sábado, 30 de setembro de 2023

Consciência Popular (06/02/1937)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Consciência Popular (06/02/1937)

Plínio Salgado

Numerosos foram os telegramas e os telefonemas que integralistas me enviaram ontem, exprimindo os seus aplausos às palavras com que me referi ao egrégio Tribunal de Segurança e ao seu digno presidente, por motivo da transferência dos camisas-verdes da Bahia, que ali se encontravam presos, por ordem do governador do Estado.

Os aplausos revelavam claramente estes dois pensamentos: o respeito, a admiração pelos ilustres magistrados, que constituem aquele Cenáculo da Justiça, e a entusiástica simpatia pelo gesto do sr. desembargador Barros Barreto, que, na qualidade de presidente, foi quem deu o despacho favorável à petição da Acção Integralista Brasileira.

Realmente, como acentuei ontem, o ato do sг. desembargador Barros Barreto não foi apenas um ato de justiça, mas também um ato de coragem, demonstrando que s. ex., acima de quaisquer considerações de ordem política ou interesses do momento, ainda quando os mais ponderáveis, coloca o respeito à verdade, o cumprimento de um dever de consciência.

A ele, aliás, se dirigiram, assim como ao digno procurador dr. Hymalaia Vergolino, os nossos agradecimentos públicos em nome de pais de família que sofrem as consequências do seu acendrado amor à Pátria. Ao Tribunal, deixamos, nestas colunas, a expressão do nosso respeito e da nossa confiança.

Mas, ditas estas coisas de passagem, o que eu quero focalizar, nestas linhas, é a palpitação de uma consciência popular claramente orientada em face dos últimos acontecimentos brasileiros.

Há, no povo, um profundo bom-senso, uma intuição aguda, um poder de julgar muito superior ao que podem imaginar aqueles que o observam e que pretendem conhecê-lo. O povo não se ilude a respeito das instituições, dos órgãos do Poder Público, das personalidades em foco, dos assuntos que a Política debate à sua revelia.

E a crítica silenciosamente exercida pela massa, debaixo de uma ditadura de uma imprensa que lhe manipula diariamente a dose de raciocínio, estandardizando-lhe o pensamento e o sentimento, é uma crítica frequentemente manifestada em certas atitudes irrecusáveis como elementos documentários.

Venho observando certos fenômenos muito eloquentes, desde o aparecimento do Integralismo. Um deles, por exemplo, é o fato de jamais o povo haver tentado ridicularizar os camisas-verdes. Quem conhece o povo, e principalmente o povo carioca, sabe que nesta grande metrópole nada escapa à anavalhante ironia da multidão. Os vultos políticos, todas as organizações, todos os fatos notáveis, servem de objeto a uma série de anedotas, de jogos de palavras, de versos, de canções de rua, de apelidos, de chalaças. Ao observador superficial, essa atitude do carioca é levada em conta de traço de inferioridade, de displicência pelas coisas graves e sérias e, entretanto, este julgamento é injusto para um povo que pode ser considerado um dos mais inteligentes do mundo, sendo em muito semelhante ao povo de Paris. Quem aprofundar mais no estudo desta fisionomia urbana, terá de verificar que a ironia, o sarcasmo, o humorismo alegre, o desprezo que este povo manifesta por certas coisas e certos homens, são aspectos exteriores de um traço grave; austero de caráter. Essa massa popular ironiza e ridiculariza aquilo que ela sente ser indigno de admiração e de respeito, aquilo que é nocivo à nacionalidade, aquilo que se apresenta sob falsos mantos, trazendo no fundo um vício.

Este Movimento Integralista, desde o seu início, teve contra si a totalidade da imprensa. Nunca se viu surgir um partido sem que contasse, ao menos, com a simpatia de alguns jornais. O Movimento do Sigma teve contra ele todos os jornais. Uns o guerreavam pelo silêncio, outros pelo aparte violento, sórdido, através de injúrias e calunias; outros tentavam desesperadamente cobri-lo de ridículo. Foi inútil. O povo não aderiu à imprensa. Na sua intuição profunda, percebeu que, se havia alguma coisa no País isenta do ridículo, era este Movimento que não trazia um só elemento de comédia às revistas teatrais, como os demais partidos, porque o Integralismo era trágico, era sincero na sua expressão de dor nacional e de esperança de salvação.

Os comunistas, dispondo de colunas da imprensa, tudo fizeram para dar apelido aos camisas- verdes, para ironizar o Chefe do Sigma, para arrastar o Chefe e comandados ao escárnio público. Foi inútil. Anedotas artificiosas, sem a espontaneidade das criações populares, foram balbuciadas e morreram sem repercussão na indiferença da massa. Caricaturas, epítetos, cinicamente repontavam na Imprensa soviética e nasciam mortas. O povo não aderiu. O povo manifestou, claramente, inequivocamente, que estava com o Integralismo.

A esse povo devemos a nossa vitória. Somos hoje uma força nacional porque fomos apoiados petas populações das Favelas, pela gente do subúrbio, pelos que sofrem, pelos que trabalham à sombra dos "arranha-céus" e no estridor das máquinas. O Integralismo foi amado pelos habitantes de Cascadura, 'do Engenho Novo, do Meyer, do Catumbi, da Gamboa, dos morros do Pinto, da Viúva, do Salgueiro, de São Carlos, pelos rapazes das escolas, pelos malandros, pelos sambistas, pelos artistas da nacionalidade que aprovavam, que aplaudiam, que consagravam, que defendiam a sua própria salvação, a única salvação: o Integralismo.

Conhecendo e estimando este povo que é ainda o mesmo da aurora da Independência, da noite das garrafadas, da abdicação, da Abolição, da República, eu compreendo o alto valor dos telegramas e telefonemas que recebi ontem, porque exaltei o sofrimento, a dignidade, a grandeza do Tribunal de Segurança Nacional, constituído de juízes que diariamente padecem o que não sofre nenhum outro juiz do Brasil: o insulto dos agentes de uma potencia estrangeira que nos quer escravizar covardemente, utilizando-se de brasileiros que renegaram a sua Pátria para servir os sovietes.

A ressonância das minhas palavras na alma popular dá-me a certeza de que, quando falo, interpreto os mais sagrados pensamentos, as mais altas aspirações, os mais decididos desígnios, o senso crítico mais agudo de um povo que, aparentemente, parece assistir a tudo com indiferença, mas que está pronto a levantar-se no instante que verificar que o Brasil precisa assumir uma atitude heroica, surpreendente e enérgica.

E a noticia que aqui registro dessa espontânea manifestação demonstra que o desembargador Barros Barreto, quando transferiu os camisas-verdes presos na Bahia, para esta capital, não somente praticou um ato de Justiça mas também atendeu a uma aspiração do povo.

A medida foi justa e foi popular.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 06 de Fevereiro de 1937.

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Crime contra a Nação (04/03/1936)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Crime contra a Nação (04/03/1936)

Plínio Salgado

Começa a crescer um rumor sobre a possibilidade de se adotar no Brasil, para substituir o sufrágio universal, nas eleições para Presidente da Republica, o voto indireto.

Dentro da liberal-democracia, não há maior crime contra a soberania nacional.

Quem lê as páginas imortais de Ruy Barbosa, na memorável campanha que sustentou, no Império, contra esse método deturpador da linha pura do liberalismo democrático, não pode deixar de reconhecer que, a manter-se o sistema vigente da democracia inorgânica, não há por onde fugir do sufrágio universal que, pelo menos, traz a comparticipação da massa na solução dos grandes problemas nacionais.

As eleições indiretas para a Presidência da República significam a maior das imoralidades. A Constituinte, que votou a Carta Magna de Julho, que nos rege, teve o bom senso, a honestidade de, pelo menos, manter com as fórmulas antiquadas, o processo eleitoral que mais se aproxima da sinceridade do regime.

*

* *

Ninguém mais do que nós, integralistas, somos contrários por princípio, por doutrina, por índole, ao sufrágio universal. Ele exprime a vontade desorganizada das turbas. Ele se afasta dos legítimos centros de interesse, em torno dos quais giram as aspirações humanas, os desejos honestos e vontades dos grupos naturais em que o homem se enquadra na sociedade.

Mas o sufrágio universal só pode ser substituído pelo voto corporativo. Si o voto popular, expressivo tão somente da vontade política, alheio completamente aos interesses de ordem econômica e moral, já não se coaduna com o ritmo dos tempos modernos, em que entra mais um fator na atividade política, isto é, a questão social, esse voto só pode ser suprimido, quando a sociedade, reestruturando os seus quadros, possa dar um sentido orgânico às vontades que nela se agitam. Só então, será possível, sem ferir de morte a democracia, instituir-se a eleição indireta, para o Chefe da Nação.

A Câmera Corporativa Nacional exprimirá a consciência perfeita, exata, de cada ciclo de atividade econômica, cultural, moral do país. Essa representação é legítima, porque não terá vindo de conchavos de bastidores, de negociatas políticas, de promessas mentirosas, de fraudes eleitorais, de pressões policiais, de perseguições governamentais, de violação das consciências. É legítima porque traduz atos de liberdade, da liberdade possível, que será aquela exercida no âmbito da classe profissional, sem nenhuma pressão exterior.

Essa Câmara poderá e deverá eleger o Presidente da República, porque ela exprime interesses reais, naturais e humanos do povo, não desorganizado, mas organizado em cada classe. Dessa maneira, não se fere de morte a democracia. Pelo contrário: racionalizando-a, a ela se imprime uma vitalidade definitiva.

*

* *

O Integralismo, quando pretende substituir o sufrágio universal pelo voto das corporações, não condena de uma maneira essencial o princípio do "voto". Respeitando o livre-arbítrio da personalidade humana, respeitando a liberdade da "pessoa", reconhece que o "voto" exprime esse livre-arbítrio, essa liberdade. O que nós condenamos é o voto popular em que se traduzem as heterogeneidades sociais, pelo que pugnamos em prol do voto que exprima opiniões "homogêneas".

A doutrina integralista é bem simples, e, por ser muito simples, parece difícil, porque, como dizia Alberto Torres, o destino das idas simples é não serem facilmente compreendidas. O comum dos homens letrados prefere as ideias complicadas.

Por isso, até mesmo muitos que se dizem integralistas, não penetram neste pensamento, que, em última análise, constitui o princípio fundamental da nossa doutrina política: em vez de matar a democracia, nós queremos salvá-la. Salvá-la de que modo? Dando-lhe novos processos de auscultar a opinião. Vitalizando o "voto", que está morto. Moralizando o sufrágio, submetendo-o a um ritmo que é o sentido moderno da organicidade das forças nacionais.

*

* *

Nestas condições, si combatemos o sufrágio universal, muito mais combatemos a eleição indireta para Presidente da República, quando esta é oriunda de delegados que receberam outorga de poderes do sufrágio universal.

A eleição de deputados na liberal-democracia, todos sabem como se a faz. Não se elege um deputado por interesses nacionais; não se elege um deputado por interesses humanos legítimos. Um deputado é eleito em razão de interesses artificiais, efêmeros, muitas vezes imorais.

A promessa de uma ponte, de um emprego, de um favor municipal, pode eleger um deputado. Esse homem não traz para a Câmara nenhuma inspiração nacional. Seria uma imoralidade assombrosa que esse homem votasse para Presidente da República. A outorga que ele recebeu não foi para isso. Foi em razão da ponte ou do emprego prometido.

* *

*

A eleição indireta para Presidente da República é um conto do vigário passado ao povo. É como si alguém recebesse uma procuração especial e pretendesse usar de plenos poderes. É uma exorbitância de mandato. É uma "chantagem".

A eleição indireta é a fonte das oligarquias perniciosas. É a supressão de todas as liberdades populares. É um abuso de confiança.

Pior, porém, do que tudo isso (posso assegurar e desde já prenunciar os acontecimentos futuros) a eleição indireta do Presidente da República será, infalivelmente, a porta aberta à revolução armada.

Terão os políticos, na sua ambição, perdido todo o bom senso? Não pensarão eles nas futuras desgraças nacionais? Pretenderão violentar da maneira mais cruel, o povo brasileiro? E estarão dispostos a arcar com as consequências?

Que estas perguntas fiquem no ar. E que ninguém diga que uma voz não se ergueu quando se fala em praticar uma loucura, uma das mais perigosas loucuras, que é a compressão das massas eleitorais, a violação dos princípios básicos do regime.

E dizem que temos uma Lei de Segurança...

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 04 de Março de 1936.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Tristes processos! (02/02/1936)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Tristes processos! (02/02/1936)

Plínio Salgado

Regressei ontem de Belo Horizonte, trazendo ainda aos meus ouvidos o eco das aclamações delirantes dos camisas-verdes mineiros, cujo entusiasmo bem demonstra que Minas Gerais despertou pelo milagre do Sigma, revivendo as suas tradições antigas e o seu idealismo que enche a nacionalidade, desde o episodio glorioso da Inconfidência.

Viajando de automóvel, vim encontrando no longo percurso as multidões de "camisas verdes", moços e velhos, senhoras, moças e crianças, vibrando no mesmo sentimento, guiados pelo mesmo pensamento e arrebatados pela mesma fé.

Depois de Nova Lima, de Lafayette, João Ribeiro, Barbacena, Santos Dumont, cidades em que palpita a Ideia Nova, num magnifico misticismo da Pátria, num vitorioso esplendor de alegria e confiança, a recepção em Juiz de Fora excedeu a minha expectativa. Em seguida, foi Mathias Barbosa, Entre Rios, e finalmente Petrópolis, onde a alma fluminense palpitou com aquele entusiasmo que sempre a animou, desde o primeiro dia da propaganda integralista nessa província.

Aqui cheguei à meia noite do dia 31, depois de verificar com meus olhos e com meus ouvidos a realidade do Integralismo, transformado já em fenômeno social irremovível da vida brasileira.

Hoje, pela manhã, trouxeram-me um exemplar do "Diário da Noite", que estampava na sua primeira página, em letras formidavelmente escandalosas, esta monstruosidade:

"VINTE E QUATRO HORAS PARA ABANDONAR A CAPITAL MINEIRA - O SR. PLINIO SALGADO ESTAVA AGINDO CONTRA A LEI DE SEGURANCA E EMBARCOU LOGO APÓS HAVER RECEBIDO A INTIMAÇÃO DA POLICIA".

Em outro local desta folha, publicamos a entrevista que o sr. chefe de Polícia de Belo Horizonte concedeu ao companheiro Madeira de Freitas, pelo telefone, desmentindo categoricamente essa infâmia.

Cumpre-me, porém, ao dar as impressões de Minas Gerais dizer duas palavras sobre a polícia mineira da capital. É um dever de minha parte, ao verificar a calúnia que se atira contra as autoridades de Belo Horizonte, que excederam-se em gentilezas para comigo, que me deram mais plena liberdade, que me permitiram, em pleno estado de sítio, realizar uma conferência em lugar público quando eu estava convencido de que só o poderia fazer na sede integralista, para os integralistas.

O Sr. chefe de Polícia de Belo Horizonte, por intermédio da Delegacia de Ordem Social, cumulou-me de bondades, chegando a determinar que o meu automóvel fosse sempre seguido por quatro inspetores, com o fim de me garantir contra qualquer atentado de comunistas.

Os camisas-verdes andaram livremente, com a sua camisa, sem paletó, em massa, pelas avenidas e ruas da capital mineira. As multidões se aglomeravam à minha passagem, sem a menor providência da polícia para dispersá-las.

Volto encantado pela superioridade de vistas do governo mineiro. Falei durante três horas, num teatro local. Disse tudo o que queria; critiquei os situacionismos dos Estados; fiz considerações sobre os partidos políticos; desenvolvi a maior e mais intensa propaganda do Integralismo.

Julgo-me, pois, no dever de assumir pessoalmente, a defesa do sr. chefe de Polícia de Belo Horizonte e de seus auxiliares. Assumir a defesa e agradecer publicamente todos os cuidados, bondades e liberdades de que fui alvo na capital mineira.

A estas horas, já as agências telegráficas, uma das quais visivelmente mancomunada com Moscou, no intuito de desmoralizar o Integralismo, devem ter espalhado por todo o Brasil a infame balela. Os jornais das capitais brasileiras devem ter reproduzido com a ingenuidade com que se costuma estampar esses despachos.

Não disponho de um aparelhamento assim para agir em sentido-contrário, desmentindo. Disponho, porém, da disciplina Integralista e da confiança do meu povo. Esses tristes processos estão completamente desmoralizados. Vivem apenas uma tarde, impressionam os tolos, mas o bom senso nacional, de há muito já condenou.

A esses tristes, ridículos, lamentável processos de difamação, tenho a responder apenas isto:

- Tudo será inútil. As manifestações a que assisti em todo e território mineiro, tanto na ida como na volta, revelaram-me um estado de espírito muito sério e muito grave do país. E isso que se passa em Minas se passa em todo o Brasil. Por isso, nós venceremos. Serão inúteis todas as calúnias, todas as injúrias, todos os boatos, todas as intrigas, todas as letras garrafais das "manchetes". O Integralismo é hoje uma fatalidade nacional. Nada me deteve quando eu contava apenas com 47 operários e estudantes. Nada me deterá agora, que somos oitocentos mil. Nossa marcha pacífica mas enérgica, nossos processos subordinados as leis do país, mas seguros, firmes e decididos, marcam o ritmo de uma vitória que é cada vez maior. Indicam o dia da vitória final, tão certa como o próprio destino da Nacionalidade,

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 02 de Fevereiro de 1936.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

A Angústia de Pilatos (31/01/1937)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

A Angústia de Pilatos (31/01/1937)

Plínio Salgado

Um rumor de passos e de vozes cresce na escadaria do palácio de Annaz, o Pontífice. Punhos fortes batem-lhe à porta. O velho sacerdote entreabre o velário e os archotes da turba iluminam-lhe as longas barbas brancas. A esse clarão, também Annaz divisa, entre populares exaltados, a silhueta de Jesus. Um arrepio corre pela sua espinha. O Sumo Sacerdote estremece.

-Que quereis?

- Este homem deve ser julgado.

Annaz sabe, no íntimo d'alma, as razões políticas da exaltação feroz daqueles punhos que se erguem ameaçadores. Essa prisão fora concertada nos conciliábulos secretos, em que ele próprio também tomara parte. Mas Annaz estremece. Qualquer coisa lhe agita o espírito. Um terror vago lhe assalta o coração. Suas pernas tremem. Parecia-lhe tão fácil julgar um inocente. E, entretanto, o Pontífice empalidece.

Empalidece porque sabe que é preciso condenar. Assim o determinam as razões de Estado. É necessário ouvir as respostas do Justo ao interrogatório. É preciso interpretar a Lei de conformidade com os interesses do momento. E ele treme.

Os acusadores se agitam. Sobe um clamor. Urge dizer alguma coisa.

Então, Annaz, Sumo Pontífice, apela para uma preliminar. Não pode tomar conhecimento do caso, porque não lhe toca esse ano o exercício do pontificado. Quem está funcionando é Caiphás, seu genro.

E Jesus é levado a Caiphas.

II

Caiphas, rodeado dos juízes, interroga o acusado.

Os que o prenderam exigem a pena de morte. O Sumo Pontífice, porém, não tem poderes para decretar a pena de morte. Isso compete às autoridades romanas.

Jesus é interrogado. Longamente. Torturantemente. Mas tudo o que ele responde, se crime constitui em face da Lei, é crime de caráter religioso. Derrubam-se os livros. As frontes se curvam sobre os textos. Os hermeneutas discutem. E, assim, atravessam a madrugada.

No íntimo dos doutores há um esquisito terror. O terror em face da Verdade,

Pela manhã, depois de longos estudos, sentam-se em suas cadeiras, para se pronunciarem em definitivo.

Socorrem-se do mesmo expediente de Annaz. Em acordão unânime, decidem que não cabe a Caiphás o julgamento, pois, declarando-se Jesus rei dos Judeus, pratica um ato de rebelião contra Cézar. Ora, uma atitude de rebeldia contra o Império Romano é crime que só as leis de segurança do Império podem punir, através de autoridade do Império.

Não se trata de um crime comum, mas de um crime político. O tribunal, intérprete e aplicador da Lei de Moysés, não tem poderes para se imiscuir em assumpto cuja consideração apenas a Cézar e seus delegados compete.

Isto posto, enviam Jesus a Pontius Pilatos.

III

A clâmide sagrada não pode ingressar sem mancha no Pretório pagão. Transcorre a Páscoa e a casa do gentio polui com o seu próprio ar o povo escolhido. Assim, em altos brados, no melo da rua, os sacerdotes e a turba exaltada clamam, chamando pelo Procurador Romano.

Pilatos está de mau humor. A hora é demasiadamente matinal para um nobre romano. E, depois, sua mulher o inquieta com a narrativa de um mau sonho.

Com um gesto negligente, um bocejo de tédio, a recordar o sonho de Calpúrnia, a mulher de Júlio Cézar, Pontius Pilatos caminha até a balaustrada do palácio. Alguma coisa lhe diz que se trata do julgamento de um Justo. Surda inquietação lhe rói a alma.

A multidão saúda-o num clamor,

Que quereis?

Achamos este homem sublevando a nossa nação, e proibindo dar o tributo a Cézar, e dizendo que ele é o Cristo-Rei.

Pilatos faz subir o acusado.

- És rei?

E Jesus:

- Tu o dizes.

O Procurador Romano volta-se para os príncipes dos sacerdotes:

- Nada de condenável acho neste homem,

- Mas ele subleva o povo contra Cezar, desde a Galileia...

Pilatos evoca a figura de Cézar. Treme de terror. Mas naquela palavra "Galileia", encontra a sua salvação. É fácil. Basta declarar-se incompetente. E que Herodes, cuja jurisdição era a Galileia, assuma a responsabilidade de considerar o mérito da questão.

IV

Jesus é enviado a Herodes. O tetrarca - narra S. Lucas -folgou muito; porque tinha, havia muito tempo, curiosidade de ver Jesus, de quem se contavam muitas coisas. Talvez pudesse presenciar algum milagre.

Os escribas e sacerdotes acusavam, agitadamente, o Nazareno.

Herodes, não tendo visto nenhum milagre, achou o caso desinteressante. E, mandando vestir em Jesus uma túnica branca, por escárnio, reenviou-o a Pontius Pilatos, alegando que o crime tinha sido praticado na Judéia, é não na Galileia.

V

Não tendo Herodes tomado conhecimento, a causa tornou ao pretório de Pilatos.

Chamando os príncipes dos sacerdotes e os magistrados, disse-lhes o aflito magistrado:

-Este homem está inocente. Vide que Herodes nenhum crime encontrou nele. Como quereis que eu condene?

-Bem se vê que não sois amigo de Cézar! Como quereis livrar um homem que concita o povo a sublevar contra o Império Romano?

-Pois bem, -diz Pilatos, estremecendo ao evocar a figura de Cezar - vou mandar açoitá-lo. Em seguida, eu o trarei à vossa presença e vos ouvirei.

Assim se fez. Momentos depois aparecia Jesus na balaustrada, diante da multidão, com uma coroa de espinhos na cabeça, um manto vermelho, uma cana entre as mãos amarradas e uma expressão de dor no semblante ensanguentado.

Estais satisfeitos? - perguntava Pilatos aos acusadores, que ele bem sabia, eram os verdadeiros inimigos de Cézar.

Mas estes respondiam:

À morte! À morte!

VI

Estava preso um perigoso bandido de nome Barrabás. Esse era um verdadeiro sedicioso. Sua rebeldia chegava ao extremo de não respeitar a autoridade dos magistrados. De punhos cerrados no ar, Barrabás rugia e deblaterava. Ameaçava os juízes. Fora encarcerado por crime contra a ordem, contra a propriedade, contra o pudor, contra a vida do próximo. Era um assassino cruel, que matava as vítimas quando dormiam, que negava a Deus e ao Direito.

Pilatos teve uma ideia suprema. Por ocasião da Páscoa, usava-se soltar criminosos, para que passassem essa festa no seio de suas famílias.

O sonho da mulher de Pilatos atormentava o espírito do Procurador Romano. Era preciso tentar ainda uma vez salvar a Jesus.

Barrabás e Jesus foram colocados em pé de igualdade. Um diante do outro, o Crime e a Virtude, deviam ser considerados segundo a mesma medida.

Barrabás era o extremista do Mal. E Jesus era o extremista do Bem, da Dignidade Humana, da Bondade.

Há, porém, certas épocas de loucura dos povos em que nos olhos delirantes a Virtude e o Crime se equivalem.

Pilatos socorria-se de um recurso extremo, sentindo-se incapaz de assumir uma atitude heroica.

Aqui estão Barrabás e Jesus! Devo soltar um criminoso no dia de hoje: escolhei!

Foi escolhido Barrabás, para que passasse a Páscoa com a sua família, ele que não respeitava a Páscoa nem acreditava na família.

Foi então que Pontius Pilatos, num gesto negligente e fidalgo, mandou vir uma bacia. Os criados despejaram a água dos jarros.

Pilatos lavou as mãos e enxugou-as numa alva toalha de linho.

Estava salva a dignidade da toga romana.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 31 de Janeiro de 1937.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

ANAUÊ! (02/02/1937)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

ANAUÊ! (02/02/1937)

Plínio Salgado

Anauê! Aos camisas-verdes da Bahia, encarcerados pelo crime de amar o Brasil!

Anauê! Aos que acreditam em Deus, aos que trabalham pela construção da Grande Pátria, aos que lutam pela defesa do princípio sagrado da Família!

Anauê! A esses homens que estiveram vigilantes em novembro de 1935, articulados com a autoridade militar federal, prontos para sacrificar as suas vidas na hora necessária!

Anauê! A esses homens que estiveram vigilantes e descobriram o "complot" do Tiro de Guerra da Escola Comercial; que fizeram frustrar a tentativa de rebelião civil organizada pelos comunistas em Massaranduba; que se infiltraram na Brigada Estadual, impermeabilizando-a contra o veneno Moscou; que puseram à disposição do comando da Região trezentos homens em poucas horas e dez mil, se necessário fosse, a fim de jugular qualquer arrancada vermelha!

Anauê! A esses patriotas exaltados no amor pelo Brasil, que, encontrando a Bandeira Verde-amarela ofendida, humilhada, atirada na sarjeta, levantaram-na, dignificaram-na, levaram-na em marcha glorificadora, arrastando atrás de si a multidão frenética de indignação, de ardor cívico, pelas ruas da Capital Baiana!

Anauê! A esses brasileiros que começaram a provar o fel das perseguições atrozes, desde o instante da derrota dos comunistas em novembro!

Anauê! A esses justos, a esses sustentadores da Ordem e das Tradições Nacionais, acusados de uma conspiração "de grande envergadura, destinada a derrubar o Governo", e em poder dos quais se encontraram, depois de uma devassa em mais de quatrocentos Núcleos e inúmeras casas particulares, estas formidáveis armas de guerra: - um revólver barato, com seis balas; uma espingarda de caça com cartuchos; e uma pistola com alguns projeteis - o que constitui a vergonha das vergonhas para os seus acusadores!

Anauê! A esses espíritos iluminados pela resignação cristã, que resistiram a todos os sofrimentos, incomunicáveis, separados de suas famílias, das quais estiveram ausentes na Nolte do Natal, quando comunistas famigerados obtinham a liberdade para assistirem o transcorrer dessa data nos lares que eles querem destruir!

Anauê! A essas consciências severas, nobres, retas, que não perderam a linha da dignidade, nem no desespero, nem na revolta, nem no sarcasmo, nem na ironia, nem no insulto, como fizeram e estão fazendo os bolchevistas, mas, pelo contrário, bateram serenamente às portas da Justiça, numa homenagem ao Direito, à Lei!

Anauê! A esses calmos, serenos, imperturbáveis mártires, que percorreram, como Cristo, todos os pretórios, assombrando a Nação pela sua perseverança em acreditar nos Juízes, em confiar na toga dos magistrados, e, ao cabo de todas as decisões, presas ao formalismo jurídico e alheias ao sentido profundo de humanidade e de verdade que deve ser a chave fundamental da interpretação e da aplicação do Direito, não segundo o próprio Direito, mas segundo a objetividade do Fato, aí estão, num último esforço, esperando a Justiça que, desta vez, não lhes faltará!

Anauê! A esses que comparecem à barra do Tribunal de Segurança, realizando o maior dos paradoxos da Historia: eles, os sustentadores da Ordem, apontados como fatores de desordem; eles, os máximos inimigos do comunismo, encarcerados em consequência do "estado de guerra" decretado contra os comunistas; eles, desarmados, presos pelos que se armam para o enfraquecimento do Poder Central; eles, os que se batem contra os conspiradores, acusados de conspiração; eles, que se fizeram os místicos das ideias de Deus, da Pátria e da Família, castigados porque pregam a sua doutrina de união dos brasileiros em torno daquelas três bases de toda a grandeza de um Povo!

Anauê! A esses camisas-verdes que, pelo seu sacrifício, realizaram o milagre nacional de multiplicar o numero de integralistas na Bahia, pois existindo ali 80.000 soldados do Sigma, esse número atingiu, agora, à cifra de 200.000:

Anauê! Aos integralistas da Província Heroica!

Anauê! Aos 22 passageiros do "Itaberá", navio que passou para as páginas da História do Brasil!

Anauê! De um milhão de camisas-verdes da Pátria!

Pela glória da Pátria Cristã, pela glória do Brasil de nossos filhos! Pela glória da Nação do Futuro! Pela glória dos nossos mártires! Pela glória dos sertanejos humilhados, ofendidos, espezinhados, por cangaceiros e esbirros opressores da consciência! Pela glória dos velhinhos, que antes de morrer, ainda assistem a esta ressurreição nacional! Pela glória da mulher brasileira - mãe, esposa, irmã, filha, noiva - cuja honra e pudor os integralistas defendem! Pela glória dos berços onde dorme a Grande Nação de Amanhã! Pela glória da Raça! Pela glória do Passado, do Presente e do Futuro, - camisas verdes de Guanabara, que assistis ao espetáculo grandioso da entrada desse navio, carregado de patriotismo - erguei a vossa voz, porque a vossa voz exprime hoje a voz de mais de um milhão de vossos irmãos de todos os rincões brasileiros, e gritai comino o, com toda a força:

- Anauê! Companheiros da Bahia! Anauê! Anauê! Anauê!

Sede bem-vindos entre os vossos Irmãos! Sede bem-vindos aqui, sob as bênçãos d'Aquele que, do alto da Montanha vos contempla e recebe! Deus vem vindo convosco, no vosso sacrifício e na vossa glória! Deus está conosco, no cais, em nossa emoção, em nossas lágrimas, em nosso entusiasmo, em nossa exaltação, em nossa mística! E quando vos falharem todos os tribunais da terra, confiai n'Ele! Conosco ele veio, desde o primeiro dia; com mosco está, e estará, nesta marcha e no dia da vitória, no dia da grande esperança e no dia da grande certeza, no dia da alegria e no dia da construção!

Sede bem-vindos, pelo nosso Sonho, pela nossa Angústia, pelo drama que vivemos, pela página épica que escrevemos, pela renovação dos espíritos na face da Terra, pelas luzes de uma Nova Humanidade!

Anauê! Anauê! Anauê!

Publicado originalmente n’ A OFFENSIVA, em 02 de Fevereiro de 1937.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Perante o Tribunal de Segurança Nacional (O5/02/1937)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Perante o Tribunal de Segurança Nacional (O5/02/1937)

Plínio Salgado

O ato do Tribunal de Segurança Nacional, determinando a transferência para o Rio dos integralistas presos por ordem do governador da Bahia e conservados em cárceres naquele Estado, foi um cato de extrema coragem, alto sentido de Justiça, expressivo da varonilidade dos juízes que compõem aquele Cenáculo, do qual hoje depende a vida ou a morte da Nação.

O parecer do íntegro procurador, dr. Hymalaia Vergolino, lançado no requerimento da "Acção Integralista Brasileira", demonstrou que aquele magistrado jamais deixará macular a sua toga pela politicagem que acoberta os desígnios secretos de komintern. A resolução do Tribunal e as medidas imediatas do ilustre presidente, desembargador Barros Barreto, elevaram a Justiça, honraram a magistratura, inspiraram ilimitada confiança do povo na inflexível linha de conduta desses patrícios, aos quais foi confiada a missão mais grave da hora presente: livrar o Brasil das tremendas ameaças de Moscou.

O sentido de alta responsabilidade, o rígido caráter, a dignidade intransigente de Costa Netto, Lemos Bastos, Raul Machado e Pereira Braga, revelados, dia a dia, em face desses episódios vergonhosos que o Soviét. nos apresenta à barra do Tribunal de Segurança, constituem o mais seguro penhor de que a Justiça, a Verdade, os interesses supremos do nosso país jamais serão ludibriados pelas manobras já conhecidas e desmoralizadas dos agentes da Internacional Comunista.

É preciso conhecer a época que estamos vivendo, de mentira sistematizada, de hipocrisias cínicas, de covardias inomináveis, de transigências criminais, de formalismos nefandos, de expedientes indecorosos, para se compreender a significação do ato do Tribunal de Segurança, que se tornou hoje, no meio da tormenta e da confusão dos espíritos, o reduto máximo da dignidade da Pátria.

Este caso dos Integralistas baianos tem para a República, a mesma significação que a chamada "questão religiosa" teve para o Império.

O estudo da Historia, das consequências advindas dos fatos históricos, nem sempre é levado muito a sério por aqueles que, em dado momento, encarnam o princípio da Autoridade. Há dias, um distinto patrício me falava de uma pergunta que um professor de Universidade americana lhe fizera sobre "qual a influencia que a prisão dos bispos pelo Imperador tivera na proclamação da Republica". Quem procura aprofundar-se no sentido daquele episódio dos tempos monárquicos percebe, porém, todas as consequências de ordem intelectual, moral, espiritual e política advindas de um acontecimento que nós não costumamos ligar ao advento do golpe de Deodoro.

Não quero aqui entrar no mérito da "questão religiosa", que determinou a prisão dos bispos D. Vital e D. Macedo Costa. Nem entro na apreciação das formas de governo, Monarquia ou República, para apontar superioridade de uma ou de outra. Analiso o fato em si, na sua essência, na sua índole, no desenvolvimento da sua linha lógica. Sem louvar, nem condenar, aprecio o fenômeno, como fenômeno, do mesmo modo como um matemático deduz um raciocínio ou um químico considera uma reação.

A vitória alcançada pela Maçonaria sobre os prelados brasileiros é o primeiro passo para a queda do Trono. E o Trono não percebeu...

O eminente Oliveira Lima, no seu livro "O Império do Brasil", torna bem clara, bem evidente essa verdade. Sente-se, meditando sobre as páginas daquele capítulo, uma abdicação virtual, precedendo a deposição de Pedro II.

Neste caso dos integralistas baianos, podemos dizer que a República está também jogando a sua cartada definitiva. Já agora não se trata de uma luta entre prelados e uma sociedade secreta. Trata-se de uma luta entre o próprio Brasil e a Rússia Soviética.

Uma derrota de Integralismo equivaleria ao triunfo esmagador da U. R. S. S. sobre a Pátria Brasileira.

Não estou exagerando. Basta rememorar os fatos.

Em 1935, no projeto da Lei de Segurança Nacional, que se elaborava para combater o comunismo, um grupo de deputados apresentou uma emenda proibindo organizações militarizadas. Essa emenda visava o Integralismo. Foi aprovada. O líder desse grupo de deputados esquerdistas encontra-se hoje preso, como implicado na revolução comunista de novembro: o sr. Domingos Vellasco.

Durante todo esse ano, como no ano anterior, desenvolveu-se tremenda campanha contra o Integralismo Essa campanha era dirigida pela "Aliança Nacional Libertadora", cujo presidente era Carlos Prestes. Em novembro desse ano, mesmo depois de trancada pela polícia, essa Aliança chefiou a rebelião comunista,

Havia um Jornal no Rio, que desencadeava uma campanha tremenda contra o Integralismo. Esse Jornal foi fechado por estar envolvido na revolução de novembro. Era "A Manhã".

Só esses fatos deveriam ser mais do que suficientes para que todos os brasileiros ficassem convencidos de que a guerra de morte ao Integralismo era movida diretamente por Moscou.

Todas as organizações bolchevistas atacavam, como ainda atacam, veementemente, o Integralismo. Todos os boletins apreendidos pela polícia e portadores da palavra de ordem da III Internacional visavam, em primeira plana, o combate ao Integralismo.

Mas foi, por fim, o próprio Komintern que abertamente se pronunciou, em princípios de novembro de 1935, no Congresso de Moscou. Numa das sessões daquela assembleia internacional, o líder Dimitroff pronunciou um discurso que as agências telegráficas transmitiram para o Brasil, sendo aqui publicado em todos os jornais. Nesse discurso. Dimitroff determinava aos comunistas brasileiros que tratassem, antes de mais nada, do fechamento do Integralismo, que constituía o único empecilho das investidas de Moscou. Aconselhava nesse discurso, a líder Dimitroff, que os comunistas se servissem dos deputados liberais-democratas, socialistas, sociais-democratas, assim como de todos os descontentes, para que votassem uma medida contra o Integralismo, a pretexto de defender as liberdades democráticas.

Atendendo à diretiva de Dimitroff, os communistas organizaram um bloco pró-liberdades democraticas na Camara Federal, attrahindo conscientes e inconscientes: Nas vesperas do levante communista, a Camara Federal votava uma indicação ao sr. presidente da República prepondo-lhe, ou a reabertura da "Aliança Nacional Libertadora", ou o fechamento da "Acção Integralista Brasileira".

Antes que o Chefe da Nação tivesse tempo de considerar aquela indicação, que fielmente transladava e pensamento do líder Dimitroff, rebentou à revolução comunista.

O Integralismo, infiltrado em todos os quarteis, em todos os navios, em todas as brigadas estaduais, em todo o funcionalismo, em todas as fábricas, tornou-se de tal forma um empecilho aos objetivos de Moscou, que o chefe da revolução vermelha, Carlos Prestes, em documento apreendido pela Polícia e publicado nos jornais, confessava que não julgara que o Integralismo constituísse uma força tão grande.

Precisaremos mais fatos para provar que perseguição no Integralismo é movida diretamente pelo Czar Vermelho, Stalin?

E na Bahia? Na Bahia é testemunha o coronel Delfino, comandante da força federal, do que foi a atuação dos integralistas. Infiltrados na Brigada Policial, com muitos companheiros oficias do Exército, com numerosos elementos no Tiro de Guerra, nas massas operárias, o Integralismo imobilizou qualquer tentativa de levante bolchevista. Foram os camisas-verdes que descobriram a conspiração no Tiro de Guerra, que levaram esse fato ao conhecimento das autoridades do Exército, do que resultou a prisão do responsável, um sargento, e a apreensão das armas; foram eles que impediram um levante de civis em Massaranduba, na península de Itapagipe; foram eles (enquanto os políticos assistiam de palanque) que puseram à disposição do coronel comandante da força federal, em poucas horas, trezentos rapazes, offerecendo dez mil, se preciso se tornasse; foram eles que, numerosíssimos no interior baiano, dominaram a situação, criando um clima saudável de reação nacionalista.

Agora pergunto: quando começaram as perseguições aos integralistas baianos? Acaso as medidas adotadas contra eles, em setembro de 1936, foram as primeiras?

Não. Já em dezembro daquele mesmo ano da revolta comunista, um capitão da Polícia, de nome Salomão, publicava uma ordem em Ilhéus, proibindo a propaganda integralista. Em numerosas localidades a perseguição teve início nos meses de dezembro de 1935, e em todos os meses de 1936.

A opressão aos humildes sertanejos integralistas atingiu ao auge, muito antes da fictícia conspiração de setembro de 36. Foram encarcerados numerosos Integralistas. Foram despidos de suas camisas. Este jornal deu notícias pormenorizadas de tudo isso, até com fotografias.  Ao mesmo tempo, o governador da Bahia, em discursos públicos, declarava que iria fazer guerra aberta ao Integralismo, principalmente no terreno doutrinário, tanto que ficamos esperando a publicação dos livros, com que o governador responderia aos cinquenta e tantos volumes de nossa doutrina.

Em setembro, de surpresa, são invadidos os quatrocentos Núcleos integralistas da Bahia, são presos os Chefes dos camisas-verdes. Que arma se arrecadam? Um revolver H. O., com seis balas, uma espingarda de caça e uma pistola velha. Sobre essa base, arquiteta-se um formidável plano de vasta envergadura para depor o governo da República:

Há uma carta. Afirmam que é gravíssima. Que diz? Manifesta o temor de um golpe comunista e declara que os integralistas baianos não possuem armas... E é tudo!

Esses homens são conservados presos, desde setembro! Se se tratava de uma conspiração de larga envergadura para depor o Governo da República, não era natural que as provas fossem enviadas urgentemente para o Rio? Mas correm cinco meses: Só então é remetido um grosso volume ao Tribunal de Segurança. Que contém esse volume? Fichas, papéis impressos, futilidades... E, de tudo, ressalta a preocupação dos integralistas diante do perigo de um surto bolchevista na Bahia; a preocupação de sustentarem, ali, o Governo Federal, a todo a transe.

Não é preciso alongar-me, porque voltarei ainda a tratar deste assumpto. Estas linhas, com esta narrativa, eu as escrevi para elevar bem alto perante os brasileiros as homenagens dos que se sacrificam pela Pátria contra Moscou, aos Juízes do Tribunal de Segurança Nacional, pelo seu desassombro, atendendo ao pedido da A.I.B. e transferindo para o Rio aqueles homens que se tornaram alvo de todo o ódio dos adeptos do Soviét., dos traidores da Pátria, como vimos no último julgamento do "habeas corpus" na Suprema Corte, quando os Integralistas dali se retiraram sob a chufa dos correligionários desses que comparecem de cuecas e de punhos fechados perante os magistrados, que hoje exprimem o último reduto do sentimento nacional vivo e palpitante.

Ainda há Juízes no Brasil. Perante eles iremos comparecer. Posso adiantar que os integralistas baianos não comparecerão perante o augusto Tribunal em atitude desrespeitosa, como aqueles que almejam a nossa destruição. Os integralistas baianos ao fitarem esses juízes, terão um ar de respeito, de veneração, de apreço, de acatamento, de gratidão por tudo quanto esses Juízes estão sofrendo gloriosamente pelo bem da nossa Pátria. A doutrina que eu ensino aos camisas-verdes é da humildade cristã, do brio, da altivez, da delicadeza do cavalheirismo, da exaltação do principio da autoridade.

*

* *

Neste instante, se alguma coisa mais immediata devem fazer os homens honestos e os brasileiros ciosos da honra de suas familias, é respeitar, acatar, prestigiar, exaltar, glorificar o Tribunal de Segurança Nacional.

Nem eu posso compreender como se tenha chegado a tal ponto de loucura no Brasil, que se levantem jornais e multidões em cólera porque, no jogo de futebol, um argentino deu um pontapé na canela de um brasileiro, ao passo que reina a maior insensibilidade quando um agente de potencia estrangeira ofende e insulta os juízes de um Tribunal da Nação.

O argentino é irmão do mesmo Continente; o judeu-russo é o trano que nos quer escravizar e vilipendiar. Como se pode odiar o argentino e ser benevolente com o agente russo? Como se pode dar mais importância ao futebol do que a uma questão de vida e de morte para a Nacionalidade, como é a luta contra o comunismo?

Por ninharias se empastela uma embaixada, um consulado; e este povo está tolerando a maior de todas as ofensas, a maior de todas as degradações, que é o espetáculo diário de homens obedientes a uma potencia estrangeira, que é a Rússia, desacatarem a própria dignidade nacional que hoje ninguém com mais responsabilidade encarna do que um Juiz, cuja missão é defender a Pátria em estado de guerra!

Agora, que a nossa causa vae para o Tribunal de Segurança, eu estou tranquilo, estou sereno, estou cheio de fé no Espírito de Deus, que iluminará a alma dos Juízes da minha Pátria. Porque esses não são os juízes tranquilos, não são os juízes das calmas Judicaturas, os juízes imersos na atmosfera exclusiva das controvérsias jurídicas; esses são os juízes que sofrem, que compreendem a gravidade da situação, que têm a boca amarga pela dor de uma Nacionalidade diariamente ofendida. São os juízes mártires. São, por isso mesmo, os juízes gloriosos.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 05 de Fevereiro de 1937

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

A PROVÍNCIA DO MAR (29/03/1936)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

A PROVÍNCIA DO MAR (29/03/1936)

Plínio Salgado

Eu ontem visitei a Província do Mar.

A Província do Mar é, no Integralismo, o setor glorioso dos marinheiros do Brasil.

Eu gosto de visitar essa Província, porque sinto percorrendo os salões da sua sede, que fica ali perto das águas da baía, junto ao cais, o cheiro das maresias e o convite dos largos ventos defraldados sobre a superfície verde do Atlântico.

Como me sinto bem no meio dos marinheiros da minha Pátria!

Marinheiros dos navios mercantes, que andam, de porto em porto, consolidando a unidade nacional! Marinheiros dos vasos de guerra, sentinelas da Arca da Aliança das tradições do meu Brasil!

*

* *

Rudes marujos, tostados pelo sol dos trópicos, perfis enérgicos de dominadores do mar, o Integralismo deu-lhes um sentido de grandeza, e eles veem sonhar comigo uma Grande Nação.

Como eu sinto, junto deles, a miragem do Futuro! Esta consciência de força que estamos criando, sob a estrela do Sigma, realizará, por certo, o milagre supremo. E eu vejo, com os meus olhos de devassar o Porvir, a grande esquadra, a grande marinha mercante, a poderosa aviação naval, que um dia honrarão nosso Povo, glorificando os nossos descendentes.

*

* *

Como sou grato a estes bravos marujos, que na sua sede me receberam com seus frenéticos "anauês!"...

Grita na sua voz toda a voz do Passado; o timbre audaz do comando nas horas trágicas e gloriosas: o rugido dos canhões, afirmando a soberania nacional; o clamor das tempestades no mar alto; mugido dos apitos; o canto das ondas verdes...

Há nos seus olhos brilho, o mesmo brilho que rutilou no olhar dos marinheiros da primeira esquadra das lutas da Independência; o entusiasmo de seus semblantes ainda é aquele que incendiou os rostos tostados dos brasileiros no Passo da Pátria, como na etapa gloriosa de Riachuelo.

*

* *

Que pretendem eles, nos dias escuros de hoje? Sustentar a honra do Brasil contra o comunismo e a anarquia.

Que fazem eles no Integralismo? Aprendem a ser mais corretos, mais disciplinados, mais laboriosos nos seus corpos, nas suas guarnições.

Que sonham eles? Uma Grande Pátria.

Mas, uma Pátria, construída em que fundamentos? Nos únicos fundamentos estáveis, indestrutíveis: Deus, Pátria, Família.

Como se portam perante o Poder Constituído? Respeitosamente.

De que modo querem vencer? Pela formação de uma consciência nacional, pela união de todos os brasileiros, pela unidade de um pensamento e de um sentimento.

Quando? Não os interessa; um dia, o Brasil inteiro clamará, apelando para os camisas-verdes. Os camisas-verdes não são nem governistas, nem oposicionistas: são brasileiros e amam seus irmãos, ainda quando afastados deles e mesmo quando sejam seus inimigos.

A Província do Mar é uma escola de civismo, de patriotismo, de abnegação, de disciplina, de entusiasmo, de energia. Ali se retemperam os espíritos. Quando todos os brasileiros forem iguais a estes, haverá paz, tranquilidade, prosperidade, força nacionais,

*

* *

A minha visita à Província do Mar encantou-me. Mais de uma centena de navios leva no seu bojo um núcleo do Sigma. Eles realizam o milagre da multiplicação, tanto no mar como em terra, por onde andam.

Numa viagem que fiz a Santa Catharina, trocamos radiogramas com as tripulações integralistas dos navios em trânsito. A nossa saudação ritual tem cruzado constantemente os espaços marítimos. É a voz do Brasil, a mesma voz que retumba nos sertões remotos e atravessa o oceano.

Neste momento, tão triste, encontrei motivos de alegria intensa junto dos camisas-verdes da Província do Mar.

Eu lhes dirigi a palavra. O salão vibrou delirantemente.

*

* *

A saída passei por um gabinete, onde dois mocinhos trabalhavam, dando conta de suas tarefas. Olhei bem para eles. Pensei comigo: "Possa eu construir a Grande Nação: e que, um dia, as crianças de hoje. que serão moços de amanhã, exatamente como estes, cerrem minhas pálpebras, enquanto os meus ouvidos escutem um rumor de trabalho e de força, de alegria e de glória".

Saí por entre centenas de marítimos. Seus olhos brilhavam. Suas fisionomias se abriam. E eu caminhei, no meio deles, sentindo, no fundo do coração, que uma grande obra já está realizada pelo Integralismo.

Indestrutivelmente. Para sempre.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 29 de Março de 1936.