sábado, 30 de setembro de 2023

Consciência Popular (06/02/1937)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Consciência Popular (06/02/1937)

Plínio Salgado

Numerosos foram os telegramas e os telefonemas que integralistas me enviaram ontem, exprimindo os seus aplausos às palavras com que me referi ao egrégio Tribunal de Segurança e ao seu digno presidente, por motivo da transferência dos camisas-verdes da Bahia, que ali se encontravam presos, por ordem do governador do Estado.

Os aplausos revelavam claramente estes dois pensamentos: o respeito, a admiração pelos ilustres magistrados, que constituem aquele Cenáculo da Justiça, e a entusiástica simpatia pelo gesto do sr. desembargador Barros Barreto, que, na qualidade de presidente, foi quem deu o despacho favorável à petição da Acção Integralista Brasileira.

Realmente, como acentuei ontem, o ato do sг. desembargador Barros Barreto não foi apenas um ato de justiça, mas também um ato de coragem, demonstrando que s. ex., acima de quaisquer considerações de ordem política ou interesses do momento, ainda quando os mais ponderáveis, coloca o respeito à verdade, o cumprimento de um dever de consciência.

A ele, aliás, se dirigiram, assim como ao digno procurador dr. Hymalaia Vergolino, os nossos agradecimentos públicos em nome de pais de família que sofrem as consequências do seu acendrado amor à Pátria. Ao Tribunal, deixamos, nestas colunas, a expressão do nosso respeito e da nossa confiança.

Mas, ditas estas coisas de passagem, o que eu quero focalizar, nestas linhas, é a palpitação de uma consciência popular claramente orientada em face dos últimos acontecimentos brasileiros.

Há, no povo, um profundo bom-senso, uma intuição aguda, um poder de julgar muito superior ao que podem imaginar aqueles que o observam e que pretendem conhecê-lo. O povo não se ilude a respeito das instituições, dos órgãos do Poder Público, das personalidades em foco, dos assuntos que a Política debate à sua revelia.

E a crítica silenciosamente exercida pela massa, debaixo de uma ditadura de uma imprensa que lhe manipula diariamente a dose de raciocínio, estandardizando-lhe o pensamento e o sentimento, é uma crítica frequentemente manifestada em certas atitudes irrecusáveis como elementos documentários.

Venho observando certos fenômenos muito eloquentes, desde o aparecimento do Integralismo. Um deles, por exemplo, é o fato de jamais o povo haver tentado ridicularizar os camisas-verdes. Quem conhece o povo, e principalmente o povo carioca, sabe que nesta grande metrópole nada escapa à anavalhante ironia da multidão. Os vultos políticos, todas as organizações, todos os fatos notáveis, servem de objeto a uma série de anedotas, de jogos de palavras, de versos, de canções de rua, de apelidos, de chalaças. Ao observador superficial, essa atitude do carioca é levada em conta de traço de inferioridade, de displicência pelas coisas graves e sérias e, entretanto, este julgamento é injusto para um povo que pode ser considerado um dos mais inteligentes do mundo, sendo em muito semelhante ao povo de Paris. Quem aprofundar mais no estudo desta fisionomia urbana, terá de verificar que a ironia, o sarcasmo, o humorismo alegre, o desprezo que este povo manifesta por certas coisas e certos homens, são aspectos exteriores de um traço grave; austero de caráter. Essa massa popular ironiza e ridiculariza aquilo que ela sente ser indigno de admiração e de respeito, aquilo que é nocivo à nacionalidade, aquilo que se apresenta sob falsos mantos, trazendo no fundo um vício.

Este Movimento Integralista, desde o seu início, teve contra si a totalidade da imprensa. Nunca se viu surgir um partido sem que contasse, ao menos, com a simpatia de alguns jornais. O Movimento do Sigma teve contra ele todos os jornais. Uns o guerreavam pelo silêncio, outros pelo aparte violento, sórdido, através de injúrias e calunias; outros tentavam desesperadamente cobri-lo de ridículo. Foi inútil. O povo não aderiu à imprensa. Na sua intuição profunda, percebeu que, se havia alguma coisa no País isenta do ridículo, era este Movimento que não trazia um só elemento de comédia às revistas teatrais, como os demais partidos, porque o Integralismo era trágico, era sincero na sua expressão de dor nacional e de esperança de salvação.

Os comunistas, dispondo de colunas da imprensa, tudo fizeram para dar apelido aos camisas- verdes, para ironizar o Chefe do Sigma, para arrastar o Chefe e comandados ao escárnio público. Foi inútil. Anedotas artificiosas, sem a espontaneidade das criações populares, foram balbuciadas e morreram sem repercussão na indiferença da massa. Caricaturas, epítetos, cinicamente repontavam na Imprensa soviética e nasciam mortas. O povo não aderiu. O povo manifestou, claramente, inequivocamente, que estava com o Integralismo.

A esse povo devemos a nossa vitória. Somos hoje uma força nacional porque fomos apoiados petas populações das Favelas, pela gente do subúrbio, pelos que sofrem, pelos que trabalham à sombra dos "arranha-céus" e no estridor das máquinas. O Integralismo foi amado pelos habitantes de Cascadura, 'do Engenho Novo, do Meyer, do Catumbi, da Gamboa, dos morros do Pinto, da Viúva, do Salgueiro, de São Carlos, pelos rapazes das escolas, pelos malandros, pelos sambistas, pelos artistas da nacionalidade que aprovavam, que aplaudiam, que consagravam, que defendiam a sua própria salvação, a única salvação: o Integralismo.

Conhecendo e estimando este povo que é ainda o mesmo da aurora da Independência, da noite das garrafadas, da abdicação, da Abolição, da República, eu compreendo o alto valor dos telegramas e telefonemas que recebi ontem, porque exaltei o sofrimento, a dignidade, a grandeza do Tribunal de Segurança Nacional, constituído de juízes que diariamente padecem o que não sofre nenhum outro juiz do Brasil: o insulto dos agentes de uma potencia estrangeira que nos quer escravizar covardemente, utilizando-se de brasileiros que renegaram a sua Pátria para servir os sovietes.

A ressonância das minhas palavras na alma popular dá-me a certeza de que, quando falo, interpreto os mais sagrados pensamentos, as mais altas aspirações, os mais decididos desígnios, o senso crítico mais agudo de um povo que, aparentemente, parece assistir a tudo com indiferença, mas que está pronto a levantar-se no instante que verificar que o Brasil precisa assumir uma atitude heroica, surpreendente e enérgica.

E a noticia que aqui registro dessa espontânea manifestação demonstra que o desembargador Barros Barreto, quando transferiu os camisas-verdes presos na Bahia, para esta capital, não somente praticou um ato de Justiça mas também atendeu a uma aspiração do povo.

A medida foi justa e foi popular.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 06 de Fevereiro de 1937.

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