Esclarecimento: A
publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do
Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da
História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o
acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito
Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando
indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
DISCIPLINA (11/03/1936)
Plínio Salgado
Quando
realizei o 1º Congresso Integralista na cidade de Vitória, tive duas impressões
muito. fortes. A primeira foi à da partida. Minha alegria não tinha limites, vendo
eu embarcarem para a capital capixaba representantes de todas as Províncias
brasileiras, sinal evidente de que o meu esforço começava a coroar-se de êxito.
Era o Brasil que se reunia pela primeira vez, não para tratar de política, mas
para tratar dos seus problemas graves, para pensar no seu futuro, para realizar
uma obra duradoura de comunhão de afetos, de sentimentos nacionais.
Não
me esqueço daquela noite, quando me foram apresentados homens de latitudes tão
distantes, Eu os apresentei uns aos outros. Partimos todos vibrando de fé,
palpitantes de esperança nos destinos grandiosos de nossa Pátria.
Os
que me viram durante aquela viagem sentiram bem as disposições em que eu ia.
Compreenderam que nenhuma ambição me animava. Perceberam que um pensamento
superior me conduzia, na direção do local em que íamos lançar as bases do
Integralismo, como me conduzira antes, em todos os momentos em que abri mão de
altos cargos, de interesses materiais, curtindo todas as dores, e,
principalmente, a dor da incompreensão.
Foi
com essa disposição que cheguei a Vitória. E o meu contentamento ainda era maior,
quando eu pensava que iria, afinal, passar as mãos de outro aquilo que me
pesava tanto: a chefia do nosso movimento, que eu conduzi nos primeiros
instantes, quando ainda não era possível conseguir-se alguém disposto a
sacrificar tudo para iniciar sozinho a grande campanha.
Três
dias gloriosos passamos em Vitória. Os que tiveram a fortuna de assistir o que
foram nossos trabalhos, verificaram ainda uma coisa assombrosa. É que a
disciplina, aquilo que constituía a base de toda a nossa construção, surgia
como uma luz maravilhosa, refletindo-se sobre nós em razão de um acontecimento
imprevisto.
Nas
vésperas de nossa partida, una personalidade do Integralismo se portara
inconvenientemente na defesa de seus pontos de vista.
Eu
não trepidei. Preferi acabar com o movimento do que desmoralizar a autoridade,
principalmente porque estávamos no inicio. Dessa maneira, excluí do
Integralismo aquele personagem e telegrafei a todas as Províncias, comunicando
o fato. Esse personagem tinha grandes esperanças nos amigos que contava em
diversas zonas do país. Esperava que eles estariam com ele. Mas, em Vitória,
contra a expectativa de muitos, tivemos uma chuva de telegramas. Nenhum
discrepante. Todos aprovando o ato da Chefia. Isso revelou que o Integralismo
nascera com força Nascera para um grande destino. Revelou, ainda que o Chefe
não fazia nenhuma questão de ser Chefe. Que colocava o princípio da autoridade
acima do tudo.
Três
dias e chegou o encerramento. Estavam feitos os Estatutos, toda a regulamentação,
os protocolos, nada faltava. O esforço de Everaldo Leite fora notável. Em torno
dele. Miguel Reale, Jehovah Motta, Padilha, Olbiano, Loureiro, trabalharam, dia
e noite, sem dormir e quase sem tempo para se alimentarem. E chegou a sessão
solene, a sessão final.
Era
o meu momento. A culminância da minha alegria. Porque era o instante da renúncia.
Eu já manifestara a Madeira de Freitas, particularmente, que a minha decisão
era irrevogável. Eu desejava ser um simples soldado do Sigma. Realizar os
trabalhos intelectuais. Doutrinar. Lutar. Obedecer. Eu queria dar o exemplo da
disciplina. O Brasil estava morrendo por falta de disciplina. Não dos pequenos,
dos humildes, mas dos grandes. Os grandes são geralmente indisciplinados, sem o
perceber. Não o fazem por mal. Fazem por hábito adquirido. Urgia uma revolução
interior, não de hipócritas, mas de homens honestos. Eu não desejava santarrões
falsos, mas homens, ainda que defeituosos, mas humildes de coração, para a grandeza
da Pátria. E eu queria ser o primeiro delles. Foi assim que, no meio da
estupefacção geral. declarei que a minha tarefa estava terminada, pois o
Integralismo estava organizado e era um começo de realidade como força moral no
país e que, portanto, só me restava voltar ao lugar obscuro de batalhador, que
escolhessem outro Chefe.
Os
protestos foram gerais. Os representantes de todas as Províncias exigiram de
mim o supremo sacrifício. Eu relutei. Renunciei três vezes. Havia outros. Que
escolhessem. Afinal, ergue-se a voz mais respeitada do Congresso. A voz de um
velho. Era Arnaldo Magalhães. Sua cabeça branca resplandeceu a luz das lâmpadas
no meio da plateia do Teatro Carlos Gomes. Ele exigiu imperativamente. Tinha o
direito, porque no instante em que eu renunciara, ele assumira interinamente à
Chefia. Era um brasileiro dos mais respeitáveis, um passado limpo e honesto,
uma figura adorada na capital espírito-santense. Ele me impunha com autoridade.
As Províncias referendavam seu ato. Eu queria dar exemplos de disciplina. Tive
que curvar a cabeça.
Curvei-a,
obediente. Para, em seguida, levantá-la com todas as minhas energias. E exclamei:
"Pois bem: este lugar de dores me é imposto, nele não terei amigos; manterei
a disciplina a todo o custo. Faço este aviso aos homens de posição e prestígio
em nosso movimento. Saberei resistir a insinuações. Agirei apenas quando
entender como entender e dispenso conselhos, observações. sugestões, alvitres
ou pedidos".
Um
trovão de aplausos retumbou. Nascia a força fatal do nosso movimento.
Tem
sido ela o segredo da nossa marcha. Nossa prosperidade, nossa força moral no país.
Quando todos se admiram porque crescemos dia a dia, é porque ignoram que existe
essa força misteriosa, Imperativa.
Hoje
o Integralismo resiste a tudo, Mas a tudo. Nada o detém. Ele está animado por
uma vitalidade que os partidos liberais-democratas não possuem: a disciplina.
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 11 de Março de 1936.
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