Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
NAS TREVAS DA HORA PRESENTE (15/02/1936)
PLÍNIO SALGADO
Ia eu escrever sobre a situação da França, apreciando
os acontecimentos que ontem se desenrolaram em Paris, colocando-os em confronto
com o que se passa atualmente em todos os pontos do mundo, numa hora dúbia,
incerta, crepuscular,
Com o pensamento em Paris, chega-me a correspondência.
Os teclados da máquina calam-se. Tenho um prazer particular de abrir,
pessoalmente, esses montes de envelopes e de impressos que me chegam dos lugares
mais remotos do Brasil, porque eles exprimem a própria alma da minha gente.
No meio das cartas, encontro um envelope
grande. Dentro, alguns exemplares de um jornalzinho. Chama-se "A
Lux". Vem de uma cidade remota do interior de Minas E' órgão oficial do
Bispado de Aterrado,
Ao prelado daquela pequena cidade já me liga
uma afeição delicada. Ele acompanhou com olhos de brasileiro e de Príncipe da
Igreja, o meu trabalho, o meu esforço, nesta luta tremenda contra o Espírito do
Mal, multiforme, multitudinário, complexo, insidioso, que se apresenta com mil
máscaras, mil formas imprevistas, por vezes penetrando o próprio Movimento
Integralista, em cujas zonas mais permeáveis tenho de acudir com assistência imediata.
Ele compreendeu o anseio do meu espírito, o drama da minha consciência entre a
execução de um plano político firmemente delineado e executado com autoridade, e
as críticas, muitas vezes de boa fé, porém, falhas dessa intuição que é o
segredo dos Estados Maiores e da capacidade dos Chefes, intuição de realidades sociais
ambientes, norteadora de atitudes nem sempre compreensíveis. Ele sentiu o meu sofrimento,
percebeu as minhas dificuldades, e mandou-me carinhosamente, a oração ao Santo
seu predileto, o Arcanjo que guiou o jovem Tobias, que restituiu a vista ao
velho Tobias. Por certo que s. ex., o longínquo prelado dos rincões mineiros
viu no Brasil maçonizado, no Brasil roído de materialismo, de ceticismo, de incompreensão,
que atinge até aos honestos, a figura de cego do velho Tobias. E pediu ao Arcanjo
Raphael que me desse um pouco das entranhas do misterioso peixe, que restituiu
a vista ao patriarca do Antigo Testamento.
*
* *
Guardei esse gesto de delicadeza dentro do meu
coração. Um afeto particular ligou-me a esse brasileiro que nunca vi, nem
conheci, e cujo espírito tão nobre e lúcido, ao mesmo tempo tão bondoso,
dirigiu-se tão espontaneamente ao meu.
Abro agora este jornalzinho de Aterrado. É tão
minúsculo, que coube num envelope de oficio. Em minha memória estavam os
"boulevards" de Paris, a Praça da Concórdia, o Quais d'Orsay, as ruas
que se dirigem a Saint Germain, itinerários dos funerais do escritor Bainville,
realizados anteontem, e trechos meus velhos conhecidos, nas tardes de 1930,
quando eu meditava, pelas margens do Sena, sobre a fermentação política do mundo.
Os últimos telegramas davam conta dos tumultos
promovidos pela "Action Française", da agressão ao israelita Leon
Blun, líder socialista francês, da attitude de Pilatos do sr. Sarraut, dos varejamentos
das sedes monarquistas da França, pela "gendarmerie", das represálias
da "frente popular", nome covarde que acoberta a III Internacional,
cujo bureau central funciona atualmente, não em Moscou, porém, ali mesmo, em
Paris.
Os despachos não se referiam, senão de um modo
geral, às "organizações da direita", cujo fechamento se pedia no
Parlamento. Diante desses fatos, eu meditava sobre a fatalidade de uma inevitável
marcha, de um inevitável choque, de uma inevitável solução política em quase
todos os países.
Pois da Espanha também não trouxeram os últimos
despachos a notícia de um próximo e fortíssimo golpe comunista? E do Chile não
nos vieram, na semana corrente, as novas de uma insurreição bolchevista?
Tremendas ameaças pesam sobre o mundo. Mas, o
que é mais grave, mais impressionante para todos aqueles que, tendo-se enfronhado
dos pormenores das marchas e contramarchas políticas, adquiriram senso agudo da
compreensão de todas as manobras táticas e habilíssimas das "forças
secretas", que jogam com os governos e os partidos, como títeres, é a
identidade de ritmo no combate sistemático exercido, nestes dias, em todas as
nações, contra as entidades congêneres ao Integralismo, expressivas das últimas
(ou primeiras!) reservas das saudáveis energias nacionais e cristãs.
Votam-se leis, tomam-se providências, em todos
os países, para destruir qualquer esforço de salvação nacional extrema. É muita
coincidência. Os "camisas azuis", os "Croix du Feu", de
França; os "camisas-pretas" da Inglaterra; os "camisas-douradas"
do México; os "camisas-prateadas" dos Estados Unidos; os
"camisas-pardas" do Chile; os partidos monarquistas, as organizações
baseadas nas tradições nacionais; todos estão sendo ameaçados pelos Parlamentos,
todos estão tendo contra si a arregimentação das "esquerdas" e dos
"centros".
Em alguns países, a manobra tem sido executada
com extrema habilidade. Aqui no Brasil, por exemplo, eu estou jogando mais uma
partida de xadrez, com as "forças ocultas", do que uma batalha em
campo raso. Desde que as "pranchas" do Grande Oriente circularam nas
Lojas, comecei a sentir, não por parte dos maçons, diretamente, mas por parte
de elementos de boa fé, porém ingênuos desconhecedores das tramas secretas, o
combate ao Integralismo.
Não perder a calma, tem sido o meu lema. Não
agir com precipitação, tem sido o meu método. Não dar expansão à minha
impulsividade, tem sido o meu system. Examinar, pesar, distinguir, ensurdecer
às vezes, perdoar muitas outras, procurar esclarecer em todas as oportunidades,
serenamente e com firmeza. Do contrario, já teríamos fracassado, Pois tão imprevistos,
simultâneos, incompreensíveis são os golpes que desferem sobre nós, integralistas,
que eu tenho de estar atento para todos os lados.
Tem-se criado uma atmosfera de desconfiança entre
o Integralismo e as religiões, especialmente, entre o Integralismo e a Igreja Católica;
tem-se fomentado indisposições de operários contra nós, tachados que somos de
defensores da burguesia, e tem-se estimulado o temor dessa mesma burguesia contra
o Sigma, apontado como dissimulação do comunismo... Comparam o nosso movimento
ao hitlerista, quando não somos racistas, nem nacionalistas cegos, porém
brasileiros e cristãos. Acusam-nos de inimigos da liberdade, de subversores do regime,
quando clamamos exatamente pela recomposição do equilíbrio das liberdades e fortalecimento
do regime republicano, federativo e presidencial, por meio de um novo sistema de
captação das vontades que pretendemos se exprimam através dos órgãos naturais e
cristãos das corporações.
Essa campanha é feita habilmente por elementos
que não aparecem na arena do combate. Combina-se, por exemplo, numa Loja, que tais
e tais elementos de prestígio social, conhecidos como católicos, frequentadores
do palácio do Bispo "x", insinuem, em palestras, o perigo que o
Integralismo representa para a religião, etc. Os argumentos são sempre habilíssimos
porque pertencem àquele que, revestindo a forma de serpente, desde a primeira insídia,
escolheu essa forma por ser a víbora "o mais astuto dos animais".
Os recentes acontecimentos políticos da
França revelam a mesma situação de intriga pérfida em que se envolvem as forças
nacionais, ansiosas pela ordem, pela disciplina, pela grandeza de suas Pátrias.
É, no instante em que ia eu comentar estes fatos,
que a imprensa, em geral, não focaliza no seu verdadeiro aspecto, eis que um
jornalzinho remoto, de um Bispado longínquo, jornalzinho tão pequenino e humilde
que cabe dentro de um envelope, chega e se revela aos meus olhos um intérprete
seguro, firme, dos fatos que se desenrolam na vida brasileira e cuja lógica
profunda nem todos os espíritos apreendem.
Na defesa do Integralismo, esse pequenino jornal
do esquecido interior brasileiro, tão grande, porém, como o coração e a inteligência
de um dos prelados mais ilustres pelos dotes Moraes e intelectuais e pela delicadeza
de sentimentos, desenvolve a lógica legítima, a lógica única, a argumentação seguríssima
que se resume, em numerosos artigos de vários de seus números, neste pensamento:
se a maçonaria e o comunismo são contrários ao Integralismo, é porque os princípios
deste são aqueles mesmos que motivam o ódio daquelas duas forças "internacionais"
contra os católicos.
No meio das trevas da hora presente, como é doce
receber um tênue raio de luz, humilde, simples e vivificante, como uma réstea
luminosa de sol!
Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 15 de Fevereiro de
1936.
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