sábado, 7 de outubro de 2023

CADASTRO (25/02/1936)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

 CADASTRO (25/02/1936)

Plínio Salgado

A polícia de Minas, ao que dizem telegramas estampados em jornais, vai levantar o cadastro dos integralistas daquele Estado.

Quer saber a polícia quem são os brasileiros inscritos nas fileiras do Sigma.

Idêntica providência, ao que consta, foi tomada pela polícia de S. Paulo. Penso que o mesmo sucede em muitos Estados.

As polícias têm razão. É necessário tomar nota dos nomes de todos os que, vestindo a camisa-verde, devem ser tidos e havidos por elas, como desordeiros contumazes, elementos perigosos, tipos desclassificados.

Para poupar trabalho às polícias, vou dar aqui alguns nomes de desordeiros perigosos, que vestem a camisa verde. São tipos realmente terríveis de masorqueiros, de facínoras, de subversores da ordem pública.

Aqui, no Rio, por exemplo, temos o dr. Gustavo Barroso, diretor do Museu Histórico, membro e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras. Temos o dr. Rodolpho Josetti, presidente da Cultura Artística do Rio de Janeiro; o dr. Archimedes Memória, diretor da Escola Nacional de Belas Artes; o dr. Raul Leite, industrial; 28 lentes de Escolas Superiores (Faculdade de Direito, de Medicina, de Engenharia, Belas Artes, etc.) que seria longo citar os nomes os quais, aliás, foram enumerados na recente convocação para o Conclave Nacional. Quanto a desordeiros diplomatas, tenho vários de camisa verde, entre os quais o dr. Ribeiro Couto, secretário da legação de Haya; o dr. Jorge Latour, a cujo embarque comparecemos, há dias, pois ele seguiu como secretário de legação em Varsóvia; e aqui está a meu lado o ministro Fonseca Hermes. Seria necessário no momento que eu pedisse ao companheiro Calmon toda a lista de cônsules (entre os quais está o nosso em Zurique, o saudoso e querido Fabrino), dos secretários de legação, dos altos funcionários do Ministério do Exterior, todos integralistas. Como se vê, o Itamaraty está minado por nós, masorqueiros.

Se passarmos para o campo militar, as polícias do sr. Valladares e do sr. Armando Salles terão que fazer compridíssima lista, pois entre oficiais do Exército, da Marinha e das Forças Públicas, temos inscritos mais de mil. Até os reformados, brasileiros dignos, que não querem ficar inativos nestas coisas tão belas da construção de uma Pátria, aqui estão firmes a meu lado. Eu precisaria, no momento, ter aqui os meus amigos e companheiros general Vieira da Rosa ou Jeronymo Furtado, para que eu pudesse dar, sem omissões involuntárias, os nomes dos generais e almirantes que vestem a camisa verde.

Como veem os chefes de Polícia dos Estados (inclusive o sr. Claribarte Villarim, de Santa Catarina) a lista é bem grande dos elementos perigosos que me acompanham...

Mas o governo mineiro tem também alguns nomes especialmente recomendáveis como perturbadores da Ordem Pública. Entre eles, o meu amigo, a quem tanto admiro, Belisario Penna, filho de Minas Gerais, grande nome de brasileiro, e agora o dr. Lucio dos Santos, o grande nome que orgulha a terra mineira. Incontestavelmente estou reunindo os cangaceiros mais terríveis.

Em Curitiba, temos o dr. Vieira de Alencar, professor de direito civil na Faculdade do Paraná, que é chefe de desordeiros, porque é o nosso Chefe Provincial; em Florianópolis, o dr. Othon da Gama d'Eça, professor de Direito; Paraíba e no Piauí, os chefes integralistas são desembargadores; no Rio Grande do Sul, um dos nossos secretários, o Anor, é professor de Direito.

Em S. Paulo, há uma turma perigosíssima de facínoras, que escolhi a dedo: Marcel da Silva Telles, Clovis Martins de Camargo, Antônio Pompeu de Camargo, Eurico Martins, Machado Florence, Jayme Regalo Pereira, Eduardo Graziano, Francisco Stella, Ulysses Paranhos, Conego Bastos, Mario Ramos, Renato Souza Aranha, Bento de Almeida Prado, João Carlos Fairbanks, Miguel Reale... mas, seria citar toda uma quadrilha ultra perigosa, à qual teríamos de acrescentar cento e poucos oficiais do Exército.

Em Alagoas, os meus homens são tenebrosos. Lá está Mario Marroquim, ex-secretário de Estado, escritor de nomeada; Afrânio Lages, deputado, advogado ilustre; Oiticica, perigosíssimo, e todos os parentes de Floriano Peixoto. Em Sergipe, é uma barbaridade: todos os irmãos e parentes de Jackson de Figueiredo, que foi um terrível espadachim. Na Bahia, são verdadeiramente horripilantes homens como Herbert Parentes Fortes, pedagogo ilustre: o chefe provincial, Araújo Lima, que é capoeira; em fim, seria uma lista longa que o senhor Hanequim deverá tomar nota para o sr. Juracy ficar de sobreaviso.

Em Espirito Santo, além do chefe João Linhares, que é terrífico, temos o Arnaldo Magalhães, muito respeitado no alto comércio e na sociedade capixaba, porém, homem apavorante.

No Estado do Rio, entre outros, perigosos, que acompanham o chefe Padilha nas aventuras mais horrendas, estão o historiador Alberto Lamego, o educador Lealdino Alcântara, o meu amigo Glauco, homem de poucas conversas.

Todos os homens de maus Instintos, como o Conde de Affonso Celso, o sr. Arcebispo D. Octaviano, o general Pantaleão Pessoa, o ministro Plínio Casado, o general Góes Monteiro, o general Meira de Vasconcellos, o sr. Bispo de Bragança, D. Mauricio, e o de Campinas, sr. D. Barreto, toda essa gente se revela simpática ao Integralismo.

Na lista de camisas-verdes que tem a nossa Secretaria de Organização Política, encontram-se cerca de 800.000 indivíduos completamente desclassificados, milhares de advogados, de médicos, de engenheiros, de farmacêuticos, dentistas, professores, comerciantes, industriais, fazendeiros, artistas, escritores, jornalistas.

Eu teria de encher este jornal, para satisfazer aos chefes de Polícia dos Estados, tão zelosos da Ordem Pública.

É mesmo necessário levantar um cadastro. Com gente tão ruim, sou capaz de fazer alguma desordem horrenda.

Aqui está a meu lado o Madeira de Freitas; o Custodio de Viveiros, e o Santiago Dantas estão alarmados a olhar para o Madeira. Porque este, Everaldo Leite e Belmiro Valverde são os mais terríveis entre todos.

É tal o meu receio de mim mesmo e dos homens que me cercam e tenho tanto interesse em me livrar das grades, que aqui denuncio, gostosamente, esses terrificantes e tenebrosos cangaceiros que tanto assustam as polícias empenhadas em organizar o nosso cadastro.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 25 de Fevereiro de 1936.


Nenhum comentário:

Postar um comentário