sábado, 8 de julho de 2023

INTEGRALISMO E DEMOCRACIA (05/12/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

 

INTEGRALISMO E DEMOCRACIA (05/12/1936)

PLÍNIO SALGADO

- O Integralismo é contrário à Democracia?

- Não, porque se fosse, o Integralismo seria partidário de uma Ditadura.

- Então, o Integralismo não quer uma Ditadura?

- Não, porque a Ditadura é o arbítrio de um contra todos.

- Como é que o Integralismo fala em Estado Forte?

- Porque só o Estado Forte impede Ditaduras ou outras tiranias.

- De que maneira o Estado Forte impede Ditaduras ou outras tiranias?

- Não permitindo que indivíduos ou grupos de indivíduos façam predominar a sua vontade sobre outros.

- Como é possível conseguir isso?

- Organizando disciplinadamente a Sociedade, de modo que não haja, diante da autoridade do Estado, nem fortes e nem fracos.

- Em que se baseia a autoridade do Estado Forte?

- Na vontade do Povo, não desorganizada, mas organizada, de modo que ela se manifeste eficientemente, livremente.

- Mas, então, o Integralismo quer um governo do Povo?

- O Integralismo nunca desejou outra coisa, pois essa é a verdadeira democracia.

- Atualmente o Brasil vive um regime democrático?

- Se fossem cumpridas a Constituição as Leis, viveríamos num regime democrático, mas infelizmente essa Constituição e essas Leis não podem ser cumpridas. Existem circunstâncias "de fato" que impedem o cumprimento da Constituição e das Leis. O Integralismo quer justamente, remover essas circunstâncias "de fato", e nada mais.

- Como pensa o Integralismo remover essas dificuldades?

- Substituindo o sistema das eleições?

- Mas, então, o Integralismo não é contra o regime atual?

- Só afirmam Isso luas categorias de indivíduos: os burros e os velhacos; os burros porque, ou não nos leram, ou leram e não entenderam; os velhacos porque os animam intuitos inconfessáveis.

- Mas, desculpe a insistência, por que não sou muito Inteligente, então o integralismo não é contra o regime republicano federativo?

- Pelo contrário; o Integralismo se bate pela consolidação do regime republicano-federativo. No caminho em que vamos indo, com vinte e uma orientações políticas diferentes, marchamos para a destruição do belo monumento da Federação, substituindo-a por una Confederação que se conduzirá ao separatismo, isto é, à morte do atual regime. Pretendemos nós uma centralização política e uma descentralização administrativa, é isto sinal que pretendemos salvar o atual regime de uma derrocada inevitável. E quem não está vendo essa derrocada? Basta apreciar o quadro da sucessão presidencial. Os governadores estão se armando, É a aura da loucura prenunciando o ataque furioso e periódico. Num desses ataques pode morrer o regime, Nós somos, pois, os salvadores do regime.

- O senhor acha que só com a substituição do Sistema de eleições, o regime democrático, federativo e representativo se salva?

- Mas só os cegos não veem. No dia em que estiverem organizadas as corporações nacionais, não haverá mais interesses de Estado, mas interesses de produções Em vez de se ter a política de Minas, de São Paulo, de Pernambuco, do Rio Grande do Sul, etc., teremos política do Café, do Algodão, da pecuária, do mate, do açúcar. Na Câmara Federal, em vez de bancadas dos Estados, teremos a bancada do Café, ondo se sentam juntos, homens paulistas, mineiros, capixabas, etc.; a bancada do Açúcar, onde se sentam juntos homens de Pernambuco, de Alagoas, de São Paulo, do Rio de Janeiro; a banca da do Mate onde sentam juntos paranaenses, gaúchos, e mato-grossenses, etc. Temos, assim assegurada a Unidade Nacional. Numa cajadada matamos vários coelhos porque resolvemos a questão social, entrosando os sindicatos na corporação respectiva e imprimindo-lhes caráter político, acabamos com o regionalismo que fere de morte o regime e fabrica revoluções periódicas, e damos eficiência técnica à representação popular. Realizamos a verdadeira democracia, porque não haverá mais perseguições de governos porque Fulano ou Beltrano votou em Sicrano ou Fuão dos Anzóis. Existirá a verdadeira liberdade, coisa que atualmente não existe apesar da bela lei eleitoral, a qual não impede que cangaceiros, como acontece na Bahia, cerquem eleitores pacíficos na estrada, impedindo-os de entrar na cidade para rotar.

- E o senhor acha que um governo que saia da vontade do Povo assim organizada, pode ser forte?

- Perfeitamente, porque um Governo só é forte quando é realmente popular, quando baseia a sua autoridade, não no terror ou no interesse, mas no amor que sua Nação lhe vota. Um Governo só é forte quando se baseia na legítima democracia,

- Dizem alguns que o senhor é incoerente porque fala em autoritarismo, em governo de força, disciplina rigorosa. Explique-me isso.

- Falo em autoritarismo, como mandato popular legítimo e expressão de dignidade nacional e de interesse das massas que delegam os poderes a um concidadão, para que vele, dia e noite, pela manutenção da democracia; falo em governo de força, não contra a Nação, mas como servidor da Nação, impondo sua vontade, que é a vontade do Povo, a todos os indivíduos isolados ou grupos de indivíduos que pretendam auferir benefícios em detrimento dos legítimos direitos e interesses das coletividades, dos grupos naturais e das pessoas; falo em disciplina, porque uma Nação em desordem é escrava de tiranos internos, que se servem da anarquia para exercer seu arbítrio e burlar a outrem, como é escrava de tiranos externos, que se aproveitam da fraqueza nacional oriunda da desordem interna, para roubar, humilhar e oprimir. Isso tudo, autoritarismo, governo de força, disciplina, não colide com as legítimas liberdades, as quais inexistem desde que não haja uma força para garanti-las.

- Essa força não pode existir com o atual sistema de voto?

- Não. Porque enquanto houver partidos de que são chefes governadores armados até aos destes, com tesouros nas mãos e uma máquina policial ao seu talante, nem existirá liberdade de escolha, nem haverá autoridade central capaz de reprimir os abusos antidemocráticos que se perpetram à sombra das chicanas mais vis e dos sofismas mais torpes.

- Desculpe repetir, porque tenho a cabeça dura: o Integralismo, então, é defensor do atual regime?

- Não é apenas defensor. É o único defensor. Basta ver quem são os que combatem o Integralismo: os políticos regionais, que querem destruir a Federação, desmoralizar o Poder Central, fomentar revoluções periódicas, arrastar o Brasil à desagregação, e os comunistas, os socialistas, os materialistas, que pretendem a derrocada de todas as tradições nacionais, de todo o fundamento cristão das instituições brasileiras.

- Muitos dos inimigos do Integralismo costumam dizer que o senhor tem mudado, que o senhor só agora é que anda pregando essas coisas, que o senhor sempre atacou o regime. Que me responde?

- Aqueles que dizem isso, em qualquer hipótese, são desonestos. Se nos atacam, sem ter lido nossos livros de 1926, 1927,1930, 1932 e os que tenho publicado anualmente, assim como o Manifesto de outubro de 32, o Manifesto-Programa, deste ano, os artigos que escrevi, antes da revolução de 30, no "Correio Paulistano", de São Paulo, e depois da revolução de 30, em "A Razão", de São Paulo e nestas colunas de A OFFENSIVA, - se eles não leram, não têm direito de me atacar. Se leram, terão visto a linha de coerência doutrinária que sempre me orientou. Poderão muitos dizer que nunca me leram porque ou um escritor de ínfima categoria, mas, nesse caso, por que me atacam? Se nada valho, por que ocupo a sua atenção? E, mesmo, nada valendo, por que me julgam sem me ler? A esses homens sem escrúpulos responde a consciência honesta dos homens de bem do meu país.

- Está agora na Câmara um anteprojeto proibindo durante o estado de guerra o funcionamento de partidos que mesmo pacificamente combatem o regime atual. Acha que ele visa o Integralismo?

- Acho que ele visa armar os tartufos, traidores da Pátria, os inimigos encapotados do regime, os politiqueiros sem patriotismo, os hipócritas, os tiranetes de um sofisma que, a serviço do comunismo, precisa de pretextos para desfechar um golpe contra nós. A providência não nos atinge, mas é tomada especialmente para nos atingir, através da chicana e de covardia dos nossos inimigos, atrás dos quais sentimos os passos das patrulhas de Moscou.

- E por que pensa isso?

- Não sou eu quem pensa; é o autor do projeto que falou à imprensa, declarando ser urgente o nosso fechamento. São as conversas nos corredores da Câmara.

- E que consequências prevê, no caso de passar esse projeto?

- Prevejo um golpe comunista iminente. Um golpe comunista de muito maior virulência do que o de novembro de 1935. Pretejo as maiores desgraças nacionais.

- E por que fala com tanta segurança?

- Falo com a autoridade de quem anunciou sempre, com grande antecedência, todos os golpes comunistas no Brasil. Falo com o prestígio do meu acerto, em novembro de 1934, quando, no Instituto Nacional de Música, afirmei que dentro de um ano teríamos um golpe bolchevista. Falo, não somente como estudioso, que acompanha o que se passa em outros países, como a Espanha, mas como Chefe de um Movimento que tem profunda penetração em todos os quarteis do Brasil e em todos os vasos de guerra, em todas as fábricas e repartições e que, por isso, tem obrigação de conhecer a força e articulação do comunismo, que também atinge profundíssima penetração em todos esses lugares.

- E a sua atitude neste momento?

- Estou tranquilo porque tenho cumprido minha palavra. Nunca saí uma linha sequer da Constituição e das Leis. Sempre estive vigilante no acompanhar as manobras bolchevistas. Prestei serviços, em todas as regiões do país, às autoridades constituídas. Determinei as massas integralistas o maior prestígio a Liga da Defesa Nacional, que pode atestar o que temos valido como incentivo e tônico ao civismo no Brasil. Há quatro anos estou pregando, sem interesse nem ambição pessoal. Nada quero para mim. Nem para os próprios integralistas, pois, segundo o nosso conceito, o Estado Integral é a democracia perfeita, pertencente a todos os brasileiros, venham de onde vierem. Cumpri, pois, o meu dever, perante a Nação, perante a Posteridade e perante Deus. Estou tranquilo, E, nesta tranquilidade, afirmo que o Integralismo é a única barreira capaz de opor os mais sérios embaraços à Infiltração do Soviete, tanto na parte civil como militar da Nação. O Exército e a Marinha só contam, neste momento, com uma força civil desperta, ativa, eficiente e organizada, ao seu lado: o Integralismo. Devendo um dia ser julgado pela História, o Integralismo está sereno. E, sendo um Movimento espiritualista, o Integralismo afirma mais uma vez que, apesar de tudo, Deus ainda é mais forte do que a força dos homens. E o Integralismo é o Movimento que se baseia no pensamento da Nação e de Deus.

 

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 05 de Dezembro de 1936.

 

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