terça-feira, 28 de novembro de 2023

A LIÇÃO DE ADDIS ABEBA (08/05/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

A LIÇÃO DE ADDIS ABEBA (08/05/1936)

PLÍNIO SALGADO

Espectadores do panorama europeu, os acontecimentos que se desenrolam do outro lado do Atlântico devem servir-nos como lições, lições preciosas para povos jovens e nacionalidades em formação.

A tomada de Addis Abeba pelos exércitos italianos, preliminarmente, demonstra o poder tonificador de um regime de ordem, de disciplina, de entusiasmo nacional. A Itália, outrora derrotada pelas tropas de Menelick, reconstituiu suas energias quarenta anos após, arrancou de si mesma as forças imortais que apenas adormecem, porém nunca se extinguem nos povos, e conquistou um enorme território, destruindo o Império Negro.

Essa é a primeira lição, que nos faz pensar sobre as vantagens de uma Pátria sem partidos, organicamente estruturada, unida pelo sentimento de sua própria grandeza e agindo, numa unanimidade de consciências e numa uniformidade de ritmo, no sentido supremo de um ideal coletivo.

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A segunda lição que nos oferece a tomada de Addis Abeba é a de que todo o cabedal de costumes, ética internacional, direito das gentes, juízos arbitrais, institutos pacifistas, tratados, convênios, conversações diplomáticas, jurisprudência, princípios e teorias, tudo o que compõe essa coisa chamada "a civilização ocidental", arrasou-se completamente. De nada valeram as "sanções". De nada valeram as atitudes morais dos governos. Nada significaram os protestos de Genebra. A incapacidade singular de cada governo para solucionar problemas de ordem interna ou externa, que lhe são próprios, ampliou-se, na mais vergonhosa incapacidade plural. Nem podia ser de outra forma: a soma de quantidades negativas só pode levar o sinal "menos". E, desta sorte, o mundo fica sabendo que em caso de guerra, ainda quando esta seja de conquista, não há para quem apelar, senão para os próprios recursos nacionais de cada um dos interessados.

A ocupação da Manchúria pelo Japão, anteriormente já havia desmoralizado a Sociedade das Nações. A exasperante e prolongada tragédia do Chaco Boreal, aqui perto de nós, tragédia que só teve seu termo quando os grupos financeiros em choque resolveram cessá-la, foi outro episódio que trouxe para todos os espíritos sensatos a descrença mais absoluta no idealismo jurídico e na eficiência das diplomacias. O rompimento dos tratados pela Alemanha vem acentuar a insuficiência das teorias em face da prática. O rearmamento dos povos confirmou essa insuficiência. E, agora, a tomada de Addis Abeba trouxe um vergonhoso consolo para as diplomacias platônicas do mundo: a Itália, apesar das sanções, não se retirou e nem mesmo ameaçou retirar-se da confraria de Genebra...

Com a cara amarela e um sorriso desenxabido, a Grã Bretanha elogia a atitude do sr. Mussolini, que, segundo a linguagem esportiva da terra do "football association", incontestavelmente "jogou na regra"... E, isso, já é um conforto para a "civilização" e para os juristas do mundo, e um tema para as mais finas ironias, como as do nosso cronista do "Momento Internacional".

Diante dessa lição, nós, brasileiros, que ainda acostumados a ler, de vez em quando, o livro de William Stead, "O Brasil no palco do mundo", onde a figura de Ruy Barbosa se agiganta em face da tese da Alemanha, falando em todas as línguas do Universo, em nome do direito das pequenas nações, precisamos mudar de leitura, e ler, por exemplo, o livro de Hitler, "Minha Luta".

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Esse livro de Hitler é um comentário vivo à doutrina firmada pela posse de Addis Abeba. O chefe do governo alemão defende ali a tese em que se afirma o direito dos povos fortes, quando se debatem nas dificuldades da superpopulação, de tomar territórios alheios.

O nacional-socialismo é um movimento tipicamente bismarckiano. O seu condicionado não é a revolução social, porém, o nacionalismo na sua máxima exaltação. Nele predomina, de um modo imperativo, a inspiração de Nietzsche, o sentido político de Frederico II, o "élan" das marchas dos "hussards" e o poema das glórias militares.

Seria útil aos brasileiros meditar sobre Addis Abeba e penetrar o sentido de "Minha Luta".

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Addis Abeba nos leva a pensar também na Manchúria, transformada numa posta de carne, que o dragão japonês e o leão soviético disputam do outro lado do planeta. Leva-nos a pensar nos vastos territórios brasileiros e no nosso sistema de colonização. Com um pouco, ao menos, de patriotismo, pensaremos na "fordlandia", onde o lobo "yankee" pisa cautelosamente. Isso nos fará considerar a situação da América Central, a pseudo-Independência do Panamá, a anexação das províncias mexicanas, a anarquia de Cuba...

Por outro lado, meditaremos na sutil propaganda separatista, insuflada, quase imponderavelmente, pelo capitalismo britânico. Concentraremos nossa atenção para os objetivos reais da Rússia, quando interfere em nossa política interna, isto é, a anexação de um vastíssimo território ao seu Império.

Convêm não nos iludamos com falsas amizades, com "salamaleques" de quem quer que seja. Convêm não nos percamos em objetivos unilaterais. Os perigos para o Brasil não vêm nunca de um lado só, mas de todos os lados.

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Alguma coisa morreu no mundo, depois da Grande Guerra. Foi um sentido do direito, foi um rumo da política internacional. Foi, talvez, muito mais: o espírito de uma velha civilização.

Alguma coisa nasceu sobre a Terra. O espírito de uma Nova Civilização, que nos incumbe, a nós, brasileiros, implantar no mundo.

Eu sei que aqueles que se habituaram a rir do Brasil, a nos julgar incapazes, mesquinhos, ignorantes, estúpidos, ridículos, estão sorrindo diante da frase que deixei escrita acima desta. Mas eu não escrevo para esses, que já se aviltaram tanto, que já se degradaram de tal forma dentro de uma mentalidade de escravos ao ponto de hoje nada mais significarem para os que são fortes, másculos, enérgicos e me acompanham nesta cruzada de ressurreição nacional.

Para estes é que escrevo. E para todos aqueles que, ainda não tendo vestido uma camisa-verde, estão em condições de o fazer imediatamente, se, ainda sentem vibrar, no íntimo, de seu coração, o sentimento de altivez e dignidade que arrebata os soldados do Sigma.

Esses sabem que temos uma missão a cumprir ainda neste século. E que, para isso, precisamos preservar a nossa Nacionalidade dos perigos iminentes, dos perigos mesmo remotos que possam aniquilá-la.

Criar o sentimento da União Nacional. Esquecer a miserável política dos partidos. Abster-se dos preconceitozinhos liberais. Unir a Nação. Em alma, em pensamento, em vontade, em sangue, plasmar o Grande Brasil.

Não será na hora dos desastres que tocaremos nosso clarim. Este nosso clarim, que principiou a ressoar pelos quatro cantos da carta geográfica do Brasil, desde 1932, é o grito de alarma, é o sinal da ressurreição.

Brasileiros! Não vos iludais! Não vos conserveis nessa atitude de mero espectador no Coliseu, vendo cair os gladiadores e aplaudindo os que conduzem vitoriosamente as quadrigas no corso. Levantai-vos. Para exprimirdes a força nacional, para constituirdes a muralha viva, para vos afirmardes como a honra de um povo e a predestinação de um Continente.

Um dia se falará destas palavras que aqui deixo escritas. Praza aos Céus que elas não sejam lidas nesse dia com o remorso dos criminosos contra a Pátria, porém, com a alegria e a força de uma Nação que tendo ouvido o aviso, levantou-se e caminhou!

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 08 de Maio de 1936.

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