sábado, 9 de abril de 2022

O PROBLEMA DAS DÍVIDAS EXTERNAS (1936)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando Melo, conhecido Líder Pró-Vida e possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://paulofernando.com.br

O Artigo foi publicado originalmente no “A Offensiva”, em 05 de Fevereiro de 1936.

O PROBLEMA DAS DÍVIDAS EXTERNAS
PLÍNIO SALGADO 

O sr. Assis Chateaubriand, mentalidade brilhante porém viciada no método unilateral do raciocínio liberal-democrático, fez cavalo de batalha, pelas colunas de “O Jornal” e do “Diário de São Paulo”, a propósito da contradição em que diz ter apanhado um editorial da A OFFENSIVA e os pontos de vista do Sr. Marcos de Souza Dantas a propósito das nossa dívidas externas. 

O que é preciso, nesse caso ou em qualquer outro, é não considerar os fatos isoladamente, mas concatená-los, apreendendo o sentido lógico de cada um, ligado ao sentido geral de um a atitude. É preciso também distinguir as situações (a liberal-democrática vigente e a integralista que se aproxima) e, dentro da lógica de cada uma dessas situações, analisar, e compreender as atitudes e críticas oriundas de circunstancias especiais. Cumpre ainda, para se seguir um método rigoroso e interpretação dos fatos, distinguir o que é “doutrina” do que é a sua aplicação. Tudo isso compreende a mentalidade modesta de qualquer camisa verde, por mais humilde que seja, mas não pode compreender a inteligência brilhante de um homem habituado às unilateralidades da crítica liberal-democrática. 

Eu me encontrava sexta-feira em Belo Horizonte, de onde, segundo o “Diário da Noite”, do sr. Chateaubriand, teria saído precipitadamente por insinuação da polícia, como revolucionário perigoso (fato que o digno chefe de Polícia da capital mineira desmentiu de maneira categórica), quando a A OFFENSIVA estampou o artigo em torno do qual o diretor d
os “associados” está fazendo a sua tempestadezinha. 

Neste caso do artigo contra o Sr. Juracy Magalhães, pelo fato de ter o governador da Bahia suspendido o pagamento das dívidas do Estado, lendo-o, submeti-o à lógica do regime vigente e não me inquietei, em absoluto.

No manifesto programa com que o Integralismo vai pleitear eleições municipais, estaduais e as presidenciais da República, está claro o meu pensamento sobre as dívidas externas, pensamento, aliás, que coincide perfeitamente com o do Sr. Marcos de Souza Dantas. 

É preciso ter-se em vista que o Sr. Chateaubriand, de propósito,tem deturpado o próprio pensamento do sr. Marcos de Souza Dantas. Este nosso companheiro não é partidário do calote. O que ele quer é, exatamente, o que está estampado no meu manifesto programa, no art. 4º, capítulo 2º, em que escrevi:
“Revisar os contratos dos empréstimos públicos e dívidas dos Estados, nacionais e internacionais, promovendo-se a liquidação sem sacrifício da economia brasileira, nem dos interesses legítimos do comércio importador e exportador, observados os interesses legítimos de justiça, o direito de vida da Nação, a dignidade da Pátria e desenvolvimento das trocas de mercadorias com o exterior”. 

Este sempre foi o pensamento do sr. Marcos de Souza Dantas e este pensamento coincide com o do Integralismo, razão pela qual aquele nosso companheiro vestiu a camisa verde. 

Ora, o artigo da a AOFFENSIVA que, à primeira vista, pode causar estranheza, basta analisá-lo e verificar-se-á que ele foi escrito dentro da lógica, do regime vigente e até com muita precisão e oportunidade. 

Não é o sr. Juracy Magalhães, na Bahia, um adversário franco do Integralismo? Não se tornou aquele governador, ao qual devo, aliás, as maiores atenções e gentilezas pessoais, um perseguidor implacável dos camisas verdes baianos? Pois então, como assume uma atitude que fere de morte os princípios liberais-democráticos que ele defende? 

O Integralismo é, sobretudo, a doutrina que pretende restaurar, no Brasil, uma coisa que se diz muito comum, porém, que é muito rara: o senso comum. 

Vivemos em continuas contradições, a propósito de tudo. 

O Integralismo não pretende entrar no país como o macaco em loja de louças. 

Preliminarmente: o problema das dívidas externas tem de ser resolvido em conjunto e não isoladamente, em cada Estado; segundo: o Integralismo, antes de tudo, como está claro no seu manifesto programa, quer “realizar os contratos”, quer estudá-los atentamente para, em seguida, “promover a sua liquidação, sem sacrifício da economia brasileira, do comércio importador e exportador, etc.”; terceiro: dentro do regime liberal-democrático, do espírito jurídico que o orienta, é um verdadeiro absurdo qualquer medida da natureza da que tomou o governador da Bahia. 

Nestas condições continuamos dentro da nossa doutrina e em perfeito acordo com ela está o nosso companheiro Marcos de Souza Dantas. 

Aliás, o sentido que quiseram emprestar à entrevista do sr. Marcos de Souza Dantas, foi por este categoricamente desmentido em nosso número de ontem, com esclarecimentos precisos, que colocam este assunto nos seus devidos termos. 

Foi, portanto, inútil mais esta manobra dos “Diários Associados”, assim como as largas considerações em que se perdeu o sr. Assis Chateaubriand, pretendendo criar uma crise no Integralismo, coisa tão impossível e absurda que desafiamos todos os liberais-democratas com seu exército de jornalistas e seu aparelhamento de agências telegráficas para conseguirem provocá-la. 

Continuamos, como acentuou o companheiro Souza Dantas, coerentes com a nossa doutrina que é a constante do manifesto programa que lancei há dias. 

Não faço, como afirmou o sr. Chateaubriand, uma campanha contra os banqueiros internacionais por simples humorismo. Continuamos firmes e perseverantes na linha de doutrina e de conduta que nos traçamos, apenas, cada vez mais maravilhados diante das incoerências dos liberais-democratas como o sr. Juracy Magalhães, e os sofismas do sr. Chateaubriand.

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