sábado, 25 de novembro de 2023

O MANIFESTO DOS DISSIDENTES (21/02/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

O MANIFESTO DOS DISSIDENTES (21/02/1936)

Plínio Salgado

Que doloroso documento esse que nos vem de São Paulo, sob a forma de um manifesto dos dissidentes do Partido Constitucionalista! Diante dele, a gente tem uma impressão dolorosa, acabrunhante, Já não há mais nada na democracia liberal! Tudo está acabado. As ideias, que tinham envelhecido, morreram. Morreram nas mãos dos intelectuais. Exatamente da ala intelectual do Partido Situacionista de S. Paulo.

 

A corrente signatária do Manifesto tem homens como Alcântara Machado e Motta Filho, Esses dois nomes valem por todos os outros que ficaram do outro lado, com o Diretório.

 

O sr. Alcântara Machado não é apenas o paulista de quatrocentos anos: é o jurista, o intelectual, o escritor brilhante e (ó ironia do Destino!) aquele que escreveu um livro que se chama “Vida e morte do Bandeirante”. Livro que, para escrevê-lo, cumpria ter alma de bandeirante; altiva, corajosa, sem dissimulações. Livro cheio das palpitações do Passado, do brio e do destemor da gente antiga.

 

O sr. Motta Filho é um ensaísta de valor. Um discutidor de ideias. Autor de livros curiosos e penetrantes, como aquele em que estuda o Romantismo brasileiro, com segurança e conhecimento da alma nacional e das correntes de ideias predominantes do país. É autor de um livro sobre Alberto Torres. (“O tema da nossa geração”). Foi fundador Sociedade de Estudos Políticos, de que saiu o Integralismo, e sempre se mostrou um homem de ideias.

 

Esses dois ilustres brasileiros pertencem à corrente que divergiu do Diretório Central do P. C., no último Congresso do Partido.

 

Por que divergiu essa corrente? Por motivos ideológicos? Não, absolutamente não!

 

Então as ideias do P. C. situacionista são as mesmas do P. C. oposicionista? Perfeitamente, são iguais, porque zero é igual a zero. O P.C. não tem ideias.

 

Mas, então o partido do sr. Armando de Salles Oliveira não tem ideias?

 

Não sou eu quem o afirma e sim os próprios signatários do manifesto que nos vem de S. Paulo. O fim do P. C. era única e exclusivamente prestigiar o sr. Armando de Salles Oliveira, desde que para todos os componentes dessa agremiação houvesse “os mesmos deveres e os mesmos direitos”.

 

Quanto aos deveres, já se entende; trata-se de prestigiar o sr. Armando de Salles Oliveira. Quanto aos direitos, francamente, eis aí um assunto em que não vale a pena tocar, porque é humilhante para homens que deveriam ser portadores de aspirações ideológicas e não de cargos e posições.

 

No último Congresso do Partido, houve uma ala que: rompeu. Quais os motivos apresentados? Divergência quanto a programas administrativos? Nada disso. São os próprios manifestantes os que confessam: não estavam sendo nomeados os diretórios do interior indicados por eles; os empregos não estavam sendo distribuídos equitativamente; no Palácio dos Campos Elíseos, eles, os dissidentes, não estavam sendo tratados com os mesmos salamaleques com que o sr. Armando de Salles mimoseava os outros.

 

Foi só por isso que os homens romperam.

 

Nada de ideias, nada de programas, nada de divergência, de orientação. Questão pura e simples de prestigio.

“Não nos pediram colaboração ativa; apenas nos exigiram solidariedade passiva”.

 

Nestas condições, os homens romperam. Com quem? Com o sr. Armando de Salles? Naturalmente que deveria ser. Não há gato e cachorro em S. Paulo que não saiba que o sr. Armando de Salles Oliveira é o inspirador, o guia, o chefe, o dono, o proprietário, o senhor absoluto do Partido Constitucionalista.

 

Dizer que não, é querer tapar o sol com uma peneira.

 

Nestas condições, uma vez que já tínhamos tido à primeira desilusão, quando vimos que os senhores Alcântara e Motta não haviam rompido por motivos ideológicos, esperamos, ao menos, que rompessem com quem de direito, o que seria, pelo menos, uma saída. Uma saída digna, não de intelectuais, mas de homens comuns, como qualquer membro de diretório municipal.

 

Mas — pasmem os céus! — os dissidentes não romperam com sr. Armando de Salles Oliveira.

 

Só romperam com o sr. Laerte Assumpção. Só romperam com o Diretório. O Governador, esse, autor principal das desconsiderações aos reclamantes, continuará recebendo as homenagens dos pobres solicitantes desatendidos. Y

 

É, nestes últimos tempos, incontestavelmente, o Manifesto em questão, o documento mais triste da vida brasileira. É um barômetro. Marca uma altitude. Através dessa tristíssima página, sabemos já por onde andamos e em que nível caminha a política nacional,

E quando nós dizemos que os partidos estão morrendo, os homens práticos nos olham de lado e penalizados, exclamam: — estão sonhando acordados.

 

E é assim, mais cedo do que se pensa, O Integralismo estará triunfante sobre os escombros das velhas estruturas, altivo, dominador e abrindo tempos novos a um Novo Brasil.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 21 de Fevereiro de 1936.

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