quinta-feira, 15 de agosto de 2024

SABER PERDER (07/05/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

SABER PERDER (07/05/1936)

PLÍNIO SALGADO

No meio de todo o esfacelamento de um sistema político, da podridão dos costumes eleitorais e dos processos de campanha partidária, nos Estados Unidos da América sempre restou, como uma flor a desabrochar num pântano, aquela elegância dos contendores, que sempre foi um padrão de legítimo orgulho dos políticos nos Estados Unidos e um exemplo para todos os povos.

Travada a luta eleitoral, ferida a batalha decisiva das urnas, realizadas as apurações, o vencido, imediatamente, apressava-se a saudar o vencedor, indo, muitas vezes, apertar a mão do adversário, dando como fato consumado a derrota de um e a vitória do outro.

Chegou mesmo a ser costume ir, algum tempo depois, a esposa do presidente eleito, quando o adversário derrotado era o presidente em exercício, visitar a Casa Branca, a fim de determinar os novos arranjos do palácio, de conformidade com os gostos dos novos hóspedes: e, recebida pela senhora do vencido, esse encontro exprimia ainda um dos requintes de delicadeza que sobrou no meio de toda a brutalidade e agressividade das campanhas chamadas democráticas.

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Isso, que desperta a admiração e o respeito, essa atitude de cavalheirismo e de elegância moral, costumam os jogadores chamar, na sua pitoresca gíria: "saber perder".

Sim; porque até no vício mais apaixonado e perigoso, na desenfreada jogatina, também existe uma ética, uma regra moral, através da qual se conhecem aqueles que, em pequenos receberam alguns rudimentos de educação.

Há mesmo um dito da velha sabedoria popular, que nos ensina poderem os homens ser conhecidos em dois lugares, na mesa e no jogo. O comportamento diante dos pratos e o comportamento diante das fichas do pano verde revelam os indivíduos capazes e incapazes de se controlar, de dominar os nervos, de refrear os ressentimentos.

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Podemos acrescentar que também na política se conhecem os homens educados, os que não se afastam da elegância moral, das condutas irrepreensíveis dos que sabem perder.

Estas considerações vão a propósito das recentes, eleições em Santa Catarina. Como se sabe, ali, o Integralismo venceu, estrondosamente, tanto o Governo como o Partido da Oposição. Venceu não por diferenças de dezenas, porém, de centenas de votos, apoderando-se da quase unanimidade dos postos de vereadores, nas principais cidades catarinenses, e assenhoreando-se de cerca de uma dezena de prefeituras municipais, em lugares da maior importância econômico-financeira, industrial, social e política daquele Estado?

Que fizeram os partidos?

Portaram-se como os jogadores que, tendo perdido, deblateram, maltratam os parceiros, lamentam a sorte, acusam de roubalheira a infelicidade nas cartas, oferecem a todos os circunstantes a impressão desagradável dos rancores inspetados e da sovinice mais revoltante?

Tendo perdido as eleições, os partidos liberais começaram a afirmar que não existia Integralismo em Santa Catharina, e sim hitlerismo, pois os nomes dos candidatos eram quais todos de alemães.

Quem examinava a lista dos candidatos dos partidos reclamantes logo reparava que nela, na lista deles, é que figurava muito maior número de sobrenomes teutos, circunstância, aliás, perfeitamente razoável, pois a maior parte dos habitantes de Santa Catarina é filha neta, bisneta ou tataraneta de alemães, guardando os sobrenomes de seus pães, avós, bisavós ou tataravós.

Em seguida, quando nós; integralistas, para nos defender de tão sórdidas acusações, publicamos os boletins eleitorais, tanto do Governo como da Oposição catarinenses, que, eles distribuíram em alemão, nossos adversários derrotados mudaram de tática. Foram ao Tribunal Regional reclamar contra simples formalidades, meramente de pormenores exteriores, sem nenhum valor de formalidade essencial.

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Dessa maneira, tenta-se, agora, em Santa Catarina, anular a eleição dos integralistas, sob o pretexto de que, na procuração enviada pelo Chefe Nacional ao Chefe Provincial, não constava o poder para nomear delegados de partido, e apenas se verifica naquele instrumento o poder para registrar candidatos.

Como futilidade, é maravilhoso! Como sofisma, é grosseiro, porquanto na procuração a que se referem, há plenos poderes para a prática de todo e qualquer ato relativo aos interesses partidários da Acção Integralista Brasileira. E, finalmente, como atitude, podemos classificar simplesmente como vergonhosa!

Que vergonha, realmente! Perde-se uma eleição, e, em vez de se manter uma linha de conduta compatível com o decoro de derrotado, não! Vai-se ao Tribunal, e para que? Para chicanear sobre um pormenor da procuração do adversário!

Mesmo que houvesse (o que só admitimos para argumentar) qualquer falta de formalidade, e ainda que essa falta se referisse à formalidade essencial, francamente, quem foi derrotado por tão formidável diferença, deveria, mesmo para não chamar a atenção do país, conservar-se calado.

O silêncio, nestes casos, prestigia. O silêncio, nestas circunstancias, dignifica, eleva. Toda e qualquer palavra, só serve para anunciar, bem alto, a derrota.

A atitude de nossos adversários em Santa Catarina equivale a mais um fracasso.

No pleito municipal de março, o fracasso deles foi um fracasso eleitoral. Nas objeções levantadas perante o Tribunal Eleitoral, esta semana, o fracasso foi essencialmente moral.

Depois de abatidos nas urnas, pelos Integralistas, os partidos políticos ainda poderiam não se deixar abater na sua honra de cavalheiros, na sua linha de conduta, no seu decoro. Mas eles não se conformaram com o esmagamento de março e quiseram eles próprios, se esmagar, como estão fazendo, na ridícula reclamação com que recorrem de um pleito em que o povo os repeliu de maneira tão eloquente e decisiva,

A vitória que, dentro de alguns dias, o Integralismo alcançará perante a Magistratura, constituirá a terceira derrota para esses eternos chicaneiros, tão ridículos, tão pequeninos, tão incapazes de saber perder com honra, com dignidade, com. elevação moral.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 07 de Maio de 1936.

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