quarta-feira, 22 de maio de 2024

RUDIMENTOS DE LÓGICA (30/04/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

RUDIMENTOS DE LÓGICA (30/04/1936)

Plínio Salgado

A impressão que se colhe das perseguições desenvolvidas contra o Integralismo nas cidades mineiras é a de que o Governo daquele Estado teme perder as eleições municipais, a se realizarem no próximo mês de junho.

Os camisas-verdes estão vendo, suas sedes fechadas, em vários municípios de Minas Gerais. Se a logica ainda é logica, não nos podemos furtar ao seguinte raciocínio:

Só se persegue aquilo que representa um perigo para o perseguidor;

o Integralismo está sendo perseguido pelo Governo de Minas Gerais;

logo, o Integralismo representa um perigo para esse Governo.

Aceita essa conclusão, cumpre observar qual a espécie desse perigo: Só podem ser duas as espécies do perigo: o perigo de luta armada e o perigo eleitoral.

Vejamos se há o perigo de luta armada.

Cumpre perguntar: há interesse para o Integralismo em deflagrar uma revolução armada em Minas Gerais?

Para responder a esta pergunta, temos de formular outra: o Integralismo pretende apenas o governo de Minas, ou o de todo o Brasil?

Tratando-se de um partido registrado para âmbito nacional; tratando-se de um movimento que obedece a um Chefe Nacional; tratando-se de uma campanha que em seus repetidos manifestos e documentos proclama o objetivo de tomar para os camisas-verdes o governo total da Nação Brasileira, temos de responder: O Integralismo não se interessa, isoladamente pelo Governo de Minas, pois pretende para si o Governo da Nação.

Respondida essa pergunta, responde-se facilmente à outra, isto é, aquela que diz: há interesse para o Integralismo em deflagrar uma luta armada em Minas?

E respondemos da seguinte maneira: só haverá esse interesse no caso do Integralismo desencadear essa luta armada em todo o país, isto é, em todos os Estados, ao mesmo tempo.

Vejamos agora se o Integralismo está se preparando para luta armada nos outros Estados. Se estiver, então logicamente também estará fazendo a mesma coisa em Minas.

Como poderemos verificar a atuação do Integralismo nos outros Estados? Pelos únicos órgãos competentes para o fazer. Quais são esses órgãos competentes? As polícias estaduais.

Pois bem. Que dizem essas polícias? Articulam alguma acusação contra o Integralismo? Apontam fatos concretos? Possuem documentos nesse sentido? Efetuaram alguma prisão, como seria de seu dever?

Nada disso. Pelo contrário. A polícia, no caso a mais importante, a da capital da República, de- clara, não somente numa entrevista de seu chefe, o capitão Filinto Muller, mas ainda numa carta que este envia ao Integralismo e é publicada pelo órgão oficial do movimento, e é lida ao Rádio, declara que o. Integralismo está agindo de acordo com as leis e a Constituição.

Mais ainda: o próprio presidente da República, que deve estar segurissimamente informado por todas as polícias do país, afirma, numa entrevista à imprensa, que o Integralismo, na sua propaganda e métodos de ação, jamais se afastou da linha do cumprimento do dever perante a Constituição e as leis vigentes no país.

A corroborar essas asserções da mais alta autoridade policial da República e do máximo magistrado da Nação, temos a palavra dos juízes brasileiros, dos Tribunais Eleitorais Regionais, das Cortes de Apelação. Vitorioso em numerosos casos submetidos à apreciação da magistratura, o Integralismo evidencia-se como um movimento pacífico e ordeiro, agindo dentro das normas constitucionais e legais.

Fica, pois, exuberantemente provado que Integralismo não está conspirando, não esta preparando golpe de força em nenhum Estado do Brasil.

Ora, sendo esse momento nacional, objetivando o governo da República, pelos meios normais da democracia, isto e, por meio do voto, é logico que não o interessa tomar de assalto o governo de Minas. Seria obra até de anti-integralismo.

Se, portanto, os integralistas não estão preparando luta armada em Minas, resta a hipótese de que eles representam um perigo de natureza eleitoral.

Não representassem um perigo, o Governo não os perseguiria. Ninguém se preocupa com adversários inofensivos.

Fica, pois, muito feio para o Governo mineiro qualquer restrição à propaganda do Sigma nas cidades de Minas Gerais.

Isso significa que o Governo está com medo de perder as próximas eleições municipais em muitos lugares, onde as Prefeituras e as Câmaras irão fatalmente para as mãos dos camisas-verdes.

É bem possível que o chefe de Polícia de Belo Horizonte afirme que os núcleos integralistas não estão sendo fechados por ordem sua, mas pelos delegados de polícia locais, que agem à sua revelia. Mas, se o Governo de Minas se pronunciar assim, oferece ao país inteiro o triste espetáculo de uma insuficiência de autoridade.

Esses expedientes sempre foram muito usados pelos partidos situacionistas, antes da Revolução de 30. São métodos completamente desmoralizados, que não iludem nem a Justiça, representada pelos juízes e tribunais, nem a opinião pública, que mais ainda se revolta contra semelhantes manobras politiqueiras.

O Governo de Minas Gerais, se não quiser ficar numa posição inferior ao governo de São Pauto, por exemplo, que antes, durante e depois das eleições permitiu plena liberdade ao Integralismo, deverá imediatamente providenciar para que os núcleos integralistas se reabram, para que os camisas-verdes gozem de liberdade.

Ou o Governo faz isso, ou toda a Nação ficará sabendo que ele teme uma derrota eleitoral.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 30 de Abril de 1936.

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