quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Sonhar, querer: e fazer! (07/10/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Sonhar, querer: e fazer! (07/10/1936)

Plínio Salgado

No dia 3 de julho de 1930, na cidade de Milão, eu escrevia a um amigo particular, residente na cidade do meu nascimento, uma longa carta, que ele guarda preciosamente. Nessa carta, pus, entre outros, estes períodos:

"Estou hoje convencido de que o Brasil não pode continuar a viver na comédia liberal-democrática Aí, eu já era um descrente, em relação a liberdade e honestidade eleitoral. A eleição que aí fizemos juntos, inspirou-me uma profunda repulsa. O artigo que, logo depois, escrevi no "Correio", contém, nas entrelinhas, o cavalo de Tróia do meu pensamento revolucionário".

(Eu me referia às eleições presidenciais de 1 de março de 30; o jornal de que falava era o órgão oficial do governo, em S. Paulo).

"De há tempos que me impressiona"- continuava eu - "o enfraquecimento do Poder Central; as unanimidades em torno dos presidentes de cada Estado; a política financeira e econômica de cada Estado, consultando interesses de grupos regionais; a falta de unidade no aparelhamento da instrução pública, da higiene, da justiça; a situação deprimente dos nossos parlamentares, lacaios do Poder, ou demagogos democráticos, verdadeiros sonâmbulos, que não atinam com as causas fundamentais dos males da Nação, e feiticismo das fórmulas constitucionais, burladas pelos seus adoradores, mas cultuadas como Budas, o que ocasiona descrença do povo; a nossa defesa nacional sem eficiência alguma, um exército roído de conspirações; as lutas em cada sucessão presidencial desorganizando a vida do país e gastando rios de dinheiro com os jornalistas venais e os políticos que tresandam a podridão; a imprensa com tantos órgãos vergonhosos; a advocacia administrativa, cancro nacional, e a proteção política, lepra deformadora. Numa situação como essa, os "dois perigos", que os governos não veem, não. creem: o espírito regionalista, que se acentua dia a dia e nos leva a caminho do "separatismo", e questão social, que aí dizem ser caso de polícia, e que nos arrastará, de um momento para outro, para o "bolchevismo". Os que têm a noção dessas cousas são aí chamados "loucos", sonhadores e poetas Os homens de juízo são os inconscientes, de espírito burocrático, os administradores de fachada e os homens de negócios...

(Note-se bem, que eu escrevia em 5 de julho. de 1930, muito antes de se falar em separatismo ou comunismo).

“o que há de pior no Brasil" - continuava eu naquela missiva - "é o materialismo grosseiro em que aí vivemos, a falta de coragem, a incapacidade para o sacrifício, a ausência absoluta de espírito nacional. O. Império legou à República um país homogêneo, vibrando pelo mesmo coração: a República, com mais vinte ou trinta anos, terá completado a sua obra de dissociação É necessário agirmos com tempo de salvar o Brasil".

Aos que dizem que copiamos, chamo a atenção para estas linhas da carta que já foi exposta ao público, por ocasião do nosso II Congresso Nacional Integralista:

"Tenho estudado muito o fascismo: não é exatamente esse regime que precisamos aí, mas é cousa em alguns pontos semelhante. O fascismo, aqui veio no momento preciso, deslocando o centro de gravidade da política, que passou da metafisica jurídica, para as intuições das realidades imperativas. O Estado Fascista, sendo uma concepção mais ampla do que os limites traçados ao conceito do Estado nos regimes de índole liberal-democrática, veio interferir em várias atividades, modificando lineamentos anteriores do Direito Constitucional, do Direito Administrativo, e influindo mesmo na esfera civil, comercial e criminal. Porque o fascismo não é propriamente uma Ditadura (como está sendo o governo da Rússia, enquanto não chega a prática pura do Estado Marxista), e sim um regime. Penso que o Ministério das Corporações é a máquina mais preciosa. O trabalho é perfeitamente organizado. O capital é admiravelmente controlado. O Parlamento constituído pela representação de classes. Esta última coisa seria preciosa num país novo como o Brasil, por dois motivos: teríamos a precisão "técnica" nas leis, e amorteceríamos, não só o espírito regional do Parlamento Federal, como o espírito de clã, de aldeola, nos Parlamentos Estaduais. Há outras cousas interessantíssimas aqui.

Volto para o Brasil, disposto a organizar as forcas intelectuais esparsas, coordená-las, dando-lhes uma direção, iniciando um apostolado. Contando eu a Mussolini o que tenho feito, ele achou admirável o meu processo, dada a situação diferente do nosso país. Também como eu ele pensa que, antes da organização de um partido, é necessário o movimento de ideias.

Aliás, a minha orientação não teve nenhuma influência fascista".

Como se vinha processando em meu espírito a decisão de vir organizar um grande movimento salvador de minha Pátria? Vejamos estes pequenos trechos da carta em questão:

"Uma manhã, no alto do Janículo, junto à arvore de Torquato Tasso, com o panorama de Roma a meus pés - o Coliseu e o Vaticano, o Fórum Romano e as Termas de Caracala, o Aventino e o Palatino, e os palácios seculares que sobem e descem pelas colinas, eu senti uma saudade imensa do Brasil. E. sentindo este amor da Pátria, pensei em todas as marchas da Cidade Eterna, e refleti sobre a necessidade que temos de dar ao Povo Brasileiro um Ideal, que o conduza a uma finalidade histórica".

"Voltarei para combater esse combate, cheio de entusiasmo".

No dia 4 de outubro desse ano, cheguei ao Rio de Janeiro e no dia 5 do mesmo mês desembarquei em Santos, No dia 7, escrevi um artigo sobre Unidade Nacional, no "Correio Paulistano" De 7 a 24, passei refundindo o esboço de um Manifesto, que eu escrevera em Paris. Em dezembro, emprestei esse Manifesto à Legião Revolucionária. Ella afundou-se e desapareceu, o Manifesto ficou. Em Janeiro de 1931, realizei uma reunião de intelectuais no Rio, num salão do Palácio Hotel. Foi a primeira tentativa, que fracassou. Voltei para S. Paulo, iniciei a doutrinação pelas colunas do diário "A Razão", fundado por Alfredo Egydio. Em fevereiro de 1932, fundei a Sociedade de Estudos Políticos. Em maio desse ano, os políticos empastelaram aquele jornal e eu fundei, como uma secção da Sociedade de Estudos Políticos, a "Acção Integralista Brasileira". Escrevi o Manifesto básico. Articulei os primeiros apóstolos de vários pontos do país. Em julho rebentou a revolução paulista. Precisei parar. Em outubro terminou a revolução. No dia 7 desse mês, publiquei Manifesto, que tomou nome de Outubro. Em dezembro desse ano, proclamei às correntes revolucionárias que o facho da revolução estava comigo. Em abril, dia 22, realizei a primeira marcha dos camisas verdes, com menos de uma centena de companheiros. Em maio desse ano, fundei Integralismo na Capital da República. Em seguida, publiquei dois livros de doutrina, um para o povo e outro para os cultos, e parti em peregrinação evangelizadora para o Norte do país. Percorri os sertões, visitei as capitais O Movimento alastrou-se. Multiplicaram-se as bandeiras de propaganda Em 1934, março, realizei o primeiro Congresso Nacional Integralista Renunciei três vezes a Chefia. Impuseram-me esse logar. Exigi disciplina em troca do meu martírio constante, ininterrupto. O Movimento cresceu. Atingiu, cidade a cidade, o mapa da Pátria. Éramos uma centena, somos hoje um milhão. Somos a partido nacional, somos o maior Movimento da História do Brasil.

Aí está, brasileiros, o que fiz para minha Pátria.

Agora já se canta o Hino Nacional. Agora já existe um sentimento ligando brasileiros de todas as latitudes. Agora já despertou uma mocidade, para a vida heroica. Agora já escutamos as clarinadas de idealismos revitalizantes. Аgora о Brasil começa a tomar conhecimento de si próprio.

A ideia integralista está vencedora. Aqueles mesmos que nos odeiam ou perseguem podem combater-nos como pessoas, não nos combatem mais como pensamento. O pensamento está triunfante. Os próprios discursos com que nos atacam são escritos com o nosso estilo, neles se empregando nossas palavras, nossas frases inteiras.

Somos uma atmosfera de nacionalismo. Somos a escola de espiritualismo. Somos, na verdade, os soldados de Deus e da Pátria.

O que eu sonhei eu quis. O que eu quis eu fiz.

Quando sonhei, foi o Brasil que falou em mim, no mais recôndito do meu coração. Quando eu quis, foram as forças misteriosas da minha gente forte, da minha boa gente brasileira que agiram no recesso de minha própria vontade. Quando eu fiz foi o Brasil que fez, abençoado por Deus.

Possa eu continuar este trabalho - quatro anos já se passaram de fecundo esforço - possa eu continuar esta obra que pertence aos nossos pósteros, e ver-se-á o que o Integralismo ainda fará para honra, glória, triunfo imortal do Brasil.

O Integralismo não é apenas uma grande doutrina, uma grande campanha de educação moral, cívica, física, um movimento cultural esplêndido, uma organização técnica admirável, um partido nacional e nacionalizante, uma barreira ao comunismo, uma vigília gloriosa pela dignidade da Nação. O Integralismo é uma prova de que a sua doutrina é verdadeira, isto é, o homem pode interferir na História e modificar o seu rumo. O Homem tem poder para modificar o ritmo determinista do evolucionismo materialista dos fatos sociais. Eu sonhei e quis. Querendo, atuei. Atuando, perseverei. Perseverando, sofri, sofrendo, fortaleci-me. Fortalecendo-me, multipliquei, segundo o tempo e o espaço, a minha eficiência E, agora, estou mais do que nunca, certo de que o Homem pode querer e pode fazer, porque Deus lhe deu certos poderes de criar que ele pode empregar com êxito.

Essa demonstração deve valer à mocidade da Pátria. Que todos os que são moços tomem nota disso e que os pais guardem essa lição para as crianças que ainda estão no berço. Que um optimismo sadio levante os caráteres, que a confiança em si próprias incendeie os corações e multiplique as próprias energias físicas. Que as novas gerações se convençam de que esta obra de construção nacional deve prolongar-se pelos séculos em fora, que uma Pátria se engrandece num plano sistemático, executado por muitas gerações.

Que cada uma dessas gerações cumpra o seu dever. Que ninguém deserte da sua geração. E que ninguém deserte do Brasil.

Seja o Brasil o "pão nosso de cada dia" para o nosso sentimento e o nosso pensamento. É preciso pensar sempre, sem cessar, mas pensar com força, com energia, com espírito vitorioso e dominador sobre o objeto da nossa criação. Foi assim que fiz. É assim que os integralistas estão fazendo. Será assim que, pelo nosso milagre, a Pátria será grande.

Camisas-verdes! Olhai para nossa Bandeira e exclamai: "Se o Chefe soube, quis e fez, nós agora, sobre o que já está feito, sonhamos muito mais, sobre esse sonho elevaremos nossa vontade e sobre esta vontade, contra todos os descrentes, os desiludidos, os traidores, elevaremos o Brasil!

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 07 de Outubro de 1936.

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