domingo, 15 de outubro de 2023

O LOBO COM A PELE DA OVELHA (06/03/1937)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

O LOBO COM A PELE DA OVELHA (06/03/1937)

Plínio Salgado

O escritor espanhol Jacintho Benavente encabeça com seu nome um abaixo-assinado de intelectuais de seu país, apelando para os seus colegas do mundo inteiro, no sentido de lhes solicitar pleiteiem, perante todas as Nações, pelos direitos das populações civis barbaramente bombardeadas pela artilharia e pela aviação do general Franco.

Tratando-se de uma proclamação dirigida aos escritores de todos os países, quero responder ao sr. Jacintho Benavente e seus acólitos, não como Chefe do Integralismo, porém como escritor.

Pergunto-lhe, preliminarmente, se a doutrina comunista, de que é adepto o governo de Madrid, dá alguma importância aos sentimentos de humanidade, ao cavalheirismo, ao respeito que se deve ao adversário, à sua família e à sua religião.

Pergunto-lhe por que foram incendiadas igrejas espanholas? Por que foram massacrados os sacerdotes? Por que foram violentadas as mulheres? Por que foram saqueadas casas particulares? Por que foram mortos, a coronhadas, inocentes civis? Por que foram invadidos e depredados os conventos? Por que foram vilipendiadas as freiras? Por que foram pobres camponeses queimados vivos? Por que se untou de gasolina, ou de pez, tantos paisanos, aos quais se ateou fogo, para que padecessem uma morte horrível? Por que foram profanadas as sepulturas? Por que a guerra vermelha não respeitou nem a paz dos mortos?

Isso tudo se deu nas cidades ocupadas polos soviéticos. Isso tudo é do conhecimento do mundo civilizado. Isso tudo é a repetição do que se fez na Rússia, do que se fez na Hungria. É processo velho dos vermelhos, conhecido por todos os povos.

Como vem agora o sr. Jacintho Benavente pretender comover os escritores do mundo, pelo fato de serem bombardeadas as cidades que os comunistas transformaram em fortalezas?

O sr. Jacintho Benavente está muito condoído pela sorte das populações civis? É muito fácil: em vez de se dirigir aos seus colegas de outras Nações, julgando que eles são idiotas, procure o governo de Madrid, pedindo-lhe que faça as populações civis evacuarem as cidades transformadas pelos soviéticos em praças de guerra.

O sr. Benavente esquece-se de que hoje os serviços de reportagens dos grandes jornais e das grandes agências estão muito aperfeiçoados, e que o rádio transmite facilmente o resultado dessas reportagens. Estamos a par do que acontece na Espanha, e julgamos uma afronta o apelo do sr. Benavente.

Aliás, a atitude dos covardes bolchevistas sempre foi essa, em toda a parte, quando lutando com adversários corajosos e leais. Toda a sua técnica é a técnica da covardia. Seu método é a traição. Sua arma predileta é a cilada. Suas ofensivas são sempre resguardadas por dissimulações Indecorosas. Sua perversidade não conhece outro processo senão esse: o de se fazerem de vítimas, enquanto matam pelas costas.

O bolchevismo é a mais evidente, a mais eloquente e a mais palpável das provas de que Satanás existe e atormenta os homens. Pois, Satanás é o arcanjo tenebroso da mentira, do embuste, da perfídia, da felonia, da hipocrisia, da espreita, das ciladas, das surpresas, das escamoteações, das sinuosidades, dos despistamentos, da confusão, do perjúrio, da negação e da ruína. E o bolchevismo é tudo isso.

O bolchevismo ilude os operários, levando-os para a escravidão, para a opressão, para o chicote, sem precisar algemá-los fisicamente, mas algemando-os pela alma, onde apaga a única luz, a luz do espiritualismo, que garante, sustenta e defende a liberdade do homem.

O bolchevismo engana os governos fracos, desmoralizados, fingindo-se inimigo de si mesmo, bancando o defensor das liberdades democráticas, o sustentador das instituições. A mesma coisa que ele faz com o operário, levando-o, de mansinho, para o abismo, também faz com os governos tolerantes, os governos desprevenidos, os governos em disponibilidade espiritual. Destacando alguns bolchevistas para manterem o fogo sagrado, declarando-se abertamente comunistas, Satanás reserva os seus melhores adeptos para os postos onde eles desempenham o papel de inimigos do extremismo. Esses afirmam sempre que não são comunistas. O formalismo liberal-democrático, não encontrando provas escritas em contrário, solta-os. E eles agem, segundo os métodos de Satanás, mentindo, mentindo, mentindo...

O bolchevismo engana a burguesia. Destaca numerosos adeptos, que se vestem bem, frequentam os lugares elegantes, ocupam postos de relevo na sociedade, dizem-se até inimigos do Soviete. A esses incumbe desmoralizar a família, fazer a apologia da vida pagã. Eles andam pelos cassinos, pelas praias pelos apartamentos elegantes, pelos "halls" dos hotéis suntuosos, pelas redações dos jornais, pelas rodas literárias, pelos chás, pelos bailes, pelos recitais, nas corridas, nos clubes, nos restaurantes, até nas igrejas! E destroem de mansinho. Enfraquecem as forças da resistência nacional. Desfibram os caráteres. Dissolvem os sentimentos da Pátria. Pregam, pelo exemplo de uma vida de êxitos fáceis, a filosofia do oportunismo, do aventureirismo, do arrivismo.

O bolchevismo engana os Exércitos. Entrega a alguns militares a tarefa de combater toda e qualquer infiltração de ideias políticas nas Forças Armadas. Sendo os militares, de acordo com as leis do país, eleitores, não se sabe porque cargas d’água esses agentes de Moscou meteram na cabeça de certas patentes que os oficiais e suboficiais, eleitores pela lei e pela lei obrigados a votar, não podem pertencer a partidos políticos registrados à luz do dia, que agem com objetivos claramente definidos e conhecidos. É a manobra de Satanás, para impedir que os leais, os francos, os sinceros, os de cabeça erguida, os de peito aberto, os que fazem confissão pública de nacionalismo, impermeabilizem as tropas contra a infiltração secreta, a infiltração subterrânea da propaganda vermelha. É o mesmo método. É o mesmo processo. A mentira, a mentira a mentira.

O bolchevismo engana as religiões. Habilmente se insinua nos diferentes credos religiosos, para criar incompatibilidades contra toda e qualquer corrente nacionalista que pretenda unir todos brasileiros para a obra de salvação da Pátria. Invariável nos seus métodos, em todos os sectores de atividade, o bolchevismo é o próprio Satanás, arcanjo da insídia, da intriga, das trevas criminosas que se manifesta neste século, impudente, cínico, descarado.

A patifaria bolchevista dissemina-se, desenvolve-se, prolifera e multiplica-se, principalmente nos setores onde menos se suspeita da atuação soviética. Veja-se o caso do protesto de um grupo de católicos em Paris (falsos católicos, infiltrados nas hostes militantes da Igreja) contra o bombardeamento das cidades espanholas pelas tropas heroicas do general Franco...

Mas, para responder à mensagem de Jacintho Benavente, tenho um fato que se passou comigo mesmo. O conflito de Bauru.

Os comunistas de Bauru, em número superior a oitocentos, cercaram o hotel onde eu me achava, todos armados e em atitude agressiva, explodindo em vaias. Os integralistas, que vieram cumprimentar-me, não chegavam a oitenta. Eu os passei em revista, tendo esse pequeno grupo à minha esquerda e tendo à direita a massa dos bolchevistas, que me vaiavam sem cessar. Pusemo-nos, em seguida, em marcha.

Mal tínhamos caminhado uns duzentos metros, começámos a ser alvejados por um forte tiroteio, que logo derrubou alguns companheiros nossos, feridos. Dispusemo-nos à reação. Nesse momento, um quadro horroroso se nos deparava. Os comunistas puseram na sua frente, como trincheira, mais de duzentas crianças. Por detrás delas é que atiravam. Estávamos impossibilitados de responder ao fogo.

Foi nesse momento que caiu morto nosso companheiro Nicola Rosica. E nós nada podíamos fazer, ainda que estivéssemos muito preparados para uma luta, porque mataríamos as crianças!

Lembrei-me desse fato, lendo a mensagem de Jacintho Benavente, escritor espanhol que a todos os escritores do mundo julga tão idiotas a ponto de acreditar na sua choramingas.

O melhor que Jacintho Benavente deveria fazer neste momento seria dirigir-se aos Azanhas, Companys, aos Cabaleros, lacaios do judeu que Moscou enviou para matar espanhóis, dizendo-lhes que não se entrincheirem atrás de mulheres, velhos e crianças, numa guerra em que, do outro lado, batem-se homens bravos e leais.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 06 de Março de 1937.

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