Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
Camisas-Verdes incendiadas (28/04/1936)
Plínio Salgado
Na
melancolia do Brasil presente, fulgura uma luz maravilhosa, prenúncio de um
grande dia radioso. É a fé ardente dos camisas-verdes.
Eles
não se preocupam com as coisas imediatas, com os resultados imediatos que uma
luta política lhes poderia dar. Pensam, exclusivamente, no dia de amanhã.
Trabalham para o Futuro.
A
tristeza não lhes penetra a alma. Ela está blindada pela esperança. O
abatimento não os esmaga, porque uma força misteriosa os põe sempre de pé.
Podem
rugir as ameaças de todas as perseguições, podem procurar deprimi-los todas as
guerrilhas surdas da mediocridade em rebelião. Os camisas-verdes continuam impavidamente
a sua marcha, porque sentem na predestinação dos seus passos a segurança dos
que possuem um roteiro.
As
trevas das incertezas tombam pesadamente sobre os espíritos, inquietam os
timoratos, desorientam os que lutam perdidos, nesse grande pântano moderno de
paixões e de crimes, de traições e perfídias. O camisa-verde, porém, não teme
nem as trevas nem a confusão tremenda dos dias nervosos que transcorrem: seu
caminho será sempre iluminado pela Via-Láctea dos destinos nacionais, desses
destinos que ele sabe serão gloriosos na força e no esplendor das gerações
vindouras.
Os
camisas-verdes não possuem mais tambores, porque sua Milícia, formalmente,
extinguiu-se; não a quiseram os adeptos de Moscou, Mas ontem eu vi o rumor dos
passos dos moços da Academia Esportiva em Cascadura, com o mesmo timbre dos passos
de oitocentos mil camisas-verdes da Nação. O rumor desses passos falava
qualquer coisa sublime. A certeza de um objetivo. A glória de uma consciência
esclarecida. A alegria da vitória, que já está sendo alcançada, como força
moral inconteste na hora transcorrente. O sentido profundo das intimas
deliberações nacionais, que se processam no rebojo do subconsciente da Pátria.
Sabemos
de onde viemos: das inquietações de um Povo.
Sabemos
onde estamos: nos sonhos da Juventude
Sabemos
como iremos: com a segurança das ideias claras, definidas, através de uma
campanha feita de franqueza e lealdade, sacrifício e heroísmo.
Sabemos
para onde vamos: para o início de uma Nova Civilização.
*
* *
É
por isso que os camisas-verdes se preocupam, tanto com as crianças. Há mais de
cem mil crianças que vestem a camisa-verde. Crianças de todas as idades. Desde
aquelas, em cujo olhar já lampeja o alvorecer de uma Consciência Nova: ardentes
meninos e meninas, vibrantes de entusiasmo e de alegria, até aquelas que, de
bracinhos rechonchudos, de cabecinhas louras, ainda nos braços de suas mães,
erguem as mãozinhas e exclamam "anauê!”.
Os
camisas-verdes veem nessas crianças a Grande Nação que eles, os pioneiros, os
vanguardeiros, os sacrificados, estão construindo, pedra a pedra, sobre os
alicerces de um nacionalismo como jamais existiu no país, e segundo os lineamentos
harmoniosos de um espiritualismo, que encontra as fontes supremas de inspiração
nas tradições da Pátria.
A Pátria
do Futuro! Que grande Pátria será o Brasil!
Esse
milagre ninguém mais poderá dizer que os camisas-verdes não o realizaram. Pois
tudo o que se manifesta hoje, mesmo fora do âmbito de sua ação tenaz, no
sentido de afirmar os valores da nacionalidade e defende-los contra seus inimigos
internos e externos, tudo, por mais que queiram negar, é o resultado da influência
integralista, da atmosfera criada pelo calor da fé integralista, da pressão
moral exercida pelos integralistas, do prestígio formidável que os
integralistas hoje gozam no seio das famílias brasileiras.
Esse
milagre já está realizado. Os camisas verdes sabem que o Brasil, agora, já não
será no futuro uma pequena República. A força arrancada dos recessos da alma
patrícia, pelos soldados do Sigma, cresceu de tal forma, multiplicou-se tão rapidamente,
que se fortalece todos os elementos de defesa da Nacionalidade, em todos os
setores das atividades de um Povo.
Incendiado
de amor ao Brasil, o remoto sertão vibra hoje nas verdes labaredas anunciadoras
da próxima alvorada. No recesso das fábricas, dos quartéis, das escolas, nos
bairros proletários, nas pequenas cidades e nas grandes metrópoles, arde um
fogo novo, um fogo sagrado. Ele, a princípio, era uma centelha. O sopro divino,
suscitador dos grandes acontecimentos históricos, perpassou sobre ela. Como
essas grandes queimadas de Agosto, que barram os horizontes de clarões de
apoteose, lastraram as chamas sagradas. Quem, hoje, poderá detê-las?
Numa
cidade pequena da Bahia, a polícia varejou as casas dos camisas-verdes, arrecadou
cento e poucas camisas, embebeu-as em querosene, incinerou-as na praça pública,
num verdadeiro auto de fé inquisitorial.
Que
grande cena épica. Maravilhoso espetáculo resplandecendo, na noite do sertão
baiano, como a flama de uma pira votiva!
No
peito do sertão, no silêncio, do sertão, sob os céus estrelados do sertão,
diante dos olhos humanos, exprimindo as longas dores do sertão, que poderíamos
nós, camisas-verdes da Pátria, oferecer ao Altíssimo, como os antigos
sacerdotes orientais ofereciam sobre as aras do sacrifício?
Ao
Senhor Deus dos Exércitos, ao Senhor Deus que aos brasileiros ofereceu um altar
de estrelas no firmamento, com a Cruz do seu Suplício e da sua Glória; ao
Inspirador de todos os triunfos, ao condutor de todos os povos aflitos; ao
Eterno, que oferece à melancolia da paisagem noturna as refulgentes barras
brancas das alvoradas e o rutilante rubor das auroras: que poderíamos nós oferecer,
num rito misterioso e profundo, num gesto de suprema beleza épica, senão esse
holocausto?
Sim!
Os Incas sacrificavam ao Sol diante dos primeiros sinais do dia. Nós, também,
pressentimos os primeiros alvores da glória do Brasil, da liberdade do Povo
Brasileiro, do sonho humano de felicidade: Devemos sacrificar a Cristo Rei do
Brasil, que os camisas-verdes mais alto entronizarão, quando formos uma Nação
Forte, uma Potência no Mundo, devemos sacrificar a Ele o que nos é mais caro.
Nos
dias iniciais do mundo, Abel escolhia as ovelhas mais nédias, mais belas, para levá-las
à ara do Senhor. Para nós, camisas-verdes, nada é mais sagrado do que a nossa
camisa simbólica.
A
polícia do Capitão Juracy oficiou como um magno pontífice no sertão da Bahia.
Aquelas camisas estavam embebidas do suor dos que lavram a terra, dos que gemem
na gleba, dos que lutam contra as secas, dos que choram no desamparo, dos que
vestem humildes calças e paletós esfarrapados, dos que aspiram uma vida melhor,
que sonham uma Pátria mais justa, dos que trazem consigo as tragédias
sertanejas, o peso dos sofrimentos, curvando-lhe os ombros, os desesperos de
quatrocentos anos de história nacional, de lutas ásperas, escravidões dolorosas
e esperanças malogradas!
Daquela
fogueira, certamente, desprendeu-se o cheiro daquele suor. Um cheiro de Terra e
de Sangue. Um cheiro de mata, de caatinga, de poeira de caminhadas, de pólvora
de todos os crimes, lamas de inundações, rescaldo de secas atrozes, aroma de
chiques-chiques, de mandacarus, de palmas de chapadões, de oiticica e de juazeiro.
Cheiro
de Brasil. Cheiro da grande tragédia secular. Fumo denso, subindo para o céu,
como um apelo de misericórdia erguido por um povo escravo e sofredor. Crepitar
de chama como soluços de populações aflitas, de lares infelizes, de magoas
recalcadas.
Voz
da Raça. Voz da História. Clamor do sangue.
Fogo
vivo de uma fé. Fogo de camisas-verdes incendiadas! Que espetáculo soberbo a
Bahia Mártir, a Bahia Integralista, a Bahia, hoje, ídolo de todos os soldados
do Sigma, da Pátria, nos ofereceu!
Esse
quadro passará para o Futuro. Para o Futuro, que nós construiremos. Para o
Futuro que, pela voz dos filhos dos nossos filhos e dos netos dos nossos netos,
exaltará o sacrifício da geração presente e cantará a glória imortal do camisa-
verde do Brasil!
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 28
de Abril de 1936.
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