segunda-feira, 16 de outubro de 2023

AGITAÇÃO (20/02/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

AGITAÇÃO (20/02/1936)

Plínio Salgado

Basta abrir os jornais. Correr os olhos pelos telegramas que as agências transmitem, naturalmente, profissionalmente, pelo mundo. Uma inquietação profunda abala os nervos da Humanidade. Há um mal-estar generalizado. Tem-se a nítida impressão de que alguma coisa está mudando.

Alguma coisa está, também, morrendo. E outra, nasce, numa grande alegria radiosa, sobre os escombros de um Passado, sobre a agonia dolorosa de um Presente confuso, crepuscular.

A Espanha está em plena revolução. Revolução de rua, de massa, indefinida como a desorientação dos intelectuais e políticos daquele país. Presentemente, raro é o país que tenha, como a Espanha, se instabilizado tanto espiritualmente. Uma obra de dissolução sistemática minou aquela Pátria. Seus pensadores, os mais interessantes, os mais argutos, os mais brilhantes, não têm uma diretriz segura a respeito de um conceito de vida ou de política. São "contra". São, muitos deles, aficionados de um amadorismo de cultura. A Espanha se distinguiu, nestes anos mais recentes, como um centro de divulgação universal. Durante a Grande Guerra, foi neutra, e ali se defrontaram os espiões de ambos os contendores. Após a Conflagração Europeia, tornou-se um "rendez-vous" de ideias as mais contrastantes e díspares. Os costumes na Espanha também se modificaram muito. Na política e na vida normal do país.

A moderna Castela oferece-nos os tipos mais irritantemente reacionários, ultramontanos; oferece-nos também os tipos mais abjetos do revolucionarismo sem objetivos, niilista, cruel, rebelado e confuso, legítimas forças de vanguarda do bolchevismo, para adotarmos a expressão de Lenine. No meio de tudo isso, uma turba intermediária de politiqueiros do "centro" - sociais-democratas do tipo de Weimar; socialistas puritanos do tipo de Kautski; socialistas moderados do tipo de Vanderverde; liberais-democratas de todo jaez. Estudantes desorientados. Comerciantes de mau humor. Operários magnetizados por demagogos anarquistas, sindicalistas. O regionalismo separatista lavrando. Um movimento inicial de nacionalismo sadio, chefiado por José de Rivera; um movimento de reação entrosado lamentavelmente com a política imperante, capitaneado por Gil Robbles. Uma imprensa bem parecida com a de certos países onde a "manchete" substituiu o pensamento. E isso é a Espanha.

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A França continua em transe. As organizações da "esquerda" estão pondo as manguinhas de fora. Até há pouco, eram, como em certos países nossos conhecidos, apenas defensoras das liberdades populares. A palavra de ordem de Moscou tinha sido, como para certas Câmaras de Deputados, em certas Repúblicas, a de se fazer guerra às organizações patrióticas, à mobilização das energias sãs da nacionalidade, para constituírem a barreira viva e inexpugnável contra o Soviét.

Como preliminar, bastava guerrear os camisas-azuis, os "camelots du roi", os "Croix du Feu". Exatamente como em certas Repúblicas: a Frente Única Antifascista; o bloco parlamentar pró-liberdades populares, a Liga Anti-Guerreira, o liberalismo abespinhado contra toda reação orgânica e saudável das forças vivas da Nação.

Agora, os "esquerdistas" franceses vão mais longe: cantam a Internacional pelas ruas. Assumem a atitude de combate preconizada pelos bolcheviques da Rússia de 1917.

E, dessa maneira, a França nos oferece nos dias desta semana o panorama de uma angústia generalizada, de uma agitação das ruas, de uma inquietação aflitiva dos espíritos.

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Na África, prossegue a guerra ítalo-abissínia. No Extremo Oriente, chocam-se as tropas russo-japonesas. Há uma grande superexcitarão no Egypto, por parte dos nacionalistas anti-britannicos. Na América do Sul, há estado de sítio, no Chile e no Brasil. E, para culminar, a revolução paraguaia.

Essa revolução no Paraguai traz todos os característicos das rebeliões sul-americanas. É do mesmo tipo da mais recente revolução do Uruguai. Tem semelhanças profundas com a última revolução brasileira. Não difere das quarteladas do Peru, do Equador, da Bolívia, ou do Chile.

Mas o fato é que o Paraguai está com uma revolução vitoriosa. Qual o sentido dela? Não se sabe ao certo. Provavelmente não tem nenhum sentido, como todas as revoluções latino-americanas.

O comunismo, por certo, que se aproveita dessas masorcas. O perigo do comunismo na América do Sul é exatamente esse: o de se revestir da forma de golpes militares.

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No meio de toda a agitação da hora presente, e quando, sorrateira, na sombra, a conspiração permanente e incorrigível age para solapar nossa Pátria, só não explodindo pela força contentiva de um brasileiro que, no momento, tornou-se o baluarte da ordem contra a desordem, o Argus vigilante, de mil olhos abertos e o patriota que sabe sacrificar-se pelo bem da Pátria (o sr. Felinto Muller); e enquanto dentro do nosso Exército, as figuras mais eminentes se esforçam por suscitar a ressurreição de novas energias capazes de sustentar a República, que fazem os políticos?

Fazem política.

Há, para eles, problemas mais importantes. O prestígio, o mando, em seus respectivos galinheiros estaduais. A probabilidade de eleger um apaniguado para a successão do sr. Getúlio Vargas. Cargos. Empregos. Posições. Negócios. Perseguições aos adversários. E nada mais.

Diante da agitação do mundo e da angústia do Brasil, eles só sabem falar, fazer uma coisa: política.

E é por isso que o Integralismo cresce, dia a dia. Cresce e se impõe ao respeito. Ele é a única esperança da Nação. A palavra e a atitude nova. A força que se levanta consciente. Consciente da hora grave que o mundo atravessa e que se reflete na vida nacional.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 20 de Fevereiro de 1936.

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