Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
Ariel e Caliban (26/04/1936)
Plínio Salgado
Espírito
alado de Ariel, alma leve da luz, que é o perfume sutil dos altos sentimentos e
energia vital das vontades ardentes, quem poderá compreender sua origem misteriosa
e o segredo de sua força imortal?
Pesado
fardo de instintos, de desesperos, de dores, de revoltas, de aflições, corpo
gigantesco de Caliban, quem, senão Ariel poderá envolvê-lo, dominá-lo com o
magnetismo das supremas energias e guiá-lo, como os que guiavam, na pista romana,
as quadrigas frementes de brutalidades cegas?
Tudo
o que é luta cruel, no bojo das massas humanas, ou no recesso mesmo do Ser;
conflagração de desejos e violências, de gritos da matéria em atrito consigo própria,
de clamor de emoções e estrupido de paixões arrebatadas; tudo o que ateia as
batalhas tremendas dos grupos sociais entre si, dos partidos em guerra, dos
homens em mútua desconfiança, das consciências em tormenta que os contrastes
dos conceitos e dos sentimentos incendeia; e tudo o que se exprime, na
brutalidade e na incompreensão, na inconsciência e na demência, a crueldade esmagadora,
- tudo isso, o espírito imponderável, diáfano, sem peso, sem medida, sem
substancia, irrevelável às interpretações grosseiras do Universo, toma, como
quem toma um volume de argila, para plasmar eternos ritmos e supremas
harmonias!
*
*
*
Esta
nossa luta, camisas-verdes da Pátria, é a revelação diária, hora a hora, minuto
a minuto, do mistério de Ariel.
Ariel
está vivo, está presente, está atuando, está agindo, está conduzindo, está, cada
vez mais, dominando.
Caliban
se agita, se contorce; seus músculos formidáveis se retesam, sua face estampa
os rictus das revoltas surdas; suas narinas ofegam; seus nervos vibram; suas
veias entumecem; uma força tremenda se desencadeia dele. Mas a voz de Ariel é límpida
como as estrelas. A vontade de Ariel é decisiva como um raio. O sentimento de
Ariel é harmonioso como a música das esferas. E Ariel comanda. E Caliban
obedece. E Ariel deseja. E Caliban executa. O fascínio de Ariel é o misterioso
segredo da rota dos astros.
*
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Quando
Caliban pensa que dominou, que venceu, que esmagou Ariel, é exatamente quando
Ariel está senhor absoluto dos músculos de Caliban, que espírito alado -
Pensamento intangível, Sentimento superador -aproveita no plano material para a
execução de seus desejos.
Dentro
do nosso movimento e dentro da Nacionalidade, como no interior de cada um de
vós, o Espírito Imortal exerce o seu magnetismo arrebatador.
Caliban
é a grande massa popular inconsciente; é a massa bruta dos partidos políticos;
é o rancor dos chefes das facções, empenhados em esmagar-vos; é a cólera
abafada dos medíocres, armando-vos ciladas; é a inveja dos pretenciosos, dos
consagrados numa época morta, dos vaidosos de títulos que possuem e de cargos
que ocupam; é a desconfiança de grupos civis, militares, culturais, religiosos,
econômicos, em face da vossa intrépida marcha serena e luminosa; é o braço do
perseguidor; é a mão do que escreve ou assina medidas contra vós; é a mentira
com que vos ferem, a má fé com que vos acusam; é o rosnar da calúnia e o uivar
da injúria; é, principalmente, o peso das indiferenças marmóreas, dos desdéns,
das incompreensões, do letargo plúmbeo de todos os que tombaram no torpor cataléptico
das imobilidades da inteligência, da vontade e do coração.
Ariel
é esta força desconhecida, imponderável que nos conduz e nos consola, que nos
anima e vivifica, que nos inspira a esperança e a certeza nas horas trágicas da
Nacionalidade.
*
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Ariel!
Assim chamaremos à luz do nosso espírito e a esta coisa misteriosa que nós mesmos
não podemos decifrar, cujas origens não podemos precisar, este "não sei
que", esta secreta vibração, este "quase nada", que em nós é
TUDO, fonte de resistência aos sacrifícios, alegria da luta, auréola de
combatentes.
Ariel!
Ariel! Como esta palavra, à falta de outra que exprima o fenômeno da psicologia
integralista, a mística da Humanidade e da Pátria, a intuição das Coisas
Eternas, exprime a majestade dos ritmos perenes sobre todas as efemeridades
precárias!
Quando
lutamos não apenas contra o meio, contra as hordas dos maus, contra uma
civilização, mas, face a face, conosco mesmos, como sentimos Ariel dominando
Caliban!
Caliban,
então, é a nossa tristeza, são as nossas amarguras, são as nossas incertezas,
são as nossas cóleras fulmíneas, é a melancolia que rói, o tédio que tenta
desencantar-nos... É, também, o peso dos íntimos sofrimentos, a trituração da
alma nas horas aziagas, os desgostos de cada instante, os aborrecimentos de
cada dia... É ainda a incapacidade para resistir agruras comuns da existência,
dores morais deprimentes, os sentimentalismos doentios que tentam paralisar
nossa marcha... Caliban são as insuficiências morais de cada um, revelando-se em
impulsos arrebatados, em atitudes de egoísmo, em incapacidades de suportar, em
açodamento, em precipitação, em imediatismo... Caliban vive no corpo da sociedade
e vive dentro do sangue daqueles mesmos que pretendem dominá-lo.
Caliban
é o espírito materialista do Século. Caliban é a negação de Deus. Caliban é a
violência de Sorel e a opressão dos plutocratas, a lei do ódio dos comunistas,
a grosseria de uma sociedade governada pelo sexo e pelo estomago. Caliban é o
imperialismo financeiro. Caliban são os golpes de Estado dos ambiciosos do
Poder. Caliban é a bandeira dos instintos desfraldada contra a bandeira da
alma.
Caliban
é como os filhos de Tubalcain, que constroem hoje arranha-céus e expulsam Deus
das cidades. Caliban é o sofisma científico, opondo- se à verdadeira ciência e às
reais finalidades do homem. Caliban é o peso das consciências atormentadas pela
escravidão dos instintos. Caliban é todo um sentido de civilização que
resplandece nas coisas materiais e entenebrece o coração dos habitantes das
metrópoles.
Caliban
manda apagar as estrelas para acender reclames luminosos. Porque ele é também a
concorrência comercial desenfreada e sem controle de nenhum Poder com base no
Espírito e no equilíbrio humano. Caliban é a materialidade de um século, esmagando
o Homem.
Devemos
lutar, esmagar Caliban? Não: devemos dominá-lo. É a lição de Ariel. E Ariel é a
força imortal que nos conduz.
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Essa
força é cada vez mais viva, quando se tira partido do sofrimento para que ela
resplandeça. É preciso sofrimentos. É preciso muita dor. Sobre a treva das
angustias íntimas, das torturas que sobem do coração e morrem nos lábios, das
agonias em que nos debatemos com a superior elegância de um sorriso, nestes
dias de fim de Civilização, que, em tudo e por tudo, ferem e magoam os que são
contemporâneos, não dos que os cercam, porém, do Futuro, onde novas gerações os
esperam; sobre as tremendas batalhas íntimas que só os loucos desconhecem nesta
fase da História, - alvorece a estrela da manhã. É Ariel. Espírito alado, alma
leve da luz. É Ariel, inspiração divina nos homens de boa vontade. Supremo
dominador das contingências. Perpetuidade sobre as efemeridades. Sentido novo
do mundo, sopro imortal do Verbo.
Caliban
é de chumbo. Tem a cor das tempestades no céu e no mar. Tem a peso dos corpos
gigantescos. Tem a incoordenação dos movimentos. Não conhece lógica. Não
entende os superiores ritmos da harmonia. É forte e poderoso, mas é estúpido e
cego. Não conhece a palavra "construção", porque só aprendeu a
palavra "destruição". Ignora a palavra "paz", porque só lhe
ensinaram a palavra "ódio" Jamais ouviu falar em
"perseverança", porque só age pela "inconstância". Ao
raciocínio responde com o impulso. À ideia, responde com o insulto. Ao
sentimento, responde com a brutalidade. A delicadeza opõe a grosseria; à
virtude, contradiz com o vício, a explosão dos instintos e a cegueira dos
prazeres fúteis.
Ariel
é de luz. Mais imponderável do que a luz. Mais luminoso do que a luz. Mais vivo.
Mais ágil. Mais dominador.
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*
*
Caliban
é a vida em função da morte.
Ariel
é a vida em função da própria vida, eternizada no Espírito.
Dentro
de cada criatura humana, como dentro de cada Nação, o destino de Caliban será o
de ser dominado pela força de Ariel. Essa força não é material, mas governa as
forcas materiais. Essa força é aquela mesma que proveio, certamente, da força
das forças, da energia das energias, e esteve antes das nebulosas, no infinito
dos tempos, engendrando os espaços, antes, muito antes que a matéria clamasse
na sua treva,
Espírito
de Ariel! De Ariel, ou o que quer que sejas! Sentido de harmonia dos mistérios imortais!
Ilumina a minha Pátria e a consciência dos nossos contemporâneos, para que
compreendam o drama dos camisas-verdes! Ilumina, principalmente, os
camisas-verdes para que aprendam cada vez mais, a sofrer, para que neles cintile
por sobre as triturações de todas as dores, a tua luz e a tua força. Caliban é
uma força sem destino, um pesado fardo sem endereço. É a inconsequência e a
cegueira, é a surdez e a insensibilidade de alma. Toma essa força, Ariel,
dá-lhe o supremo objetivo na glorificação do espírito!
Ariel,
enigma, luz que sentimos e energia suscitada dentro de nós pelo destino de uma
Pátria. Toma a ti, Ariel, a missão de nos inspirar. Eis o livro da nossa História
de Poro.
Escreve
a História do Brasil com a tua luz.
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 26
de Abril de 1936.
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