, à rua da Praia, próximo ao
elevador da Bahia. Um dos passeios mais interessantes é o que se faz pelo rio
Amazonas, sendo muito pitoresca a ilha de Martim Garcia. Etc. Etc.".
Lidas
estas linhas, o leitor, que mora no Rio de Janeiro, tem nos lábios, apenas,
esta palavra, incandescida pela revolta:
Desonestidade!
Pois
bem. Em relação ao Integralismo é o que lemos todos os dias.
Os
nossos inimigos nos atacam diariamente. E, todos, sem exceção, demonstram
desconhecer completamente o assunto de que tratam.
Querem
dar aos seus leitores a descrição de um aparelho telegráfico e descrevem, para
esclarecê-los, uma máquina de descaroçar algodão. Querem explicar o que seja
uma máquina de escrever e descrevem uma cafeteira.
Poderíamos
dizer: é ignorância. Não podemos, porque se trata de homens que sabem ler e
escrever. Temos de empregar outro termo. E o termo é este:
-
Desonesto.
O
Integralismo já publicou 52 livros. Esses livros já têm sido objeto de estudos,
de críticas, de elogios, de divulgação na Argentina, no Chile, no Uruguai, na
Venezuela, em Cuba, nos Estados Unidos, em Portugal, na Alemanha, na Itália, na
França. Ainda há dias me contava o herói da aviação francesa, Mermoz, que ele
próprio, que pertence aos "Croix du Feu", já traduziu um livro de
Gustavo Barroso. O reitor da Universidade de Cuba me escreveu, há cerca de um ano,
pedindo mais livros integralistas, pois já conhecia outros. No "Diário de
Notícias", de Lisboa, Malheiros Dias, grande intelectual e diplomata,
publicou um longo estudo sobre os meus livros integralistas. Revistas do Chile
transcrevem capítulos de nossas obras. Em Buenos Aires é publicado em castelhano
o "Manifesto de Outubro". Dias atrás, o escritor Leon de Poncins enviava
a mim e Gustavo seus livros, com referências entusiásticas aos nossos. Enfim,
seria escrever páginas e páginas para contar um pouco da repercussão dos livros
integralistas no Exterior.
Quanto
ao Brasil, basta dizer que, somando-se as edições de todos os livros
Integralistas, já atingimos uma tiragem de mais de trezentos mil exemplares, e
não sou eu quem o afirma. Que os honestos, - é claro que não me refiro aos
nossos detratores que são homens sem moral, sem dignidade e charlatães do jornalismo
e da tribuna - peçam os dados estatísticos aos seguintes editores:
"Civilização Brasileira", "Schmidt Editor", "Editora
José Olympio", "Livraria Odeon" (S. Paulo), Antunes & Cia.,
Revista "Panorama", "Editora Verde Amarelo" e verificarão
que os mercados brasileiros consomem centenas de milhares de nossos livros.
Além disso, publicamos vários jornais diários e cerca de uma centena de semanários.
Todos falam da nossa doutrina.
Porém
fazemos mais: realizamos semanalmente, em cada Núcleo do país (e são 3.000)
conferências doutrinárias, são 12.000 conferências por mês. São 144.000 por ano.
Do
"Manifesto de Outubro" publicamos, desde 1932, mais de dois milhões
de exemplares; do "Manifesto-Programa", desde o começo deste ano,
mais de 200.000 exemplares.
Note-se
que todos os Núcleos fazem publicações de folhetos e panfletos doutrinários.
Aqui
no Rio, temos realizado vários cursos sobre História, Direito, Economia,
Finanças, Filosofia, Arte.
Tudo
isso para explicar o que é o Estado Integral, muitíssimo diferente do Estado
Totalitário. Tudo isso para demonstrar que não adotamos a técnica de Sorel, pois
Sorel é darwinista, é materialista, e nós somos espiritualistas.
Tudo
isso para provar que não somos inimigos da Democracia, pelo contrário, somos os
seus salvadores, pois a Democracia foi morta por insuficiência de seus órgãos,
e nós queremos criar novos órgãos para revitalizar a Democracia.
Tudo
isso para tornar evidente que respeitamos a "pessoa humana", que
fundamos nossa doutrina no principio do livre-arbítrio, que a liberdade do
homem é o maior dom de Deus e que nós queremos justamente um sistema democrático
que possa garantir a intangibilidade da pessoa humana.
Repetimos
mil vezes que nada temos que ver com fascismo nem hitlerismo, que somos coisa
diferente.
Miguel
Reale escreve um livro notável que é elogiado pelos homens mais cultos do país
e do Exterior; Gustavo Barroso que encanta os espíritos mais cultos e elevados
deste e de outros países; Jayme Regalo prova, em centenas de páginas claras e insofismáveis,
que desejamos uma Democracia; eu escrevo, escreve uma plêiade de valores novos.
Tudo está batido e rebatido, pisado e repisado, já nos fatigamos de chover no
molhado. E, ao cabo de tanto escrever e de nossos editores lançarem ao mercado
edições sobre edições, pois somos hoje a mais procurada literatura nas praças
do país, vem um idiota pretendendo dar lições a homens do valor de mais de uma
centena de professores de Faculdades Superiores do Brasil, a querer ensinar o
Padre Nosso para o Vigário, explicando que o Estado Totalitário vem de Hobbes e
quejanda.
A
palavra "idiota" não calha bem. Desonestos é que são todos aqueles
que discutem sem conhecer o assunto de que tratam.
E é
isso exatamente o que está desgraçando com o Brasil. A falta de honorabilidade
dos foliculários e dos discursadores chegou ao extremo neste país.
Que
sejamos atacados, está muito bem. Mas que sejamos atacados pelos que conhecem o
que seja o Integralismo, e conhecendo, tenham competência para discuti-lo.
A
desonestidade neste país de articulistas sem caráter só conhece dois métodos:
atacar sem conhecer; ou atacar, conhecendo e torcendo, mentindo,
miseravelmente.
A
inteligência de certos jornalistas passados da moda, dessas solteironas da
Imprensa, que se tornam histéricas diante dos valores novos que surgem, é uma
inteligência de voo rasteiro, incapaz de acompanhar os surtos do Pensamento
Novo.
Não
poderei explicar a essas bruxas de jornal o que seja Estado Integral, porque
elas não compreenderiam e levariam toda a noite a coçar as próprias orelhas com
os cascos; não poderei dar a essas comadres alcoviteiras uma ideia da diferença
entre o Estado Totalitário e o Estado Integral, pois a menopausa lhes perturba
o entendimento.
Dir-lhes-ei,
pois, sinteticamente, para que guardem e aproveitem esta definição:
Senhores
Jornalistas ignorantes ou venais, o Estado Integral é aquele dentro do qual os
senhores, ao invés de estarem aborrecendo a paciência dos que querem trabalhar
pela Pátria, estarão na cadeia, que é a lugar dos que vendem a consciência aos
sindicatos estrangeiros.
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 27
de Outubro de 1936.
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