quinta-feira, 23 de março de 2023

A QUESTÃO DO PETRÓLEO (06/03/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal.  Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

 

A QUESTÃO DO PETRÓLEO (06/03/1936)

PLÍNIO SALGADO

“Politique d’abord!”- exclamou Charles Maurras referindo-se a todos os problemas de ordem social e econômica, decorrentes do regime liberal-democrático.

Essa exclamação é de uma clareza meridiana. Nenhum problema poderá ser resolvido si se não resolver preliminarmente o problema político.

Nós, integralistas, entendemos que a nossa única e absorvente questão no momento brasileiro é a solução do problema político. No meio da anarquia, não teremos administração. No meio da luta dos partidos, não teremos autoridade nacional. Não havendo autoridade nacional, teremos de assistir indefinidamente a luta de particulares, defendendo seus pontos de vista, seus interesses pessoais ou de grupos financeiros organizados.

No prefácio de um livro sobre o petróleo, um escritor brasileiro, apaixonado louvavelmente pela questão do petróleo, afirma que os seus patrícios vivem como idiotas, preocupados com LIBERALISMO, COMUNISMO, PATRIONOVISMO, INTEGRALISMO, ANARQUISMO, quando deveriam só se preocupar com o petróleo.

Isso, em bom português, significa, mais ou menos, o seguinte: “O dinheiro é uma coisa muito boa; só nos devemos preocupar com o dinheiro; estamos amarrados por uma corrente de ferro, a um poste; não devemos, porém, preocupar-nos em cortar a corrente, o dinheiro está ali, a vinte metros; é pensar nele e não na corrente que nos prende”.

Esquematicamente, é esse o raciocínio do escritor. Ora, ninguém contesta que o seu entusiasmo pelo petróleo é muito justo. Todos nós sabemos que, pelo menos, durante estes próximos trinta anos, o petróleo ainda valerá muito, uma vez que estamos ainda tão atrasados, que ainda não nos utilizamos de outras fontes de energia. Ninguém dirá o contrário do que afirma o escritor em questão, no tocante à necessidade que temos de descobrir o petróleo. Ninguém, de bom senso, também afirmará que no Brasil não há petróleo. Todos nós sabemos que há e estamos de acordo com ilustre literato: é preciso furar o chão brasileiro.

Nós, integralistas, porém, de há muito nos convencemos de que, no estado atual de coisas, não se resolverá, de modo definitivo, nenhum problema de ordem prática, Haverá sempre os interesses de terceiros influindo na administração, no governo, Travar-se-á a luta entre grupos adversários, à revelia do governo. O povo brasileiro jamais seria beneficiado.

Enquanto não tivermos o Estado Forte, o Estado Soberano, o Estado Capaz, o Estado Responsável, é inútil pretender a solução de problemas dessa natureza.

Estamos com Charles Maurras. Preliminarmente o problema politico: em seguida, os problemas de administração, de técnica.

E estamos de pleno acordo com o escritor que prefaciou o livro sobre a questão do petróleo, quanto à importância do assunto, que é fundamental. Não negamos que exista petróleo no Brasil,

Dizer, porém, que o petróleo é o único problema é subordinar a tese ao seu corolário. Lamentamos que o literato a que me referi não conheça coisa alguma do nosso sistema econômico, não tenha nenhuma vaga noção de economia integralista, sobre à qual publicamos já alguns livros. Si ele tivesse ciência da nossa doutrina econômica, financeira, social e política, não escreveria o que escreveu.

A OFFENSIVA, a respeito do petróleo, abriu um inquérito. Enquanto o Integralismo não é governo, deseja que todos os interessados em matéria de petróleo falem livremente, o que será sempre útil ao país.

Não tomamos partido. Não temos nem predileções, nem interesses. Queremos que o Brasil resolva essa momentosa questão. Sabemos que não será possível com a situação política atual.

Nunca sairemos da discussão estéril, entre interessados e amadores.

O inquérito que este jornal abriu visa, principalmente, focalizar tão importante problema.

Todos devem ser ouvidos. Não apenas os de uma determinada corrente, mas todos os técnicos, todos os versados em matéria de tão alta relevância.

Que ninguém veja na atitude de A OFFENSIVA um compromisso, que seria indigno à nossa orientação de órgão político, ao modo de pensar desta ou daquela facção de técnicos do petróleo. Que todos compreendam, entretanto, o interesse que pomos no debate de um assunto ligado profundamente à economia nacional.

Um assunto de tamanha relevância, como é o do petróleo, deve despertar todas as atenções e mobilizar todas as competências.

É o que esperamos, contando ouvir as opiniões mais contrastantes, em debate franco, esclarecedor, que terá, pelo menos, a vantagem de chamar à atenção do povo brasileiro para um dos mais graves problemas da sua economia.

Publicado no A OFFENSIVA em 06 de Março de 1936.

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