sábado, 14 de outubro de 2023

Bolhas de sabão (14/05/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Bolhas de sabão (14/05/1936)

Plínio Salgado

É incrível como esses homens que envelheceram nas lutas políticas deste país; esses homens que tiveram mil oportunidades para estudar e compreender a índole do nosso povo e do nosso regime; esses homens que, afinal de contas, não podemos apontar como impatriotas, uma vez que assistimos aos seus desesperados esforços no sentido de tudo fazer pela sua Pátria, vivam alimentando-se de ilusões, prejudicando o Brasil com essas próprias ilusões que só fazem retardar as soluções definitivas ao caso nacional!

Quem vê as marchas e contramarchas dos próceres de partidos políticos regionais; suas conversações infindáveis; seus encontros; seus gestos lançando, cada dia, novas fórmulas, tem a impressão de que se trata de novatos em política, de moços inexperientes dos mistérios regionais e nacionais. E, no entanto, são homens que há vinte, trinta, quarenta e até cinquenta anos, no louvável empenho de bem servir a sua Pátria, mexem e remexem a mesmíssima sopa requentada, no velho caldeirão da liberal-democracia.

Sempre a afirmar que estamos no melhor dos mundos, esses eternos Pangloss muitas vezes têm de substituir o sorriso beatífico pela carranca mais dolorosa com que se podem exprimir seus músculos faciais. São as decepções que os abatem. Decepções que amargam suas bocas, de onde sai a invariável exclamação: "este País está podre!" Passam-se alguns meses, alguns dias. Novas ilusões os fascinam. Novas crenças os arrebatam. Inimigos de ontem reconciliam-se. Há qualquer coisa de dramático, de comovente nessas reconciliações periódicas. Defrontam-se os que ontem se atassalhavam: "venha de lá um abraço!" O abraço vem. Um lenço vai saindo do bolso. Para enxugar as lágrimas furtivas. Amigos! Sim, novamente amigos! Apareceu uma fórmula! Uma fórmula salvadora. O Brasil vai salvar-se!

Numa azafama, num açodamento, todos correm de um lado para outro. Pazes feitas! Pazes feitas! Alvíssaras! E a grande novidade rastilha, crepita, acendendo risos joviais por todos os campanários políticos. Agora sim!

De repente, quando menos se espera, um estouro. Estragou-se completamente tudo. Dir-se-ia que uma magia diabólica diverte-se a apoquentar, a desorientar os políticos brasileiros...

É o caso atual do Rio Grande do Sul. Quanta viagem, perdida! Quantos almoços, quantos jantares, quantos aviões para baixo e para cima! Entrevistas nos jornais; declarações; cartas de suave enlevo; comentários. As rotativas trabalham. Os jornais publicam "manchetes" sensacionais. Temos diante de nós uma experiência que se pode aplicar ao Brasil inteiro.

Depois de um dia de reuniões definitivas, assentadas as bases da frente única, cai a noite feliz e refrescadora. Todos respiram contentes. Pelos céus do Brasil, os Anjos do Senhor, cavalgando as ondas hertzianas, cantam a canção de Belém: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade".

Sim; a boa vontade é geral. O Rio Grande está unido. Amanhã se dará o mesmo em todos os Estados. Depois de amanhã se dará o mesmo em todo o país. Todos se fundirão num só anseio, numa só aspiração de grandeza do Brasil...

Sonho efêmero, que não comparamos às rosas de Malherbe, porque a imagem está muito batida... Sonho que durou bem pouco. Os telegramas do sul nos anunciam que a crise estourou. Foi arte do mágico diabólico, que se diverte com os políticos da nossa terra. A varinha de condão de um gênio mau da floresta.

E, assim, mais uma desilusão.

Mas eu pergunto: têm os políticos o direito de dar ao povo brasileiro do mesmo ópio que sorvem nos seus velhos cachimbos?

Depois de mil experiências, ainda acreditam em qualquer remédio dentro das velhas normas de um sistema que está aniquilando um regime? Não tiveram tempo para verificar que, com os sistemas usuais, se afundará a democracia? Não reparam que a salvação da democracia está numa nova estruturação, num novo processo de captação da vontade popular?

Não estão vendo que os partidos estão levando à ruina completa a Espanha e França? Não volvem os olhos para traz, para aprender no livro das realidades históricas, as lições que decorrem dos mil fracassos, das mil tentativas de outros políticos sagazes, que se afundaram, mau grado um esforço imenso?

E, eles próprios, políticos envelhecidos na sua luta, não tiveram centenas de desilusões idênticas? Que mais esperam? Que pretendem fazer do Brasil?

É por isso que, dia a dia, cresce a força moral do Integralismo. O povo tem intuição. O povo sabe observar. Decepcionado, a, cada fracasso desses homens, que, no fundo, são bem intencionados, mas completamente alheios às realidades do país e cegos diante dos perigos que ameaçam a Pátria, o poro vae vestindo a camisa verde.

Depois, ficam os políticos muito admirados do nosso crescimento. Sim esse crescimento é um fato. Depende muito do nosso trabalho, da nossa propaganda. Mas deve, grande parte do seu êxito, aos próprios desastres que os adversários do Integralismo apresentam ao país cada mês, cada semana, como atestado da insuficiência e incapacidade de um sistema de política que está, dia a dia, atentando contra o prestígio do regime.

Acordos políticos! Paz de partidos! União dos espíritos! Sem base doutrinária, sem intransigência de ideias, sem mística da Pátria: bolhas de sabão! Sobem, deslumbram por um momento, desaparecem à menor aragem...

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 14 de Maio de 1936.

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