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Ela tem a forma de um
homem de braços abertos e em posição vertical. Ela se firma na terra, ergue a
cabeça para o Céu e estende os dois braços horizontalmente, como a abranger
toda a Humanidade.
Não podias mesmo ter a
morte dos condenados ao veneno, como Sócrates, nem dos que foram compelidos a
cortar as veias, como Sêneca, porque aquela representa o homicídio pela
ciência, e a ciência jamais te matará, e esta é o suicídio forçado a que se
subordinam os estóicos materialistas e tu és a expressão mais sublime do
sentido espiritual da existência.
Sócrates e Sêneca rolam
por terra ao morrer. Tu, porém, devias estar de pé na tua agonia e mesmo depois
de morto. E não apenas de pé, mas erguido no madeiro; e não somente erguido no
madeiro, mas levantado no cume de um monte; e não só levantado na montanha, mas
abarcando os horizontes com teus braços num abraço universal.
Não podias também morrer
pela forca, pois o patíbulo forma apenas um ângulo reto, sendo corpo de um só
braço e figura curvada para a terra, sem cabeça que se erga para o Infinito; ao
passo que a Cruz compõe quatro ângulos retos, ou seja 360 graus, isto é, a
circunferência, misterioso símbolo da Eternidade e de Deus, sem princípio nem
fim.
Não podias sofrer a
morte por degolação, como padeceram muitos de teus discípulos e numerosíssimos
inocentes e criminosos; porque a tua Cabeça não podia separar-se do teu Corpo,
já que significas a própria Unidade em Ti e fazes de nós, que te amamos, uma
Unidade em Ti.
E não era ainda possível
que te assassinassem consumindo-te pelo fogo, como tantas vezes fizeram a
muitos que sofreram a justiça ou a injustiça dos homens, porque não vieste para
destruir os corpos, mas para lhes prometer a purificação pela virtude e a
glória pela ressurreição.
Nos mínimos pormenores
da tua Vida e da tua Morte, encontramos misteriosos sinais que jamais ocorreram
nem na Vida nem na Morte dos maiores dos homens a que a História do pensamento
ou da ação humana se refere. Não foi, por certo, sem motivos divinos, que,
entre tantos instrumentos de suplício, escolheram-te a Cruz.
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Excerto do 1º Capítulo (págs. 8 e 9)
do Livro de Plínio Salgado, “A tua Cruz, Senhor... e outros escritos” – 1ª
edição – Rio de Janeiro – Livraria Clássica Brasileira – 1954 – 245 págs.
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