Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
AGITAÇÃO (20/02/1936)
Plínio Salgado
Basta
abrir os jornais. Correr os olhos pelos telegramas que as agências transmitem,
naturalmente, profissionalmente, pelo mundo. Uma inquietação profunda abala os
nervos da Humanidade. Há um mal-estar generalizado. Tem-se a nítida impressão
de que alguma coisa está mudando.
Alguma
coisa está, também, morrendo. E outra, nasce, numa grande alegria radiosa,
sobre os escombros de um Passado, sobre a agonia dolorosa de um Presente
confuso, crepuscular.
A Espanha
está em plena revolução. Revolução de rua, de massa, indefinida como a
desorientação dos intelectuais e políticos daquele país. Presentemente, raro é o
país que tenha, como a Espanha, se instabilizado tanto espiritualmente. Uma
obra de dissolução sistemática minou aquela Pátria. Seus pensadores, os mais
interessantes, os mais argutos, os mais brilhantes, não têm uma diretriz segura
a respeito de um conceito de vida ou de política. São "contra". São,
muitos deles, aficionados de um amadorismo de cultura. A Espanha se distinguiu,
nestes anos mais recentes, como um centro de divulgação universal. Durante a
Grande Guerra, foi neutra, e ali se defrontaram os espiões de ambos os
contendores. Após a Conflagração Europeia, tornou-se um "rendez-vous"
de ideias as mais contrastantes e díspares. Os costumes na Espanha também se
modificaram muito. Na política e na vida normal do país.
A
moderna Castela oferece-nos os tipos mais irritantemente reacionários,
ultramontanos; oferece-nos também os tipos mais abjetos do revolucionarismo sem
objetivos, niilista, cruel, rebelado e confuso, legítimas forças de vanguarda
do bolchevismo, para adotarmos a expressão de Lenine. No meio de tudo isso, uma
turba intermediária de politiqueiros do "centro" - sociais-democratas
do tipo de Weimar; socialistas puritanos do tipo de Kautski; socialistas
moderados do tipo de Vanderverde; liberais-democratas de todo jaez. Estudantes
desorientados. Comerciantes de mau humor. Operários magnetizados por demagogos anarquistas,
sindicalistas. O regionalismo separatista lavrando. Um movimento inicial de
nacionalismo sadio, chefiado por José de Rivera; um movimento de reação
entrosado lamentavelmente com a política imperante, capitaneado por Gil
Robbles. Uma imprensa bem parecida com a de certos países onde a "manchete"
substituiu o pensamento. E isso é a Espanha.
*
* *
A
França continua em transe. As organizações da "esquerda" estão pondo
as manguinhas de fora. Até há pouco, eram, como em certos países nossos
conhecidos, apenas defensoras das liberdades populares. A palavra de ordem de
Moscou tinha sido, como para certas Câmaras de Deputados, em certas Repúblicas,
a de se fazer guerra às organizações patrióticas, à mobilização das energias
sãs da nacionalidade, para constituírem a barreira viva e inexpugnável contra o
Soviét.
Como
preliminar, bastava guerrear os camisas-azuis, os "camelots du roi",
os "Croix du Feu". Exatamente como em certas Repúblicas: a Frente Única
Antifascista; o bloco parlamentar pró-liberdades populares, a Liga
Anti-Guerreira, o liberalismo abespinhado contra toda reação orgânica e saudável
das forças vivas da Nação.
Agora,
os "esquerdistas" franceses vão mais longe: cantam a Internacional
pelas ruas. Assumem a atitude de combate preconizada pelos bolcheviques da Rússia
de 1917.
E,
dessa maneira, a França nos oferece nos dias desta semana o panorama de uma angústia
generalizada, de uma agitação das ruas, de uma inquietação aflitiva dos espíritos.
*
* *
Na África,
prossegue a guerra ítalo-abissínia. No Extremo Oriente, chocam-se as tropas
russo-japonesas. Há uma grande superexcitarão no Egypto, por parte dos
nacionalistas anti-britannicos. Na América do Sul, há estado de sítio, no Chile
e no Brasil. E, para culminar, a revolução paraguaia.
Essa
revolução no Paraguai traz todos os característicos das rebeliões
sul-americanas. É do mesmo tipo da mais recente revolução do Uruguai. Tem
semelhanças profundas com a última revolução brasileira. Não difere das
quarteladas do Peru, do Equador, da Bolívia, ou do Chile.
Mas
o fato é que o Paraguai está com uma revolução vitoriosa. Qual o sentido dela?
Não se sabe ao certo. Provavelmente não tem nenhum sentido, como todas as
revoluções latino-americanas.
O comunismo,
por certo, que se aproveita dessas masorcas. O perigo do comunismo na América
do Sul é exatamente esse: o de se revestir da forma de golpes militares.
*
* *
No
meio de toda a agitação da hora presente, e quando, sorrateira, na sombra, a
conspiração permanente e incorrigível age para solapar nossa Pátria, só não
explodindo pela força contentiva de um brasileiro que, no momento, tornou-se o
baluarte da ordem contra a desordem, o Argus vigilante, de mil olhos abertos e
o patriota que sabe sacrificar-se pelo bem da Pátria (o sr. Felinto Muller); e enquanto
dentro do nosso Exército, as figuras mais eminentes se esforçam por suscitar a
ressurreição de novas energias capazes de sustentar a República, que fazem os políticos?
Fazem
política.
Há,
para eles, problemas mais importantes. O prestígio, o mando, em seus
respectivos galinheiros estaduais. A probabilidade de eleger um apaniguado para
a successão do sr. Getúlio Vargas. Cargos. Empregos. Posições. Negócios.
Perseguições aos adversários. E nada mais.
Diante
da agitação do mundo e da angústia do Brasil, eles só sabem falar, fazer uma
coisa: política.
E é
por isso que o Integralismo cresce, dia a dia. Cresce e se impõe ao respeito. Ele
é a única esperança da Nação. A palavra e a atitude nova. A força que se
levanta consciente. Consciente da hora grave que o mundo atravessa e que se reflete
na vida nacional.
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 20
de Fevereiro de 1936.
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