Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível
graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
PSICOLOGIA DE ROMANOFFS (23/02/1937)
Plínio Salgado
Almocei ontem
no restaurante operário que e Integralismo instalou na Gamboa, Rua Sacadura
Cabral. Sentei-me à mesa com meus patrícios estivadores, marinheiros, soldados,
operários de várias profissões. Vivi instantes de pura alegria e íntima
felicidade. Senti bem de perto a significação profunda da grande obra que
estamos realizando, Meditei, finalmente, sobre esta coisa grave: os políticos
brasileiros ignoraram completamente o mais formidável fenômeno social que se
vem processando sem que dele os nossos homens públicos tomem conhecimento.
Lembrei-me do
"diário" escrito pelo último dos Romanoffs, Czar de todas as Rússias,
nas vésperas agitadas da queda do Império e do advento de Kerenski. O imperador
Nicolau II, nesse documento, mostra-se completamente alheio aos factos que se
desenrolavam em torno do Kremlin.
Aquele homem,
que não conhecia sequer as obras de Dostoievski, nem qualquer dos sintomas
denunciadores dos sucessivos estados de espírito do seu povo, anotava, dia a
dia, os acontecimentos de sua vida e, nessas rápidas notícias, nada se encontra
que revele o mais vago conhecimento das realidades nacionais.
"Eu e as
princesas estivemos esta manhã caçando borboletas"; "hoje à tarde veio
ver-me o arquiduque, que se acha bem disposto"; "a czarina passou a
tarde com enxaqueca"; "a manhã de hoje esteve belíssima e fizemos um
lindo passeio". E, enquanto essas linhas eram escritas ao fim de um dia vazio,
sem sentido e sem grandeza, agitava-se a opinião popular, em ondas revoltas de
paixão, desorientavam-se os espíritos, e alguma coisa caminhava, com segurança,
nas trevas. Uma Nação marchava, mas os quadros políticos e administrativos não
sentiam, não percebiam coisa alguma. Tudo rolava monotonamente,
burocraticamente, protocolarmente, com o mesmo ritmo através do qual tudo viera
vindo, desde mais de um século. Funcionários, magistrados, políticos,
militares, afeitos a uma feição de vida, a um hábito adquirido, continuavam a
girar dentro dos mesmos métodos, convencidos de que tudo seria como sempre fol.
*
* *
Eu pensava nestas
coisas, convivendo entre os humildes, os simples, os trabalhadores da minha Pátria.
Convencia-me de que os políticos do Brasil, ainda aqueles que mais se aproximam
de nós, procurando indagar do que somos, da força que representamos, não podem fazer
a mínima ideia do que o Integralismo é neste país.
Não; não é
possível que os chamados homens de responsabilidade, mesmo aqueles que, em
campo adverso, nos tratam com respeito, ou ainda aqueles que demonstram simpatia
por nós, possam avaliar, em toda a sua extensão e profundidade, este phenomeno extraordinário.
A vaidade de
uns, o ceticismo de outros, a falta de tempo ou o indiferentismo de muitos, não
permite que esses homens. (governadores, ministros, embaixadores, magistrados,
altas patentes, senadores ou deputados, comerciantes, industriais, grandes escritores
ou jornalistas) tirem uma semana para examinar, sem nenhum compromisso, este assombroso
fenômeno nacional, ao menos na Capital da República, uma vez que não poderiam
viajar por todo o país.
Eu desejaria
ardentemente que algum desses homens se despisse de quaisquer preconceitos,
como simples curioso, e viesse fazer o que já têm feito alguns estrangeiros ilustres:
"ver para crer". Pois confio tanto no coração dos brasileiros que
estou certo de que, se isso se desse, os nossos visitantes sentiriam profundo abalo
moral e teriam de meditar muito.
Infelizmente,
porém, a psicologia dominante é aquela do último dos Romanoffs. Tudo gira
dentro dos velhos quadros, tudo se condiciona ao mesmo ritmo político do
passado. A guerra que se move contra o Integralismo é feita de desconhecimentos
completos do que somos. Acusa-se sem conhecer; desconhece-se e insiste-se em
permanecer no desconhecimento. E nós vamos crescendo. Vamos aprofundando.
*
* *
Tem-se
encarado o Integralismo apenas do ponto de vista eleitoral. Os 250 mil votos
que levámos no ano passado, nas eleições municipais, fazem com que os políticos
nos computem como uma força respeitável. Eles que estão acompanhando a marcha das
adesões que, diariamente, recebemos e que sabem que só agora estamos
intensificando o alistamento eleitoral estão convencidos de que a soma de
nossos votos representa alguma coisa muito séria para as suas estatísticas, em
referência ao próximo pleito presidencial. A opinião de todo o país é a de que
pesaremos muito nas próximas eleições.
Mas a força
do Integralismo não é apenas essa. A ação dos camisas-verdes se desdobra em
todos os planos da atividade social e humana. Realizamos uma obra de cultura, de
aliciamento e coordenação dos espíritos jovens das elites intelectuais; uma obra
de educação das massas urbanas e rurais, que do ponto de vista cívico e moral,
como físico, através das nossas academias; uma obra de vigilância contra o bolchevismo,
desdobrando-nos em permanente investigação e articulação de todo um serviço secreto
de âmbito nacional; uma obra de nacionalismo sadio, cultuando as tradições da Pátria,
exaltando o entusiasmo pelos nossos heróis, pela, nossa Bandeira, pelo nosso Exército,
pela nossa Marinha, pela Unidade Nacional, ensinando as multidões a cantar o Hino
da Nação e a compreender a grandeza do culto cívico às grandes datas; uma obra
de disciplinação, de compreensão do princípio de Autoridade, de respeito à
ordem; uma obra de assistência social, instalando ambulatórios médicos, farmácias,
gabinetes dentários, escolas de alfabetização e educação, cursos de enfermagem,
serviços de amparo, proteção, colocação, aos desfavorecidos da fortuna.
Tudo isso é
forca do Movimento, mas ainda não é tudo. Porque a base de toda essa grandiosa
construção é a mística, que temos criado, da virtude, da bondade, do dever, da
solidariedade humana, do sacrifício pela Pátria e por Deus. Vivemos dentro dessa
mística. Transformamo-nos, dia a dia. Todos nós, Integralistas, costumamos
dividir a nossa vida em duas partes: antes e depois do Juramento ao Sigma.
Sentimo-nos, dia a dia, mais diferentes do que éramos. Aproximamo-nos,
ansiosamente, das fontes cristãs da vida.
O nosso sentimento,
de uns para os outros companheiros, não é, como nos partidos, de solidariedade
política: é de fraternidade e quase de parentesco. Unimo-nos com espírito de
humildade, de bondade, de perdão, de socorro, de sacrifício e heroísmo. Constituímos
uma grande família.
*
**
Foi esse
sentido profundo de família que me tocou na manhã de sábado, quando almocei com
os primeiros clientes do restaurante "O pão de cada dia", inaugurado
pela A. I. B. na rua Sacadura Cabral, na Gamboa,
O Secretario
Nacional de Assistência Social, companheiro Brito Pereira, teve a intuição
perfeita do alcance da sua iniciativa. É o primeiro passo dado, de um modo decisivo,
para o grande entrelaçamento entre o Integralismo e as classes proletárias. A efetivação
da generosa ideia seguiu um processo simples. O nosso Socorro Verde, com seus próprios
fundos, alugou o prédio e fez as instalações necessárias, nas quais trabalhou,
de um modo comovedor, o companheiro Bruno du Warren. Cada integralista, em condições
de o fazer, obtém, com o seu fornecedor, uma pequena oferta para o restaurante.
São emitidos cupons, que dão direito às refeições, Esses cupons são adquiridos
por todos os que queiram favorecer os necessitados e estes, em vez de receber
uma esmola vexatória, recebem tais cupons. Isso quanto aos absolutamente
desprovidos de recursos. Aqueles, porém, que ganham pouco e dispendem quase
tudo o que ganham em razão dos preços elevados das refeições, encontram, no
restaurante integralista, a mesma refeição que costumam ter, pela metade do preço
que habitualmente pagam. Essa pequena renda vae reunir-se aos recursos para socorro
dos pobres. Quanto a estes, não se sentem aviltados, pois apresentam-se em igualdade
de condições com os que pagam, munidos de seus cupons. Mas o restaurante não é
apenas um restaurante. Os "garçons" tratarão de estabelecer
camaradagem com os frequentadores e verificarão quais os que se acham
desempregados, os que se encontram em dificuldades de vida, os que estão transviados
por ideias dissolventes, os que se entregam a vícios, os que se acham
desanimados na luta pela vida. Depois de orientar esses pobres patrícios,
encaminham-no para as autoridades da Assistência Social da A. I. B. e esta trata
de salvar a criatura humana aos seus cuidados, realizando uma obra que
chamaremos de "recuperação social".
É a primeira
casa, no gênero, que inauguramos nesta Capital. Dentro em breve, muitas outras
estarão espalhadas por todo o Rio de Janeiro. Estamos também cogitando de instalar
albergues noturnos, com a mesma finalidade. Os Núcleos integralistas também
começaram assim, há três anos. Hoje, temo-los em todos os bairros da Capital,
com seus campos de esporte, suas escolas de alfabetização e educação, seus ambulatórios
médicos, suas farmácias, seus lactários, suas bibliotecas. Dar-se-á a mesma
coisa com estas casas de pasto; dentro em breve elas se multiplicarão,
*
* *
Quem poderá
deter um Movimento como o nosso? Só um louco poderá pensar que o Integralismo,
pelo facto de estar registrado como partido político, obedece às mesmas leis de
existência e funcionamento dessas organizações sem permanência, sem alma, sem
idealismo.
A Acção
Integralista Brasileira criou um estado de espírito, uma consciência nova, uma mística
sagrada. Todos nós nos achamos unidos por estes dois elos: Cristo e o Brasil.
Se somos um
pensamento político, somos também um sentimento nacional. Se somos uma disciplinação
de coletividade, somos, também, uma reforma interna do indivíduo.
Não há
palavras que expliquem aos que não nos conhecem o que é o Integralismo aqui
dentro de nossas fileiras. Quem quiser conhecer-nos precisa vir ver-nos, observar-nos,
penetrar nossos corações.
Infelizmente
os políticos, os chamados homens de responsabilidade, ouvem falar do
Integralismo, muito por alto e não procuram estudar o fenômeno mais curioso da
nossa História.
Psicologia de
Romanoffs, esses homens são da mesma massa, do mesmo coração e do mesmo
entendimento daqueles que, em todas as épocas de História Universal, nos
instantes mais decisivos, ignoram tudo o que se passa em torno deles. As surpresas
da massa social foram feitas para esse tipo de espectadores desatentos. Se eles
não existissem, não existiria o que eles costumam chamar "o inesperado interferente
histórico". Pois se todos prestassem atenção às grandes coisas que se passam
num dado momento, na vida de um povo, seria fácil afirmar o que está para
acontecer. Mas, tudo "o que está para acontecer" só é sabido pelos
que "vão acontecer" e jamais pelos que vão assistir, boquiabertos, às
últimas consequências de uma força que os dirigentes ignoram e que só a massa popular
conhece.
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 23
de Fevereiro de 1937.
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