quarta-feira, 12 de julho de 2023

Não há extremismo da direita (07/11/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Não há extremismo da direita (07/11/1936)

Plínio Salgado

- Que é o extremismo?

- O extremismo, segundo está definido na Lei de Segurança Nacional, é o emprego de violência, ou a pregação de métodos violentos com o objetivo de tomar o Poder, e, de um modo geral, a propaganda de qualquer doutrina tendente a provocar lutas no seio da sociedade, entre classes, religiões, raças ou regiões.

- O extremismo então pode ser encarado sob dois aspectos?

- Sim; porque o extremismo pode ser exercido no domínio dos "fatos", ou no domínio das "ideias". Pode-se até dizer que há três espécies de extremismos: 1º) o extremismo-prático; 2º) o extremismo-ideológico; 3º) o extremismo prático-ideológico.

- Poderá dar-me alguns exemplos para minha melhor compreensão?

- Pois não. O extremismo-prático é, por exemplo, o de um governador de Estado (estou figurando uma hipótese) que começasse a dispender grandes quantias para armar soldados, ato esse inequivocamente preparatório de desprestígio do Poder Central e ameaça à paz interna do país. É também o caso de um partido político, partidário da liberal-democracia, ou da socialdemocracia, que tenta um golpe de Estado. É, enfim, o caso de uma revolução de quadros, isto é, pretendendo uma mudança de homens. Quanto ao extremismo ideológico é o comunismo, na sua fase preparatória, incitando a luta de classe, a luta contra as religiões; são também os que estimulam a luta entre as diversas regiões do país, pregando o separatismo; são também os que pregam a destruição de uma raça. E, quanto ao extremismo pratico-ideológico, é já o ato conspiratório, ou francamente revoltoso, levado a efeito por aqueles que doutrinariamente disseminam as ideias de luta ou de dissolução: é o caso típico da revolta comunista de novembro do ano passado.

- Que espécies de extremismos há no Brasil?

- O extremismo que existe no Brasil é o ideológico-pratico, isto é, o comunismo bolchevista.

- Como é que se fala frequentemente em extremismo da esquerda e extremismo da direita?

- Por burrice ou velhacaria. Extremismo da direita não existe e nunca existiu a não ser na cabeça dos comunistas que, agora, covardemente,, se escondem por detrás dos politiqueiros, como já se esconderam uma vez atrás de crianças, quando tirotearam estupidamente os Integralistas em Bauru.

- O Integralismo não é extremismo da direita?

- O Integralismo nem é extremismo e nem é da direita. Para nós não existe nem esquerda, nem direita e nem centro, porque o brio, a vergonha de um Povo, que somos nós, não ficam nem na face esquerda, nem na direita, mas ruborizam todo o semblante. Essas expressões "direita" e "esquerda" foram inventadas pelos comunistas que são materialistas, evolucionistas e dialéticos, doutrinas essas que concebem sempre a luta. Nós não concebemos a luta, mas a harmonia. Se pregássemos a luta, tendo uma concepção de "esquerda” e de "direita", só por isso não seriamos integralistas, pois esse conceito é um contrassenso para quem compreende o universo, a sociedade, a nação, os homens, de uma maneira integral. Todo aquele que usar das expressões "direita" e "esquerda" está prestigiando a doutrina dos dialéticos de Marx, dos darwinianos do materialismo histórico, que pregam a luta de classe. E, se não pregamos a luta, se a condenamos ao ponto de não considerar o mundo dividido em "esquerda" e "direita", mais logicamente se patenteia que não somos extremistas do ponto de vista ideológico. Se fossemos extremistas, teríamos de adotar os ensinamentos de Sorel. Ora, Sorel é discípulo de Darwin, de Haeckel, de Lamarcke, dos materialistas, conforme ele mesmo demonstra no seu livro "Reflexões sobre a violência". Portanto, s fossemos alunos de Sorel, seriamos adeptos dos materialistas: sendo adeptos dos materialistas, deixaríamos de ser espiritualistas: deixando de ser espiritualistas, deixaríamos de ser integralistas; deixando de ser Integralistas, seriamos nós mesmos, e não os nossos inimigos, que fecharíamos as portas deste Movimento a que pertencemos.

- A coisa é mesmo clara como água. Não entendi mais depressa porque era um retardado mental, como o senhor chamou aos duros de entendimento; mas agora estou vendo tudo, sim senhor. E me diga uma coisa: S o Integralismo, ideologicamente, não pode ser extremista, do contrário negará sua própria doutrina, ele, praticamente, não usou ou não pretende usar de métodos violentos?

- Quem demonstrou que o Integralismo não usou, nem usa, nem usará de métodos violentos foi o próprio conclave dos chefes de Polícia reunidos na Capital da República, segundo entendo desta noticia de "O Globo", que aqui está. Isto foi a desmoralização mais completa de todos os que nos acusaram de conspiração. Senão vejamos. E agora sou eu quem vae perguntar a você:

- O Integralismo é, ou não é, um Partido Nacional?

- É sim senhor. Está registrado no Superior Tribunal Eleitoral.

- Se ele se registrou como Partido Nacional, o seu programa era nacional ou provincial?

- É claro, que o seu programa só pode ser nacional.

- Se o seu programa é nacional, o Integralismo tem algum interesse em tomar conta isoladamente do governo de um só Estado?

- Ah! O senhor parece que está brincando: pois é mais do que lógico que não. Ao Integralismo só pode interessar o governo de toda a Nação.

- Muito bem; está respondendo com discernimento, Diga-me agora o seguinte. Suponhamos que os integralistas tivessem preparado uma conspiração, para usar de violência, para tomar o Poder. Essa conspiração seria apenas em duas ou três unidades da Federação Brasileira?

- Não senhor. Se ele fizesse uma conspirata, faria em todos os Estados. Mas o senhor parece que está brincando comigo. Sou um pouco burrego, mas não tanto.

- Está direito. Responda-me, ainda. Se o Integralismo tivesse conspirado em todos os Estados, que é que o Governo Federal deveria fazer?

- Fechar o Integralismo.

- Perfeitamente. É isso mesmo. Agora me diga: o Governo fechou o Integralismo, depois das acusações que lhe fizeram três governadores de Estados?

- Não fechou.

- Responda-me, ainda: os governadores dos outros Estados fecharam o Integralismo?

- Também não.

- Que quer isso dizer?

- Que o Integralismo não conspirou nesses Estados e que o Governo Federal entende que o Integralismo não está conspirando.

- Pois bem. Se o Integralismo não conspirou no todo, não poderia ter conspirado na parte. Logo, o Integralismo nem conspirou, nem conspira, nem conspirará. Pois sendo de sua natureza o ser nacional, não poderia manifestar-se como provincial. O Governo bem o compreendeu.

- Então que extremismo da direita é esse de que ainda se fala?

- É um extremismo que não existe.

- O Integralismo, então, quer mesmo vencer pelo voto?

- Que dúvida? Timbramos em agir dentro da Lei, dentro da Constituição, e posso garantir-lhe que não o fazemos pelos belos olhos dos que estão no Poder, mas por uma questão de coerência doutrinária. Os que pretendem atingir o Poder pelos métodos violentos são materialistas e unilaterais, são dialéticos, soreleanos, hegelianos, marxistas. Nós somos espiritualistas, totalistas, conciliadores, corporativistas, antimarxistas, integralistas.

- E se o comunismo pretender dar um golpe?

- Aí é outro caso. Somos a vergonha nacional, somos a dignidade da Pátria, somos o brio brasileiro, somos as sentinelas da Nação. Se o comunismo erguer a cabeça, aqui estamos firmes, para tudo dar a nossa Pátria, pois, para o integralista, mais vale morrer com honra do que viver desonrado.

- O Integralismo, então, não será fechado?

- Se fechassem o Integralismo, estaria revogada a Constituição, enxovalhadas todas as leis, pisado o princípio da Autoridade Federal, sufocados os legítimos anseios da Nacionalidade, lançados aos maiores perigos todos os lares. Então, não sei o que poderia acontecer neste país. Felizmente, vinte chefes de Polícia mostraram-se à altura da sua responsabilidade, e, entre todos eles, Filinto Miller, não só à altura dessa responsabilidade, mas da gratidão da Pátria e da Posteridade.

- Por hoje é só.

Publicado originalmente n’ A OFFENSIVA, em 07 de Novembro de 1936.

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