quarta-feira, 12 de julho de 2023

Não há extremismo da direita (07/11/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Não há extremismo da direita (07/11/1936)

Plínio Salgado

- Que é o extremismo?

- O extremismo, segundo está definido na Lei de Segurança Nacional, é o emprego de violência, ou a pregação de métodos violentos com o objetivo de tomar o Poder, e, de um modo geral, a propaganda de qualquer doutrina tendente a provocar lutas no seio da sociedade, entre classes, religiões, raças ou regiões.

- O extremismo então pode ser encarado sob dois aspectos?

- Sim; porque o extremismo pode ser exercido no domínio dos "fatos", ou no domínio das "ideias". Pode-se até dizer que há três espécies de extremismos: 1º) o extremismo-prático; 2º) o extremismo-ideológico; 3º) o extremismo prático-ideológico.

- Poderá dar-me alguns exemplos para minha melhor compreensão?

- Pois não. O extremismo-prático é, por exemplo, o de um governador de Estado (estou figurando uma hipótese) que começasse a dispender grandes quantias para armar soldados, ato esse inequivocamente preparatório de desprestígio do Poder Central e ameaça à paz interna do país. É também o caso de um partido político, partidário da liberal-democracia, ou da socialdemocracia, que tenta um golpe de Estado. É, enfim, o caso de uma revolução de quadros, isto é, pretendendo uma mudança de homens. Quanto ao extremismo ideológico é o comunismo, na sua fase preparatória, incitando a luta de classe, a luta contra as religiões; são também os que estimulam a luta entre as diversas regiões do país, pregando o separatismo; são também os que pregam a destruição de uma raça. E, quanto ao extremismo pratico-ideológico, é já o ato conspiratório, ou francamente revoltoso, levado a efeito por aqueles que doutrinariamente disseminam as ideias de luta ou de dissolução: é o caso típico da revolta comunista de novembro do ano passado.

- Que espécies de extremismos há no Brasil?

- O extremismo que existe no Brasil é o ideológico-pratico, isto é, o comunismo bolchevista.

- Como é que se fala frequentemente em extremismo da esquerda e extremismo da direita?

- Por burrice ou velhacaria. Extremismo da direita não existe e nunca existiu a não ser na cabeça dos comunistas que, agora, covardemente,, se escondem por detrás dos politiqueiros, como já se esconderam uma vez atrás de crianças, quando tirotearam estupidamente os Integralistas em Bauru.

- O Integralismo não é extremismo da direita?

- O Integralismo nem é extremismo e nem é da direita. Para nós não existe nem esquerda, nem direita e nem centro, porque o brio, a vergonha de um Povo, que somos nós, não ficam nem na face esquerda, nem na direita, mas ruborizam todo o semblante. Essas expressões "direita" e "esquerda" foram inventadas pelos comunistas que são materialistas, evolucionistas e dialéticos, doutrinas essas que concebem sempre a luta. Nós não concebemos a luta, mas a harmonia. Se pregássemos a luta, tendo uma concepção de "esquerda” e de "direita", só por isso não seriamos integralistas, pois esse conceito é um contrassenso para quem compreende o universo, a sociedade, a nação, os homens, de uma maneira integral. Todo aquele que usar das expressões "direita" e "esquerda" está prestigiando a doutrina dos dialéticos de Marx, dos darwinianos do materialismo histórico, que pregam a luta de classe. E, se não pregamos a luta, se a condenamos ao ponto de não considerar o mundo dividido em "esquerda" e "direita", mais logicamente se patenteia que não somos extremistas do ponto de vista ideológico. Se fossemos extremistas, teríamos de adotar os ensinamentos de Sorel. Ora, Sorel é discípulo de Darwin, de Haeckel, de Lamarcke, dos materialistas, conforme ele mesmo demonstra no seu livro "Reflexões sobre a violência". Portanto, s fossemos alunos de Sorel, seriamos adeptos dos materialistas: sendo adeptos dos materialistas, deixaríamos de ser espiritualistas: deixando de ser espiritualistas, deixaríamos de ser integralistas; deixando de ser Integralistas, seriamos nós mesmos, e não os nossos inimigos, que fecharíamos as portas deste Movimento a que pertencemos.

- A coisa é mesmo clara como água. Não entendi mais depressa porque era um retardado mental, como o senhor chamou aos duros de entendimento; mas agora estou vendo tudo, sim senhor. E me diga uma coisa: S o Integralismo, ideologicamente, não pode ser extremista, do contrário negará sua própria doutrina, ele, praticamente, não usou ou não pretende usar de métodos violentos?

- Quem demonstrou que o Integralismo não usou, nem usa, nem usará de métodos violentos foi o próprio conclave dos chefes de Polícia reunidos na Capital da República, segundo entendo desta noticia de "O Globo", que aqui está. Isto foi a desmoralização mais completa de todos os que nos acusaram de conspiração. Senão vejamos. E agora sou eu quem vae perguntar a você:

- O Integralismo é, ou não é, um Partido Nacional?

- É sim senhor. Está registrado no Superior Tribunal Eleitoral.

- Se ele se registrou como Partido Nacional, o seu programa era nacional ou provincial?

- É claro, que o seu programa só pode ser nacional.

- Se o seu programa é nacional, o Integralismo tem algum interesse em tomar conta isoladamente do governo de um só Estado?

- Ah! O senhor parece que está brincando: pois é mais do que lógico que não. Ao Integralismo só pode interessar o governo de toda a Nação.

- Muito bem; está respondendo com discernimento, Diga-me agora o seguinte. Suponhamos que os integralistas tivessem preparado uma conspiração, para usar de violência, para tomar o Poder. Essa conspiração seria apenas em duas ou três unidades da Federação Brasileira?

- Não senhor. Se ele fizesse uma conspirata, faria em todos os Estados. Mas o senhor parece que está brincando comigo. Sou um pouco burrego, mas não tanto.

- Está direito. Responda-me, ainda. Se o Integralismo tivesse conspirado em todos os Estados, que é que o Governo Federal deveria fazer?

- Fechar o Integralismo.

- Perfeitamente. É isso mesmo. Agora me diga: o Governo fechou o Integralismo, depois das acusações que lhe fizeram três governadores de Estados?

- Não fechou.

- Responda-me, ainda: os governadores dos outros Estados fecharam o Integralismo?

- Também não.

- Que quer isso dizer?

- Que o Integralismo não conspirou nesses Estados e que o Governo Federal entende que o Integralismo não está conspirando.

- Pois bem. Se o Integralismo não conspirou no todo, não poderia ter conspirado na parte. Logo, o Integralismo nem conspirou, nem conspira, nem conspirará. Pois sendo de sua natureza o ser nacional, não poderia manifestar-se como provincial. O Governo bem o compreendeu.

- Então que extremismo da direita é esse de que ainda se fala?

- É um extremismo que não existe.

- O Integralismo, então, quer mesmo vencer pelo voto?

- Que dúvida? Timbramos em agir dentro da Lei, dentro da Constituição, e posso garantir-lhe que não o fazemos pelos belos olhos dos que estão no Poder, mas por uma questão de coerência doutrinária. Os que pretendem atingir o Poder pelos métodos violentos são materialistas e unilaterais, são dialéticos, soreleanos, hegelianos, marxistas. Nós somos espiritualistas, totalistas, conciliadores, corporativistas, antimarxistas, integralistas.

- E se o comunismo pretender dar um golpe?

- Aí é outro caso. Somos a vergonha nacional, somos a dignidade da Pátria, somos o brio brasileiro, somos as sentinelas da Nação. Se o comunismo erguer a cabeça, aqui estamos firmes, para tudo dar a nossa Pátria, pois, para o integralista, mais vale morrer com honra do que viver desonrado.

- O Integralismo, então, não será fechado?

- Se fechassem o Integralismo, estaria revogada a Constituição, enxovalhadas todas as leis, pisado o princípio da Autoridade Federal, sufocados os legítimos anseios da Nacionalidade, lançados aos maiores perigos todos os lares. Então, não sei o que poderia acontecer neste país. Felizmente, vinte chefes de Polícia mostraram-se à altura da sua responsabilidade, e, entre todos eles, Filinto Miller, não só à altura dessa responsabilidade, mas da gratidão da Pátria e da Posteridade.

- Por hoje é só.

Publicado originalmente n’ A OFFENSIVA, em 07 de Novembro de 1936.

sábado, 8 de julho de 2023

INTEGRALISMO E DEMOCRACIA (05/12/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

 

INTEGRALISMO E DEMOCRACIA (05/12/1936)

PLÍNIO SALGADO

- O Integralismo é contrário à Democracia?

- Não, porque se fosse, o Integralismo seria partidário de uma Ditadura.

- Então, o Integralismo não quer uma Ditadura?

- Não, porque a Ditadura é o arbítrio de um contra todos.

- Como é que o Integralismo fala em Estado Forte?

- Porque só o Estado Forte impede Ditaduras ou outras tiranias.

- De que maneira o Estado Forte impede Ditaduras ou outras tiranias?

- Não permitindo que indivíduos ou grupos de indivíduos façam predominar a sua vontade sobre outros.

- Como é possível conseguir isso?

- Organizando disciplinadamente a Sociedade, de modo que não haja, diante da autoridade do Estado, nem fortes e nem fracos.

- Em que se baseia a autoridade do Estado Forte?

- Na vontade do Povo, não desorganizada, mas organizada, de modo que ela se manifeste eficientemente, livremente.

- Mas, então, o Integralismo quer um governo do Povo?

- O Integralismo nunca desejou outra coisa, pois essa é a verdadeira democracia.

- Atualmente o Brasil vive um regime democrático?

- Se fossem cumpridas a Constituição as Leis, viveríamos num regime democrático, mas infelizmente essa Constituição e essas Leis não podem ser cumpridas. Existem circunstâncias "de fato" que impedem o cumprimento da Constituição e das Leis. O Integralismo quer justamente, remover essas circunstâncias "de fato", e nada mais.

- Como pensa o Integralismo remover essas dificuldades?

- Substituindo o sistema das eleições?

- Mas, então, o Integralismo não é contra o regime atual?

- Só afirmam Isso luas categorias de indivíduos: os burros e os velhacos; os burros porque, ou não nos leram, ou leram e não entenderam; os velhacos porque os animam intuitos inconfessáveis.

- Mas, desculpe a insistência, por que não sou muito Inteligente, então o integralismo não é contra o regime republicano federativo?

- Pelo contrário; o Integralismo se bate pela consolidação do regime republicano-federativo. No caminho em que vamos indo, com vinte e uma orientações políticas diferentes, marchamos para a destruição do belo monumento da Federação, substituindo-a por una Confederação que se conduzirá ao separatismo, isto é, à morte do atual regime. Pretendemos nós uma centralização política e uma descentralização administrativa, é isto sinal que pretendemos salvar o atual regime de uma derrocada inevitável. E quem não está vendo essa derrocada? Basta apreciar o quadro da sucessão presidencial. Os governadores estão se armando, É a aura da loucura prenunciando o ataque furioso e periódico. Num desses ataques pode morrer o regime, Nós somos, pois, os salvadores do regime.

- O senhor acha que só com a substituição do Sistema de eleições, o regime democrático, federativo e representativo se salva?

- Mas só os cegos não veem. No dia em que estiverem organizadas as corporações nacionais, não haverá mais interesses de Estado, mas interesses de produções Em vez de se ter a política de Minas, de São Paulo, de Pernambuco, do Rio Grande do Sul, etc., teremos política do Café, do Algodão, da pecuária, do mate, do açúcar. Na Câmara Federal, em vez de bancadas dos Estados, teremos a bancada do Café, ondo se sentam juntos, homens paulistas, mineiros, capixabas, etc.; a bancada do Açúcar, onde se sentam juntos homens de Pernambuco, de Alagoas, de São Paulo, do Rio de Janeiro; a banca da do Mate onde sentam juntos paranaenses, gaúchos, e mato-grossenses, etc. Temos, assim assegurada a Unidade Nacional. Numa cajadada matamos vários coelhos porque resolvemos a questão social, entrosando os sindicatos na corporação respectiva e imprimindo-lhes caráter político, acabamos com o regionalismo que fere de morte o regime e fabrica revoluções periódicas, e damos eficiência técnica à representação popular. Realizamos a verdadeira democracia, porque não haverá mais perseguições de governos porque Fulano ou Beltrano votou em Sicrano ou Fuão dos Anzóis. Existirá a verdadeira liberdade, coisa que atualmente não existe apesar da bela lei eleitoral, a qual não impede que cangaceiros, como acontece na Bahia, cerquem eleitores pacíficos na estrada, impedindo-os de entrar na cidade para rotar.

- E o senhor acha que um governo que saia da vontade do Povo assim organizada, pode ser forte?

- Perfeitamente, porque um Governo só é forte quando é realmente popular, quando baseia a sua autoridade, não no terror ou no interesse, mas no amor que sua Nação lhe vota. Um Governo só é forte quando se baseia na legítima democracia,

- Dizem alguns que o senhor é incoerente porque fala em autoritarismo, em governo de força, disciplina rigorosa. Explique-me isso.

- Falo em autoritarismo, como mandato popular legítimo e expressão de dignidade nacional e de interesse das massas que delegam os poderes a um concidadão, para que vele, dia e noite, pela manutenção da democracia; falo em governo de força, não contra a Nação, mas como servidor da Nação, impondo sua vontade, que é a vontade do Povo, a todos os indivíduos isolados ou grupos de indivíduos que pretendam auferir benefícios em detrimento dos legítimos direitos e interesses das coletividades, dos grupos naturais e das pessoas; falo em disciplina, porque uma Nação em desordem é escrava de tiranos internos, que se servem da anarquia para exercer seu arbítrio e burlar a outrem, como é escrava de tiranos externos, que se aproveitam da fraqueza nacional oriunda da desordem interna, para roubar, humilhar e oprimir. Isso tudo, autoritarismo, governo de força, disciplina, não colide com as legítimas liberdades, as quais inexistem desde que não haja uma força para garanti-las.

- Essa força não pode existir com o atual sistema de voto?

- Não. Porque enquanto houver partidos de que são chefes governadores armados até aos destes, com tesouros nas mãos e uma máquina policial ao seu talante, nem existirá liberdade de escolha, nem haverá autoridade central capaz de reprimir os abusos antidemocráticos que se perpetram à sombra das chicanas mais vis e dos sofismas mais torpes.

- Desculpe repetir, porque tenho a cabeça dura: o Integralismo, então, é defensor do atual regime?

- Não é apenas defensor. É o único defensor. Basta ver quem são os que combatem o Integralismo: os políticos regionais, que querem destruir a Federação, desmoralizar o Poder Central, fomentar revoluções periódicas, arrastar o Brasil à desagregação, e os comunistas, os socialistas, os materialistas, que pretendem a derrocada de todas as tradições nacionais, de todo o fundamento cristão das instituições brasileiras.

- Muitos dos inimigos do Integralismo costumam dizer que o senhor tem mudado, que o senhor só agora é que anda pregando essas coisas, que o senhor sempre atacou o regime. Que me responde?

- Aqueles que dizem isso, em qualquer hipótese, são desonestos. Se nos atacam, sem ter lido nossos livros de 1926, 1927,1930, 1932 e os que tenho publicado anualmente, assim como o Manifesto de outubro de 32, o Manifesto-Programa, deste ano, os artigos que escrevi, antes da revolução de 30, no "Correio Paulistano", de São Paulo, e depois da revolução de 30, em "A Razão", de São Paulo e nestas colunas de A OFFENSIVA, - se eles não leram, não têm direito de me atacar. Se leram, terão visto a linha de coerência doutrinária que sempre me orientou. Poderão muitos dizer que nunca me leram porque ou um escritor de ínfima categoria, mas, nesse caso, por que me atacam? Se nada valho, por que ocupo a sua atenção? E, mesmo, nada valendo, por que me julgam sem me ler? A esses homens sem escrúpulos responde a consciência honesta dos homens de bem do meu país.

- Está agora na Câmara um anteprojeto proibindo durante o estado de guerra o funcionamento de partidos que mesmo pacificamente combatem o regime atual. Acha que ele visa o Integralismo?

- Acho que ele visa armar os tartufos, traidores da Pátria, os inimigos encapotados do regime, os politiqueiros sem patriotismo, os hipócritas, os tiranetes de um sofisma que, a serviço do comunismo, precisa de pretextos para desfechar um golpe contra nós. A providência não nos atinge, mas é tomada especialmente para nos atingir, através da chicana e de covardia dos nossos inimigos, atrás dos quais sentimos os passos das patrulhas de Moscou.

- E por que pensa isso?

- Não sou eu quem pensa; é o autor do projeto que falou à imprensa, declarando ser urgente o nosso fechamento. São as conversas nos corredores da Câmara.

- E que consequências prevê, no caso de passar esse projeto?

- Prevejo um golpe comunista iminente. Um golpe comunista de muito maior virulência do que o de novembro de 1935. Pretejo as maiores desgraças nacionais.

- E por que fala com tanta segurança?

- Falo com a autoridade de quem anunciou sempre, com grande antecedência, todos os golpes comunistas no Brasil. Falo com o prestígio do meu acerto, em novembro de 1934, quando, no Instituto Nacional de Música, afirmei que dentro de um ano teríamos um golpe bolchevista. Falo, não somente como estudioso, que acompanha o que se passa em outros países, como a Espanha, mas como Chefe de um Movimento que tem profunda penetração em todos os quarteis do Brasil e em todos os vasos de guerra, em todas as fábricas e repartições e que, por isso, tem obrigação de conhecer a força e articulação do comunismo, que também atinge profundíssima penetração em todos esses lugares.

- E a sua atitude neste momento?

- Estou tranquilo porque tenho cumprido minha palavra. Nunca saí uma linha sequer da Constituição e das Leis. Sempre estive vigilante no acompanhar as manobras bolchevistas. Prestei serviços, em todas as regiões do país, às autoridades constituídas. Determinei as massas integralistas o maior prestígio a Liga da Defesa Nacional, que pode atestar o que temos valido como incentivo e tônico ao civismo no Brasil. Há quatro anos estou pregando, sem interesse nem ambição pessoal. Nada quero para mim. Nem para os próprios integralistas, pois, segundo o nosso conceito, o Estado Integral é a democracia perfeita, pertencente a todos os brasileiros, venham de onde vierem. Cumpri, pois, o meu dever, perante a Nação, perante a Posteridade e perante Deus. Estou tranquilo, E, nesta tranquilidade, afirmo que o Integralismo é a única barreira capaz de opor os mais sérios embaraços à Infiltração do Soviete, tanto na parte civil como militar da Nação. O Exército e a Marinha só contam, neste momento, com uma força civil desperta, ativa, eficiente e organizada, ao seu lado: o Integralismo. Devendo um dia ser julgado pela História, o Integralismo está sereno. E, sendo um Movimento espiritualista, o Integralismo afirma mais uma vez que, apesar de tudo, Deus ainda é mais forte do que a força dos homens. E o Integralismo é o Movimento que se baseia no pensamento da Nação e de Deus.

 

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 05 de Dezembro de 1936.

 

sábado, 1 de julho de 2023

Palavras herméticas a iniciados (1957)

 

Palavras herméticas a iniciados (1957)

Plínio Salgado

O problema é este: descobrir o Homem no homem.

 

Quando fazemos tal descoberta no íntimo de nós mesmos, cumpre-nos dar expansão e plenitude ao Homem (com “H” maiúsculo) de sorte que este domine o homem (com “h” minúsculo).

 

O nosso pessimismo não deve ir ao ponto de não acreditarmos na existência do Homem Superior dentro de cada homem comum. O Ser Humano comporta reservas de grandeza moral, muitas vezes soterradas pelas paixões ou pelas sedimentações prolongadas dos hábitos ou dos costumes sociais ambientes.

 

As paixões, que procedem dos fundos impuros da ambição, da vaidade, da inveja, do ressentimento, da sensualidade e do ódio, são como o eruptir das lavas nas explosões geológicas: sufocam as terras férteis e tranquilas por sobre cuja crosta se petrificam.

 

E os costumes, os hábitos de uma sociedade medíocre constituem, na sua ação constante, algo como os contínuos depósitos de areia e detritos trazidos pelos ventos, formando as dunas estéreis sobre o solo fecundo.

 

E do mesmo modo com se esteriliza a terra sob a ação desses agentes internos e externos, também a personalidade humana, recobrindo-se de tudo o que é inferior, sufoca as virtudes lídimas que a vivificam e apresenta-se mesquinha e degradada.

 

Nesse caso, o homem (com “h” minúsculo) dominou o Homem (com “H” maiúsculo). O inferior subjugou o superior.

 

Para usarmos de outra imagem: do mesmo modo como a árvore sadia sucumbe enrodilhada pelo “mata-pau” parasitário (o trágico urupê de que nos fala Monteiro Lobato), também a personalidade essencial do Ser Humano definha e morre sob as garras do intruso que, sendo a princípio superficial, tornou-se o usurpador profundo das seivas generosas.

 

Então, assistimos ao drama doloroso da transmutação do Herói em vilão, do Santo em pecador vulgar e rebaixado, do Idealista em imediatista, do Magnânimo em competidor nas concorrências de baixo nível.

 

Aquela tranquila serenidade dos que de tudo abrem mão para só objetivar o Sonho Maravilhoso — alimento da alma na transitoriedade desprezível dos caminhos da vida — desaparece no íntimo do Ser, que se apresenta agora conturbado e arrítmico nas suas atitudes e no seu comportamento.

 

O domínio do Homem sobre o homem só se efetiva pela utilização das forças do Espírito. Viver pelo Espírito é viver a vida harmoniosa pela qual o Homem supera as pequenezas da terra e se integra na harmonia de Deus.

 

Essa vida espiritual não se alimenta da seiva nem da ciência, nem da arte, nem do que costumamos chamar ilustração, erudição ou cultura. Pois muitos são os cientistas, e os artistas, e os indivíduos ilustres pelo saber e que, entretanto, no meio em que vivem, não passam de atormentados e desesperados. Essa vida espiritual extrai os elementos de que necessita das misteriosas potências interiores que todo Ser Humano possui e que deve aproveitar.

***

A luz do espírito não provém dos atritos violentos; não é a centelha arrancada das pedras, não é o relâmpago oriundo da explosão das nuvens carregadas de eletricidade contrária, não é o resultado do furor das forças desencadeadas do recesso das moléculas e dos átomos. A sua claridade é branda e suave como a das lâmpadas dos Tabernáculos, que se sustentam mansamente do azeite da árvore predestinada cujos ramos simbolizam a Paz.

 

O óleo da Sabedoria existe no fundo de todas as Lâmpadas Humanas; o que nos cumpre é imergir nele o pavio do nosso coração, isto é, do nosso sentimento de bondade, mantendo acesa a chama da compreensão.

 

Quem assim procedeu adquiriu a mais feliz das possibilidades humanas: a possibilidade da convivência com os seus semelhantes. E nisso está o segredo da Paz interior, que nos eleva acima das vulgaridades e nos conduz às grandes construções.

***

Quando Deus quis impedir que os homens continuassem a construir a torre de Babel, que fez Ele? Dividiu os construtores em idiomas os mais diversos. De sorte que quando um pedia tijolos, o outro lhe trazia água; e se algum precisava de pedras, o outro lhe fornecia madeira; e se um dirigente necessitava de qualquer material que sabia existir do lado norte, os seus dirigidos o iam buscar do lado sul, onde nada havia.

 

A torre de Babel é um símbolo a ensinar-nos a total impossibilidade de se unirem os homens para um fim comum, se eles não se entendem.

 

Entenderem-se, depois construir; porque pode dar-se o caso de dois ou mais homens quererem a mesma coisa e brigarem convencidos de que o outro, ou os outros, desejam coisa diferente.

***

Onde houver incompreensão não haverá construção. Mas, tendo-se em vista que entender línguas é mais fácil do que entender homens, verificamos quão difícil é o problema da convivência e da unidade dos pensamentos e do comportamento nas reciprocidades do trato e no esclarecimento das intenções.

 

No entanto, é preciso que haja compreensão. E o mais singular, nesse esforço a que nos devemos entregar no intuito de consolidar a harmonia entre os que, no fundo, querem a mesma coisa, encontra-se nesta grande verdade: não será pesquisando “o outro” que logramos entendê-lo, mas pesquisando as profundezas da nossa própria personalidade. Porque sendo a essência humana uma só, ainda que se apresente na diversidade dos tipos pessoais, existe em nosso mundo interior um espelho onde sempre encontramos a imagem daquele a quem desejamos compreender.

 

Se soubermos olhar para esse espelho, uma grande surpresa nos aguarda, porque na fisionomia do outro veremos a nossa. Então, sentimo-nos movidos por um sentimento de fraternidade tão grande que os nossos olhos se umedecerão e invencíveis impulsos generosos nos elevarão à plana mais alta a que pode atingir o ente humano.

 

E está neste fato uma das provas da existência de Deus. Se os homens se compreendessem por si mesmos e a compreensão resultasse em um processo objetivo de observação, de análise, de verificação, eles poderiam viver felizes sem precisar do seu Criador, que acabariam esquecendo, mas o recurso ao nosso mundo interior, o processo introspectivo da nossa análise, a procura do espelho subjetivo, representam uma busca de Deus, Senhor de todos os idiomas. Dicionário de todas as línguas e dialetos, revelador de todas as expressões do Universo material e imaterial. É em Deus que os homens se encontram.

***

E quando os homens (com “h” minúsculo) se encontram uns aos outros, também encontram em si mesmos o Homem com “H” maiúsculo, isto é, o dominador de todas as mesquinhezas oriundas das fraquezas da carne.

 

Mas se os homens se encontram uns aos outros, não se iluminam com a luz do Espírito e tudo querem interpretar pelas aparências materiais das expressões recíprocas às quais emprestam arbitrariamente as intenções que o seu próprio egoísmo sugere, nesse caso os homens — mesmo se dizendo unidos por pensamento e objetivos formais — estarão desunidos, enfraquecidos, destruídos de todas as possibilidades de um êxito comum, ainda que esse êxito diga respeito aos mais nobres ideais.

 

Assim desagregados, cada qual se governará pela sua presunção e esta será a tenebrosa conselheira que deflagrará a luta entre os que, por dever decorrente de um alto fim pré-estabelecido, deveriam tudo sacrificar para manter a unidade de quantos se aliciaram e se congregaram visando um nobre objetivo.

 

Esse estado de espírito vai às últimas consequências. A presunção gera a desconfiança; a desconfiança gera as interpretações injustas; as interpretações injustas geram as ações inconsequentes; as ações inconsequentes geram, na parte adversa, atitudes de reação, quase sempre também inconsequentes; as atitudes de reação provocam novas dissensões; as dissensões degeneram em palavras levianas e insinuações malévolas; e, ao cabo de algum tempo, uma comunidade de homens que se uniram com as melhores intenções torna-se uma matilha de lobos a se entredevorarem.

***

Os ideais mais puros estão sujeitos às contingências mesquinhas do homem com “h” minúsculo. Até o Evangelho — o Ideal dos Ideais, a Lei das Leis, a Salvação Definitiva — não escapou das insuficiências humanas dos seus próprios seguidores. E nem outra coisa poderemos inferir das palavras de Cristo, registradas por São Lucas (Capítulo IX, versículo 41): “Até quando estarei ainda convosco e vos sofrerei?”.

 

Aqueles homens não haviam encontrado o Homem dentro de si mesmos. E só o encontraram quando se iluminaram pela lei do amor, lei subjetiva que veio dar vida à lei objetiva dos Patriarcas e dos Profetas. Pois então conheceram a Paz — não a paz de Breno e de César, mas a Paz da consciência, que se funda na capacidade de ceder e transigir no que concerne às glórias e bens da superficialidade terrena, para não abdicar, conceder, alienar ou rejeitar a glória e os bens predestinados à essencialidade do Homem.

 

Os ideais humanos, por mais belos que sejam, nada valem, se nós os interpretamos ao clarão colorido dos nossos caprichos, das nossas animosidades, das nossas antipatias, dos nossos ressentimentos, dos nossos interesses que se dissimulam em puritanismos farisaicos; eles valem, à luz branca e pura do nosso Espírito. Pois se os objetivos materiais imediatos tudo desunem, o Espírito tudo une, tudo harmoniza, tudo coordena em ritmos perfeitos de ação e de marcha.

 

SALGADO, Plínio. Reconstrução do Homem. 4ª edição. Rio Branco (AC): Nova Offensiva, 2022; transcrito na íntegra das páginas 23 e seguintes.