quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Mínimo Múltiplo Comum (17/02/1937)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Mínimo Múltiplo Comum (17/02/1937)

Plínio Salgado

Os partidos precisam de um nome nacional. De onde poderão tirá-lo? Se a Nação está dividida em vinte e um Estados, esse nome terá de sair de um desses Estados. Mas, então, não será um nome nacional, e, sim, estadual.

Os partidos deverão, nesse caso, arrancar de seu próprio seio o nome nacional. Porém, os partidos são estaduais. Ora, como a lógica e a matemática nos ensinam que o maior não pode ser contido pelo menor, os nomes que saírem dos partidos só poderão ter o caráter, a significação, a natureza desses partidos. Sendo os partidos de caráter, significação e essência regionais, tudo o que sair deles será, também, regional. Logo, os partidos não poderão tirar de si um nome nacional.

Que se entende por um nome nacional? Entende-se o nome que exprimir aspirações gerais comuns às diversas modalidades particulares do corpo social e da extensão territorial.

Quais são as aspirações gerais comuns, no atual momento brasileiro? São exatamente aquelas contra as quais se batem os partidos estaduais.

É preciso examinar desapaixonadamente o panorama social brasileiro, com olhos de estudioso, segundo o critério da experiência e do senso das realidades, para se compreender bem a posição dos partidos expressivos de pequenas coletividades em face da Grande Coletividade que constitui a Nação.

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Quando dizemos que os partidos exprimem aspirações regionais, não negamos que eles exprimem aspirações reais, dentro da mentalidade adstrita aos interesses da zona em que se constituem. O anseio de Minas ou de São Paulo, do Rio Grande ou do Nordeste, por uma predominância nos rumos políticos e administrativos federais, são realidades incontestáveis. Não entremos na análise da legitimidade ou não desses objetivos políticos. Contentemo-nos em verificar a sua existência.

Perguntemos: há, ou não há, em cada Estado, um anseio pela hegemonia, ou, pelo menos, por um quinhão apreciável de mando no cenário federal? Será hipocrisia dizermos que não.

Existindo esse desejo em cada um dos Estados, verificam-se antagonismos profundos, mal dissimulados nas conversações e combinações dos próceres. Como pode, pois, desses antagonismos, sair um nome que exprima aspirações gerais comuns?

Dentro de cada Estado existe, ainda, um partido de oposição, que se choca com o partido situacionista. Esse partido encontra-se na primeira etapa do seu desenvolvimento político, isto é, naquela etapa que assinala a conquista do poder nos limites do Estado. Só depois de atingido esse objetivo, derrubando o seu adversário local, é que o partido de oposição lança-se à aventura de conquistar o poder nacional. É a situação atual do P. R. P., do P. R. M., da F. U., respectivamente de São Paulo, Minas e Rio Grande,

Quando um partido estadual está de baixo, isto é, procurando apear o contendor nos limites provincianos, ele deixa de exprimir momentaneamente o interesse hegemônico do Estado, para exprimir o interesse do grupo, no Estado. Ainda é cedo para entrar em composições visando o poder na Federação. As suas composições são de outra natureza. Eles cedem habitualmente o lugar nacional ao aliado de outro Estado, mediante a promessa do lugar estadual com a queda do adversário conterrâneo.

Também esses partidos têm seu âmbito de aspirações muito reduzido, mais reduzido ainda do que o âmbito dos partidos situacionistas. Não podem, por conseguinte, tirar de seu seio nenhum nome capaz de sintetizar um anseio da Grande Nação.

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Paralelamente a essas aspirações unilaterais dos partidos (cujo número no Brasil é de 154!) correm as aspirações do Povo Brasileiro. Da mesma maneira como as aspirações dos partidos são realidades objetivas incontestes, não me negarão que há, contemporaneamente, uma grande aspiração nacional, revelando a essência moral, espiritual, sentimental e econômica de um Povo.

Nossa crítica não vai ao ponto de negar àqueles mesmos que constituem as pequenas coletividades partidárias do Brasil a incapacidade ou a indisposição pelos idealismos, superiores da outra opinião, da outra consciência popular.

Acreditamos, com a maior sinceridade, que todos os brasileiros, de quaisquer partidos políticos, desejam certas coisas em comum: - a unidade da Pátria, a manutenção das tradições cristãs dentro dessa Pátria, o prestigio à autoridade a ordem social, o combate ao comunismo, o progresso material do país, a grandeza do Brasil. O que afirmamos, entretanto, como verdade positiva, é que essas aspirações passam para um plano secundário, em face dos interesses imediatos da hegemonia federal (para os partidos situacionistas) e da hegemonia estadual (para os partidos oposicionistas).

Assim sendo, tais partidos, de forma alguma, poderão tirar de si próprios nomes nacionais.

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Hoje, no Brasil, só existe um partido nacional. É o Integralismo, conforme há dias tornou patente o general Góes Monteiro. E esse partido não é nacional pelo simples fato de se haver registrado como tal perante a Justiça competente; é nacional porque todo o seu pensamento político, seu sentimento, sua mística, fundamentam-se naquelas aspirações gerais comuns a todos os brasileiros.

Pode-se, para tornar bem claro o nosso pensamento, usar de uma imagem aritmética.

O nome nacional brasileiro só será achado se nos lembrarmos de que não se somam fracções de denominadores diferentes. Cada partido político situacionista é um "numerador", e cada partido político oposicionista é um "denominador". É preciso procurar o mínimo múltiplo comum, que se chama o ideal da Pátria. Isto feito, reduzem-se as frações ao mesmo denominador, que se chama, o Integralismo. Somam-se os numeradores. Dá-se o mesmo denominador. É bem possível que da adição dos numeradores resulte um número igual ao denominador (pois a boa vontade e o verdadeiro patriotismo conduzem todos os brasileiros à mesma conclusão).

Veremos, caso isso se dê, que a soma das expressões fraccionárias produziu a Unidade. A essa unidade, nós, camisas-verdes, daremos o nome de Estado Integral.

E o nome nacional?

Meus patrícios: não existe, nunca existiu nome nacional, a não ser em função de um Pensamento Filosófico, ou de um Sentimento Histórico. O que nós chamamos "nome nacional" em outros países (Napoleão, Bismarck, Cavour, Clemenceau, Frederico II, George Washington, Bolívar e tantos outros) não passaram de traduções pessoais de obscuras linguagens coletivas, revelações de estados de espíritos de um momento.

Qualquer nome, seja ele qual for, que os políticos lançarem, como o capaz de congregar correntes díspares e opiniões contrastantes, aspirações antagônicas e índoles adversas, não passará de uma vergonhosa mistificação, um artifício de irresponsáveis diante de uma situação nacional gravíssima, que está a exigir novos métodos, soluções audazes, atitudes heroicas, definições formais.

O momento que vivemos não comporta artifícios que tiveram sua oportunidade no tempo de Campos Salles ou de Pinheiro Machado, mas que hoje são perigosíssimos à Nação.

A incapacidade para compreender a História, ainda a mais recente, parece constituir a grande doença dos atuais políticos brasileiros. Suas manobras são empíricas. São fúteis. São superficiais.

O que está faltando aos políticos é gênio político. Sombrias são as perspectivas de um futuro próximo. Por isso, nós, integralistas, aqui estamos, observando, estudando, meditando, calando-nos, medindo as distancias, calculando a resistência dos materiais humanos, comparando os fatos históricos, anotando, deduzindo, tomando dados seguros. A nossa palavra não faltará na hora mais grave. Porque ainda constituímos, diante de todo esse panorama lamentável, que se entenebrece cada vez mais, por entre silêncios medrosos, maquinações covardes, hipocrisias de atitudes, indefinições gerais, a grande esperança, a esperança real, a esperança única de um Povo que encontra em nossa sensibilidade política e em nossa vibratilidade a ressonância através da qual ele pode falar e certamente falará.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 17 de Fevereiro de 1937.

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