terça-feira, 10 de outubro de 2023

PSICOLOGIA DE ROMANOFFS (23/02/1937)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

PSICOLOGIA DE ROMANOFFS (23/02/1937)

Plínio Salgado

Almocei ontem no restaurante operário que e Integralismo instalou na Gamboa, Rua Sacadura Cabral. Sentei-me à mesa com meus patrícios estivadores, marinheiros, soldados, operários de várias profissões. Vivi instantes de pura alegria e íntima felicidade. Senti bem de perto a significação profunda da grande obra que estamos realizando, Meditei, finalmente, sobre esta coisa grave: os políticos brasileiros ignoraram completamente o mais formidável fenômeno social que se vem processando sem que dele os nossos homens públicos tomem conhecimento.

Lembrei-me do "diário" escrito pelo último dos Romanoffs, Czar de todas as Rússias, nas vésperas agitadas da queda do Império e do advento de Kerenski. O imperador Nicolau II, nesse documento, mostra-se completamente alheio aos factos que se desenrolavam em torno do Kremlin.

Aquele homem, que não conhecia sequer as obras de Dostoievski, nem qualquer dos sintomas denunciadores dos sucessivos estados de espírito do seu povo, anotava, dia a dia, os acontecimentos de sua vida e, nessas rápidas notícias, nada se encontra que revele o mais vago conhecimento das realidades nacionais.

"Eu e as princesas estivemos esta manhã caçando borboletas"; "hoje à tarde veio ver-me o arquiduque, que se acha bem disposto"; "a czarina passou a tarde com enxaqueca"; "a manhã de hoje esteve belíssima e fizemos um lindo passeio". E, enquanto essas linhas eram escritas ao fim de um dia vazio, sem sentido e sem grandeza, agitava-se a opinião popular, em ondas revoltas de paixão, desorientavam-se os espíritos, e alguma coisa caminhava, com segurança, nas trevas. Uma Nação marchava, mas os quadros políticos e administrativos não sentiam, não percebiam coisa alguma. Tudo rolava monotonamente, burocraticamente, protocolarmente, com o mesmo ritmo através do qual tudo viera vindo, desde mais de um século. Funcionários, magistrados, políticos, militares, afeitos a uma feição de vida, a um hábito adquirido, continuavam a girar dentro dos mesmos métodos, convencidos de que tudo seria como sempre fol.

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Eu pensava nestas coisas, convivendo entre os humildes, os simples, os trabalhadores da minha Pátria. Convencia-me de que os políticos do Brasil, ainda aqueles que mais se aproximam de nós, procurando indagar do que somos, da força que representamos, não podem fazer a mínima ideia do que o Integralismo é neste país.

Não; não é possível que os chamados homens de responsabilidade, mesmo aqueles que, em campo adverso, nos tratam com respeito, ou ainda aqueles que demonstram simpatia por nós, possam avaliar, em toda a sua extensão e profundidade, este phenomeno extraordinário.

A vaidade de uns, o ceticismo de outros, a falta de tempo ou o indiferentismo de muitos, não permite que esses homens. (governadores, ministros, embaixadores, magistrados, altas patentes, senadores ou deputados, comerciantes, industriais, grandes escritores ou jornalistas) tirem uma semana para examinar, sem nenhum compromisso, este assombroso fenômeno nacional, ao menos na Capital da República, uma vez que não poderiam viajar por todo o país.

Eu desejaria ardentemente que algum desses homens se despisse de quaisquer preconceitos, como simples curioso, e viesse fazer o que já têm feito alguns estrangeiros ilustres: "ver para crer". Pois confio tanto no coração dos brasileiros que estou certo de que, se isso se desse, os nossos visitantes sentiriam profundo abalo moral e teriam de meditar muito.

Infelizmente, porém, a psicologia dominante é aquela do último dos Romanoffs. Tudo gira dentro dos velhos quadros, tudo se condiciona ao mesmo ritmo político do passado. A guerra que se move contra o Integralismo é feita de desconhecimentos completos do que somos. Acusa-se sem conhecer; desconhece-se e insiste-se em permanecer no desconhecimento. E nós vamos crescendo. Vamos aprofundando.

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Tem-se encarado o Integralismo apenas do ponto de vista eleitoral. Os 250 mil votos que levámos no ano passado, nas eleições municipais, fazem com que os políticos nos computem como uma força respeitável. Eles que estão acompanhando a marcha das adesões que, diariamente, recebemos e que sabem que só agora estamos intensificando o alistamento eleitoral estão convencidos de que a soma de nossos votos representa alguma coisa muito séria para as suas estatísticas, em referência ao próximo pleito presidencial. A opinião de todo o país é a de que pesaremos muito nas próximas eleições.

Mas a força do Integralismo não é apenas essa. A ação dos camisas-verdes se desdobra em todos os planos da atividade social e humana. Realizamos uma obra de cultura, de aliciamento e coordenação dos espíritos jovens das elites intelectuais; uma obra de educação das massas urbanas e rurais, que do ponto de vista cívico e moral, como físico, através das nossas academias; uma obra de vigilância contra o bolchevismo, desdobrando-nos em permanente investigação e articulação de todo um serviço secreto de âmbito nacional; uma obra de nacionalismo sadio, cultuando as tradições da Pátria, exaltando o entusiasmo pelos nossos heróis, pela, nossa Bandeira, pelo nosso Exército, pela nossa Marinha, pela Unidade Nacional, ensinando as multidões a cantar o Hino da Nação e a compreender a grandeza do culto cívico às grandes datas; uma obra de disciplinação, de compreensão do princípio de Autoridade, de respeito à ordem; uma obra de assistência social, instalando ambulatórios médicos, farmácias, gabinetes dentários, escolas de alfabetização e educação, cursos de enfermagem, serviços de amparo, proteção, colocação, aos desfavorecidos da fortuna.

Tudo isso é forca do Movimento, mas ainda não é tudo. Porque a base de toda essa grandiosa construção é a mística, que temos criado, da virtude, da bondade, do dever, da solidariedade humana, do sacrifício pela Pátria e por Deus. Vivemos dentro dessa mística. Transformamo-nos, dia a dia. Todos nós, Integralistas, costumamos dividir a nossa vida em duas partes: antes e depois do Juramento ao Sigma. Sentimo-nos, dia a dia, mais diferentes do que éramos. Aproximamo-nos, ansiosamente, das fontes cristãs da vida.

O nosso sentimento, de uns para os outros companheiros, não é, como nos partidos, de solidariedade política: é de fraternidade e quase de parentesco. Unimo-nos com espírito de humildade, de bondade, de perdão, de socorro, de sacrifício e heroísmo. Constituímos uma grande família.

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Foi esse sentido profundo de família que me tocou na manhã de sábado, quando almocei com os primeiros clientes do restaurante "O pão de cada dia", inaugurado pela A. I. B. na rua Sacadura Cabral, na Gamboa,

O Secretario Nacional de Assistência Social, companheiro Brito Pereira, teve a intuição perfeita do alcance da sua iniciativa. É o primeiro passo dado, de um modo decisivo, para o grande entrelaçamento entre o Integralismo e as classes proletárias. A efetivação da generosa ideia seguiu um processo simples. O nosso Socorro Verde, com seus próprios fundos, alugou o prédio e fez as instalações necessárias, nas quais trabalhou, de um modo comovedor, o companheiro Bruno du Warren. Cada integralista, em condições de o fazer, obtém, com o seu fornecedor, uma pequena oferta para o restaurante. São emitidos cupons, que dão direito às refeições, Esses cupons são adquiridos por todos os que queiram favorecer os necessitados e estes, em vez de receber uma esmola vexatória, recebem tais cupons. Isso quanto aos absolutamente desprovidos de recursos. Aqueles, porém, que ganham pouco e dispendem quase tudo o que ganham em razão dos preços elevados das refeições, encontram, no restaurante integralista, a mesma refeição que costumam ter, pela metade do preço que habitualmente pagam. Essa pequena renda vae reunir-se aos recursos para socorro dos pobres. Quanto a estes, não se sentem aviltados, pois apresentam-se em igualdade de condições com os que pagam, munidos de seus cupons. Mas o restaurante não é apenas um restaurante. Os "garçons" tratarão de estabelecer camaradagem com os frequentadores e verificarão quais os que se acham desempregados, os que se encontram em dificuldades de vida, os que estão transviados por ideias dissolventes, os que se entregam a vícios, os que se acham desanimados na luta pela vida. Depois de orientar esses pobres patrícios, encaminham-no para as autoridades da Assistência Social da A. I. B. e esta trata de salvar a criatura humana aos seus cuidados, realizando uma obra que chamaremos de "recuperação social".

É a primeira casa, no gênero, que inauguramos nesta Capital. Dentro em breve, muitas outras estarão espalhadas por todo o Rio de Janeiro. Estamos também cogitando de instalar albergues noturnos, com a mesma finalidade. Os Núcleos integralistas também começaram assim, há três anos. Hoje, temo-los em todos os bairros da Capital, com seus campos de esporte, suas escolas de alfabetização e educação, seus ambulatórios médicos, suas farmácias, seus lactários, suas bibliotecas. Dar-se-á a mesma coisa com estas casas de pasto; dentro em breve elas se multiplicarão,

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Quem poderá deter um Movimento como o nosso? Só um louco poderá pensar que o Integralismo, pelo facto de estar registrado como partido político, obedece às mesmas leis de existência e funcionamento dessas organizações sem permanência, sem alma, sem idealismo.

A Acção Integralista Brasileira criou um estado de espírito, uma consciência nova, uma mística sagrada. Todos nós nos achamos unidos por estes dois elos: Cristo e o Brasil.

Se somos um pensamento político, somos também um sentimento nacional. Se somos uma disciplinação de coletividade, somos, também, uma reforma interna do indivíduo.

Não há palavras que expliquem aos que não nos conhecem o que é o Integralismo aqui dentro de nossas fileiras. Quem quiser conhecer-nos precisa vir ver-nos, observar-nos, penetrar nossos corações.

Infelizmente os políticos, os chamados homens de responsabilidade, ouvem falar do Integralismo, muito por alto e não procuram estudar o fenômeno mais curioso da nossa História.

Psicologia de Romanoffs, esses homens são da mesma massa, do mesmo coração e do mesmo entendimento daqueles que, em todas as épocas de História Universal, nos instantes mais decisivos, ignoram tudo o que se passa em torno deles. As surpresas da massa social foram feitas para esse tipo de espectadores desatentos. Se eles não existissem, não existiria o que eles costumam chamar "o inesperado interferente histórico". Pois se todos prestassem atenção às grandes coisas que se passam num dado momento, na vida de um povo, seria fácil afirmar o que está para acontecer. Mas, tudo "o que está para acontecer" só é sabido pelos que "vão acontecer" e jamais pelos que vão assistir, boquiabertos, às últimas consequências de uma força que os dirigentes ignoram e que só a massa popular conhece.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 23 de Fevereiro de 1937.

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