Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
SUCESSÃO PRESIDENCIAL (24/04/1936)
Plínio Salgado
A "Acção Integralista
Brasileira" é uma sociedade civil e um partido político de âmbito nacional,
devidamente registrado no Superior Tribunal Eleitoral, de conformidade com as
leis vigentes.
Constitui, pois, o Integralismo, a única
força com raízes profundas em todas as circunscrições da República. É a única
corrente de caráter nacional. É a única massa homogênea da opinião civil do país.
Existem no Brasil muitos partidos políticos,
mas todos eles são de âmbito provincial. Alguns desses partidos apresentam
considerável volume de adeptos, todos preocupados com a solução do caso político
do Estado a que pertencem.
A política, para esses partidos
regionais, exercida no sentido da conquista ou da manutenção do predomínio dos
seus grupos dirigentes, dentro das áreas de seu âmbito de ação, Toda e qualquer
articulação de tais partidos com outros congêneres da Federação se realiza
segundo a maior ou menor soma de interesses auferidos pelas partes contratantes
no círculo das influências eleitorais de cada uma. De um modo geral, a própria
hegemonia nacional, pleiteada através de manobras hábeis, é encarada como uma
condição de maior solidez da corrente regional, em face de seu adversário
imediato, o opositor provincial.
Quando se trata, pois, de uma
composição dessas forças políticas de caráter tão restrito e tão alheias aos
lineamentos gerais dos interesses supremos da Nação, esse entendimento, por
mais que queiram iludir ou se queiram iludir os próceres regionalistas, jamais
se efetuará num senso elevado de unidade de consciência da Pátria. Daí todas as
dificuldades que se anteparam àqueles que metem mãos à obra de alicerçar o edifício
da unidade política sobre as bases precárias da desagregação partidária do país.
Num momento grave, como o que atravessamos,
verifica-se a inviabilidade de uma estrutura que se pretende compor com as
heterogeneidades partidárias. Todo esforço tendente a criar uma força homogênea
redunda, logicamente, em certas restrições de interesses regionais, que
enfraquecem o poder político da facção estadual.
Por uma lei de equilíbrio e composição
de forças, tão exata no mundo físico, tal se revela no mundo moral, psicológico
da política brasileira, o aumento do poder centrípeto da ideia nacional
corresponde a uma diminuição de resistência das estruturas provinciais.
O federalismo, levado ao excesso da
compreensão da Província como Estado, tem um caráter de centrifugismo político,
operando gradativamente uma deslocação de massas sociais que passam a
constituir, por sua vez, sistemas próprios com um próprio centro de gravidade.
Já alguém observou que ninguém mais
centralizador, no sentido de absorver as prerrogativas da autonomia municipal
do que o descentralizador que objetiva o máximo de autonomias provinciais.
Estes fenômenos da nossa mentalidade política e das nossas condições psicológicas
não devem escapar aos que observam as desesperadas marchas e contramarchas dos
políticos desejosos de criar uma corrente de opinião nacional no país, com o
fito de apoiar o governo central.
Ora, diante dessa situação, somente os
loucos, os cegos, os incapazes de enxergar dois dedos adiante do nariz, poderão
crer que seja possível organizar um partido nacional e mesmo uma frente única
nacional, tendo por base as estruturas dos interesses regionais tão imperativos
neste regímen.
O que fica patente é que a única força
de coesão capaz de criar uma corrente de opinião civil homogênea e em condições
de dar ao Poder Central o apoio indispensável à gravidade do instante que
atravessamos será a força de um Pensamento, de um sistema de ideias, a força de
um sentimento liberto do cheiro característico da facção regional.
A experiência política de quarenta anos
de República, à qual devemos acrescentar a longa experiência política do Império,
só não será suficiente para aqueles que por falta de inteligência e nenhuma
capacidade de estadistas ainda queiram viver sob o signo das ilusões falazes,
cujo prestígio fantasmagórico se afirma num mundo puramente Ideal, produzindo
os cépticos que exclamam "esta não é a República dos meus sonhos!”.
O episódio Silveira Martins-Mauá, nos
remotos dias da Monarquia, deveria ser suficiente à acuidade política e
segurança na observação dos fenômenos sociais, de modo a que homens do nosso
tempo não acreditassem mais nas miragens de um sonho que não encontra nenhum fundamento
na realidade da Nação.
Se a política brasileira, evolvendo,
desde o Ato Adicional até as últimas arrancadas federalistas do partido liberal
do Império, e desde o alvorecer da República até às mais exageradas prerrogativas
das unidades federais, redundando em pruridos separatistas, se essa política
demonstra que, em face da Unidade Nacional, existem os elementos subtratores,
divisores, desagregadores, e os elementos somadores, multiplicadores,
agregadores, cumpre ao estadista, que sente as responsabilidades que lhe
cabem pela grandeza e prestígio da Pátria Total, não basear os elementos
POSITIVOS na força dissociativa dos elementos negativos.
A obra do
Integralismo tem sido exatamente agir mediante os fatores positivos da unidade
nacional, criando uma mentalidade nova, capaz de compreender a visão panorâmica
dos problemas nacionais. Com esses fatores positivos, tenho trabalhado em
quatro anos de campanha pertinaz, num apostolado teimoso, servindo-me de uma
deliberação íntima que se tornou vontade de ferro, através de todas as dificuldades
das distâncias geográficas, da rarefação demográfica, da educação estreita a
que se submeteram as últimas gerações e da inconsciência da massa, que ignora
seja manobrada politicamente, em detrimento de seus próprios interesses, por
forças ocultas do capitalismo internacional ou do comunismo bolchevista. Sobre
essa consciência dos interesses comuns de todas as regiões; sobre esse
sentimento baseado nas tradições, nos costumes, nos hábitos, na religião, nas
tendências artísticas; sobre esse novo pensamento político desdobrador de amplíssimos
panoramas nacionais que fascinam as inteligências e os corações dos brasileiros
é que eu tenho construído, pedra a pedra, devagar e com firmeza, a Nacionalidade
do futuro, que deveremos legar aos nossos descendentes, com dignidade e
grandeza.
Eis a razão
por que o Integralismo pode lançar sobre o tablado das discussões políticas do país
a sua palavra sempre clara, sempre forte, sempre destemerosa, e o faz, ainda
agora, sobre o caso da sucessão presidencial da República.
Como
preliminar dos acordos precários e das uniões insubsistentes, como condição de êxito
de "démarches", os políticos dos grupos regionais querem se comprometer
a não tocar tão cedo no problema da sucessão do sr. Getúlio Vargas. É que de
tal forma funciona o aparelho da política nacional, que a simples cogitação
desse problema não só poria em debandada as partes contratantes como, de certa
forma, enfraqueceria o próprio Poder Central.
Isso, que se
passa no campo das agitações partidárias regionais, não se passa no campo da
grande ação partidária nacional. O único partido nacional do Brasil, a
"Acção Integralista Brasileira", quer tratar, pode tratar e tratará,
desde já, do problema da sucessão presidencial.
E - fato notável
- aquilo que provocaria dissociação nas esferas dos partidos provincianos e
inconveniência ao Poder Central, ao contrário, na esfera do partido nacional, do
Integralismo, consolida a coesão, fortalece a unidade, e prestigia, muito mais,
o Governo Central, as Forças Armadas da Nação e todos os elementos objetivamente
positivos da União cada vez mais íntima das energias componentes da Pátria.
Registrado no
Superior Tribunal Eleitoral, encontrando-se em pleno funcionamento em todo o
território da República, tendo eleito já deputados federais, estaduais,
prefeitos, vereadores e juízes de paz; tendo levado às urnas, em oito Estados
apenas, cerca de 150.000 votos, e devendo levar no todo, quando se realizarem
as eleições nos restantes 14 Estados, um total de mais de quatrocentos mil
votos; tendo ganho perante juízes de direito, perante Tribunais Eleitorais e
Cortes de Apelação, numerosos mandados de segurança e "habeas-corpus"
consagradores da sua legitimidade e da alta compreensão do Poder Judiciário;
cercado das simpatias de todas as forças que, como o Exército e a Marinha,
exprimem índices positivos de unidade nacional; prestigiado pelas opiniões e
pareceres de juristas, altas patentes, intelectuais de renome, membros do
Governo e do próprio presidente da República, todos concordes em reconhecer a
legalidade, a legitimidade, a lealdade, o critério, a segurança e o patriotismo
com que se conduz o movimento dos camisas-verdes; o Integralismo Brasileiro
objetiva, de uma maneira clara, insofismável, nítida, decisiva, imperiosa, o seguinte:
1º) - de um
modo imediato: sustentação do Poder Constituído, a todo o transe;
2º) - a
eleição do presidente da República, que será candidato do Integralismo para
todos os camisas-verdes da Pátria.
Teremos,
pois, candidato. Determino a todos Chefes Provinciais, Governadores de Regiões,
Chefes Municipais e Distritais de todo o Brasil, que intensifiquem o trabalho
do alistamento eleitoral e a divulgação do nosso Manifesto-Programa. Determino,
de um modo particular, que sustentem, defendam o Governo da República, prestigiem
o Exército e a Marinha, estejam alertas contra quaisquer investidas comunistas,
condenem toda e qualquer mazorca, sedição, golpes armados, venham de onde
vierem e com que objetivos vierem. Determino que recorram sempre, em casos de
violências, à magistratura do país, pois ainda creio nos juízes da minha Pátria
e na sua dignidade. Não se afastem uma linha das leis vigentes.
Essa é a
palavra de ordem. Porque iremos às eleições e temos candidato Não transacionamos,
não conspiramos, não recuamos e compreendemos as nossas graves
responsabilidades.
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 24
de Abril de 1936.
Nenhum comentário:
Postar um comentário