domingo, 26 de novembro de 2023

As vozes da História (07/02/1936)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

As vozes da História (07/02/1936)
PLINIO SALGADO

Insisto em tratar deste assumpto. E como não há de ele me empolgar? Não se trata, acaso, da mais impressionante apoteose do movimento do Sigma?

Sim: falo ainda do Congresso Universitário de São João d'El- Rey. É preciso que todos os camisas-verdes da Pátria sejam despertados para o grande acontecimento. Que todos os olhos estejam bem abertos. Que todos os ouvidos estejam bem à escuta. Que todas as atenções se polarizem neste instante radioso em que a bandeira azul e branca se desfralda sobre as montanhas de Minas Gerais, nos céus da Pátria, falando a todo o Brasil.

As notícias que chegam da velha cidade mineira são as mais belas possíveis. Espera-se ali um número de universitários superior a mil. Na manhã de domingo próximo, São João d'El-Rey caminha do fundo dos tempos, em direção ao Futuro.
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Informam que trinta velhas igrejas cantarão, na manhã maravilhosa, pela boca de bronze de seus velhos sinos.

É a alma da Nação. São as vozes da História.

Do recesso das tradições mineiras, onde adormecera o espírito da Raça, à sombra da mancenilha entorpecente de um liberalismo fora da moda, corruptor e opressor, acorda a alma legitimamente liberal dos Inconfidentes, dos que sonharam a independência e a glória do Brasil.

Com que emoção ali comparecerei! O Integralismo tem um Chefe singular, que não fez esse movimento para si, que mil vezes diz aos companheiros: "é preciso arranjar outro, porque estou, desde o primeiro dia, a contragosto neste lugar". Muitos pensam que o Chefe assim falando o faz por mero espírito de renúncia. Como se enganam! Ele o faz porque todo o seu sonho, todo o seu desejo é ser, pura e simplesmente, o suscitador de energias, o criador, ignorado e obscuro, das expressões de beleza e de força nacionais.

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Que prazer intenso, que volúpia de estesia e de entusiasmo pela Grande Pátria, armar o espetáculo imponente em que os outros devam figurar, devam aparecer, devam resplandecer na glória de uma realização maravilhosa! Eu sinto, na marcha deste movimento, a alegria interior que deveriam sentir Esquilo ou Sófocles, ou Eurípides, pondo em movimento diante do anfiteatro aberto para o céu da Grécia, o movimento, o ritmo, o mistério e as harmonias arrebatadoras da tragédia antiga!

Oh! Si eu pudesse não ser o Chefe! Si eu pudesse ser, apenas (o que é tudo para o meu amor ao Brasil!) o encenador da grandeza nacional; o diretor de cena da honra e da força do meu povo; o carpinteiro, o cenógrafo, o ensaiador, o ponto, o contrarregra anônimo, que os bastidores escondem, enquanto resplandece a fulgurante beleza criada!

No meu Brasil, tive de ser tudo, inclusive comparsa, e, na qualidade de comparsa do drama histórico, tocou-me o papel mais difícil, mais exasperante de figura central do nosso movimento.

Se os meus adversários soubessem que esse é o meu desgosto: Se eles soubessem o que fiz, desde o início, para ser unicamente criador das energias novas; o compositor das harmonias supremas, o preparador perseverante, paciente, tenaz, do espírito que anima os episódios da História; o coordenador silencioso das forças em eclosão! Ser como o escultor, que desaparece entre a multidão, enquanto na praça, à luz do sol, e à luz dos olhos maravilhados cintilam as radiosas linhas puras; ser como aqueles que desencadeiam as sinfonias gloriosas, ou traçam a linha nítida das árias límpidas, ou desenvolvem os tons das melodias, para que os outros toquem, interpretem, animem: sim, os outros!

Só os artistas (e Napoleão Bonaparte já o disse que construir ama Nação é realizar obra de arte...) poderão compreender estas minhas palavras e penetrar o segredo das minhas secretas ambições. Ambições! Tão diferentes do que os medíocres podem imaginar; não ambições de poder, de cargos, de governo, que tudo é efêmero, porém, ambição eterna, sonho de beleza, de força, de ritmos perpetuamente renovados: alegria! Alegria do criar algo novo!

O Poder, o Governo, são simples necessidades acidentais; são meios para atingir outros fins...

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Essa alegria Interior é a que vou ter em São João d'El-Rey. Depois de três anos de luta, de sacrifício, de martírio, de continuas batalhas contra os medíocres, eis que arranco do coração de Minas Gerais as vozes dos sinos de trinta igrejas para, com a emoção do Passado, o sentido trágico da formação nacional, a alma secular de uma Nação, cantarem pelo timbre de seus bronzes a giesta da Primavera da Pátria, a saudação comovida a juventude: anúncio dos Tempos Novos, a marcha triunfal das gerações futuras.

Universitários de todas as Províncias! Moços que vieram, ao meu apelo, da Amazônia, do Nordeste, do Centro, do Litoral e do Sul! Escutai a voz dos sinos de São João d'El-Rey no dia do nosso encontro, uns com os outros, brasileiros das mais diversas procedências; no dia em que não serei apenas o vosso Chefe, o Chefe dos camisas-verdes, mas o suscitador deste espetáculo, que é o mais significativo da História do Brasil, e arauto, anunciando pelo mais alto clarim o advento de alguma coisa nova e forte no continente americano!


Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 07 de FEVEREIRO de 1936.


 


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