domingo, 31 de março de 2024

O Estado Novo (04/11/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

O Estado Novo (04/11/1936)

Plínio Salgado

Li o belo telegrama de Lisboa, descrevendo a formidável manifestação de 50.000 pessoas ao Ministro Salazar. Essa extraordinária demonstração da vitalidade da alma lusitana despertou em meu espírito duas evocações.

A primeira foi a da emoção que senti quando numa bela manhã de céu azul e claro sol, subi à Torre de Belém, e contemplei o Tejo. Barcos de grandes velas pardas corriam mansamente. Eu olhava aquele rio de onde partiram um dia os "barões assinalados". Pensava nas reservas de força e de tenacidade desse pequeno povo que foi dominador dos oceanos, descobridor de continentes, desvendador dos mistérios da Costa d'África e do Mar Tenebroso.

Os brasileiros costumam, depois de visitar todos os países da Europa, passar pela Pátria de seus avós para falar mal dela. Invariavelmente, antes do fascismo e do salazarismo, todos os nossos patrícios que vinham do Velho Mundo, precisavam falar contra a Itália e Portugal, batendo sempre a mesma tecla. Esses nossos patrícios esqueciam-se de duas coisas: 1º) que no tempo em que o progresso, o esplendor, a força das nacionalidades dependia de valentia e de talento, foram esses povos latinos, as repúblicas italianas, os reinos de Espanha e Portugal que dominaram como potências; 2º) que, menosprezando os povos latinos, menosprezávamos as nossas próprias origens, e no menoscabo a Portugal, feriamos diretamente as nossas mais próximas raízes étnicas.

Ali, na Torre de Belém, na bela manhã, eu me lembrava daqueles que, no promontório de Sagres, sonharam a conquista de todos os mares, e da foz do Tejo partiram como audazes gigantes dominadores dos quadrantes do mundo. Considerava que, no advento da hulha e da navegação a vapor, sucedeu o declínio daquele grande pequeno povo, que não possuía carvão de pedra. Pensava quanto nos devemos orgulhar de ter como ancestrais os desbravadores de oceanos e de selvas.

A outra lembrança que me ocorreu foi de Sardinha, o criador do Estado Novo português.

Se não tivesse existido Sardinha não existiria Salazar. Se Sardinha não escrevesse os livros que escreveu e não gastasse os dias de sua luminosa mocidade na criação da mística do Estado Novo. Portugal, hoje, não seria o que é: uma voz respeitada entre as Nações, uma voz que se levanta altivamente e, sozinha, assume atitude desassombrada contra o pérfido Soviete.

As transformações do Estado não se fazem com medalhões, com discursos de governadores ou de deputados ou ministros. A grandeza dos povos não se faz por meio de decretos. O espírito nacional não se desperta só pelo fato de um homem de posição política pronunciar um discurso num banquete.

Enganam-se os que pensam que um país, quando está a pique de desagregação e ruína, pode salvar-se com uma plataforma de governo ou algumas leis modificando as estruturas políticas do Estado.

As leis, antes de serem leis, precisam viver na alma do Povo. O papel apenas consagra o que já foi consagrado na mística popular. A mística popular não se forma de um dia para outro. Ela provem de uma doutrina, e essa doutrina terá tido um longo período em que foi pensada e mais do que pensada, sofrida.

Depois, não basta expor a doutrina. É preciso viver a doutrina. É a obra do apostolado Mas o próprio apostolado não será apostolado, se tiver facilidades. Ele deve encontrar dificuldades, oposições, perseguições e opressões. Deve sofrer as incompreensões. Deve amargar

Um apostolado feito em carros "pulmann", com passes de estrada de ferro, com despesas pagas sem esforço é um apostolado ridículo, incapaz, por isso mesmo, de penetrar alma das massas.

Só o facto do apostolo dispor de empregos, proteções, máquinas de perseguição aos contrários, prestígio político, força material é o suficiente para ser um apostolo fracassado.

A luta deve ser áspera, deve ser dolorosa, deve ser o suplício de cada dia. O pregador deve ser injuriado e caluniado, deve ser falseado e negado, ser espezinhado e humilhado. Só então resplandece nele a luz misteriosa que os olhos materiais não veem, mas que os olhos da alma deslumbradamente sentem.

O Estado Novo fez de Portugal pequenino um Grande Portugal. Fez de um Portugal sem voz no concerto das Nações, uma voz que retumba com força e decisão. Mas Portugal não seria Portugal se não houvesse o apostolado de Sardinha e dos moços que o rodearam.

Antônio Sardinha pertenceu à raça daqueles para quem o Poder não exerce a mínima sedução. Pertenceu à raça dos grandes construtores. Dos alicerçadores. Dos criadores. Dos gênios, mil vezes negados. Mas a ele e deve a marcha de Portugal para o Estado Novo e a glória da gente lusitana nos dias atuais.

Sardinha morreu quase de repente, estupidamente, de uma septicemia que lhe entrou por una pequena inflamação no pé. Estava em viagem pelo interior de Portugal. Trouxeram-no urgentemente a Lisboa, mas já, era tarde.

Ele tinha cumprido a sua missão, como a cumprira, sob outro aspecto, Sidonio Paes.

O Destino reservou para Portugal uma coincidência curiosa. Na chefia do governo está Carmona, militar como Sidonio, penetrado pelo mesmo pensamento dele; na pasta de primeiro ministro, está Salazar, civil como Sardinha.

O telegrama de ontem, anunciando uma manifestação de 50.000 portugueses conscientes, trouxe-me à lembrança a figura de Sardinha, o doutrinador.

Ele foi como Corradini na Itália, como Jackson de Figueiredo no Brasil.

Ainda não se fez Justiça a Sardinha. É preciso glorifica-lo.

Eu recomendo aos integralistas do Brasil que leiam as obras desse escritor português. Seu pensamento político não é exatamente o nosso, mas muito se aproxima da nossa concepção de democracia e de autoridade nacional.

Lendo-o, compreender-se-á que ele é o autor de tudo. Do outro mundo, como o autor de uma peça de gênio, ele assiste no palco maravilhoso da sua terra, a representação da sua obra. Talvez os atores não executem com precisão o pensamento do autor. Mas, seja lá como for, a obra é daquele que a imaginou e a criou.

Publicado orginalmente n’A OFFENSIVA em 04 de Novembro de 1936.

sexta-feira, 29 de março de 2024

COMPREENSÃO (23/04/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

COMPREENSÃO (23/04/1936)

Plínio Salgado

Os camisas-verdes no atual momento brasileiro, entre as grandes dificuldades que se lhes antepõem e contra as quais oferecem, numa luta tenaz, energia da sua perseverança, glorificando-se, justamente, com o superá-las, terão de contar, com a maior de todas, a incompreensão de muitos brasileiros, cujos olhos foram vasados pelos interesses de campanário.

Quando um brasileiro, seja de que categoria social for, consegue, mediante o clássico estalo na cabeça que iluminou um dia o Padre Vieira, compreender o Integralismo, nós não temos dúvidas nenhumas: ele será, quando não um camisa-verde, pelo menos um simpatizante, ou, na pior das hipóteses, um patrício incapaz de guerrear, de qualquer modo, este movimento que exprime a própria dignidade da Nação.

Enquanto esse estalo na cabeça não sobrevém, para esclarecer uma consciência turvada pelas paixões dos partidos ou pelos caprichos da politicagem, o cego e surdo moral continua a ser um perseguidor de seus irmãos que outra coisa não querem senão salvaguardar tudo o que o Brasil tem de mais caro nas suas tradições e na sua honra.

É assim que, em Minas Gerais somos obrigados a recorrer aos juízes e tribunais, reclamando por direitos que nos assistem como partido político organizado, como o único partido nacional. É assim também que, em Santa Catarina, no Paraná, tivemos de solicitar remédios judiciários para o exercício dos mais legítimos direitos e a prática do mais puro patriotismo. E é assim que, nos dias transcorrentes, assistimos à tremenda opressão que sofrem os integralistas da Bahia, os sertanejos de todas as regiões do território baiano, pelo crime de amarem o Brasil e desejarem para ele uma posição de destaque no concerto internacional.

Tudo porque o verbo COMPREENDER não é conjugado pelas autoridades desses Estados. Pois estamos certos de que, no dia em que essas autoridades, que afinal de contas são brasileiras como nós e não podem desejar, em hipótese alguma, a desgraça do Brasil, compreenderem os serviços que o Integralismo já prestou à Ordem, o papel relevante que desempenhou como atmosfera de patriotismo, de nacionalismo, de espiritualismo, na recente revolução comunista de novembro, nesse dia, essas autoridades não criarão mais os mínimos óbices a um movimento ao qual o país já deve os mais relevantes serviços.

Basta olhar para o que se passa na Capital da República.

Aqui, o Integralismo é compreendido, é respeitado, podendo agir livremente no desenvolvimento de uma propaganda cívica notabilíssima pela sua eficiência.

Saibam os governadores dos Estados, os chefes de Polícia de todo o Brasil e os delegados de polícia de todos os municípios, que na Capital da República, os camisas-verdes contam com a visão superior das autoridades e, por isso, a sua propaganda pacífica, honesta, leal, por Deus, Pátria e Família, pela sustentação dos princípios morais em que se embasa a dignidade da Nação, é exercida com toda a liberdade.

Em nossa edição de ontem e na de hoje, estampamos os "clichés" relativos à concentração de integralistas no campo de um dos núcleos municipais da Guanabara.

Foi, na verdade, um espetáculo imponente, pela sua grandeza, pelo ritmo de disciplina revelado, pelo entusiasmo que brilhava nos olhares e convicção que se exprimia nas atitudes.

Homens de todas as idades e de todas as posições sociais - altos comerciantes, generais reformados, professores de escolas superiores, médicos, advogados, engenheiros, comerciários, estudantes, operários, mulheres e crianças, numa vibração inenarrável, reafirmaram sua fé inabalável nos destinos da Pátria e do movimento que abraçaram, nutrindo a íntima certeza de que ele será a salvação do país.

Esta deve ser a hora da boa vontade. Esta deve ser a hora em que todos os brasileiros dignos, honestos, devem esquecer seus interesses de partido, seus caprichos regionais, não mais olhando o integralismo como um inimigo, porém, como um baluarte, e o mais decisivo da defesa de suas próprias famílias e de tudo o que representa a honradez e a altivez do povo brasileiro.

Que todos aqueles que ocupam uma parcela de autoridade no Brasil, mirem-se no espelho que oferecemos em nossa primeira pagina.

Idolatrado por todos os homens de bem da Capital da República, respeitado pelas autoridades, que os camisas-verdes sabem também respeitar, o movimento do Sigma numa aureola de popularidade, numa atmosfera de amor que lhe dedicam as famílias e toda a população carioca, prossegue, livremente, na propaganda de seus nobres ideais e na arregimentação de suas forças eleitorais, culturais e, sobretudo, morais e espirituais, funcionando com toda a liberdade e encantando a todos os que nele veem as esperanças mais vivas e luminosas de uma Pátria.

Que esse exemplo sirva de padrão para todas as consciências de brasileiro de todo país.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 23 de Abril de 1936.

quarta-feira, 20 de março de 2024

A hora dos fortes (30/05/1937)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

A hora dos fortes (30/05/1937)

Plínio Salgado.

A doutrina política do Integralismo sempre foi desde o primeiro dia, aquela que afirma o primado do Espírito sobre a brutalidade das lutas sociais, consequentes de injustiças e desigualdades, de desequilíbrios econômicos, desorganizações financeiras, egoísmos ferozes.

Afirmámos, desde o primeiro dia, que a Revolução não pertence aos materialistas, porque, pelo simples fato destes negarem o Espírito, subordinam-se ao determinismo cego do mundo objetivo. Sustentámos, na hora primeira desta luta, a capacidade espiritual do Homem de intervir nos fenômenos sociais, para alterá-los, o poder da liberdade humana de modificar o curso da História, a faculdade criadora da Inteligência iluminada pela sagrada luz dos deveres.

O primeiro livro que apareceu coordenando as linhas do pensamento integralista foi uma pequena brochura chamada "O que é o Integralismo". Ali se dizia que entre a mentalidade materialista burguesa, na sua crueldade e na sua opressão contra os fracos e a mentalidade materialista das massas orientadas por uma doutrina de ódios, de rancores surdos, proclamávamos o direito da razão ordenadora, da razão construtora, da razão esclarecedora de equívocos, da razão disciplinadora das atitudes, da razão confraternizadora, da razão apaziguadora, da razão justiceira, da razão, a um tempo experimentalista, especulativa e moralista.

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Não levantei a bandeira do Sigma para que ela se tornasse a servidora humilhada do comodismo e da crueldade do reacionarismo burguês: não a levantei também para que ela se tornasse a flâmula das "jecqueries", e conduzisse multidões brutalizadas pelo próprio pensamento do burguesismo capitalista e tangidas pela demagogia tão cheia de impiedade como a alma de uma sociedade cujo esplendor disfarça as mais horrendas podridões.

A bandeira integralista foi levantada como expressão do Espírito. Ela não se confunde com os imperialismos nacionalistas nem faz causa comum com o paganismo daqueles que expulsam Cristo da sociedade na hora da reconstrução nacional.

 A firmeza dos princípios que lancei ao alvorecer deste Movimento dos camisas-verdes, tem sido minha fonte de amargura, mas também tem sido minha fonte de consolações.

Criar neste país uma Nação. Fazer dessa Nação uma síntese de harmonias econômicas, sociais, políticas, intelectuais, morais e espirituais. Oferecer um dia esta Pátria, no esplendor, Àquele que nos ensinou diligenciássemos pelo Bem, tudo isso foi, é e será meu objetivo, a razão de ser da minha vida, meu conforto nos momentos em que a consideração dos sofrimentos humanos me ensina que misteriosos destinos oferecem a cada homem uma tarefa a cumprir.

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A grande tortura dos que estão construindo alguma coisa para o Futuro está em que o seu Pensamento, no que ele tem de mais profundo, de mais delicado, de mais puro, nem sempre pode transparecer aos olhos profanos, através do terra a terra dos fatos quotidianos, das manobras indispensáveis à objetivação final de um plano pré-estabelecido. O êxito de uma obra desse vulto vem menos da compreensão das massas do que na sua fé no condutor. As sucessivas vitórias do Integralismo eu as atribuo mais a essa fé, que se torna a misteriosa linguagem das intuições.

É essa linguagem muda das massas que consola, conforta, anima, revigora, estimula, entusiasma o construtor.

O homem inteligente, o homem de leitura, nem sempre conserva em estado de perfeição essas antenas sutis. É que lhe falta a liberdade plena, a grande liberdade essencial dos espíritos virgens.

A imponente grandeza do Integralismo na hora presente procede dessa extraordinária capacidade de intuir das massas humildes, principalmente das massas camponesas, as mais sofredoras, as mais humilhadas, as mais indigentes nos grandes países de vastas áreas territoriais.

 Essa massa humana revela-se, dia a dia, como a força principal do Movimento do Sigma. Ela se levanta com uma firmeza admirável, com uma força incomparável.

Enquanto os homens da chamada alta sociedade, do mundo político, do mundo industrial, dirigem-me perguntas, essas populações nada perguntam e põem-se a marchar comigo. Enquanto os intelectuais leem várias brochuras por semana, discutem mil aspectos das questões sociais, embrenham-se pelos meandros das filosofias e refinam-se ao contato das literaturas mundiais, os humildes, os simples, no seu sofrimento sem artificialidade, na sua angustia sem transcendências, erguem-se, dão os primeiros passos decisivos, e já na param, porque se integram definitivamente num sentido novo de vida e de destino.

E contando com essa força das massas, que o Integralismo pode agora entrar numa luta magnífica.

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Realmente, é uma luta sem precedentes na História do Brasil. É a luta contra dois inimigos rancorosos, fortes, ameaçadores. É a luta contra o capitalismo, a plutocracia, a organização técnica de uma campanha, todo o poder do dinheiro de fortes grupos financeiros, de um lado; é a luta contra o caudilhismo, o estadualismo oficial, a prepotência de governadores do outro lado.

Para esta luta, em que estamos sozinhos, tocamos a rebate e chamamos a postos os fortes. Tudo o que temos feito de agora para trás foi uma obra de doutrinação, de preparação, de fixação de diretrizes práticas, de colocação no terreno da batalha. Mas, de agora em diante, é a batalha mesma.

Anteriormente, tínhamos uma vida inicial de organização, de adaptação de quadros internos, de experimentações, de composição e de recomposição de setores. Mas, agora, vamos ter uma vida de ação efetiva, de avanço no campo adverso, de contenda política, atacados por todos os lados, pelos flancos, pela retaguarda, pela vanguarda.

O fogo de dois adversários que se enfrentam e se odeiam reciprocamente, volve-se em conjunto contra nós. As razões do interesse político os separam; as razões de ordem doutrinária os unem contra o inimigo comum, que somos nós.

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O Integralismo neste instante da vida nacional lembra o episódio da Tragédia do Calvário. O tetrarca da Judeia, Herodes, e o procurador romano, Pilatos, reconciliam-se pelo simples fato de Cristo ser enviado de um para outro. O velho Herodes que recebera Jesus no seu Pretório, devolve-o vestindo-lhe uma túnica branca. Era o sinal da Paz.

Essa passagem tem uma aplicação profundamente significativa na hora presente. Mas, há ainda o terceiro elemento do glorioso poema bíblico. Entre o palácio de Herodes e o de Pilatos estão os fariseus, os saduceus, os agitadores da massa. Eles, muito mais do que os dois potentados, odeiam o Cristo. São eles que exigem o seu sacrifício.
Na hora nacional que vivemos, somos nós, integralistas, também, enviados do Palácio dos Governadores do Sul para o dos Governadores do Norte. Mas, entre o Palácio dos Campos Elíseos e os da Liberdade e da Aclamação, há os agitadores da revolução de novembro. São esses que pretendem conduzir a massa. São eles que falam na defesa da democracia. São eles que clamam pelas liberdades. São eles, traidores da Nação, que aguardam o instante para dar seu bote certeiro, a fim de escravizar as populações sofredoras à experiência soviética; são eles, os fariseus, os falsos intérpretes da Lei, os que renegaram no fundo do seu coração toda a dignidade e toda a bondade.

E é essa a luta que se nos apresenta. Por isso é que esta é a hora dos fortes. Por isso é que eu toco a rebate. Conclamo. Mobilizo. Que se levante a minha gente e venha porque é chegada a hora das grandes definições.

Contra o capitalismo internacional, contra as forças conjugadas da plutocracia, contra os poderosos que dispõem de dinheiro e de todos os elementos materiais para agir contra o Integralismo; contra o regionalismo que ameaça a Unidade da Pátria, os mórbidos sentimentalismos da gleba política; contra as oligarquias opressoras que constituem os partidos situacionistas em todos os Estados; contra o comunismo disfarçado, encapotado; contra todos os elementos que se afirmam em brutalidade, em crueldade, em materialismo, estamos de pé e sozinhos.

Isto é grandioso.

Isto é arrebatador.

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Que nenhum integralista perca um minuto. Urge a nossa gloriosa ação, a nossa coragem enérgica, a nossa decisão.

A bandeira que desfraldamos é aquela mesma que agitei nos ventos de Piratininga na tarde de 23 de abril de 1933. É a mesma sob cujas dobras o Manifesto de Outubro resplandeceu nos olhos de todos os Idealistas sinceros. É a mesma que levei ao Norte, semeando a Ideia Nova. É a mesma atrás da qual marchamos nas ruas de Fortaleza, a cidade onde primeiro se organizaram os camisas-verdes das regiões setentrionais da Pátria. É a mesma que triunfou no Congresso de Victoria.

Por ela jurámos vencer ou morrer. Com ela deverá morrer ou vencer o Brasil. Ninguém entra iludido para as nossas fileiras, por mais rico, poderoso ou sábio que seja, ou por mais humilde e sofredor que se apresente. Essa bandeira fala uma só linguagem. Reflete um só pensamento. Exprime um único destino. E é pelo seu milagre que agora centenas de milhares de homens e mulheres se levantam, convencidos de que nesta luta magnífica encontraremos as horas sagradas dos fortes, dos que não duvidam, dos que não esmorecem, dos que, tendo uma alma inquieta, um coração torturado, sabem superar inquietações e torturas íntimas, para viver nesta fé, nesta atitude, nesta firmeza.

A bandeira azul e branca está aberta. É um pensamento desfraldado. É uma convicção em marcha.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 30 de Maio de 1937.

domingo, 10 de março de 2024

Comandando homens livres (23/05/1937)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Comandando homens livres (23/05/1937)

Plínio Salgado

Desde ontem, realiza-se em todo o Brasil o plebiscito promovido pela Acção Integralista Brasileira, para que os camisas-verdes se manifestem sobre o nome de sua preferência a ser indicado ao sufrágio da Nação.

Esse comício eleitoral interno terá a duração de quarenta e oito horas, encerrando-se na noite de hoje. Reservo-me para falar aos integralistas na hora do encerramento, às 23 horas, pelo microfone da Rádio Sociedade Fluminense, em conjunto com a Rádio Transmissora do Brasil, desta capital, com a Radio-Club de Petrópolis e a Cruzeiro do Sul, de São Paulo.

Naquele momento, direi aos integralistas e à Nação as palavras necessárias e indispensáveis ao esclarecimento dos espíritos conturbados ou iludidos pelos falsos pregoeiros da democracia.

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Nestas colunas eu quero me dirigir aos camisas-verdes, que estão levando os seus votos aos Núcleos integralistas do país. Quero lhes dizer que a minha alegria hoje é imensa, porque estou sentindo esta coisa que nenhum político do meu país pode sentir: eu comando homens livres!

Um homem público não pode ter maior prêmio, não pode aspirar uma glória maior. Sinto-me plenamente pago de todo o esforço de quatro anos de atividade evangelizadora e de organização do único partido nacional do Brasil.

Existe uma consciência integralista. Existe uma corrente volumosa de brasileiros que já não segue homens, porém uma doutrina. Uma corrente de opinião que tem verdadeiramente opinião sobre os problemas nacionais.

Não jogo com figuras de retórica: jogo com realidades. Quando digo "a opinião dos integralistas", sei que estas palavras não são vãs, para discursos de banquetes ou orações de plataformas. Elas exprimem, não uma verdade ideal, mas uma verdade concreta. O que era um pensamento no cérebro dos primeiros doutrinadores, tornou-se um fenômeno evidente, um fenômeno social que só os loucos poderão negar ou desconhecer.

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A existência dessa "opinião" é que me levou a determinar se realizasse este plebiscito. A coletividade Integralista não precisa de tutores. Adquiriu maioridade. Afirmou-se em capacidade deliberativa. Seu guia é uma doutrina. Sua opção decorre do conhecimento e do sentimento dessa doutrina.

Nenhum interesse material ou de qualquer outra natureza subalterna reúne esses homens de camisa-verde.

Todos eles são independentes. Não precisam de mim, nem das autoridades do seu Partido para coisa alguma. Em vez de lhes dar qualquer coisa, exijo deles todos os sacrifícios. Em troca desse sacrifício, esses brasileiros recebem, muitas vezes, como prêmio, as perseguições dos bolchevistas ostensivos ou encapotados, que ainda têm força e prestígio neste país.

Homens e mulheres assim, que, espontaneamente, num ato de liberdade, juraram seguir este nosso caminho, fiéis à doutrina que professamos, podem realmente dizer que são livres.

Se eu não comandasse criaturas livres, não iria perder tempo ordenando a realização de um gigantesco e comovente comício eleitoral, a fim de que cada um viesse dizer claramente, ostensivamente, como deseja que se resolva este caso da apresentação do nome do nosso candidato à presidência da República.

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Poderiam fazer isso os chefes dos partidos regionais que infestam este país?

Evidentemente que não, porque para se fazer isso é necessário, antes de tudo, esclarecer as consciências, através de uma doutrinação continua. Foi assim que procederam os partidos? Não; eles só procuram os seus eleitores nas vésperas de eleição. Durante todo o ano esses partidos não publicam, já não digo livros, como nós fazemos, nem mesmo algum folheto elucidativo do programa que eles têm em vista realizar. O povo ignora completamente o pensamento filosófico ou sociológico dos chefes de partidos. Também os chefes de partidos ignoram qualquer coisa sobre o estado de consciência em que se encontra o povo. O seu sistema de aliciamento é o das engrenagens dos interesses administrativos, que vão da órbita provincial à área municipal, com as algemas dos empregos e os instrumentos de suplício das perseguições.

Como, pois, consultar esses eleitores? A maior parte deles está minada pela doutrinação integralista, e se fosse responder, no caso impossível de lhe ser facultada liberdade, a resposta não agradaria aos chefes de partido...

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Só, portanto, a coletividade integralista pode realizar um plebiscito, como o que se efetua desde ontem, e ao qual comparece cada um dos camisas-verdes para dizer sem medo o que pensa.

O camisa-verde é livre porque se esclareceu a respeito dos problemas nacionais e não pode ser ludibriado por ninguém. O camisa-verde é livre porque sabe que a doutrina integralista vai buscar o fundamento do seu conceito de Estado forte e deliberativo no próprio livre-arbítrio do homem. O camisa-verde é livre porque ninguém o obrigou a entrar para o Integralismo. O camisa-verde é livre porque coisa alguma lhe poderá acontecer se ele, por ordem do Chefe, manifesta livremente a sua opinião, acerca de qualquer assunto sobre o qual é chamado a se pronunciar. O camisa-verde é livre porque o Chefe foi escolhido por ele, e não imposto, como acontece nos partidos em que meia dúzia de dirigentes faz o que bem entende. O camisa-verde é livre porque, quando o Chefe tem diante de si os problemas máximos do Movimento, chama um por um dos integralistas para que dê a sua opinião.

Uma coisa apenas exijo durante a realização deste plebiscito: a mais plena liberdade.

Que cada um dê o seu voto livremente, espontaneamente.

Que cada um, dando o seu voto, experimente a íntima alegria que a outros brasileiros não lhes Ilumina o coração. A alegria da liberdade em exercício pleno. A alegria da vontade em deliberação efetiva. A alegria da dignidade em afirmação. A alegria da personalidade em consciência. Do sentimento sem peias. Da inteligência engrandecida. Do caráter assumindo uma atitude. Da alma traçando uma decisão.

Porque isso, para mim, é comandar homens livres.

E esse é o meu modo de chefiar.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 23 de Maio de 1937.


sexta-feira, 8 de março de 2024

CERTEZA DE DIREÇÃO (11/05/1937)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

CERTEZA DE DIREÇÃO (11/05/1937)

Plínio Salgado.

O prestígio do Integralismo neste instante procede de um fato que ninguém poderá negar: a sua linha impecável de coerência política.

A Nação Brasileira tem sido testemunha dessa uniformidade de atitudes, que revela, no Movimento do Sigma, uma unidade doutrinária absolutamente singular no panorama partidário do país.

Nunca nos, afastamos um milímetro do documento inicial com que nos apresentamos perante a Nacionalidade: o "Manifesto de Outubro".

Basta apreciar, uma por uma, as nossas sucessivas posições em diferentes fases do nosso drama político. Só os desonestos poderão sofismar sobre as diretrizes que temos adotado em face dos acontecimentos. Não haverá homem de bem que possa apontar uma única falha na orientação segura desta marcha integralista.

É que não defendemos homens e, sim, princípios. Não nos interessam os partidos e, sim, as ideias que eles porventura pudessem condicionar. Não procuramos cargos, proventos, prestígios ou proteções oficiais; o que ofertamos à Nação, na hora da construção serena ou dos perigos iminentes, ofertamo-lo de graça, porque ela precise ou mereça, e não estendemos a mão aos detentores do Poder, a reclamar alvíssaras e propinas a que estão habituados os "patriotas" de ocasião.

Assim sendo, não estamos com pessoa alguma, por mais poderosa que seja, ou mais contemplada pelo vaticínio dos hierofantes como próxima herdeira dos conchavos que se processam à revelia do Poro.

Estamos com a nossa doutrina. Da nossa doutrina não sairemos, porque sem ela já não é possível servir ao Brasil.

Enganam-se quantos julgarem que nos alimentamos de lisonjas e que, inebriados por louvores cálidos, sacrificaremos a nossa linha de coerência doutrinária, que se afirma, principalmente, pela Unidade da Pátria e pelo princípio da autoridade do Estado.

Quem estiver com a Nação estará conosco: quem trair a Nação será nosso adversário. Entendemos Nação tudo o que supera os interesses estanques dos regionalismos e os arbítrios isolados dos governadores. No mapa do Brasil não concebemos fronteiras internas. Podemos considerar, quando muito, as linhas marcantes de circunscrições administrativas, nunca, porém, os limites de antagonismos políticos ou as bases territoriais das transações nefastas ao princípio da Unidade Nacional.

Esta doutrina não é de hoje. Desde o "Manifesto de Outubro" de 1932 ela se tornou largamente conhecida em todo o país. Em janeiro de 1936, concretizamo-la nas linhas do "Manifesto-Programa", aplicando-a no plano das transformações objetivas.

Todo aquele que pregar pontos dessa doutrina, estará prestigiando parcialmente, ou totalmente, o Integralismo. E quem assim o fizer não se diminuirá aos olhos da Nação, antes crescerá, porque a consciência brasileira está hoje convencida de que não há salvação fora do Sigma.

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O fato do Integralismo se sentir apoiado através de alguns de seus postulados, por estes ou aqueles brasileiros portadores de altas patentes militares ou altas credenciais no governo do País, não significa adesão dos camisas-verdes a quem quer que seja e por mais patriota e digno que seja. Porque tudo neste mundo é suscetível de aderir: menos uma doutrina. A inteligência, livre e esclarecida, pode aderir a uma doutrina; mas uma doutrina não pode aderir à mais poderosa inteligência humаnа.

Nestas condições, o Integralismo não será subsidiário incondicional de qualquer governo, embora esteja sempre disposto a prestigiar, feitas as necessárias reservas doutrinárias, o governo que se manifeste interessado em defender certos princípios coincidentes com as linhas puras do pensamento de Sigma.

A prova disso tem sido a colaboração que temos dado, desinteressadamente, ao Governo Federal, no combate a comunismo e na sustentação do princípio da Ordem baseado na autoridade – que desejaríamos sem contraste - do Poder Central.

A perfeita compreensão dessa atitude do Integralismo por parte do sr. presidente da República tem sido evidente. Sabendo que conta conosco nas emergências em que estiver perigando a Nação, s. excia. jamais nos insinuou, ainda que de leve, a possibilidade de uma colaboração de nossa parte nessas combinações políticas em que falam os mais variados interesses, menos o interesse da Pátria.

*

O problema da sucessão presidencial que se resolve, fora do Integralismo, entre governadores, à revelia do povo, à revelia mesmo dos eleitores dos partidos estaduais, será resolvido nas fileiras verdes da maneira mais democrática possível.

Com o nome saído dos comícios plebiscitários, compareceremos ao pleito presidencial. Iremos sozinhos. Lutaremos sozinhos, Sustentaremos sozinhos a nossa doutrina, os nossos princípios.

Seremos uma voz clamando pela Unidade Nacional, pelo fortalecimento do Poder Central. Não Importa saber quem assumirá o Poder Central, Baseamo-nos num princípio de Ordem e de Defesa Nacional. Seremos uma voz clamando pela mística da Pátria. Esse exemplo há de servir para as gerações futuras. E o Integralismo terá cumprido o seu dever na História.

Vencedores, executaremos nosso programa, que não foi engendrado de afogadilho ao rumor da cabala, mas foi publicado em janeiro do ano passado. Vencidos, daremos ao Poder que se constituir -seja ele qual for -, o mesmo apoio nos pontos pacíficos de doutrina, que temos dado sem compromissos políticos, ao governo atual. Para isso, não exigimos compensações, nem cargos, nem posições eminentes: exigimos apenas as legítimas liberdades que nos competem mediante o cumprimento da Constituição e das leis. Porque dentro de normas pacíficas pretendemos desenvolver a propaganda de nossas Ideias e conquistar o Brasil para os brasileiros.

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Essa atitude doutrinária do Integralismo tem nos valido sacrifícios dolorosos em Estados onde os governadores enxovalham a Constituição e as leis. Temos preferido as longas e exasperantes marchas dos processos através das instâncias judiciárias e das diversas alçadas do país, durante cujas formalidades suportamos o tripudio da coação sobre o Direito, a adotarmos remédios facílimos e rápidos, cuja eficácia a nossa força numérica e material assegura. Não é por medo ou insuficiência de meios que assim nos temos conduzido, mas porque destarte procedendo, firmamos, na prática, a nossa doutrina, que nos manda reclamar perante a Justiça enquanto houver Justiça e confiar na Lei enquanto houver Lei.

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Esse modo de agir está conforme os nossos gestos em instantes graves de ameaça do bolchevismo contra o Brasil. O Governo Federal sabe e altas patentes militares o atestam, de público, dos serviços que temos prestado à Ordem. O telegrama que passei ao sr. presidente da República, em novembro de 1935, oferecendo-lhe cem mil camisas-verdes, para a luta do Brasil contra a Rússia, não deixa dúvidas a esse respeito. Era e é sem compromissos políticos de espécie alguma a nossa colaboração com a Autoridade Nacional na defesa da dignidade da Pátria.

E ainda naquele momento não éramos nós que aderíamos; tratava-se, bem analisando, de uma resposta digna e leal a um governo que, assumindo atitude enérgica e firme contra o Soviete, instantaneamente consagrava como norma de conduta um dos postulados que vínhamos defendendo desde 1932.

De acordo com os princípios norteadores de nossas atividades educacionais, temos emprestado todo o prestígio à obra da Liga de Defesa Nacional, da Liga Naval Brasileira, do Ministério da Educação, quando essas entidades comemoram grandes vultos e grandes datas da Pátria. Idêntica atitude temos adotado em relação ao Aero-Club do Brasil e a entidades cívicas do gênero do Centro Carioca. E isso não quer dizer que tenhamos aderido a nenhum dos promoventes desse culto; encontrando-os em nosso caminho, estendemos-lhes lealmente a mão.

Tudo, pois, evidencia que daremos sempre o nosso apoio àqueles que exaltarem princípios contidos em nossa doutrina. Esse apoio não envolve nenhum compromisso além do inerente ao objeto doutrinário em apreço.

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O Integralismo e os integralistas estão livres de qualquer peia de compromissos políticos. Todo o seu dever de juramento é para com a sua doutrina.

Tudo o que estiver dentro da nossa doutrina será apoiado. Tudo o que estiver fora dela será combatido.

Que cada Integralista traga no bolso um "Manifesto de Outubro" e um "Manifesto-Programa"; e quando lhe perguntarem com quem nós estamos, exiba aqueles impressos e afirme: "estamos com estes documentos".

A limpidez dessa linha de conduta é única na História do Brasil. Mais tarde, muito se falará desse grande fato histórico.

De facto; nada é mais belo no Brasil do que este movimento que exprimiu, numa hora triste de interesses mesquinhos, traições, perfídias, hipocrisias, mentiras, engodos, velhacarias, patifarias, comodismo, oportunismo, - a glória de uma orientação segura e de uma eloquente honestidade.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 11 de Maio de 1937.

terça-feira, 5 de março de 2024

Estado de guerra e liberdade eleitoral (29/04/1937)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Estado de guerra e liberdade eleitoral (29/04/1937)

Plínio Salgado

O ato do Governo Federal transferindo do sr. governador Flores da Cunha para o sr. general comandante da 3ª Região Militar os poderes de execução do "estado de guerra" não deve e não pode ser considerado no seu aspecto local ou segundo quaisquer circunstâncias especiais. Neste momento, devemos desse ato tirar algumas conclusões da maior oportunidade, referentes ao próximo pleito a ferir-se para a sucessão presidencial da República.

Preliminarmente, pergunta-se: as eleições de Janeiro próximo vão ser conduzidas por partidos nacionais sem nenhuma ligação com os governadores de Estado?

Em seguida, indaga-se: pode haver eleição sem os atos preparatórios da propaganda eleitoral?

A primeira pergunta, respondemos pela negativa. As correntes políticas em esboço para o pleito presidencial obedecem ao critério da "aliança" dos governadores de Estado. Alguns governadores se unem contra outros governadores. Só existe um partido nacional, que é o Integralismo, e esse não é visto com bons olhos pelos dois grupos de governadores.

Respondendo à segunda pergunta, diremos que não será possível haver eleição se não houver propaganda, pois o voto não é apenas o ato material de depositar uma cédula na urna, mas também ato moral da deliberação anterior, precedido do ato intelectual do estudo das candidaturas, sendo este ato impossível sem os "dados" fornecidos pela propaganda. Por conseguinte, serão nulas as eleições no Estado onde a propaganda não for livre, em todas as suas manifestações exteriores.

Respondidas essas duas perguntas, formulemos outras.

Se os governadores de Estado pertencem a um partido estadual, por eles próprios, formal ou virtualmente conduzido às urnas, podem eles, sem graves ameaças à liberdade do seu adversário, estar armados de poderes excepcionais que desconhecem toda e qualquer garantia constitucional, sendo dentro dessas garantias que se torna possível o exercício dos direitos políticos?

A resposta clara e já famosa está na atitude do sr. governador da Bahia, em relação ao Integralismo, atitude, em menores proporções, seguida pelos governadores do Paraná e do Espírito Santo. Naqueles Estados encontra-se um partido nacional impedido de exercer livremente a propaganda, sob o pretexto da sua inconveniência durante o "estado de guerra".

E, se nos objetarem que existem remédios jurídicos para o caso, argumentaremos com os seis meses de prisão que sofreram os Integralistas da Bahia, no desenrolar de um processo propositadamente demorado, até que o Tribunal de Segurança Nacional pôde decidir em face dos autos. E argumentaremos ainda com algumas decisões de Tribunais Regionais que deixaram de tomar conhecimento de pedidos de mandado de segurança, sob o pretexto de estarem suspensas todas as garantias durante o "estado de guerra".

Como, pois, realizarem-se as eleições presidenciais, se os governadores de Estado, no exercício da execução do "estado de guerra", sob qualquer pretexto, podem fechar sedes de partidos legitimamente registrados, acusar qualquer cidadão, detê-lo, prolongando o desenrolar do inquérito, ao talante dos interesses do partido situacionista estadual?

Como será possível o próprio alistamento eleitoral, se sob qualquer alegação podem os arquivos e fichários dos partidos em desagrado ser arrecadados em devassas policiais?

Estas reflexões são oportunas, no instante em que o Governo Federal transfere os poderes de execução do "estado de guerra", das mãos do sr. governador do Rio Grande do Sul para as mãos do Sr. general comandante da 3ª Região Militar. Não queremos entrar na análise da situação política rio-grandense. Queremos deixar levantada uma tese para a consideração do sr. Presidente da República, do Poder Judiciário e do Poder Legislativo do país. Que os estudiosos debatam este assunto. Que os juristas digam à Nação se no caso dos partidos situacionistas estaduais, que apoiam o governador do Estado, tomarem parte nas eleições presidenciais, esse governador, apoiado por uma parte interessada, pode exercer poderes revogatórios de textos constitucionais que asseguram direitos políticos!

A Nação quer saber se as próximas eleições serão válidas dentro do "estado de guerra" executado por interessados no pleito. Se a própria lei que suspende o "estado de guerra" no dia da eleição, reconhecendo que sob seu império o eleitor não pode livremente exercer a "segunda parte" do voto, que é o ato material do depósito da cédula na urna, como poderá a "primeira parte" do voto, que é a deliberação em face da propaganda, ser exercida, já não dizemos no transcurso do colapso constitucional, mas sob o arbítrio de um dos interessados na decisão das urnas?

O debate desta matéria é o que há de mais importante e de mais fundamental como antecipação de toda e qualquer atividade de propaganda eleitoral.

Pois de nada valerão todas as marchas e contramarchas dos partidos, dos governadores, dos políticos, se amanhã a Justiça vier a reconhecer a nulidade das eleições em razão das quais tanto se tem agitado a opinião publica.

Este caso do Rio Grande sugere meditações. A providência do Governo Federal atira um tema de palpitante interesse à consideração da consciência jurídica do país.

É o despertar de todos os raciocínios adormecidos ao rumor do sensacionalismo dos "fatos políticos" sem consonância com o "fato jurídico". Temos estado todos no ar, mesmo aqueles que, como os integralistas, já têm experimentado o que é o poder sem restrições nas mãos de um adversário.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 29 de Abril de 1937.