Esclarecimento:
A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do
Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da
História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o
acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito
Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando
indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
Penetrados
pelas “razões da Pátria” (13/10/1936)
PLÍNIO SALGADO
Venho,
neste instante, da primeira reunião preparatória da Câmara dos Quarenta,
corporação altamente representativa da "Acção Integralista Brasileira".
E venho cheio de entusiasmo e de legítimo orgulho. Essa primeira sessão foi
brilhante e expressiva. No andar térreo da Chefia Provincial de Guanabara,
funcionava a Escola de Instrutores da Secretaria de Educação Moral e Física.
Sou recebido pelo Chefe Provincial Barbosa Lima. Os "anauês"
repercutem enquanto subo pelo elevador ao terceiro andar. Encontro no salão os
Membros da Câmara. Explico-lhes os objetivos da reunião: o primeiro contato de
uns com os outros, o contato da corporação com a Chefia Nacional, a nomeação de
uma comissão para elaborar o regimento, a recepção de sugestões de qualquer
caráter.
Decorrem
os trabalhos no meio do maior entusiasmo. A comissão elaboradora do regimento
fica constituída de Othom Barros, Marcos Souza Dantas e Custodio de Viveiros.
Duas
propostas são apresentadas, ambas no setor das finanças: uma do companheiro
Othom Barros, outra do companheiro Mejolaro. Segue-se uma sugestão do professor
Cassiano Gomes, sobre os simpatizantes do Integralismo. Fala o professor
Pamplona, expendendo interessantes considerações. Em seguida, Raul Leite usa da
palavra, para dizer que, neste momento de extrema gravidade para a Pátria, urge
que os simpatizantes se definam, pois não há tempo a perder, quando o Brasil
está em perigo.
A
propósito de perigo comunista, fala o general Vieira da Rosa, sobre a situação
de Santa Catarina, fazendo importantes comunicações. O comandante Victor Pujol
fala sobre questões internas da Câmara. A sessão prolonga-se. Todos estão com ânimo
firme de trabalhar: Amaro Lanari, Alvaro de Carvalho, os generais Jeronymo
Furtado, Abreu Salgado, Jorge Pinheiro, Archimedes Memoria, Maurilio de Mello,
Rocha Miranda, Guilherme Fontainha, Thompson, Ordival Gomes, Queiroz Ribeiro,
Henry Leonardos, Pedro Moura, Olbiano de Mello, Freitas Henriques, Nunes da
Silva, Costa Pires. O companheiro Belisario Penna, que reside atualmente no
interior fluminense, está enaltecendo a capacidade de inspirar entusiasmo que
tem o Integralismo, que o faz viajar para vir tomar parte nas reuniões da Câmara.
Poucos
deixaram de comparecer, e assim mesmo por força maior, como o almirante
Frederico Villar, que se encontra enfermo, o almirante Trajano, que pede ao
comandante Pujol justificá-lo, o professor Lucio dos Santos, que telegrafa de
Belo Horizonte, Fonseca Hermes, que está em viagem na Europa, general Villela,
que se encontra em Pernambuco, e os que se justificaram, como Sergio Silva,
Carvalho Cardoso, Mansueto Bernardes, Manoel Ferreira.
Em
quarenta, achando-se cinco ausentes do Rio, o comparecimento verificado
representa uma admirável demonstração do mais vivo interesse pelas responsabilidades
assumidas.
Mas
o que encantou aos próprios Membros da Câmara, foi o entusiasmo de cada um e de
todos em geral. Nunca o Integralismo viveu uma hora de tamanha vibração cívica,
de tanta fé em seus próprios destinos, de tanta consciência de força e de
significação histórica.
Essa
Câmara dos Quarenta colocou sobre seus ombros uma grave responsabilidade. Eu a
ouvirei nas horas difíceis, receberei os seus alvitres, pesarei os seus
conselhos, aproveitar-me-ei de sua experiência.
O
Integralismo realiza, dentro de seus quadros, a verdadeira democracia que, um
dia, irá realizar no País. A democracia orgânica, a consulta dos elementos
realmente representativos.
A
Chefia Nacional deste Movimento sem precedentes em nossa vida social e política,
criou alguns órgãos coletivos, com caráter técnico, penetrados do senso de
responsabilidade que lhes incumbe: o Supremo Conselho Integralista, que o Chefe
ouve semanalmente; a Câmara dos Quarenta, que o Chefe e o Supremo Conselho
ouvem quinzenalmente; as Cortes do Sigma, que o Chefe ouve anualmente e é
constituída pelo Supremo Conselho, pelo Secretariado Nacional, pela Câmara dos
Quarenta, pelos Chefes Provinciais e pelos Quatrocentos integralistas
representativos das Províncias Brasileiras. Há, além disso, um Conselho Jurídico
Nacional, um Conselho de Cultura Artística, um Conselho de Educação Física. A
preocupação da divisão do trabalho pela natureza técnica dos serviços é
constante. A própria Câmara dos Quarenta é dividida em comissões: política, propaganda,
cultural, financeira e administrativa.
O
Integralismo não é apenas um Movimento de grande volume no país, congregando
perto de um milhão de adeptos; é um Movimento organizado. Essa organização
revela duas coisas essenciais: 1º - Vitalidade; 2º - Permanência.
Daí
o erro dos que julgam ser tão fácil extinguir o Integralismo como se fechou a
Aliança Nacional Libertadora. O Integralismo está estruturado de tal forma,
tudo foi estudado e previsto com tal precisão técnica, os cálculos foram feitos
com tanta precaução, que o problema "homem" para nós não existe.
Poderão prender, exilar todos os que atualmente ocupam cargos em nosso
Movimento, e a linha da sucessão está de tal forma traçada, que a coisa
continuará normalmente. Se fecham nossos Núcleos, como aconteceu em algumas
Províncias, e se arrecadam nossos fichários, é tudo inútil, pois o sistema que
adoptamos resiste à arrecadação de mil fichários. Se proíbem o uso da
camisa-verde, se proíbem os distintivos, se proíbem as reuniões, temos os sinais
pelos quais nos conhecemos.
Este
Movimento tornou-se uma fatalidade irremovível. Fatalidade para o bem. Que
desejamos nós? A Unidade Nacional, o combate ao comunismo, a criação de uma
consciência espiritualista objetivando justiça social e grandeza da Pátria.
A
Unidade Nacional é hoje uma gravíssima preocupação de todos nós integralistas.
Ainda nesta reunião da Câmara dos Quarenta, tivemos oportunidade de focalizar
esse problema.
Voltei
vivamente entusiasmado da reunião a que presidi. Sinto o Integralismo mais do
que nunca vivo, palpitante de entusiasmo, convencido de suas responsabilidades
perante a Nação, certo de seu destino.
Que
homens eram aqueles cuja reunião eu estava presidindo? Não eram políticos
levianos, indivíduos apaixonados por partidarismos, cidadãos inexperientes:
eram professores de Escolas Superiores, homens de grande passado e alta posição
militar, representantes das Classes Conservadoras, cientistas, escritores, técnicos,
da maior projeção no país.
Acaso
uma mera politicagem os congregou em torno da minha mesa? Absolutamente não. Eles
estavam penetrados das "razões da Pátria".
O
grande e imortal secretário florentino dizia que era necessário aos Príncipes
se deixarem penetrar das "razões do Estado". E isso, que o sonhador
da unidade italiana dizia num sentido pessoal, que mais tarde um rei de França
adotaria, nós tomamos, no interesse supremo do Brasil, com a firmeza e a
capacidade de sacrifício sem as quais não se constroem as Nações.
Agimos
em função de um pensamento político cuja base objetiva é a Unidade Nacional.
Senti bem, na reunião que acabo de presidir, que todos estão penetrados das
"razões da Pátria".
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 13
de Outubro de 1936.
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