segunda-feira, 20 de março de 2023

Inquietação Juvenil (19/11/68)

 

Esclarecimento: O Artigo abaixo foi publicado em jornal pelos “Diários Associados”, mas, o recorte que dispomos não trazia a data da publicação. Felizmente, graças ao impressionante trabalho de pesquisa sobre o Integralismo em fontes primárias, o brilhante pesquisador Matheus Batista pode nos informar que a data da edição foi 10 de Novembro de 1968.

 

Em breve, o Companheiro Matheus Batista publicará uma sensacional Obra sobre o Integralismo. Aguardem!



Inquietação Juvenil (19/11/68)

Plínio Salgado

Tenho recebido, com frequência, de alunos do curso médio, questionários relativos às preocupações que absorvem os adolescentes neste instante assinalado pelo inconformismo da juventude em face do que existe, como forma, processos didáticos e estilo de relações entre aprendizes e mestres, em nossos estabelecimentos de ensino.

Todas as perguntas, quando não insinuadas por professores ou pessoas, com fins inconfessáveis, exprimem uma encantadora candura, em manifestação de honesta sinceridade e revelando irrestrita confiança na resposta que esperam.

Esta semana me veio de uma estudante ginasial, que frequenta as aulas de um dos melhores colégios de São Paulo (o “Dante Alighieri”), duas perguntas, que respondi da seguinte maneira:

1) Quais são as causas da inquietação estudantil?

Resposta: Não deveremos dizer, “inquietação estudantil”, mas sim “inquietação juvenil”, por que os estudantes se agitam por serem jovens e não por serem apenas estudantes. Essa inquietação origina-se de causas que podemos chamar. “bio-fisiológicas” e de outras que designaremos como “psicológicas”. As primeiras são visíveis e evidentíssimas se observarmos o que se passa em todas as espécies animais no período do seu crescimento até a idade adulta. É olhar os cabritinhos, os bezerros, os potrinhos, a saltar nos campos, os gatinhos e cãezinhos a pular atrás de uma bola de papel, e verificamos a prodigiosa dinâmica vital que os impele, aliando o movimento à curiosidade, a qual exercita os sentidos em constante exploração do mundo em que os novos seres se integram e que lhes parece cheio de mistérios.

Essa desordenada movimentação, à proporção que o animal vai atingindo a idade adulta, ordena-se gradativamente, até se compor na expressão de equilíbrio que define a personalidade para o resto da vida.

Se isto acontece com os chamados irracionais, o mesmo se dá, em proporções maiores, com o ser racional. A criança, o menino e o adolescente, o jovem, passam por fases idênticas às por que transitaram os animais de todas as espécies, no referente às necessidades de movimento e de curiosidade, mas esta se amplia abarcando o mundo dos conhecimentos sobre a natureza e sobre o que existe de intelectual e espiritual no ser humano. Ao passo que os irracionais se detém nos limites da identificação das coisas, o homem busca a essência dessas coisas, as suas origens, a sua estrutura mais íntima, a sua significação e finalidade. Procura, não só conhecer o Universo mas também, e muito mais ainda, a sua própria pessoa, as razões de sua existência e indaga tudo o que diz respeita ao seu fim último. Tal inquérito permanente sobre o mundo exterior e sobre o misterioso mundo interior, que existe dentro de cada um de nós, gera uma inquietação, que se manifesta em todas as filosofias e as numerosas interpretações dos fenômenos das quais decorrem os critérios de comportamento social e individual.

Na idade juvenil, essa inquietação é muito maior do que na idade adulta, quando o ser humano, além de haver completado o ciclo evolutivo de sua constituição orgânica, também completou, pela experiência, o ciclo do desenvolvimento intelectual. O jovem ainda está no período da “procura”, da “dúvida”, da “perplexidade” diante do que lhe vem sendo ensinado e do que estuda por si próprio. Não sabe, com segurança, para onde se dirigir, nem como se comportar em face do que já aprendeu e do que vai aprendendo, Traz ainda consigo o dinamismo da infância e da puberdade, que se traduz no desejo de ação e movimento. Não se conforma com os conselhos da experiência dos pais e dos mestres. Quer agir, fazer algo de novo, esquecendo-se de que o “novo” não passa do “velho”, que já foi “novo” em gerações antecedentes.

Essa é a causa que denominamos no início destas considerações, “psicológica”. Ela cria um estado de espírito que determina três procedimentos nos jovens: 1º - o de uma atuação anárquica, instável e inconsequente; 2° - o de uma passividade, sujeitando-se ao comando dos elementos subversivos e contrários à ordem moral e social vigentes; 3° - o de um séria, auto-determinativa, esclarecida disposição de estudos dos problemas de atualidade, preservando os valores eternos da nacionalidade vinculados às normas morais que devem reger a personalidade de cada qual e conjugados ao ideal do progresso da pátria e bem-estar humano.

Todos os estudantes por serem jovens, estão classificados nestas três atitudes e orientações. As duas primeiras podem ser denominadas “a da desorientação” e “a da subordinação”; a terceira é a dos jovens quo adquiriram uma consciência de seu próprio valor e se fizeram fatores positivos da construção nacional.

2) Como veem os adultos a juventude atual?

Resposta: De minha parte, vejo-a como acabo de expor.

Acredito que os adultos, na sua generalidade, não se dão ao trabalho de uma análise tão necessária para a compreensão das inquietações da juventude.

Nenhum comentário:

Postar um comentário