Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi
possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder
Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior
Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente,
é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o
trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/
SABER PERDER (07/05/1936)
PLÍNIO SALGADO
No
meio de todo o esfacelamento de um sistema político, da podridão dos costumes eleitorais
e dos processos de campanha partidária, nos Estados Unidos da América sempre
restou, como uma flor a desabrochar num pântano, aquela elegância dos
contendores, que sempre foi um padrão de legítimo orgulho dos políticos nos
Estados Unidos e um exemplo para todos os povos.
Travada
a luta eleitoral, ferida a batalha decisiva das urnas, realizadas as apurações,
o vencido, imediatamente, apressava-se a saudar o vencedor, indo, muitas vezes,
apertar a mão do adversário, dando como fato consumado a derrota de um e a vitória
do outro.
Chegou
mesmo a ser costume ir, algum tempo depois, a esposa do presidente eleito, quando
o adversário derrotado era o presidente em exercício, visitar a Casa Branca, a fim
de determinar os novos arranjos do palácio, de conformidade com os gostos dos
novos hóspedes: e, recebida pela senhora do vencido, esse encontro exprimia
ainda um dos requintes de delicadeza que sobrou no meio de toda a brutalidade e
agressividade das campanhas chamadas democráticas.
*
* *
Isso,
que desperta a admiração e o respeito, essa atitude de cavalheirismo e de elegância
moral, costumam os jogadores chamar, na sua pitoresca gíria: "saber
perder".
Sim;
porque até no vício mais apaixonado e perigoso, na desenfreada jogatina, também
existe uma ética, uma regra moral, através da qual se conhecem aqueles que, em
pequenos receberam alguns rudimentos de educação.
Há
mesmo um dito da velha sabedoria popular, que nos ensina poderem os homens ser
conhecidos em dois lugares, na mesa e no jogo. O comportamento diante dos
pratos e o comportamento diante das fichas do pano verde revelam os indivíduos
capazes e incapazes de se controlar, de dominar os nervos, de refrear os ressentimentos.
*
* *
Podemos
acrescentar que também na política se conhecem os homens educados, os que não
se afastam da elegância moral, das condutas irrepreensíveis dos que sabem
perder.
Estas
considerações vão a propósito das recentes, eleições em Santa Catarina. Como se
sabe, ali, o Integralismo venceu, estrondosamente, tanto o Governo como o
Partido da Oposição. Venceu não por diferenças de dezenas, porém, de centenas
de votos, apoderando-se da quase unanimidade dos postos de vereadores, nas
principais cidades catarinenses, e assenhoreando-se de cerca de uma dezena de
prefeituras municipais, em lugares da maior importância econômico-financeira,
industrial, social e política daquele Estado?
Que
fizeram os partidos?
Portaram-se
como os jogadores que, tendo perdido, deblateram, maltratam os parceiros,
lamentam a sorte, acusam de roubalheira a infelicidade nas cartas, oferecem a
todos os circunstantes a impressão desagradável dos rancores inspetados e da
sovinice mais revoltante?
Tendo
perdido as eleições, os partidos liberais começaram a afirmar que não existia
Integralismo em Santa Catharina, e sim hitlerismo, pois os nomes dos candidatos
eram quais todos de alemães.
Quem
examinava a lista dos candidatos dos partidos reclamantes logo reparava que nela,
na lista deles, é que figurava muito maior número de sobrenomes teutos, circunstância,
aliás, perfeitamente razoável, pois a maior parte dos habitantes de Santa Catarina
é filha neta, bisneta ou tataraneta de alemães, guardando os sobrenomes de seus
pães, avós, bisavós ou tataravós.
Em
seguida, quando nós; integralistas, para nos defender de tão sórdidas acusações,
publicamos os boletins eleitorais, tanto do Governo como da Oposição catarinenses,
que, eles distribuíram em alemão, nossos adversários derrotados mudaram de tática.
Foram ao Tribunal Regional reclamar contra simples formalidades, meramente de
pormenores exteriores, sem nenhum valor de formalidade essencial.
*
* *
Dessa
maneira, tenta-se, agora, em Santa Catarina, anular a eleição dos
integralistas, sob o pretexto de que, na procuração enviada pelo Chefe Nacional
ao Chefe Provincial, não constava o poder para nomear delegados de partido, e
apenas se verifica naquele instrumento o poder para registrar candidatos.
Como
futilidade, é maravilhoso! Como sofisma, é grosseiro, porquanto na procuração a
que se referem, há plenos poderes para a prática de todo e qualquer ato
relativo aos interesses partidários da Acção Integralista Brasileira. E, finalmente,
como atitude, podemos classificar simplesmente como vergonhosa!
Que
vergonha, realmente! Perde-se uma eleição, e, em vez de se manter uma linha de conduta
compatível com o decoro de derrotado, não! Vai-se ao Tribunal, e para que? Para
chicanear sobre um pormenor da procuração do adversário!
Mesmo
que houvesse (o que só admitimos para argumentar) qualquer falta de
formalidade, e ainda que essa falta se referisse à formalidade essencial,
francamente, quem foi derrotado por tão formidável diferença, deveria, mesmo
para não chamar a atenção do país, conservar-se calado.
O
silêncio, nestes casos, prestigia. O silêncio, nestas circunstancias,
dignifica, eleva. Toda e qualquer palavra, só serve para anunciar, bem alto, a
derrota.
A atitude
de nossos adversários em Santa Catarina equivale a mais um fracasso.
No
pleito municipal de março, o fracasso deles foi um fracasso eleitoral. Nas
objeções levantadas perante o Tribunal Eleitoral, esta semana, o fracasso foi
essencialmente moral.
Depois
de abatidos nas urnas, pelos Integralistas, os partidos políticos ainda
poderiam não se deixar abater na sua honra de cavalheiros, na sua linha de conduta,
no seu decoro. Mas eles não se conformaram com o esmagamento de março e quiseram
eles próprios, se esmagar, como estão fazendo, na ridícula reclamação com que
recorrem de um pleito em que o povo os repeliu de maneira tão eloquente e
decisiva,
A vitória
que, dentro de alguns dias, o Integralismo alcançará perante a Magistratura, constituirá
a terceira derrota para esses eternos chicaneiros, tão ridículos, tão
pequeninos, tão incapazes de saber perder com honra, com dignidade, com.
elevação moral.
Publicado
originalmente n’A OFFENSIVA, em 07
de Maio de 1936.
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