Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
PERANTE O TRIBUNAL DA
HISTÓRIA (25/04/1936)
Plínio Salgado
Escrevo estas linhas, meus caros
camisas-verdes, como subsídio para a História da nossa Pátria. Um dia, o
historiador terá de estudar este momento que atravessamos. Dentro deste momento,
a posteridade encontrará o Integralismo. Terá de estudá-lo, na sua
significação, na sua extensão, no seu volume, na sua projeção nacional e na sua
repercussão no estrangeiro. Terão, ainda os pósteros, de estudar, na hora
presente, o surto comunista, a penetração da propaganda e das organizações
secretas de Moscou, O crítico da História examinará o que representou o
Integralismo como reação do organismo nacional penetrado do vírus deletério da
corrupção. Estudará a atuação dos partidos políticos. Examinará a atitude dos
homens de governo. Deduzirá conclusões para os julgamentos que pertencem ao
Futuro.
Escrevo, pois, estas linhas, não para
vós, nem para os nossos contemporâneos, porém, para aqueles cujo julgamento
será definitivo, em face de tudo o que ainda pode acontecer no Brasil.
Não estou compondo um artigo, não estou
nem louvando, nem comentando, nem julgando, pois louvor, acusação, comentário,
"veredictum", a mim não me pertencem, que sou parte no feito, nem me
competiria antecipar aquilo que a seu tempo chegará.
Quero, aqui, apenas, registrar fatos,
para que não haja enganos de futuro e se conheçam, com exatidão, as posições
assumidas e as responsabilidades definidas nesta hora incerta.
*
* *
O Integralismo está sendo perseguido
na Bahia, em Minas Gerais, no Paraná, no Rio Grande do Norte, como já o foi,
até há pouco, em Santa Catarina.
Escrevo estas linhas no ano de mil
novecentos e trinta e seis, no mês de abril, dia 24, em que recebi um telegrama
do nosso chefe provincial do Paraná, anunciando que o governo do Estado acaba
de determinar o fechamento de todos os núcleos integralistas no território
paranaense.
Nesta mesma ocasião, recebo numerosas
cartas da Bahia, desesperadas, aflitas, de camisas-verdes do sertão (região de
Canudos), das zonas do cacau e do tabaco, e vários pontos do litoral,
comunicando tudo quanto ali estão sofrendo os integralistas: vexames, violências,
restrições a todas as liberdades.
Também, nesta data, os jornais do Rio
publicam um ofício do chefe de Polícia de Minas Gerais, à Corte de Apelação, atendendo
ao pedido de informações daquele tribunal em autos de "habeas-corpus",
impetrado a favor de camisas-verdes da pequenina cidade de Jacutinga, presos
Ilegalmente, ofício em que aquela autoridade informa que os integralistas em
questão tramam contra a segurança do Estado. O chefe de Polícia declara não
poder revelar as provas da tremenda conspiração dos moços de Jacutinga,
cidadezinha cujo nome só agora está em foco, em razão da importância que lhe
deu nestes oito milhões de quilômetros quadrados a polícia de Minas Gerais.
Neste mesmo dia 24 de abril de mil
novecentos e trinta e seis, V Ano da Era Integralista, o Chefe de Polícia da
Capital da República, na vigência do "estado de guerra" decretado
pelo Chefe da Nação, declara em carta, que se tornou documento público, pelas
colunas do Jornal A OFFENSIVA, contemporâneo destes acontecimentos, o seguinte:
"Respondendo sua
carta de 15 do corrente, na qual V. S. me pede para dar o meu testemunho de que
a Acção Integralista Brasileira nenhuma restrição ou constrangimento tem
sofrido, no Distrito Federal, mesmo com o "estado de guerra", pelo
que vem e continua funcionando em todos os seus departamentos, tenho a satisfação
de declarar a V. S que, de fato, nenhuma restrição foi feita ou determinada por
esta chefia de Polícia com relação a A.I.B.
Esta orientação foi adotada,
por se tratar, no caso, de um partido político, legalmente registrado no
Supremo Tribunal de Justiça Eleitoral, que, até o presente momento, tem feito
sua propaganda dentro da ordem, nada justificando, portanto, uma ação repressiva
contra o mesmo.
Com alta estima e
consideração, sou de V. S. patrício e ad. Attº. - (a.) F. MULLER."
Não quero, de modo nenhum, julgar
aqueles perseguidores do Integralismo e este Chefe de Polícia, cujo nome é
Filinto Muller, e que se exprime pela forma acima.
Não me compete julgar o Integralismo.
Não me esqueço da carta que Plinio, a Moço, governador da Bitinia, dirigiu ao
Imperador Trajano, sobre os cristãos. O autor das "Cartas", espírito
atilado, compreendeu que não deveria avançar um juízo, sendo contemporâneo dos
fatos de que tratava. Sua missiva é meramente expositiva.
E hoje eu não estou escrevendo como Chefe
do Integralismo, e sim, oferecendo um testemunho aos historiadores do Futuro.
Esses, estudarão o que foi o Integralismo, o que ele pretendeu (e. posso dizer
mesmo o que ele realizou, pois, a nossa vitória agora se tornou fatal, depois
das perseguições). E é bom que os historiadores saibam quais os perseguidores
desse movimento e quais as autoridades que não agiram contra ele.
Andará bem o sr. Filinto Muller, ou
andarão bem os governadores e chefes de polícia provincianos que assim se
colocam em atitude tão oposta e desprestigiante do Chefe de Polícia da Capital
da República?
Também os Tribunais e numerosos Juízes
têm concedido "habeas-corpus" a mandados de segurança aos
camisas-verdes. Estarão eles andando certo, ou certos se encontram os que violam
as liberdades dos integralistas?
*
* *
Informo ainda aos historiadores do
Futuro que o nosso programa está contido nos Estatutos com que nos registrámos
como partido político nacional. Informo que somos o único partido nacional.
Informo que temos cooperado com Chefe de Polícia da Capital da República, com
os comandantes de regiões militares e delegados de polícia de todo o país, na
manutenção da ordem, todas as vezes em que os comunistas ameaçam dar seus
golpes. Informo que tenho tido entendimentos pessoais com vários comandantes de
regiões militares, ora para combinar ação conjunta na repressão do comunismo,
ora para receber agradecimentos por serviços que os integralistas têm prestado
à sustentação das autoridades da República. Informo ainda ao historiador que,
na Bahia, onde estamos sendo perseguidos, nossa atuação foi eficientíssima,
contribuindo para evitar o surto bolchevista em novembro. Informo que o mesmo
se deu no Paraná e em Minas Gerais. Informo que posso provar isso no momento
que for necessário. Informo que telegrafei ao presidente da República em novembro,
oferecendo-lhe cem mil homens para a defesa do Governo. Informo que o
presidente da República me agradeceu num belíssimo telegrama em que enaltece a
atitude dos camisas-verdes. Informo que os políticos e os jornalistas a soldo
da politicagem, declararam não acreditar que eu dispusesse desse número. Informo
que, logo em seguida, a Justiça Eleitoral se incumbiu de responder-lhes, pois
já apurou, em apenas oito Províncias, perto de cento e cinquenta mil votos
integralistas. Informo que o Integralismo é registrado como partido nacional,
no Superior Tribunal Eleitoral. Informo que o Integralismo já elegeu deputados
federais, estaduais, prefeitos, vereadores e juízes de paz. Informo que existe
neste ano da graça de 1936, na Capital da República, uma polícia chefiada pelo
capitão Muller, que é a melhor do Brasil. Informo que essa polícia nunca
descobriu nada contra o Integralismo, como se viu da carta que publicamos atrás.
Informo, finalmente, aos historiadores
que, neste ano da Era Cristã de 1936, eu já acreditava, debaixo das mais tremendas
perseguições, na vitória do Integralismo.
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