sexta-feira, 31 de maio de 2024

Penetrados pelas “razões da Pátria” (13/10/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Penetrados pelas “razões da Pátria” (13/10/1936)

PLÍNIO SALGADO

Venho, neste instante, da primeira reunião preparatória da Câmara dos Quarenta, corporação altamente representativa da "Acção Integralista Brasileira". E venho cheio de entusiasmo e de legítimo orgulho. Essa primeira sessão foi brilhante e expressiva. No andar térreo da Chefia Provincial de Guanabara, funcionava a Escola de Instrutores da Secretaria de Educação Moral e Física. Sou recebido pelo Chefe Provincial Barbosa Lima. Os "anauês" repercutem enquanto subo pelo elevador ao terceiro andar. Encontro no salão os Membros da Câmara. Explico-lhes os objetivos da reunião: o primeiro contato de uns com os outros, o contato da corporação com a Chefia Nacional, a nomeação de uma comissão para elaborar o regimento, a recepção de sugestões de qualquer caráter.

Decorrem os trabalhos no meio do maior entusiasmo. A comissão elaboradora do regimento fica constituída de Othom Barros, Marcos Souza Dantas e Custodio de Viveiros.

Duas propostas são apresentadas, ambas no setor das finanças: uma do companheiro Othom Barros, outra do companheiro Mejolaro. Segue-se uma sugestão do professor Cassiano Gomes, sobre os simpatizantes do Integralismo. Fala o professor Pamplona, expendendo interessantes considerações. Em seguida, Raul Leite usa da palavra, para dizer que, neste momento de extrema gravidade para a Pátria, urge que os simpatizantes se definam, pois não há tempo a perder, quando o Brasil está em perigo.

A propósito de perigo comunista, fala o general Vieira da Rosa, sobre a situação de Santa Catarina, fazendo importantes comunicações. O comandante Victor Pujol fala sobre questões internas da Câmara. A sessão prolonga-se. Todos estão com ânimo firme de trabalhar: Amaro Lanari, Alvaro de Carvalho, os generais Jeronymo Furtado, Abreu Salgado, Jorge Pinheiro, Archimedes Memoria, Maurilio de Mello, Rocha Miranda, Guilherme Fontainha, Thompson, Ordival Gomes, Queiroz Ribeiro, Henry Leonardos, Pedro Moura, Olbiano de Mello, Freitas Henriques, Nunes da Silva, Costa Pires. O companheiro Belisario Penna, que reside atualmente no interior fluminense, está enaltecendo a capacidade de inspirar entusiasmo que tem o Integralismo, que o faz viajar para vir tomar parte nas reuniões da Câmara.

Poucos deixaram de comparecer, e assim mesmo por força maior, como o almirante Frederico Villar, que se encontra enfermo, o almirante Trajano, que pede ao comandante Pujol justificá-lo, o professor Lucio dos Santos, que telegrafa de Belo Horizonte, Fonseca Hermes, que está em viagem na Europa, general Villela, que se encontra em Pernambuco, e os que se justificaram, como Sergio Silva, Carvalho Cardoso, Mansueto Bernardes, Manoel Ferreira.

Em quarenta, achando-se cinco ausentes do Rio, o comparecimento verificado representa uma admirável demonstração do mais vivo interesse pelas responsabilidades assumidas.

Mas o que encantou aos próprios Membros da Câmara, foi o entusiasmo de cada um e de todos em geral. Nunca o Integralismo viveu uma hora de tamanha vibração cívica, de tanta fé em seus próprios destinos, de tanta consciência de força e de significação histórica.

Essa Câmara dos Quarenta colocou sobre seus ombros uma grave responsabilidade. Eu a ouvirei nas horas difíceis, receberei os seus alvitres, pesarei os seus conselhos, aproveitar-me-ei de sua experiência.

O Integralismo realiza, dentro de seus quadros, a verdadeira democracia que, um dia, irá realizar no País. A democracia orgânica, a consulta dos elementos realmente representativos.

A Chefia Nacional deste Movimento sem precedentes em nossa vida social e política, criou alguns órgãos coletivos, com caráter técnico, penetrados do senso de responsabilidade que lhes incumbe: o Supremo Conselho Integralista, que o Chefe ouve semanalmente; a Câmara dos Quarenta, que o Chefe e o Supremo Conselho ouvem quinzenalmente; as Cortes do Sigma, que o Chefe ouve anualmente e é constituída pelo Supremo Conselho, pelo Secretariado Nacional, pela Câmara dos Quarenta, pelos Chefes Provinciais e pelos Quatrocentos integralistas representativos das Províncias Brasileiras. Há, além disso, um Conselho Jurídico Nacional, um Conselho de Cultura Artística, um Conselho de Educação Física. A preocupação da divisão do trabalho pela natureza técnica dos serviços é constante. A própria Câmara dos Quarenta é dividida em comissões: política, propaganda, cultural, financeira e administrativa.

O Integralismo não é apenas um Movimento de grande volume no país, congregando perto de um milhão de adeptos; é um Movimento organizado. Essa organização revela duas coisas essenciais: 1º - Vitalidade; 2º - Permanência.

Daí o erro dos que julgam ser tão fácil extinguir o Integralismo como se fechou a Aliança Nacional Libertadora. O Integralismo está estruturado de tal forma, tudo foi estudado e previsto com tal precisão técnica, os cálculos foram feitos com tanta precaução, que o problema "homem" para nós não existe. Poderão prender, exilar todos os que atualmente ocupam cargos em nosso Movimento, e a linha da sucessão está de tal forma traçada, que a coisa continuará normalmente. Se fecham nossos Núcleos, como aconteceu em algumas Províncias, e se arrecadam nossos fichários, é tudo inútil, pois o sistema que adoptamos resiste à arrecadação de mil fichários. Se proíbem o uso da camisa-verde, se proíbem os distintivos, se proíbem as reuniões, temos os sinais pelos quais nos conhecemos.

Este Movimento tornou-se uma fatalidade irremovível. Fatalidade para o bem. Que desejamos nós? A Unidade Nacional, o combate ao comunismo, a criação de uma consciência espiritualista objetivando justiça social e grandeza da Pátria.

A Unidade Nacional é hoje uma gravíssima preocupação de todos nós integralistas. Ainda nesta reunião da Câmara dos Quarenta, tivemos oportunidade de focalizar esse problema.

Voltei vivamente entusiasmado da reunião a que presidi. Sinto o Integralismo mais do que nunca vivo, palpitante de entusiasmo, convencido de suas responsabilidades perante a Nação, certo de seu destino.

Que homens eram aqueles cuja reunião eu estava presidindo? Não eram políticos levianos, indivíduos apaixonados por partidarismos, cidadãos inexperientes: eram professores de Escolas Superiores, homens de grande passado e alta posição militar, representantes das Classes Conservadoras, cientistas, escritores, técnicos, da maior projeção no país.

Acaso uma mera politicagem os congregou em torno da minha mesa? Absolutamente não. Eles estavam penetrados das "razões da Pátria".

O grande e imortal secretário florentino dizia que era necessário aos Príncipes se deixarem penetrar das "razões do Estado". E isso, que o sonhador da unidade italiana dizia num sentido pessoal, que mais tarde um rei de França adotaria, nós tomamos, no interesse supremo do Brasil, com a firmeza e a capacidade de sacrifício sem as quais não se constroem as Nações.

Agimos em função de um pensamento político cuja base objetiva é a Unidade Nacional. Senti bem, na reunião que acabo de presidir, que todos estão penetrados das "razões da Pátria".

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 13 de Outubro de 1936.

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