Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
CINZAS... (27/02/1936)
Plínio Salgado
"Memento homo..." Morrem no
espaço os últimos ecos dos últimos cordões; há nos ouvidos, o rumor surdo e
insistente dos últimos sambas; o clamor das multidões alegres. Lá se foi o
Carnaval...
No contraste entre os três dias de
Folia e o dia lilás das Cinzas, a Igreja nos inspira o mais impressionante dos simbolismos.
É nesta manhã, única no ano, que o Homem há de se lembrar que é pó e em pó se
tornará.
Nestas horas fatigadas, há um recolhimento
para todas as sensibilidades finas. Deve também esse vago sentimento de
amargura e ao mesmo tempo de realidade, penetrar a alma de uma Nação.
Sobre a testa do Brasil, podemos também
fazer uma cruz de cinza. Com a cinza dos escombros do Quartel do 3º Regimento.
Talvez com a cinza dos próprios filhos deste país que tombaram mortos na defesa
da honra nacional.
Memento Pátria!
Sim: lembra-te, Pátria, que poderás
mais rapidamente transformar-te em cinzas.
É certo que todos os povos e todas as
nações passam. É certo que os séculos desfilam e sobre velhas humanidades
nascem humanidades novas. Sim; é bem certo. Mas é certo também que há povos que
desaparecem deixando uma lembrança de dignidade e de força; e outros há que sucumbem,
rapidamente, deixando uma recordação de miséria e de cativeiro.
Hoje, o camisa-verde toma também um
pouco da cinza das revoluções frequentes que têm ensanguentado o solo brasileiro;
a cinza dos campos devastados nas revoluções de 24, em S. Paulo e no Rio
Grande; a cinza das destruições no Nordeste e nos planaltos do Paraná, junto a
Itararé; a cinza das cidades saqueadas, dos sítios depredados, das fazendas arrasadas,
da guerra de 1932; essa argila empapada pelo sangue dos moços paulistas,
nordestinos, gaúchos, mineiros, paranaenses e pelas últimas lágrimas dos que
morreram bravamente, com retrato de mãe, de esposa, de noiva, de filha, no bolso
da farda, e é com essa terra da nossa terra, com esse sangue do nosso sangue,
que o camisa-verde unge a tua fronte, ó Pátria, perguntando-te:
- Até quando permitirás que os
partidos estadualistas armem os brasileiros contra seus próprios irmãos?
Penetrado pela meditação profunda
sobre os teus destinos, ó Pátria, o camisa-verde sofre a tua escravidão ignominiosa
ao argentarismo estrangeiro; a tua humilhação, vilipendiada pela propaganda
bolchevista, que fere as tuas tradições de honra e delicadeza de sentimento, e
pergunta:
- Até quando, Pátria, consentirás em
ser infeliz escrava, quando podes levantar-te para seres senhora soberana?
Olhando para os campos, as matas, os
chapadões da nossa terra, o camisa-verde vê seus irmãos caboclos, sofrendo na
gleba, há cento e tantos anos. Sente o abandono e a dor do seringueiro do
Amazonas, do vaqueiro do Nordeste, do garimpeiro de Goiás e Mato Grosso, do ervateiro,
do boiadeiro, do sitiante, do colono, do agregado, do jornaleiro, dos remeiros,
dos peões, dos carreteiros, e pergunta:
- Até quando, Brasil, teu povo há de
ser, assim, tão pobre e tão trabalhador; tão caluniado e tão honesto; tão
desprezado e tão hospitaleiro; tão injuriado e tão valente?
E, pondo os olhos nas fábricas, nos quartéis,
nos bairros operários, nos mocambos, nas favelas, nos canudos, onde uma
população de operários, de soldados, de párias, curte todas as privações ignoradas,
o camisa-verde exclama:
- Até quando os construtores de tuas
riquezas, Brasil, no desespero de seu sofrimento, se deixarão arrastar pelas ideias
dissolventes, escravizar-se por aqueles que pretendem transforma-los em máquinas
humanas, sem família, sem Deus, sem liberdade, como já acontece na Rússia?
Por mais que os políticos charlatães
cantem a canção do otimismo com que embalam a inconsciência das massas
populares, tão sofredoras e tão alheias às causas de seus males; os
camisas-verdes dizem-te, neste dia, a verdade suprema, de uma grandeza trágica,
marcando-te a fronte, ó Pátria, com as cinzas de todos os teus desastres e de
todos os teus crimes, e de todos os teus sofrimentos:
- Lembra-te, Pátria, que viverás com
os camisas-verdes e sem eles desaparecerás!
Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 27 de Fevereiro de 1936.
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