segunda-feira, 22 de maio de 2023

DISCIPLINA (11/03/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

DISCIPLINA (11/03/1936)

Plínio Salgado

Quando realizei o 1º Congresso Integralista na cidade de Vitória, tive duas impressões muito. fortes. A primeira foi à da partida. Minha alegria não tinha limites, vendo eu embarcarem para a capital capixaba representantes de todas as Províncias brasileiras, sinal evidente de que o meu esforço começava a coroar-se de êxito. Era o Brasil que se reunia pela primeira vez, não para tratar de política, mas para tratar dos seus problemas graves, para pensar no seu futuro, para realizar uma obra duradoura de comunhão de afetos, de sentimentos nacionais.

Não me esqueço daquela noite, quando me foram apresentados homens de latitudes tão distantes, Eu os apresentei uns aos outros. Partimos todos vibrando de fé, palpitantes de esperança nos destinos grandiosos de nossa Pátria.

Os que me viram durante aquela viagem sentiram bem as disposições em que eu ia. Compreenderam que nenhuma ambição me animava. Perceberam que um pensamento superior me conduzia, na direção do local em que íamos lançar as bases do Integralismo, como me conduzira antes, em todos os momentos em que abri mão de altos cargos, de interesses materiais, curtindo todas as dores, e, principalmente, a dor da incompreensão.

Foi com essa disposição que cheguei a Vitória. E o meu contentamento ainda era maior, quando eu pensava que iria, afinal, passar as mãos de outro aquilo que me pesava tanto: a chefia do nosso movimento, que eu conduzi nos primeiros instantes, quando ainda não era possível conseguir-se alguém disposto a sacrificar tudo para iniciar sozinho a grande campanha.

Três dias gloriosos passamos em Vitória. Os que tiveram a fortuna de assistir o que foram nossos trabalhos, verificaram ainda uma coisa assombrosa. É que a disciplina, aquilo que constituía a base de toda a nossa construção, surgia como uma luz maravilhosa, refletindo-se sobre nós em razão de um acontecimento imprevisto.

Nas vésperas de nossa partida, una personalidade do Integralismo se portara inconvenientemente na defesa de seus pontos de vista.

Eu não trepidei. Preferi acabar com o movimento do que desmoralizar a autoridade, principalmente porque estávamos no inicio. Dessa maneira, excluí do Integralismo aquele personagem e telegrafei a todas as Províncias, comunicando o fato. Esse personagem tinha grandes esperanças nos amigos que contava em diversas zonas do país. Esperava que eles estariam com ele. Mas, em Vitória, contra a expectativa de muitos, tivemos uma chuva de telegramas. Nenhum discrepante. Todos aprovando o ato da Chefia. Isso revelou que o Integralismo nascera com força Nascera para um grande destino. Revelou, ainda que o Chefe não fazia nenhuma questão de ser Chefe. Que colocava o princípio da autoridade acima do tudo.

Três dias e chegou o encerramento. Estavam feitos os Estatutos, toda a regulamentação, os protocolos, nada faltava. O esforço de Everaldo Leite fora notável. Em torno dele. Miguel Reale, Jehovah Motta, Padilha, Olbiano, Loureiro, trabalharam, dia e noite, sem dormir e quase sem tempo para se alimentarem. E chegou a sessão solene, a sessão final.

Era o meu momento. A culminância da minha alegria. Porque era o instante da renúncia. Eu já manifestara a Madeira de Freitas, particularmente, que a minha decisão era irrevogável. Eu desejava ser um simples soldado do Sigma. Realizar os trabalhos intelectuais. Doutrinar. Lutar. Obedecer. Eu queria dar o exemplo da disciplina. O Brasil estava morrendo por falta de disciplina. Não dos pequenos, dos humildes, mas dos grandes. Os grandes são geralmente indisciplinados, sem o perceber. Não o fazem por mal. Fazem por hábito adquirido. Urgia uma revolução interior, não de hipócritas, mas de homens honestos. Eu não desejava santarrões falsos, mas homens, ainda que defeituosos, mas humildes de coração, para a grandeza da Pátria. E eu queria ser o primeiro delles. Foi assim que, no meio da estupefacção geral. declarei que a minha tarefa estava terminada, pois o Integralismo estava organizado e era um começo de realidade como força moral no país e que, portanto, só me restava voltar ao lugar obscuro de batalhador, que escolhessem outro Chefe.

Os protestos foram gerais. Os representantes de todas as Províncias exigiram de mim o supremo sacrifício. Eu relutei. Renunciei três vezes. Havia outros. Que escolhessem. Afinal, ergue-se a voz mais respeitada do Congresso. A voz de um velho. Era Arnaldo Magalhães. Sua cabeça branca resplandeceu a luz das lâmpadas no meio da plateia do Teatro Carlos Gomes. Ele exigiu imperativamente. Tinha o direito, porque no instante em que eu renunciara, ele assumira interinamente à Chefia. Era um brasileiro dos mais respeitáveis, um passado limpo e honesto, uma figura adorada na capital espírito-santense. Ele me impunha com autoridade. As Províncias referendavam seu ato. Eu queria dar exemplos de disciplina. Tive que curvar a cabeça.

Curvei-a, obediente. Para, em seguida, levantá-la com todas as minhas energias. E exclamei: "Pois bem: este lugar de dores me é imposto, nele não terei amigos; manterei a disciplina a todo o custo. Faço este aviso aos homens de posição e prestígio em nosso movimento. Saberei resistir a insinuações. Agirei apenas quando entender como entender e dispenso conselhos, observações. sugestões, alvitres ou pedidos".

Um trovão de aplausos retumbou. Nascia a força fatal do nosso movimento.

Tem sido ela o segredo da nossa marcha. Nossa prosperidade, nossa força moral no país. Quando todos se admiram porque crescemos dia a dia, é porque ignoram que existe essa força misteriosa, Imperativa.

Hoje o Integralismo resiste a tudo, Mas a tudo. Nada o detém. Ele está animado por uma vitalidade que os partidos liberais-democratas não possuem: a disciplina.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 11 de Março de 1936.

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