quinta-feira, 4 de julho de 2024

COM A PALAVRA O SENADOR COSTA REGO (17/10/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

COM A PALAVRA O SENADOR COSTA REGO (17/10/1936)

PLÍNIO SALGADO

Na hora em que se realiza, na Capital da República, pela primeira vez na História do Brasil, um conclave de deputados estaduais, prefeitos e vereadores, sem preocupações estaduais e com um só pensamento nacional de unidade da Pátria;

na hora em que se realiza, com o mesmo pensamento e o mesmo sentimento, o 1º Congresso Nacional Feminino da A.I.B., que realiza o milagre de reunir no Rio senhoras e moças de todas as Províncias;

na hora em que, culminando essas imponentes manifestações do Brasil-Uno e Indivisível, reúnem-se, também, em Guanabara, os Chefes Provinciais do Integralismo em todo o país, para tomarem parte, com o Supremo Conselho, o Secretariado Nacional e a Câmara dos Quarenta, nas assembleias das Côrtes do Sigma:

- Eu não preciso, para significar a importância desses fatos, escrever o meu artigo quotidiano.

Escreveu-o, por mim, publicando-o no "Correio da Manha", de ontem, o senador Costa Rego, diretor daquele importante matutino.

Dou, portanto, a palavra a Costa Rego:

"OS FATORES DA UNIDADE"

"A língua é um fator inconcusso da unidade brasileira. Não é certamente o único, porque, isolada, ela não faz a unidade; mas a unidade que se funda, entre outros elementos, na língua é sempre forte.

A este respeito, o Brasil apresenta um exemplo impressionante, quando o comparamos com as outras nações: não há entre nós nenhum dialeto, ao passo que os há mesmo em Portugal.

Mario Marroquim estudou o fenômeno e atribuiu-o à "mobilidade brasileira", quer dizer ao hábito de deslocar-se o homem de um para outro ponto do país. Esse hábito foi-lhe, de resto, imposto pela própria natureza, tão vasta e surpreendente que o seduzia sempre à aventura. Resultou, por fim, da divisão administrativa da terra, que, tendo criado núcleos diversos, disseminou uma população de costumes idênticos.

Criaram-se - era natural - verdadeiras zonas linguísticas, com peculiaridades que não chegaram, entretanto, a afetar a estrutura do idioma e lentamente se diluem na evolução dos modos.

Diluir as peculiaridades das zonas linguísticas é, assim, um trabalho político a sustentar. Nesse trabalho colabora grandemente o Exército, que, sendo, pela unidade militar, um instrumento da feição mais característica da unidade nacional, estabelece o contato continuo das inteligências na permanente deslocação das guarnições, formadas por homens de todas as zonas, fundidos no mesmo sentimento superior do serviço da Pátria.

O problema da unidade brasileira – não nos iludamos - há de ser sempre, através dos anos, o grande problema político do país, pois não basta possuir a unidade: é necessário preserva-la. E ela fica tanto mais exposta quanto é certo que, promanando até hoje de forças morais, pode sofrer o ataque das forças econômicas mal encaminhadas, propendendo para os regionalismos da produção e do comércio. É o que tenho procurado combater na criação absurda de uma frota mercante regional, como a projetada, do Rio Grande do Sul, em detrimento tácito do Lloyd Brasileiro, esse outro grande instrumento de unidade, que um antigo ministro da Fazenda, por coincidência filho do Sul, já quis levar à falência.

A política é no Brasil um desencanto onde não raro se estiolam as boas vontades. Poderíamos modifica-las no sentido de uma permanente inquietação em torno do Brasil não apenas unido, mas uno. A simples união não é a unidade.

Todo brasileiro tem, a meu ver, um esforço indiscutível a cumprir, qualquer que seja sua religião, seu partido ou sua zona de nascimento: é o esforço de afastar os fatores de desagregação.

Nem sempre os grupos políticos, em sua ação estritamente partidária, avivada ou empecida, conforme as conveniências, pelas rivalidades funestas das pessoas e dos interesses, compreendem o problema da unidade. Para eles estando feita a unidade é intangível.

Mas os povos crescem e marcham. No crescimento e na marcha eles procuram um destino que preciso fixar, sob pena de crescerem e marcharem sem o sentido nacional, repetindo velhos dramas da História.

Há seis anos, surgiu no Brasil um movimento a que muitos, em sua insciência do que exprimem e podem as exaltações coletivas, não deram o devido apreço. Quero referir-me ao Integralismo. O Integralismo realizou o milagre, ainda não visto na República, de uma coordenação rigorosamente nacional.

Ao mesmo tempo em que este acontecimento se verificava, o Código Eleitoral outorgado pelos poderes instituídos em 1930 prescrevia e estimulava a formação dos partidos do mesmo gênero, isto é, nacionais. Cedo, porém, os vícios da Política pura e simples frustraram esse ideal, que haveria servido à causa da unidade. E o Integralismo - só ele, isolado - constitui hoje o elemento essencialmente político em luta pelo país uno, enquanto nós outros perdemos um tempo sem fim para tornar o país apenas unido. Mesmo os que não adotam a doutrina deveriam impressionar-se com o facto.

Há, por conseguinte, uma obra de pensamento a concluir, e ela depende - reconheçamos – da coragem com que enfrentarmos a realidade, em lugar de nos afundarmos nas praxes obsoletas do regionalismo, a que já devemos tantas de nossas penas e tantos de nossos erros."

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 17 de Outubro de 1936.

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