Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à
generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida,
profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana
existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é
Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
Bolhas de sabão
(14/05/1936)
Plínio Salgado
É incrível como esses homens que
envelheceram nas lutas políticas deste país; esses homens que tiveram mil oportunidades
para estudar e compreender a índole do nosso povo e do nosso regime; esses
homens que, afinal de contas, não podemos apontar como impatriotas, uma vez que
assistimos aos seus desesperados esforços no sentido de tudo fazer pela sua Pátria,
vivam alimentando-se de ilusões, prejudicando o Brasil com essas próprias ilusões
que só fazem retardar as soluções definitivas ao caso nacional!
Quem vê as marchas e contramarchas dos
próceres de partidos políticos regionais; suas conversações infindáveis; seus
encontros; seus gestos lançando, cada dia, novas fórmulas, tem a impressão de
que se trata de novatos em política, de moços inexperientes dos mistérios regionais
e nacionais. E, no entanto, são homens que há vinte, trinta, quarenta e até cinquenta
anos, no louvável empenho de bem servir a sua Pátria, mexem e remexem a mesmíssima
sopa requentada, no velho caldeirão da liberal-democracia.
Sempre a afirmar que estamos no melhor
dos mundos, esses eternos Pangloss muitas vezes têm de substituir o sorriso
beatífico pela carranca mais dolorosa com que se podem exprimir seus músculos faciais.
São as decepções que os abatem. Decepções que amargam suas bocas, de onde sai a
invariável exclamação: "este País está podre!" Passam-se alguns meses,
alguns dias. Novas ilusões os fascinam. Novas crenças os arrebatam. Inimigos de
ontem reconciliam-se. Há qualquer coisa de dramático, de comovente nessas
reconciliações periódicas. Defrontam-se os que ontem se atassalhavam:
"venha de lá um abraço!" O abraço vem. Um lenço vai saindo do bolso.
Para enxugar as lágrimas furtivas. Amigos! Sim, novamente amigos! Apareceu uma
fórmula! Uma fórmula salvadora. O Brasil vai salvar-se!
Numa azafama, num açodamento, todos
correm de um lado para outro. Pazes feitas! Pazes feitas! Alvíssaras! E a
grande novidade rastilha, crepita, acendendo risos joviais por todos os campanários
políticos. Agora sim!
De repente, quando menos se espera, um
estouro. Estragou-se completamente tudo. Dir-se-ia que uma magia diabólica
diverte-se a apoquentar, a desorientar os políticos brasileiros...
É o caso atual do Rio Grande do Sul.
Quanta viagem, perdida! Quantos almoços, quantos jantares, quantos aviões para
baixo e para cima! Entrevistas nos jornais; declarações; cartas de suave enlevo;
comentários. As rotativas trabalham. Os jornais publicam "manchetes" sensacionais.
Temos diante de nós uma experiência que se pode aplicar ao Brasil inteiro.
Depois de um dia de reuniões
definitivas, assentadas as bases da frente única, cai a noite feliz e
refrescadora. Todos respiram contentes. Pelos céus do Brasil, os Anjos do
Senhor, cavalgando as ondas hertzianas, cantam a canção de Belém: "Glória
a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade".
Sim; a boa vontade é geral. O Rio
Grande está unido. Amanhã se dará o mesmo em todos os Estados. Depois de amanhã
se dará o mesmo em todo o país. Todos se fundirão num só anseio, numa só
aspiração de grandeza do Brasil...
Sonho efêmero, que não comparamos às
rosas de Malherbe, porque a imagem está muito batida... Sonho que durou bem
pouco. Os telegramas do sul nos anunciam que a crise estourou. Foi arte do
mágico diabólico, que se diverte com os políticos da nossa terra. A varinha de
condão de um gênio mau da floresta.
E, assim, mais uma desilusão.
Mas eu pergunto: têm os políticos o
direito de dar ao povo brasileiro do mesmo ópio que sorvem nos seus velhos
cachimbos?
Depois de mil experiências, ainda
acreditam em qualquer remédio dentro das velhas normas de um sistema que está aniquilando
um regime? Não tiveram tempo para verificar que, com os sistemas usuais, se afundará
a democracia? Não reparam que a salvação da democracia está numa nova estruturação,
num novo processo de captação da vontade popular?
Não estão vendo que os partidos estão
levando à ruina completa a Espanha e França? Não volvem os olhos para traz, para
aprender no livro das realidades históricas, as lições que decorrem dos mil
fracassos, das mil tentativas de outros políticos sagazes, que se afundaram, mau
grado um esforço imenso?
E, eles próprios, políticos
envelhecidos na sua luta, não tiveram centenas de desilusões idênticas? Que
mais esperam? Que pretendem fazer do Brasil?
É por isso que, dia a dia, cresce a
força moral do Integralismo. O povo tem intuição. O povo sabe observar.
Decepcionado, a, cada fracasso desses homens, que, no fundo, são bem
intencionados, mas completamente alheios às realidades do país e cegos diante
dos perigos que ameaçam a Pátria, o poro vae vestindo a camisa verde.
Depois, ficam os políticos muito
admirados do nosso crescimento. Sim esse crescimento é um fato. Depende muito
do nosso trabalho, da nossa propaganda. Mas deve, grande parte do seu êxito,
aos próprios desastres que os adversários do Integralismo apresentam ao país
cada mês, cada semana, como atestado da insuficiência e incapacidade de um sistema
de política que está, dia a dia, atentando contra o prestígio do regime.
Acordos políticos! Paz de partidos!
União dos espíritos! Sem base doutrinária, sem intransigência de ideias, sem mística
da Pátria: bolhas de sabão! Sobem, deslumbram por um momento, desaparecem à
menor aragem...
Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 14 de Maio de 1936.
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