segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Perante o Tribunal de Segurança Nacional (O5/02/1937)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Perante o Tribunal de Segurança Nacional (O5/02/1937)

Plínio Salgado

O ato do Tribunal de Segurança Nacional, determinando a transferência para o Rio dos integralistas presos por ordem do governador da Bahia e conservados em cárceres naquele Estado, foi um cato de extrema coragem, alto sentido de Justiça, expressivo da varonilidade dos juízes que compõem aquele Cenáculo, do qual hoje depende a vida ou a morte da Nação.

O parecer do íntegro procurador, dr. Hymalaia Vergolino, lançado no requerimento da "Acção Integralista Brasileira", demonstrou que aquele magistrado jamais deixará macular a sua toga pela politicagem que acoberta os desígnios secretos de komintern. A resolução do Tribunal e as medidas imediatas do ilustre presidente, desembargador Barros Barreto, elevaram a Justiça, honraram a magistratura, inspiraram ilimitada confiança do povo na inflexível linha de conduta desses patrícios, aos quais foi confiada a missão mais grave da hora presente: livrar o Brasil das tremendas ameaças de Moscou.

O sentido de alta responsabilidade, o rígido caráter, a dignidade intransigente de Costa Netto, Lemos Bastos, Raul Machado e Pereira Braga, revelados, dia a dia, em face desses episódios vergonhosos que o Soviét. nos apresenta à barra do Tribunal de Segurança, constituem o mais seguro penhor de que a Justiça, a Verdade, os interesses supremos do nosso país jamais serão ludibriados pelas manobras já conhecidas e desmoralizadas dos agentes da Internacional Comunista.

É preciso conhecer a época que estamos vivendo, de mentira sistematizada, de hipocrisias cínicas, de covardias inomináveis, de transigências criminais, de formalismos nefandos, de expedientes indecorosos, para se compreender a significação do ato do Tribunal de Segurança, que se tornou hoje, no meio da tormenta e da confusão dos espíritos, o reduto máximo da dignidade da Pátria.

Este caso dos Integralistas baianos tem para a República, a mesma significação que a chamada "questão religiosa" teve para o Império.

O estudo da Historia, das consequências advindas dos fatos históricos, nem sempre é levado muito a sério por aqueles que, em dado momento, encarnam o princípio da Autoridade. Há dias, um distinto patrício me falava de uma pergunta que um professor de Universidade americana lhe fizera sobre "qual a influencia que a prisão dos bispos pelo Imperador tivera na proclamação da Republica". Quem procura aprofundar-se no sentido daquele episódio dos tempos monárquicos percebe, porém, todas as consequências de ordem intelectual, moral, espiritual e política advindas de um acontecimento que nós não costumamos ligar ao advento do golpe de Deodoro.

Não quero aqui entrar no mérito da "questão religiosa", que determinou a prisão dos bispos D. Vital e D. Macedo Costa. Nem entro na apreciação das formas de governo, Monarquia ou República, para apontar superioridade de uma ou de outra. Analiso o fato em si, na sua essência, na sua índole, no desenvolvimento da sua linha lógica. Sem louvar, nem condenar, aprecio o fenômeno, como fenômeno, do mesmo modo como um matemático deduz um raciocínio ou um químico considera uma reação.

A vitória alcançada pela Maçonaria sobre os prelados brasileiros é o primeiro passo para a queda do Trono. E o Trono não percebeu...

O eminente Oliveira Lima, no seu livro "O Império do Brasil", torna bem clara, bem evidente essa verdade. Sente-se, meditando sobre as páginas daquele capítulo, uma abdicação virtual, precedendo a deposição de Pedro II.

Neste caso dos integralistas baianos, podemos dizer que a República está também jogando a sua cartada definitiva. Já agora não se trata de uma luta entre prelados e uma sociedade secreta. Trata-se de uma luta entre o próprio Brasil e a Rússia Soviética.

Uma derrota de Integralismo equivaleria ao triunfo esmagador da U. R. S. S. sobre a Pátria Brasileira.

Não estou exagerando. Basta rememorar os fatos.

Em 1935, no projeto da Lei de Segurança Nacional, que se elaborava para combater o comunismo, um grupo de deputados apresentou uma emenda proibindo organizações militarizadas. Essa emenda visava o Integralismo. Foi aprovada. O líder desse grupo de deputados esquerdistas encontra-se hoje preso, como implicado na revolução comunista de novembro: o sr. Domingos Vellasco.

Durante todo esse ano, como no ano anterior, desenvolveu-se tremenda campanha contra o Integralismo Essa campanha era dirigida pela "Aliança Nacional Libertadora", cujo presidente era Carlos Prestes. Em novembro desse ano, mesmo depois de trancada pela polícia, essa Aliança chefiou a rebelião comunista,

Havia um Jornal no Rio, que desencadeava uma campanha tremenda contra o Integralismo. Esse Jornal foi fechado por estar envolvido na revolução de novembro. Era "A Manhã".

Só esses fatos deveriam ser mais do que suficientes para que todos os brasileiros ficassem convencidos de que a guerra de morte ao Integralismo era movida diretamente por Moscou.

Todas as organizações bolchevistas atacavam, como ainda atacam, veementemente, o Integralismo. Todos os boletins apreendidos pela polícia e portadores da palavra de ordem da III Internacional visavam, em primeira plana, o combate ao Integralismo.

Mas foi, por fim, o próprio Komintern que abertamente se pronunciou, em princípios de novembro de 1935, no Congresso de Moscou. Numa das sessões daquela assembleia internacional, o líder Dimitroff pronunciou um discurso que as agências telegráficas transmitiram para o Brasil, sendo aqui publicado em todos os jornais. Nesse discurso. Dimitroff determinava aos comunistas brasileiros que tratassem, antes de mais nada, do fechamento do Integralismo, que constituía o único empecilho das investidas de Moscou. Aconselhava nesse discurso, a líder Dimitroff, que os comunistas se servissem dos deputados liberais-democratas, socialistas, sociais-democratas, assim como de todos os descontentes, para que votassem uma medida contra o Integralismo, a pretexto de defender as liberdades democráticas.

Atendendo à diretiva de Dimitroff, os communistas organizaram um bloco pró-liberdades democraticas na Camara Federal, attrahindo conscientes e inconscientes: Nas vesperas do levante communista, a Camara Federal votava uma indicação ao sr. presidente da República prepondo-lhe, ou a reabertura da "Aliança Nacional Libertadora", ou o fechamento da "Acção Integralista Brasileira".

Antes que o Chefe da Nação tivesse tempo de considerar aquela indicação, que fielmente transladava e pensamento do líder Dimitroff, rebentou à revolução comunista.

O Integralismo, infiltrado em todos os quarteis, em todos os navios, em todas as brigadas estaduais, em todo o funcionalismo, em todas as fábricas, tornou-se de tal forma um empecilho aos objetivos de Moscou, que o chefe da revolução vermelha, Carlos Prestes, em documento apreendido pela Polícia e publicado nos jornais, confessava que não julgara que o Integralismo constituísse uma força tão grande.

Precisaremos mais fatos para provar que perseguição no Integralismo é movida diretamente pelo Czar Vermelho, Stalin?

E na Bahia? Na Bahia é testemunha o coronel Delfino, comandante da força federal, do que foi a atuação dos integralistas. Infiltrados na Brigada Policial, com muitos companheiros oficias do Exército, com numerosos elementos no Tiro de Guerra, nas massas operárias, o Integralismo imobilizou qualquer tentativa de levante bolchevista. Foram os camisas-verdes que descobriram a conspiração no Tiro de Guerra, que levaram esse fato ao conhecimento das autoridades do Exército, do que resultou a prisão do responsável, um sargento, e a apreensão das armas; foram eles que impediram um levante de civis em Massaranduba, na península de Itapagipe; foram eles (enquanto os políticos assistiam de palanque) que puseram à disposição do coronel comandante da força federal, em poucas horas, trezentos rapazes, offerecendo dez mil, se preciso se tornasse; foram eles que, numerosíssimos no interior baiano, dominaram a situação, criando um clima saudável de reação nacionalista.

Agora pergunto: quando começaram as perseguições aos integralistas baianos? Acaso as medidas adotadas contra eles, em setembro de 1936, foram as primeiras?

Não. Já em dezembro daquele mesmo ano da revolta comunista, um capitão da Polícia, de nome Salomão, publicava uma ordem em Ilhéus, proibindo a propaganda integralista. Em numerosas localidades a perseguição teve início nos meses de dezembro de 1935, e em todos os meses de 1936.

A opressão aos humildes sertanejos integralistas atingiu ao auge, muito antes da fictícia conspiração de setembro de 36. Foram encarcerados numerosos Integralistas. Foram despidos de suas camisas. Este jornal deu notícias pormenorizadas de tudo isso, até com fotografias.  Ao mesmo tempo, o governador da Bahia, em discursos públicos, declarava que iria fazer guerra aberta ao Integralismo, principalmente no terreno doutrinário, tanto que ficamos esperando a publicação dos livros, com que o governador responderia aos cinquenta e tantos volumes de nossa doutrina.

Em setembro, de surpresa, são invadidos os quatrocentos Núcleos integralistas da Bahia, são presos os Chefes dos camisas-verdes. Que arma se arrecadam? Um revolver H. O., com seis balas, uma espingarda de caça e uma pistola velha. Sobre essa base, arquiteta-se um formidável plano de vasta envergadura para depor o governo da República:

Há uma carta. Afirmam que é gravíssima. Que diz? Manifesta o temor de um golpe comunista e declara que os integralistas baianos não possuem armas... E é tudo!

Esses homens são conservados presos, desde setembro! Se se tratava de uma conspiração de larga envergadura para depor o Governo da República, não era natural que as provas fossem enviadas urgentemente para o Rio? Mas correm cinco meses: Só então é remetido um grosso volume ao Tribunal de Segurança. Que contém esse volume? Fichas, papéis impressos, futilidades... E, de tudo, ressalta a preocupação dos integralistas diante do perigo de um surto bolchevista na Bahia; a preocupação de sustentarem, ali, o Governo Federal, a todo a transe.

Não é preciso alongar-me, porque voltarei ainda a tratar deste assumpto. Estas linhas, com esta narrativa, eu as escrevi para elevar bem alto perante os brasileiros as homenagens dos que se sacrificam pela Pátria contra Moscou, aos Juízes do Tribunal de Segurança Nacional, pelo seu desassombro, atendendo ao pedido da A.I.B. e transferindo para o Rio aqueles homens que se tornaram alvo de todo o ódio dos adeptos do Soviét., dos traidores da Pátria, como vimos no último julgamento do "habeas corpus" na Suprema Corte, quando os Integralistas dali se retiraram sob a chufa dos correligionários desses que comparecem de cuecas e de punhos fechados perante os magistrados, que hoje exprimem o último reduto do sentimento nacional vivo e palpitante.

Ainda há Juízes no Brasil. Perante eles iremos comparecer. Posso adiantar que os integralistas baianos não comparecerão perante o augusto Tribunal em atitude desrespeitosa, como aqueles que almejam a nossa destruição. Os integralistas baianos ao fitarem esses juízes, terão um ar de respeito, de veneração, de apreço, de acatamento, de gratidão por tudo quanto esses Juízes estão sofrendo gloriosamente pelo bem da nossa Pátria. A doutrina que eu ensino aos camisas-verdes é da humildade cristã, do brio, da altivez, da delicadeza do cavalheirismo, da exaltação do principio da autoridade.

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Neste instante, se alguma coisa mais immediata devem fazer os homens honestos e os brasileiros ciosos da honra de suas familias, é respeitar, acatar, prestigiar, exaltar, glorificar o Tribunal de Segurança Nacional.

Nem eu posso compreender como se tenha chegado a tal ponto de loucura no Brasil, que se levantem jornais e multidões em cólera porque, no jogo de futebol, um argentino deu um pontapé na canela de um brasileiro, ao passo que reina a maior insensibilidade quando um agente de potencia estrangeira ofende e insulta os juízes de um Tribunal da Nação.

O argentino é irmão do mesmo Continente; o judeu-russo é o trano que nos quer escravizar e vilipendiar. Como se pode odiar o argentino e ser benevolente com o agente russo? Como se pode dar mais importância ao futebol do que a uma questão de vida e de morte para a Nacionalidade, como é a luta contra o comunismo?

Por ninharias se empastela uma embaixada, um consulado; e este povo está tolerando a maior de todas as ofensas, a maior de todas as degradações, que é o espetáculo diário de homens obedientes a uma potencia estrangeira, que é a Rússia, desacatarem a própria dignidade nacional que hoje ninguém com mais responsabilidade encarna do que um Juiz, cuja missão é defender a Pátria em estado de guerra!

Agora, que a nossa causa vae para o Tribunal de Segurança, eu estou tranquilo, estou sereno, estou cheio de fé no Espírito de Deus, que iluminará a alma dos Juízes da minha Pátria. Porque esses não são os juízes tranquilos, não são os juízes das calmas Judicaturas, os juízes imersos na atmosfera exclusiva das controvérsias jurídicas; esses são os juízes que sofrem, que compreendem a gravidade da situação, que têm a boca amarga pela dor de uma Nacionalidade diariamente ofendida. São os juízes mártires. São, por isso mesmo, os juízes gloriosos.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 05 de Fevereiro de 1937

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