Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à
generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-vida,
profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana
existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é
Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
Comandando homens livres (23/05/1937)
Plínio Salgado
Desde ontem, realiza-se em todo o Brasil
o plebiscito promovido pela Acção Integralista Brasileira, para que os
camisas-verdes se manifestem sobre o nome de sua preferência a ser indicado ao
sufrágio da Nação.
Esse comício eleitoral interno terá a
duração de quarenta e oito horas, encerrando-se na noite de hoje. Reservo-me
para falar aos integralistas na hora do encerramento, às 23 horas, pelo microfone
da Rádio Sociedade Fluminense, em conjunto com a Rádio Transmissora do Brasil,
desta capital, com a Radio-Club de Petrópolis e a Cruzeiro do Sul, de São
Paulo.
Naquele momento, direi aos
integralistas e à Nação as palavras necessárias e indispensáveis ao
esclarecimento dos espíritos conturbados ou iludidos pelos falsos pregoeiros da
democracia.
*
* *
Nestas colunas eu quero me dirigir aos
camisas-verdes, que estão levando os seus votos aos Núcleos integralistas do
país. Quero lhes dizer que a minha alegria hoje é imensa, porque estou sentindo
esta coisa que nenhum político do meu país pode sentir: eu comando homens
livres!
Um homem público não pode ter maior prêmio,
não pode aspirar uma glória maior. Sinto-me plenamente pago de todo o esforço
de quatro anos de atividade evangelizadora e de organização do único partido
nacional do Brasil.
Existe uma consciência integralista.
Existe uma corrente volumosa de brasileiros que já não segue homens, porém uma
doutrina. Uma corrente de opinião que tem verdadeiramente opinião sobre os
problemas nacionais.
Não jogo com figuras de retórica: jogo
com realidades. Quando digo "a opinião dos integralistas", sei que
estas palavras não são vãs, para discursos de banquetes ou orações de
plataformas. Elas exprimem, não uma verdade ideal, mas uma verdade concreta. O
que era um pensamento no cérebro dos primeiros doutrinadores, tornou-se um fenômeno
evidente, um fenômeno social que só os loucos poderão negar ou desconhecer.
*
* *
A existência dessa "opinião"
é que me levou a determinar se realizasse este plebiscito. A coletividade Integralista
não precisa de tutores. Adquiriu maioridade. Afirmou-se em capacidade
deliberativa. Seu guia é uma doutrina. Sua opção decorre do conhecimento e do
sentimento dessa doutrina.
Nenhum interesse material ou de
qualquer outra natureza subalterna reúne esses homens de camisa-verde.
Todos eles são independentes. Não
precisam de mim, nem das autoridades do seu Partido para coisa alguma. Em vez
de lhes dar qualquer coisa, exijo deles todos os sacrifícios. Em troca desse
sacrifício, esses brasileiros recebem, muitas vezes, como prêmio, as perseguições
dos bolchevistas ostensivos ou encapotados, que ainda têm força e prestígio
neste país.
Homens e mulheres assim, que,
espontaneamente, num ato de liberdade, juraram seguir este nosso caminho, fiéis
à doutrina que professamos, podem realmente dizer que são livres.
Se eu não comandasse criaturas livres,
não iria perder tempo ordenando a realização de um gigantesco e comovente comício
eleitoral, a fim de que cada um viesse dizer claramente, ostensivamente, como
deseja que se resolva este caso da apresentação do nome do nosso candidato à
presidência da República.
*
* *
Poderiam fazer isso os chefes dos
partidos regionais que infestam este país?
Evidentemente que não, porque para se
fazer isso é necessário, antes de tudo, esclarecer as consciências, através de
uma doutrinação continua. Foi assim que procederam os partidos? Não; eles só
procuram os seus eleitores nas vésperas de eleição. Durante todo o ano esses
partidos não publicam, já não digo livros, como nós fazemos, nem mesmo algum folheto
elucidativo do programa que eles têm em vista realizar. O povo ignora completamente
o pensamento filosófico ou sociológico dos chefes de partidos. Também os chefes
de partidos ignoram qualquer coisa sobre o estado de consciência em que se
encontra o povo. O seu sistema de aliciamento é o das engrenagens dos
interesses administrativos, que vão da órbita provincial à área municipal, com
as algemas dos empregos e os instrumentos de suplício das perseguições.
Como, pois, consultar esses eleitores?
A maior parte deles está minada pela doutrinação integralista, e se fosse
responder, no caso impossível de lhe ser facultada liberdade, a resposta não
agradaria aos chefes de partido...
*
* *
Só, portanto, a coletividade integralista
pode realizar um plebiscito, como o que se efetua desde ontem, e ao qual
comparece cada um dos camisas-verdes para dizer sem medo o que pensa.
O camisa-verde é livre porque se
esclareceu a respeito dos problemas nacionais e não pode ser ludibriado por
ninguém. O camisa-verde é livre porque sabe que a doutrina integralista vai
buscar o fundamento do seu conceito de Estado forte e deliberativo no próprio
livre-arbítrio do homem. O camisa-verde é livre porque ninguém o obrigou a
entrar para o Integralismo. O camisa-verde é livre porque coisa alguma lhe
poderá acontecer se ele, por ordem do Chefe, manifesta livremente a sua
opinião, acerca de qualquer assunto sobre o qual é chamado a se pronunciar. O
camisa-verde é livre porque o Chefe foi escolhido por ele, e não imposto, como
acontece nos partidos em que meia dúzia de dirigentes faz o que bem entende. O
camisa-verde é livre porque, quando o Chefe tem diante de si os problemas máximos
do Movimento, chama um por um dos integralistas para que dê a sua opinião.
Uma coisa apenas exijo durante a
realização deste plebiscito: a mais plena liberdade.
Que cada um dê o seu voto livremente,
espontaneamente.
Que cada um, dando o seu voto,
experimente a íntima alegria que a outros brasileiros não lhes Ilumina o
coração. A alegria da liberdade em exercício pleno. A alegria da vontade em
deliberação efetiva. A alegria da dignidade em afirmação. A alegria da
personalidade em consciência. Do sentimento sem peias. Da inteligência engrandecida.
Do caráter assumindo uma atitude. Da alma traçando uma decisão.
Porque isso, para mim, é comandar
homens livres.
E esse é o meu modo de chefiar.
Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 23 de Maio de 1937.
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