Esclarecimento: A
publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do
Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da
História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o
acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito
Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando
indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
O MANIFESTO DOS DISSIDENTES (21/02/1936)
Plínio Salgado
Que doloroso documento esse que nos vem de São
Paulo, sob a forma de um manifesto dos dissidentes do Partido Constitucionalista!
Diante dele, a gente tem uma impressão dolorosa, acabrunhante, Já não há mais
nada na democracia liberal! Tudo está acabado. As ideias, que tinham
envelhecido, morreram. Morreram nas mãos dos intelectuais. Exatamente da ala intelectual
do Partido Situacionista de S. Paulo.
A corrente signatária do Manifesto tem homens
como Alcântara Machado e Motta Filho, Esses dois nomes valem por todos os
outros que ficaram do outro lado, com o Diretório.
O sr. Alcântara Machado não é apenas o paulista
de quatrocentos anos: é o jurista, o intelectual, o escritor brilhante e (ó
ironia do Destino!) aquele que escreveu um livro que se chama “Vida e morte do
Bandeirante”. Livro que, para escrevê-lo, cumpria ter alma de bandeirante;
altiva, corajosa, sem dissimulações. Livro cheio das palpitações do Passado, do
brio e do destemor da gente antiga.
O sr. Motta Filho é um ensaísta de valor. Um discutidor
de ideias. Autor de livros curiosos e penetrantes, como aquele em que estuda o
Romantismo brasileiro, com segurança e conhecimento da alma nacional e das
correntes de ideias predominantes do país. É autor de um livro sobre Alberto Torres.
(“O tema da nossa geração”). Foi fundador Sociedade de Estudos Políticos, de
que saiu o Integralismo, e sempre se mostrou um homem de ideias.
Esses dois ilustres brasileiros pertencem à corrente
que divergiu do Diretório Central do P. C., no último Congresso do Partido.
Por que divergiu essa corrente? Por motivos ideológicos?
Não, absolutamente não!
Então as ideias do P. C. situacionista são as
mesmas do P. C. oposicionista? Perfeitamente, são iguais, porque zero é igual a
zero. O P.C. não tem ideias.
Mas, então o partido do sr. Armando de Salles
Oliveira não tem ideias?
Não sou eu quem o afirma e sim os próprios signatários
do manifesto que nos vem de S. Paulo. O fim do P. C. era única e exclusivamente
prestigiar o sr. Armando de Salles Oliveira, desde que para todos os componentes
dessa agremiação houvesse “os mesmos deveres e os mesmos direitos”.
Quanto aos deveres, já se entende; trata-se
de prestigiar o sr. Armando de Salles Oliveira. Quanto aos direitos, francamente,
eis aí um assunto em que não vale a pena tocar, porque é humilhante para homens
que deveriam ser portadores de aspirações ideológicas e não de cargos e
posições.
No último Congresso do Partido, houve uma ala
que: rompeu. Quais os motivos apresentados? Divergência quanto a programas administrativos?
Nada disso. São os próprios manifestantes os que confessam: não estavam sendo
nomeados os diretórios do interior indicados por eles; os empregos não estavam
sendo distribuídos equitativamente; no Palácio dos Campos Elíseos, eles, os
dissidentes, não estavam sendo tratados com os mesmos salamaleques com que o
sr. Armando de Salles mimoseava os outros.
Foi só por isso que os homens romperam.
Nada de ideias, nada de programas, nada de divergência,
de orientação. Questão pura e simples de prestigio.
“Não nos pediram colaboração ativa; apenas
nos exigiram solidariedade passiva”.
Nestas condições, os homens romperam. Com quem?
Com o sr. Armando de Salles? Naturalmente que deveria ser. Não há gato e
cachorro em S. Paulo que não saiba que o sr. Armando de Salles Oliveira é o
inspirador, o guia, o chefe, o dono, o proprietário, o senhor absoluto do
Partido Constitucionalista.
Dizer que não, é querer tapar o sol com uma peneira.
Nestas condições, uma vez que já tínhamos
tido à primeira desilusão, quando vimos que os senhores Alcântara e Motta não
haviam rompido por motivos ideológicos, esperamos, ao menos, que rompessem com
quem de direito, o que seria, pelo menos, uma saída. Uma saída digna, não de intelectuais,
mas de homens comuns, como qualquer membro de diretório municipal.
Mas — pasmem os céus! — os dissidentes não romperam
com sr. Armando de Salles Oliveira.
Só romperam com o sr. Laerte Assumpção. Só romperam
com o Diretório. O Governador, esse, autor principal das desconsiderações aos
reclamantes, continuará recebendo as homenagens dos pobres solicitantes desatendidos.
Y
É, nestes últimos tempos, incontestavelmente,
o Manifesto em questão, o documento mais triste da vida brasileira. É um barômetro.
Marca uma altitude. Através dessa tristíssima página, sabemos já por onde
andamos e em que nível caminha a política nacional,
E quando nós dizemos que os partidos estão morrendo,
os homens práticos nos olham de lado e penalizados, exclamam: — estão sonhando
acordados.
E é assim, mais cedo do que se pensa, O
Integralismo estará triunfante sobre os escombros das velhas estruturas, altivo,
dominador e abrindo tempos novos a um Novo Brasil.
Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 21 de Fevereiro de
1936.
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