Esclarecimento:
A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do
Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da
História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o
acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito
Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando
indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
Nacional-socialismo
e Nacionalismo Cristão (14/02/1936)
Plínio Salgado
Os
últimos telegramas da Alemanha informam que o governo de Hitler mandou prender
cerca de 150 sacerdotes católicos e centenas de membros das associações
católicas, acusados de conspirar contra a segurança do Estado.
Eis
aí uma notícia que nos leva a meditar.
Com
o exato senso de equilíbrio que deve caracterizar os integralistas e o roteiro
político já traçado por mim aos camisas-verdes, no artigo desta folha,
intitulado “Carta de Natal e Fim de Ano”, procuro examinar esta gravíssima
questão, deduzindo dos acontecimentos que se desenrolam na Alemanha a lição
útil para nós, que desejamos criar um Estado Novo, o Estado Forte, mas,
principalmente o Estado Cristão.
Que
atos teriam praticado os católicos germânicos para incorrer na cólera do Estado
Hitlerista? Cumpre aqui, para sermos justos, levantar várias perguntas:
1ª)
— Teria o Estado Alemão, no seu objetivo de elevar ao máximo a mística
nacionalista e o preconceito das raças superiores, ultrapassado os limites de
seus direitos, atingindo, no campo da educação moral e física, os princípios da
intangibilidade da “pessoa humana” e da “família”, projeção natural da
“pessoa”?
2ª)
— Se o Estado Alemão não ultrapassou esses limites, teriam as associações
católicas ultrapassado o campo de suas atividades morais e espirituais,
imiscuindo-se nas lutas políticas?
Eis
duas perguntas que nos levam a considerar os gravíssimos perigos que
representam para uma Nacionalidade as atitudes do Estado, ferindo o mais
sagrado princípio da liberdade, que é a liberdade de consciência, a
intangibilidade da pessoa humana, a invulnerabilidade religiosa da Família; ou
as atitudes das autoridades eclesiásticas, no caso de, portando-se o Estado nos
estritos limites que lhe impõem os deveres para com Deus, não dando motivos
para censura por parte da consciência religiosa, assumirem elas o papel de
meros instrumentos da liberal-democracia e das lojas maçônicas, ainda que de um
modo inconsciente.
No
caso da Alemanha, não tenho dúvidas (pelo que tenho lido nos livros nazistas,
notadamente no livro de Hitler, “Minha Luta”, e pelo que tenho deduzido das
medidas e iniciativas governamentais) que o governo hitlerista está, sem dúvida
nenhuma, infringindo as mais sagradas leis naturais e humanas e dando lugar a
que os católicos, ciosos do livre arbítrio e da intangibilidade da
personalidade do homem e de sua família, se rebelem contra o Estado.
O
hitlerismo, que proclama os seus princípios fantasiosos racistas e as razões
históricas da Nação Alemã, em nome da qual desencadeia a guerra aos judeus,
tenho para mim que se acha, inconscientemente orientado pelo próprio judaísmo,
cujas raízes no Estado Nacional-Socialista revelam-se a cada passo.
O
ascetismo, a mística, a super-humanização do tipo “führer”, a sua divinização
ao ponto de o considerarem, os mais exaltados, a encarnação de Odin, exprime um
artificialismo político, que foge de toda a base e equilíbrio da razão humana,
uma vez que não tem o lastro religioso ou o alicerce de uma vocação espiritual
específica. Em torno do “führer”, longe de se encontrar o ambiente religioso,
encontra-se o ambiente de um nacionalismo pagão, o clima das ressurreições
olímpicas de Juliano, o Apóstata. O próprio “socialismo”, lado simpático desse
movimento que arrastou tantos proletários, passou para uma segunda plana,
predominando a política exclusivamente nacionalista. Esse nacionalismo é uma
continuação de Bismarck e um novo capítulo a acrescentar ao estado de espírito
que assinalou as vésperas da Grande Guerra.
Não
se pode negar ao Nacional-Socialismo, ainda quando ele se haja desviado da
linha pura do proletarismo e da revolução social para o ritmo de uma orientação
baseada no prestígio da indústria pesada, o verdadeiro milagre que foi a
transformação da Alemanha, de país humilhado pelos seus adversários, em Nação
respeitada que readquiriu a sua voz no concerto dos povos.
Esse
esforço, porém, que dignifica um povo, tenho a impressão de que está sendo
explorado por elementos semitas habilmente infiltrados, no sentido de
desvirtuá-lo, aparecendo Hitler e a Alemanha, perante o mundo, sob um aspecto
antipático.
Havendo
censura rigorosa no Reich, não se compreende, por exemplo, que as megalomanias
de Rosenberg possam ter circulação em pleno século XX. Há nisso, positivamente,
falta de senso de equilíbrio, sentido de proporções, de respeito ao espírito
cristão da Nacionalidade.
O
caso da esterilização foi outro a revelar o sentido materialista da vida,
sentido esse que, nunca, jamais, em tempo algum, conseguiu dar um conteúdo de
moral verdadeira e, muito menos, traduzir-se em expressões de ascetismo, que só
pode ser compreendido como um desvio, cujas consequências ninguém ainda pode
prever.
O
Estado tem seus limites, como a personalidade humana tem seus limites. Do mesmo
modo, a Religião tem seus limites. Só a inspiração cristã mantém essas relações
e os equilíbrios perfeitos. Fora do cristianismo, só pode imperar a violência.
Agora,
se o Estado se conserva na sua linha precisa; se o Estado reconhece os limites
e a área de ação da autoridade religiosa; se o Estado em matéria de educação
estabelece um acordo justo entre os seus interesses nacionais e os interesses
espirituais da religião; nesse caso toda e qualquer autoridade religiosa que se
insurgir contra ele, não estará fazendo obra espiritual, porém, politicagem, e
da mais barata.
Nós,
integralistas, que somos coisa absolutamente diferente do nazismo e do
fascismo, não nos cansamos de dizer que nosso fundamento é o fundamento cristão.
Repetimos mil vezes que jamais caminharemos num rumo pagão, jamais deixaremos
de ser um movimento, preliminarmente espiritual, em seguida,
social-revolucionário, e, sustentando aqueles dois rumos, colocamos os
imperativos da nacionalidade, dentro da qual encontramos ainda as mais sólidas
tradições de cristianismo.
Para
criar uma raça forte, eugenicamente apta, enérgica, nacionalista, digna, audaz,
não precisamos hoje em nossa propaganda e amanhã em nosso governo, ferir os
sentimentos religiosos do povo brasileiro, antes pelo contrário, será
estribando-nos nele que conseguiremos criar o Estado Integral.
A
luta que se esboça na Alemanha, entre católicos e hitleristas, oferece
oportunidade para meditarmos no Brasil: nós com o sentimento profundamente
cristão que nos inspira, o respeito pelos prelados e sacerdotes da nossa terra;
estes, com alta visão política, que lhes não deve faltar na hora presente,
evitando que atitudes impensadas de alguns venham lançar o germe de uma
animosidade que seria um crime perante a Nação e perante Deus.
Pois
será da mútua compreensão e do mútuo entendimento entre os detentores da
autoridade religiosa e da autoridade civil que conseguiremos fazer alguma coisa
de útil para nossa Pátria.
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 14
de Fevereiro de 1936.
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