sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Realidades e finalidades (15/10/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Realidades e finalidades (15/10/1936)

PLÍNIO SALGADO

      EM 15 DE SETEMBRO DE 1931, PUBLIQUEI NO JORNAL “A RAZÃO”, DE S. PAULO, O SEGUINTE ARTIGO:

"Encarar os problemas brasileiros, segundo as nossas realidades é indispensável, mas não é tudo. A posse do "real" não terá sentido político, sem uma fixação de diretriz IDEAL.

Verifica-se a verdade objetiva para sobre ela fundar a tradução da verdade subjetiva. E' sobre a realidade concreta que temos de trabalhar e, justamente por isso, não se pode pré-estabelecer uma boa política, sem o conhecimento integral de todos os elementos da realidade social.

Pois é possível ter-se uma excelente finalidade e uma má política, do mesmo modo como se pode praticar ama excelente política, sem nenhuma finalidade. E enquanto, no primeiro caso, se agirá numa esfera puramente abstrata, no segundo erraremos por excesso de submissão ao concreto. E na política, como em tudo, a unilateralidade, se não chega a ser a ilusão da verdade, é entretanto a verdade parcial.

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Eis porque, ao encararmos as questões do nosso país, devemos nos convencer de que elas não serão resolvidas se não fizermos derivar o nosso processo político de uma série de fatos incontestáveis de ordem econômica, étnica, geográfica, histórica e moral. E, nesse caso, a política brasileira deve ter um caráter de coordenação, de aproveitamento de forças latentes que, de nenhuma forma, podem ser abandonadas e muito menos contrariadas. Mas esses fenômenos da vida nacional não devem ter uma finalidade EM SI, o que redundaria num fatalismo que a ordem social e jurídica da Nação iria consagrando, submetidos no evolucionismo materialista. Nem poderiam essas expressões isoladas, e por vezes, contrastantes, do país, se uniformizarem uma fisionomia total, se cada uma obedecesse à sua própria dinâmica, sem relação com o sistema de movimentos do conjunto nacional.

Quem estuda qualquer dos setores das questões brasileiras, de um ponto de vista de rigorosa inspeção objetiva, encontra realidades que, repelindo-se, segundo o sentido de suas relações recíprocas, podem se harmonizar em referência a finalidades comuns.

COMO EXEMPLIFICAÇÃO, temos a VIDA MUNICIPAL, A VIDA ESTADUAL E A VIDA ECONÔMICO-SOCIAL, três aspectos da paisagem política brasileira, todos os três muito significativos e respeitáveis, e que o estadista não pode dissociar, se quiser REALIZAR A NAÇÃO com finalidade bem fixada.

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Não se compreende uma política baseada exclusivamente nas realidades brasileiras, tomadas estas como CAUSA E EFFEITO. E não se compreende também uma política firmada exclusivamente numa série de ideias abstratas, sem consonância com os fenômenos ambientes.

O próprio NACIONALISMO, que seria, originando-se exclusivamente das REALIDADES, uma consequência vaga e transitória, pode levar a erros os mais lamentáveis, se ele não constituir um MEIO e pretender firmar-se como única e despótica finalidade.

O nacionalismo deve ser entendido tão somente como a forma de realização de um povo num sentido de humanidade superior. Entendido de outra maneira, ele fará da Pátria, em vez de uma expressão ideal de aperfeiçoamento, um índice de ambições desumanas, levando-as às guerras injustas e absorção de todas as liberdades pessoais. E a Pátria deixará de ser a projeção coletiva de interesses individuais para se afirmar como arbítrio e tirania.

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O pensamento político deve traçar uma finalidade à Nação e dar-lhe os elementos de possibilidade, com o ordenamento das forças oriundas do Impositivo das realidades do país.

Nem é possível harmonizar os fenômenos da completa vida brasileira, se não estabelecermos, de antemão, os princípios fundamentais do sistema político. Os nossos homens públicos, em geral, desdenham da filosofia, portando-se como viajantes que tomassem um comboio de uma à outra estação Intermediaria entre o ponto inicial e o terminal. Repousam nas finalidades puramente administrativas e sorriem superiormente de quantos pretendam indagar das causas e dos objetivos nacionais. E, abandonado o povo brasileiro às suas realidades, o Brasil vai se tornando uma Nação sem objetivo político.

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É essa, possivelmente, uma das causas da nossa cada vez mais confusa complexidade. Nada mais apolítico do que o político brasileiro. Sendo um país onde mais fervilha a politicagem, o Brasil não conseguiu ainda compreender a alta significação da política. Pois esta não tem entre nós nenhuma relação com a sociologia nem um SENTIDO ESSENCIAL, ficando em meras objetivações transitórias.

Entre a verdade abstrata das elites e as verdades concretas cuja pressão se exerce sobre o nosso partidarismo empírico, há um vazio imenso onde não se afirmou ainda uma mentalidade capaz de DIRIGIR REALIDADES, em vez de se deixar empurrar cegamente por elas, e de prefixar finalidades traçando OS CAMINHOS impostos pelas possibilidades e necessidades.

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Temos visto, expondo singelamente nas notas que denominámos "Panorama", as tendências de grandes zonas brasileiras; naquelas em que fizemos o relato da "Vida municipal", a íntima fisionomia da célula em que o regime republicano se alicerça; em outras focalizámos as aspirações estaduais, que ocasionaram a revolução de Outubro; em outras, finalmente, apreciámos, o aspecto dos problemas econômico-sociais; e tudo isso é o Brasil. O Brasil complexo, conjunto de nações politicamente distintas, em que se estendem com cartografia própria, países essencialmente distintos, que abrangem muitas vezes até frações de certos Estados. O Brasil com a concomitância de vários estágios de evolução econômica e vários tipos de psicologia social. O Brasil sem a cristalização de uma mentalidade e sem um tipo de cultura. A descontinuidade social na continuidade histórica.

As forças desse país complexo e pasmosamente unido só poderão ser ordenadas pelo gênio político que provoque a reação generalizada mediante uma forte ação nitidamente definida.

Esse estadista deverá ser capaz de apreender as ideias gerais, porém não deverá repousar exclusivamente nelas. Deverá ser um teórico em fane dos chamados políticos, e um PRÁTICO em face dos ideólogos e letrados. Deve saber aceitar, para poder conduzir. Deve saber entender, para poder disciplinar...

E não pôde, principalmente, constituir uma improvisação, um advento messiânico, mas o índice de uma consciência política e social que traga consigo a posse das realidades e a diretriz de una finalidade humana.

Por ora, é o que nos cumpre: criar essa consciência."

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Esse artigo saiu em 1931. Hoje, existe o Integralismo no Brasil. A sua linha política nunca se afastou das diretrizes desse artigo. No começo, tive multos críticos: os literatos chamavam-me de político; os políticos chamavam-me de literato. Não escutei nem os homens "práticos", nem os homens "teóricos", No começo, isto me foi difícil dentro do próprio Movimento; é que eu tinha, de um lado, a resistência dos "místicos" incapazes de entender as consequências de passos cujos efeitos se fariam sentir alguns anos mais tarde, e de outro lado eu tinha a precipitação dos "oportunistas" (no bom sentido, é claro), incapazes de perceber o segredo de minhas resistências.

Mantive a linha do equilíbrio e pude criar uma Política, num país onde nunca existiu Política, pois o que temos tido é simplesmente politicagem. A orientação traçada no artigo que acima reproduzo está plenamente triunfante

Como um só corpo, realizando a unidade perfeita do pensamento político, o Integralismo conciliou a filosofia e a sociologia e foi ao contato experimental dos fatos na história de quatro anos deste Movimento nacional de que se originou a mística da autoridade.

Somos hoje um milhão de brasileiros unidos As assembleias das "Cortes do Sigma", do Congresso Nacional Feminino e do Conclave Parlamentar que terão início amanhã, correspondem a uma grande parada das forças novas iluminadas por um ideal filosófico que gera o conceito do Estado, e por um conhecimento prático da vida brasileira de que provem uma concepção de política objetiva.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 15 de Outubro de 1936.

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