Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
Pormenores da paisagem
política
(03/03/1936)
Plínio Salgado
No panorama geral da política
brasileira é interessante observar os pormenores da paisagem, tão expressivos
dos dias que vivemos e até certo ponto denunciadores dos primeiros
delineamentos da campanha pela sucessão presidencial da República.
Nenhum desses pormenores - excluídas as
marchas e contra marchas das correntes e os conchavos destes últimos dias - são
tão expressivos como a realização das eleições municipais em todo o país.
Essas eleições municipais, nos dias
presentes, ganham uma significação muito profunda. Nunca esses pleitos locais,
que dizem respeito a problemas de estrita órbita municipal, adquiriram tão súbita
importância.
É que eles constituem um balanço de
forças. Essas forças exprimem todas as possibilidades de participação das correntes
nos pródromos, no processo geral e no desfecho do problema da sucessão
presidencial.
Pela maneira como se portam as
situações dos Estados em referência às oposições, pode-se, até certo ponto,
deduzir qual o grau de interesse que o governo em questão põe na solução do máximo
problema político; pela maneira como tratam certas correntes, pode-se deduzir quais
os rumos que as marchas e contra marchas dos bastidores estão tomando nos dias
correntes...
A participação do Integralismo nessas
eleições municipais em todo o país, tem também uma significação muito grande. É
o balanço das forças do Sigma. Veremos com que contam os camisas-verdes para se
alinharem na batalha pacífica das urnas logo que cheguem os dias de se cogitar
de dar sucessor ao sr. Getúlio Vargas.
*
* *
Cumpre observar que o Integralismo
não é constituído apenas de massas eleitorais. O Integralismo é um partido político
de âmbito nacional; como tal foi registrado no Superior Tribunal Eleitoral;
como tal age, dentro da Constituição, da Lei Eleitoral da República, da própria
Lei de Segurança Nacional; como tal, se apresenta no país, como a única força
política organizada no alto sentido da Unidade da Pátria, da Unidade do
Pensamento, da Unidade do Sentimento. Entretanto, o Integralismo, de um modo
mais amplo, considerado como movimento cultural e educacional atuante no meio
brasileiro, contém o "partido político", não é contido por este. Um
partido político nacional já é uma coisa tão grandiosa, que deslumbra todos aqueles
que têm acompanhado as extremas dificuldades, as impossibilidades mesmo que se têm
apresentado a quantos neste país tentaram a realização desse Ideal político,
diante do qual tombaram inúteis e impotentes grandes homens como Pinheiro
Machado, Ruy Barbosa, Nilo Peçanha, e os últimos próceres da revolução de 30.
Não há político brasileiro, experimentado nas lutas partidárias, conhecedor das
realidades do país, que não se maravilhe diante do que já realizamos: o partido
nacional. Entretanto, fizemos muito mais: o partido nacional é um dos aspectos
de um "sistema" muito maior e verdadeiramente imponente, que é a
"Acção Integralista Brasileira", como organização cultural,
educacional, em atividade que exerce em todos os sectores da vida do país.
Ora, assim sendo, é o Integralismo
uma corrente cuja força não se avalia apenas pelos índices eleitorais, que
apenas mostram um dos seus aspectos. Inscrevem-se nas fileiras dos camisas-verdes
os homens mais cultos do país, como vimos ainda recentemente, com a adesão do
sr. Lucio dos Santos, glória legítima da ciência em Minas Gerais, e alistam-se,
igualmente, os humildes, analfabetos. Somos a única corrente que inscreve também
analfabetos... São brasileiros. Sofrem as agruras de uma condição social
humilhante e, num dado momento, pela honra da Pátria, pela glória da Nação,
poderão dar, não o voto, mas a própria vida!
Façamos abstração, no entanto, dessas
massas que agem debaixo da bandeira do Sigma. Consideremos, exclusivamente, os coeficientes
eleitorais. Já realizámos eleições em cinco Estados. Levámos para mais de
70.000 votos. Já elegemos perto de 200 vereadores. Fizemos vários prefeitos.
Na Bahia, a pressão governamental foi
enorme. Sentiu-se, perfeitamente, que o sr. Juracy Magalhães está empenhado no
caso da sucessão presidencial da República. Ali as perseguições foram enormes.
Por que a nossa força na Bahia é um fato que já ninguém contesta.
Temos, agora, as eleições em Santa
Catharina, São Paulo e Ceará. São três províncias importantes para os
camisas-verdes.
Como se portarão os governos nesses
Estados?
Eis a pergunta.
*
* *
O "estado de sitio" não foi
decretado para se perseguirem partidos políticos, nem para deixar os governos estaduais
na magnífica situação de realizarem o prélio eleitoral sem concorrentes... Isso
seria vergonha para os governadores dos Estados. Seria perante o Povo
Brasileiro, perante a História do Brasil, esses homens aparecerem como os
ladrões de cadáveres de Waterloo...
Pelo que tenho observado em São
Paulo, o sr. Armando de Salles Oliveira não vae criar dificuldades às oposições.
O "estado de sítio" coincidindo com as eleições municipais, vae
mostrar quais os governadores covardes, miseráveis, de estofo moral aviltante,
assim como tornar patente quais aqueles que serão cavalheiros, fidalgos,
conscientes de uma elegância moral indispensável aos que pretendem se impor à
admiração nacional.
Há nestas coisas de política, como
nas coisas da vida particular ou pública dos homens, certas delicadezas, certos
gestos, que constituem o que poderemos chamar a "ética da luta".
De quanto pude observar no Interior
Paulista, de onde acabo de regressar, chego à conclusão de que o sr. Armando de
Salles Oliveira não transgredirá essa "ética". Não se mostrará aos
olhos do país como um covarde. Não se valerá do "estado de sítio",
que toda a Nação e nós, integralistas, inclusive, aprovamos como medida extrema
de combate ao comunismo e até a uma potência estrangeira que se imiscuía nos negócios
internos da nossa terra, não se valerá dele para tirar proveito partidário,
para sufocar a propaganda das oposições que, no caso presente, em São Paulo,
são constituídas pelo P. R. P. e pelo Integralismo, além de vários partidos de caráter
estritamente municipal.
A prova do que digo são os boletins
que tenho diante dos olhos, que "firmam jurisprudência", si se pode
usar dessa expressão, acerca dos métodos policiais em face da atuação dos
partidos no próximo pleito. São boletins em que se convida o povo para a
realização de "meetings". Quem convida? O Partido Constitucionalista,
isto é, o situacionismo, ou melhor, o sr. Armando de Salles Oliveira.
Uma vez que já se abriu o precedente,
todos os outros partidos estão no direito de fazer o mesmo. Parece que essa é a
palavra de ordem do Governo Paulista. É a palavra de ordem do bom senso, Do
contrário, como se cumpriria a Lei Eleitoral? Pois a propaganda não é um ato preparatório
do exercício do direito do voto? Ora, si em pleno estado de sítio, o Governo
consente que se realizem eleições, logicamente, imperativamente, consente o exercício
do direito do voto com todos os seus atributos, requisitos, características,
processos. Foi, naturalmente, pensando assim que o Governo deu a
"deixa" aos partidos, mandando o seu próprio partido iniciar a
"propaganda".
E agora seria muito mais odioso, si o
Governo, tendo consentido à sua gente, a "propaganda", pretendesse
coarctar a dos outros credos...
Essa atitude me fazia crer que em
Santa Catharina, onde o sr. Nereu se mostra tão simpático e parece mesmo que de
certa forma ligado ao sr. Armando de Salles, idênticos direitos poderiam ser
exercidos pelos "camisas-verdes", que têm ali grandes redutos eleitorais.
Infelizmente, assim não foi, tendo os
integralistas recorrido ao Judiciário, que até lhes concedeu força armada nas
eleições de anteontem.
E o Ceará? Nós queremos estar certos
de que o governador que tem tido nos integralistas uma corrente de alta e
superior visão, não somente pela atuação no Parlamento dos dois deputados estaduais
que elegemos, e do deputado federal que representa no Rio o integralismo
brasileiro pelo voto dos cearenses, mas ainda pelo que o integralismo tem sido
como baluarte na defesa da ordem publica, - nós queremos estar convencidos de
que o sr. governador do Ceará deixará correr livremente a nossa propaganda.
Tais são os prognósticos que faço
para as eleições deste mês. São razoáveis e envolvem um pensamento de justiça e
de patriotismo. Querem também envolver um aviso aos governos:
- Cuidado, srs. governantes: não
aperteis demais as cravelhas, não asfixieis demais, não useis muito do vosso martelo
sobre a bigorna dos vossos adversários, Lembrai-vos de vários episódios da História
do Brasil. Dos tempos antigos e recentes. Lembrai-vos da História do Mundo, Pesai
bem, medi bem, contai bem. Para que possais evitar que, por força das circunstâncias,
tenhais vós de serdes pesados, medidos e contados, em dia que sempre chega de surpresa...
Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 03 de Março de 1936.
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