quinta-feira, 8 de junho de 2023

Pequenos aspectos da vida brasileira (14/01/1937)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Pequenos aspectos da vida brasileira (14/01/1937)

Plínio Salgado

Na vasta planície do noticiário dos jornais, há relevos ásperos, porém, não há altitudes. A ventania das "manchetes" e dos títulos de escândalo tenta levantar a poeira a alguns metros; mas a cisalha recai. Nada se eleva. Nem a virtude, nem o crime. Falta energia à virtude, falta força ao crime. E, por mais espalhafatosos que sejam os vespertinos e os matutinos, eles já não conseguem mais do que o bocejo fatigado dos leitores...

A política... Mas a política já não tem pontos de referencia. Já não há caráter definido nas correntes. As personagens se descaracterizaram. Os partidos se diluíram. As cores se confundiram. E, tanto se afirmaram e desafaimaram, tanto se comprometeram e descomprometeram os homens públicos, que, afinal, ninguém mais pode dizer, com certeza, em que arraial assentam as suas convicções.

Havia certos meridianos, que marcavam os rumos da hora política, certas figuras que permitiam ao observador levantar a topografia dos acontecimentos; esses meridianos já nada indicam, essas figuras nada mais significam.

Na contradança dos últimos anos, os pares se misturaram, se trocaram e destrocaram tantas vezes, que se tornou impossível ao dançarino saber com quem está valsando. Tudo se embaralhou. É a grande confusão. A própria lógica rasteira dos interesses não sabe para onde se virar. O espetáculo político perde completamente, não apenas o interesse nacional, mas até o interesse jornalístico, o valor da reportagem.

Todos sabemos que o que se está passando ostensivamente nada significa, porque as coisas importantes devem passar-se no escuro tenebroso dos conchavos e das conspirações.

As marchas e contramarchas misteriosas parecem, então, aos olhos ávidos de curiosidade do público, alguma coisa decisiva e grave, ou, pelo menos, clara, compreensível.

Se penetrarmos, porém, nesse campo, secreto das confabulações onde se preparam, nos países onde a democracia legítima deixou de existir, as surpresas para os espectadores passivos e bestificados, então a nossa desilusão será ainda maior.

A conspiração, o corrilho, a carpintaria dos bastidores, nós bem sabemos que constituem o que há de mais vil, de mais infame, de mais humilhante, nos países em que já não é possível a prática leal e dignificadora dos processos democráticos na solução dos problemas políticos. Em todo o caso, isso ainda é um sinal de vitalidade de um grupo oligárquico, o reduto da vitalidade mórbida de uma Nação.

Quando, como acontece entre nós, esses mesmos expedientes de um grupo vivo em face de um Povo morto, tornam-se inexequíveis, impraticáveis, é que se tem chegado ao extremo das degradações políticas.

Estamos em meados de janeiro. Ninguém teve coragem de dizer, claramente, que é candidato à presidência da República. Porque ninguém encontrou forças ponderáveis de apoio. Essas forças estão em criminosa disponibilidade, como uma mercadoria exposta à venda, à mercê do martelo e do maior preço.

Quem está com o sr. Armando de Salles Oliveira? Quem está com o sr. Macedo Soares? Quem está com o "tertius", que manobra, remanobra, desmanobra, contramanobra, aguardando o momento de lançar-se? E quem está com o "super-tertius", do qual todos falam em cochichos?

Por que não se lançam os candidatos? Qual a razão porque se deram desincompatibilizações ostensivas? Os desincompatibilizados ainda não reuniram elementos? Por que não lhes falam, em linguagem positiva, os chefes de partidos, principalmente os chefes de partidos oficiais que são os governadores dos Estados?

A depressão moral do povo brasileiro é evidente depois dos rasgos das desincompatibilizações do fim do ano. O povo esperava alguma coisa. Ou não se tratava do problema, conforme desejava o sr. presidente da República, ou se tratava varonilmente, desassombradamente.

Tem-se a impressão de que todos, de um lado e de outro, estão em becos sem saída. Assistimos, bem antes do Carnaval, ao mais trágico dos bailes de máscaras.

As consequências deprimentes no caráter do povo são fatais, mediante esta singular situação de parceiros a contar fichas, a examinar as cartas, sem dizerem logo que jogo fazem.

E fala-se em educar o povo brasileiro. Fala-se em elevar o nosso nível moral. Fala-se em instrução moral e cívica...

Pobre Brasil!

Enquanto isso se passa, os comunistas desrespeitam os Tribunais; os comunistas são postos em liberdade e reassumem os postos onde envenenam as massas populares: os comunistas fogem das prisões; os comunistas se articulam e zombam deste pobre país...

Não tenho dúvida nenhuma. Só vós, integralistas, representais hoje a alma da Nação. A alma dolorida, a alma angustiada, Só vós, mil vezes negados pelos inconscientes, perseguidos pelos agentes do Komintern, e que trabalhais, firmemente, perseverantemente, pela revitalização da Pátria.

Que existe, hoje, além de vós, no cenário político do Brasil, capaz de exprimir atitudes nítidas, posições assumidas irrevogavelmente, desinteresse, coerência doutrinaria, caráter definido, decisão irrevogável? Sois a última esperança do Brasil!

 

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 14 de Janeiro de 1937.

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