terça-feira, 24 de outubro de 2023

A PRIMEIRA ESTROFE DE UM POEMA (12/02/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

A PRIMEIRA ESTROFE DE UM POEMA (12/02/1936)

PLINIO SALGADO

Fui a São João d’El-Rey para realizar um Congresso Universitário.

Minas Gerais veio ao meu encontro e realizou uma apoteose política.

Fui a tradicional cidade de Bárbara Heliodora, para aplacar um pouco a chama viva que arde no meu espírito e iluminar-me da luz suave e tranquila da meditação e do estudo com os moços do Brasil.

Porém, Minas Gerais rebentou num vulcão de patriotismo e incendiou-me ainda mais, e eu me deixei queimar nas labaredas de um entusiasmo arrebatador.

Fui procurar nas montanhas a monotonia propicia à meditação. Mas a alma mineira estava inquieta e se levantou como um ciclone; e eu me transfigurei na febre da grande poesia da Pátria e meu coração bateu apressado como o coração de Minas Gerais.

*

* *

Eu pretendia fazer o meu maior discurso, o mais sentido, o mais doloroso, o mais comovido, entregando aos universitários do Brasil a herança de todo o meu sacrifício, a construção de três anos, as bases de um Pensamento Novo, de um conceito novo de Estado, de uma concepção nova de política, de um sentimento profundo de unidade nacional, de um método de pesquisa, ao mesmo tempo de análise e supervisão, o sentido superior de um plano vasto de realizações continentais; entretanto, Minas - a magica - interceptou a minha oração, cortou a minha voz, e, em vez de fazer um discurso, assumi uma atitude.

Não selei com minha palavra o encerramento de um Congresso; abri, com uma resolução, o caminho de uma gloriosa marcha.

Fui para fazer um testamento, mas pratiquei um ato de posse. Em vez de outorgar uma herança, Minas Gerais transmitiu-me um novo espólio: o espólio das suas tradições, o patrimônio da sua alma generosa, imensos latifúndios morais.

Desejei descompromissar-me com o Futuro, e assumi dobradas responsabilidades para com ele.

Levei uma atitude de renúncia, voltei com uma atitude de conquista.

Minha alma sentia já o tédio infinito da direção em que a massa despótica pretende plasmar ao seu arbítrio tirânico a fisionomia do dirigente; ela regressou com a força da criação, a energia dominadora, a disposição do comando e da imposição da minha vontade.

*

* *

Minas Gerais, desde o pequeno povoado de Mathias Barbosa, onde uma cavalaria de crianças rompeu a marcha da multidão; e, através de Juiz de Fora, magnífica na sua mística da Nacionalidade; a humilde Paula Lima, com seus camisas-verdes camponeses; a entusiástica Santos Dumont, com sua empolgante sessão no teatro; a antiga Barbacena, insistente por me ouvir; e, finalmente, São João d’El-Rey, a imprevista e imponente, com sua gigantesca manifestação; e, ainda, os ecos vibrantes que me vieram da Zona da Mata, do Sul de Minas, do Triangulo, do Centro, - Minas Gerais falou tão alto aos meus ouvidos, exprimiu-se de modo tão eloquente, tão decisivo, que eu senti no recesso do meu espírito as vozes imperativas das minhas próprias forças no seu máximo esplendor.

O Congresso Universitário, que teria de ser uma finalidade em si mesmo, tornou-se uma etapa, um meio de ação, um estímulo de luta e uma certeza de vitória.

Pensei que ele fosse um fim de capítulo, mas ele foi o começo de um poema.

*

* *

Acreditei ir ver ali a linha divisória do Futuro. Julguei que, era a culminância de uma escalada, eu veria o divisor das aguas; porém, ao contrario, percebi que o meu Futuro ainda está nas minhas mãos, porque esse foi o milagre e a revelação maravilhosa de Minas Gerais.

Não escalei, à maneira de Moisés, o Monte Nebo, para contemplar a Terra Prometida, e fechar os olhos sem lhe sentir de perto, a cor, o perfume, o esplendor: mas, ao inverso, galguei os desfiladeiros de uma época, para atingir o outro lado, a realização, integrando o Pensamento na Realidade.

Supus que este 1936 fosse a crista de uma cordilheira; ao contrario, é, para mim, um desenrolar de planalto ao sol da vida.

E, pensando na possibilidade do Zenith do grande astro, observei a sua ascensão.

*

* *

Notei que estou nas horas primeiras, nas horas iniciais, no alvor de um dia cuja extensão excede aos dias comuns.

Tive a certeza das jornadas felizes e embalou-me o encanto das lutas tonificadoras.

Chamei o Futuro, para que eu pudesse ver minha Esperança. O Futuro era a mocidade universitária da Pátria. Esse Futuro, porém, fez de mim sua própria Esperança, e eu tive de acreditar nela, porque todos acreditavam.

Fui para obter promessas e tive de fazer promessas.

.Fui para receber juramentos tive de fazer um juramento.

Reuni os universitários da Pátria para com eles fazer um espelho e procurar nele a minha própria imagem nos dias vindouros e nos séculos remotos. Eles, porém, olharam para mim e fizeram de mim o seu espelho.

Fundimo-nos, então, num único sonho e compreendi a fatalidade das energias perenes, das forças constantemente renovadas, a plenitude, o esplendor solar.

É que Minas Gerais estava de pé e na manifestação de seu entusiasmo, realizava a magia suprema de Josué: o sol parava, para a juventude da Pátria, e misteriosas harmonias cantavam no coração de todos os inquietos.

*

* *

Nunca me esquecerei desse episódio histórico, desse épico- memorável, que foi o da noite de 10 de fevereiro, na cidade natal de Tiradentes. A alma de Minas Gerais, erguendo-se nas multidões, com o antigo e sempre novo sentido de libertação que fulgiu na Inconfidência, cantou em nossos espíritos. O Passado e o Presente se fundiram na visão do Futuro.

Todo o sentido cultural do Congresso transmudou-se no sentido político. As disposições para a meditação foram sacudidas pela realidade mais forte da brutalidade e do desrespeito.

Fomos com a alma de eremitas para o árido deserto dos estudos ásperos; recuperámos a alma dos guerreiros nas cristas das montanhas que, no desenrolar dos panoramas, das cordilheiras, reclamam liberdade.

Subimos como os que procuram um Tibet contemplativo: voltamos como quem achou os Alpes que despertaram as almas de Cezar, de Aníbal e de Bonaparte.

Pensando que iríamos ter uma cena final de ceia evangélica, tivemos as cenas primeiras de um acampamento em vésperas de batalhas.

Levando a meditação, encontramos a luta.

Subindo como Sócrates, voltamos com a paixão de Demóstenes e o ímpeto de Felipe da Macedônia. Subindo como Lavoisier, descemos como Danton. Procurando o Cenáculo, encontramos a sala do “jogo de pela”.

Pretendendo encerrar, abrimos.

Eu e os universitários nos integrámos, nos fundimos, nos identificámos, num só juramento.

*

* *

 

As montanhas de Minas Gerais têm isso de misterioso. Do jurista Claudio Manoel da Costa faz um agitador. Do poeta Dirceu faz um revolucionário. Da alma ingênua de Marilia, faz um poema de firmeza. Das virtudes domesticas de Barbara Heliodora, faz as virtudes cívicas que se expandem exaltadas. Do alferes Xavier faz um mártir.

Minas Gerais operou o milagre supremo do Integralismo. O povo, levantando-se, transfigurou-nos. O povo castigado por nos amar, espicaçou-nos de estímulo. Suas aclamações confirmaram nosso batismo de brasilidade e nosso ímpeto renovador. Deixou de haver ali um condutor e uma massa de moços estudantes, para haver a comunhão única de todas as forças e a gloria de uma nova energia.

O Integralismo tem agora, mais do que nunca, uma decisão irrevogável de comando. Não! Não era possível escrever-se um fim de capítulo; urgia a primeira - notem bem - a primeira estrofe de um poema, que agora começa na plenitude de sua estranha beleza e de seu misterioso esplendor.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 12 de FEVEREIRO de. 1936.

domingo, 22 de outubro de 2023

“Esquerdas” e “Direitas” (1936)

 

“Esquerdas” e “Direitas” (1936)

Plínio Salgado

Já temos repetido muitas vezes, nunca julgamos pouco repetir: para a nossa visão totalitária da sociedade, do mundo e das nações não existe nem “esquerda” e nem “direita”, por conseguinte não consideramos também um “centro”, nem “meias direitas” ou “meias esquerdas”.

A política para nós, não é o jogo de futebol a que ficou reduzida a atividade social das nacionalidades, do transcurso do século XIX. A substituição das corporações medievais pelos partidos criou as equipes esportivas para os “matches” eleitorais e parlamentares. A organização sindical, a luta de classe, firmaram as regras fixando as posições dos “players”. As massas populares transformaram-se em multidões de aficionados entregues à super excitação das “torcidas” frenéticas. Os parlamentos eram os grandes “stadiuns” onde os jogadores se colocavam: a III internacional na extrema esquerda, a II internacional na meia-esquerda, os liberais democratas no centro, os conservadores na meia-direita, os reacionários na extrema direita.

Σ

Esse jogo correspondia a uma mentalidade, a uma civilização, a um século. Hoje não pode significar cousa alguma para nós. Falamos uma linguagem diferente, porque somos homens diferentes. Os que ficaram convivendo com Gladstone ou Gambeta, os que adormeceram ouvindo os discursos e manifestos que encheram o século passado, esses não poderão compreender-nos, porque, para eles a vida nacional está enquadrada nos lineamentos dos partidos, o jogo parlamentar é um esporte onde as composições e recomposições ministeriais quebram a monotonia bocejante dos “half-times” exaustivos, e, nos regimes presidenciais, e intermitência dos grandes plebiscitos marca os “rounds” eliminatórios das oligarquias que se revezam na arena batida do sufrágio universal.

Toda a finalidade dos povos, para os aficionados da política do século XIX, reduz-se a esse jogo, a essa permanente competição que para nós, homens do século XX, já se tornou de uma puerilidade enfadonha.

Σ

Puerilidade e anacronismo. Os filósofos, pensadores e políticos que vieram da tomada da Bastilha à ocupação de Ruhr, não foram capazes de abranger panoramas totais. Cada qual viu um aspecto do problema humano. Cada qual cingiu se a um método restrito. Cada qual subordinou a questão geral a um princípio de ordem particular.

Esse século que produziu, separadamente, o fonógrafo, a luz elétrica, a fotografia animada, a telegrafia, não poderá compreender o século que sintoniza e sincroniza, realizando num só milagre de som e de luz, de transmissão e de cor, as prodigiosas sínteses universais.

Esse século XIX que conheceu os teares incipientes, os aeróstatos, os barcos de rodas de Fulton, as locomotivas rudimentares, e dessas conquistas deduziu toda a teoria política que veio até à lâmpada de Edison, ao aeroplano de Santos Dumont e aos aparelhos de televisão já não pode ditar leis a esta nova época da humanidade, em que a máquina atingiu perfeições assombrosas.

Nos últimos cem anos, o problema era o aproveitamento da máquina, o lançamento da máquina, a máxima eficiência da máquina, agora, que temos chegado a esses objetivos, preocupa-nos a reconquista do poder do homem sobre a máquina, o império moral da criatura humana, a sua expressão nacional e a sua tradução governamental.

Σ

Quando vemos os socialistas como observa Durkheim pretendem reduzir tudo à “questão operária”; quando vemos os marxistas da extrema-esquerda, presos ainda ao manifesto de 1849, e animados pelas lições de Sorel pretenderem tudo olhar sob o prisma da luta de classe; quando vemos os pragmáticos reduzirem tudo a uma questão de técnica administrativa; quando vemos os positivistas só falarem no problema da ordem, sem cogitar dos fundamentos espirituais de disciplina social; quando apreciamos os economistas subordinarem tudo à economia, os idealistas abstraírem das realidades econômicas, os místicos encararem apenas a face religiosa da sociedade, enquanto os simplistas do materialismo excluem a expressão espiritual dos indivíduos e dos povos; quando vemos todas essas orientações parciais, fragmentárias, unilaterais, é que nos apercebemos da existência de uma nova mentalidade, que é nossa, integralista, totalizadora das forças materiais e das forças espirituais, assim como da dinâmica social em que atuam completando-se, a dialética dos fatos e o arbítrio da ideia criadora.

Somos uma mentalidade nova. Somos uma palavra nova. S um combate novo. Que traz um novo sentido que só entendem os cérebros libertados dos preconceitos do século XIX.

Σ

Não nos colocamos no ponto de vista nem da burguesia, nem do proletariado. Não estamos nem com os nacionalistas cegos, sentimentais e ditirâmbicos, nem com os internacionalistas utópicos que pretendem unir os indivíduos por cima das Pátrias, proclamando a união dos trabalhadores de todo o mundo, como fizeram os profetas falidos da II e da III internacional. Não rompemos ofensiva contra a burguesia, mas contra o espírito do século do qual ela é um produto concreto; não contrariamos as justas aspirações do proletariado, mas queremos arrancar o proletariado da concepção unilateral da vida em que o lançaram, para explorá-lo, sem resolver a sua situação, que é apenas uma consequência da própria mentalidade do século XIX.

Negamos a lição de Marx, quando diz que a revolução do operário deve ser feita por ele próprio. Para Marx havia a revolução do operário, como havia reação da burguesia. Para nós, que viemos depois de Einstein, que viemos depois de declarada a falência evolucionista em que se estribou a política da burguesia, que viemos depois da hecatombe de 1914, depois do fracasso do plano quinquenal e com o final depois da queda da libra e da crise do dólar, para nós só existe uma revolução: a revolução do século XX contra os preconceitos do século XIX.

Σ

Essa revolução abrange todo o complexo panorama universal. Cria um novo sentido de nacionalismo e de internacionalismo. Engendra uma nova economia em um novo conceito de Estado. Contêm todas as energias das lutas sociais.

Essa revolução não pode mesmo ser compreendida pelos anacrônicos socialistas pelos mofados marxistas pelos antediluvianos da extrema direita. É um estado de espírito de civilização que nasce.

Eis porque acometemos toda a estrutura das velhas sociedades. Eis porque rompemos as nossas baterias, não contra os partidos, não contra a burguesia ou o demagogismo esquerdista, não contra os grupos regionais ou econômicos, mas contra tudo o que os produziu. A nossa avançada é contra uma civilização. Em nome de uma palavra nova dos tempos novos.

____

SALGADO, Plínio. Palavra Nova dos Tempos Novos. 3ª edição. São Paulo: Panorama, 1937; transcrito das páginas 81, 82, 83, 84, 85, 86 e 87.

sábado, 21 de outubro de 2023

Encontro com o futuro (06/02/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Encontro com o futuro (06/02/1936)

PLINIO SALGADO

No discurso de encerramento do Conclave Nacional Integralista exclamei aos camisas-verdes: "Prestai atenção para esta data - 1936!"

Este ano é, realmente, o ano da grande messe, ano de colheitas maravilhosas. Período solar do movimento do Sigma.

1932 foi o desbravamento;

1933 foi a semeadura;

1934 o esplendor floral na glória do sacrifício e do sangue derramado pelo bem do Brasil;

1935 a fase magnífica do fruto: a nossa ideia concretizada em milhares de núcleos em todo o país.

Este 1936 está sendo o período inicial da colheita.

*

* *

São apreciáveis estes meses de janeiro e fevereiro.

Realizamos, com um entusiasmo vibrante, o Conclave Nacional Integralista. Lançámos o manifesto-programa, objetivando, depois de três anos de evangelização, os delineamentos precisos do Estado Integral. Reunimos a primeira Convenção Sindical, trazendo ao Rio o operário de todo o Brasil, e essa Convenção atingiu tal êxito que sou levado a convocar uma outra para maio. Transformamos o nosso semanário A OFFENSIVA em diário matutino. Publicamos, em São Paulo, uma revista de cultura, "Panorama", índice do pensamento nacional. Convocamos o Primeiro Congresso Nacional Feminino que se realizará em São Paulo, em abril. E, finalmente, apresentamos aos olhos maravilhados da Pátria, o espetáculo imponente do Primeiro Congresso Universitário Nacional, em São João d'El-Rey.

*

* *

Esse Congresso de Estudantes Brasileiros eu o considero o mais significativo, o mais grave, o mais, decisivo para o país, de todos os que, de tempos para cá, possam ter impressionado o povo brasileiro.

É a primeira vez que se reúnem universitários de todas as províncias, para tratar de assuntos de doutrina social e política; para apresentar teses sobre temas técnicos; para se conhecerem mutuamente e solidificarem as bases de uma Unidade Nacional que se estrutura na unidade de pensamento e na unidade de sentimento,

Nunca os estudantes do Brasil se reuniram assim. Escolhi Minas Gerais para ser o local do encontro da Nacionalidade consigo própria. Determinei que esse espetáculo glorioso de mocidade, de força e de beleza, de atitude moral e intelectual, tivesse por sublime moldura a cidade velha, tradicional, cheia de poesia do passado: São João d'El-Rey.

*

* *

No dia 9 encontrarei, naquela cidade mineira, os representantes dos Universitários Integralistas de toda a nossa Pátria. Serão algumas centenas.

Em nome de que comparecem?

Em nome do Futuro.

Que pretendem?

Assumir a responsabilidade dos dias vindouros e dos destinos do Brasil.

Por que viajam de tão longe, de tão remotas cidades para se encontrarem em São João d'El-Rey?

Foi porque ouviram, do fundo da sua inquietação, os clamores de uma nacionalidade que os esperava havia muito tempo.

E eu, que irei ao encontro deles, em nome do que compareço?

-Em nome dos sofrimentos de uma geração sacrificada, das dores dos humildes, do desespero dos oprimidos, das revoltas de uma Pátria que quer ser livre e forte, do longo martírio de uma luta tenaz e sem tréguas.

Que pretendo?

Entregar a eles, universitários, que são o próprio futuro do Brasil, uma herança que é limpa de crimes e que lhes têm custado mil dores ignoradas. Vou instituir os herdeiros presuntivos de uma construção gloriosa, na qual já me alcei dos alicerces e prossigo nas grandes colunas mestras, como quem levanta um bloco firme de arquitetura imortal.

Quero, agora, nesta fase em que sinto a plenitude da minha força, na hora em que o sol da vida resplandece dominador. Iluminando, diante de meus olhos, o panorama de um grande sonho americano, mostrar aos que futuramente irão continuar esta marcha e transmitir esse entusiasmo às crianças que agora estão nascendo, toda a extensão das tarefas pertencentes a sucessivas gerações.

Em São João d'El-Rey, perante os universitários de todo e Brasil, encontro-me também com minha própria Pátria, para que reciprocamente nos julguemos e possamos nos compreender de um modo mais profundo.

No Brasil presente, que todo o povo do meu país compreenda a grandeza sem precedentes do Primeiro Congresso Universitário Nacional de São João d'El-Rey.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 06 de FEVEREIRO de 1936.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Minha palavra aos "Camisas-Verdes" (09/02/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Minha palavra aos "Camisas-Verdes" (09/02/1936)

PLINIO SALGADO

Um jornal diário é uma trincheira. Quando cantam na noite silenciosa os teclados e as peças, de um raciocínio mecânico, das linotipos complexas e reluzentes; quando trabalham as calandras e as "frises" gritadeiras e ardem as caldeiras de fundição; e, no vai-e-vem, no ar iluminado de lâmpadas cruas, impregnado do cheiro acre do antimônio, do chumbo, do papel e das tintas, mourejam os operários de blusas enegrecidas, nós temos impressão de um setor de batalha, de luta gloriosa. E, quando a rotativa se ilumina, toda festiva nas suas lâmpadas que põem reflexos resplandecentes nos metais, e, em seguida ergue a clamor dos motores, das engrenagens, dos cilindros, num estridor multitudinário e ciclópico, o homem de imprensa tem a sensação ainda mais viva, da glória do seu sacrifício, dos seus esforços ignorados, no campo de batalha mais belo, que é a batalha das ideias, As ideias, que passam pela máquina de escrever; depois, pelas matrizes das linotipos; depois pelos "flanas" ao peso do rolo que comprime; depois pelo chumbo que delas se embebe, gravando-as; depois pelo buril das "frises"; finalmente pelos cilindros das rotativas.

Ninguém sabe, de quantos compram um jornal na rua, de tudo o que essas folhas impressas exigem de esforço criador. Ao galgar das escadas que vão das oficinas à redação, sente-se todo o rumor palpitante do um combate sem tréguas, combate de todos os momentos. As máquinas de escrever estridulam, como esta, através da qual me dirijo aos camisas-verdes; as mesas estão atulhadas de papéis; muitos homens trabalham. Sim: um jornal é, na verdade, uma trincheira, um setor admirável de batalha.

*

* *

E é por isso, camisas-verdes, que eu venho, ao mesmo tempo, congratular-me convosco, porque o nosso movimento já levantou essa barricada, e chamar a vossa atenção para o prestígio absoluto, sem restrições, com que devereis apoiar o esforço, o trabalho ingente dos que estão realizando meu pensamento, com a realização da A OFFENSIVA diária.

Eu aqui estou, firme, ao lado deles, com a mais viva alegria, porque eu e eles, os meus companheiros nesta casa, estamos dando ao Integralismo aquilo que o Integralismo não conseguira conquistar por si próprio, apesar de existirem no Brasil mais de oitocentos mil camisas-verdes, É que os camisas-verdes já andavam muito preocupados com as responsabilidades de cada um dos seus dois mil núcleos: Já se sacrificavam muito; já sacrificavam seu tempo, sua comodidade, a sua própria vida, pela nossa marcha gloriosa.

Então, pensei: assim como realizei o Integralismo, que é grandioso, posso realizar um jornal diário na Capital da República, para os integralistas de todo o país. Posso e quero. Posso, porque tenho os homens necessários para isso; quero, porque os camisas-verdes só me ouvem, de semana em semana, e eu resolvi falar diariamente a eles, falando, ao mesmo tempo, a toda a Nação,

Os homens eram Belmiro Valverde e Madeira de Freitas. Em torno deles, congreguei uma dúzia de elementos de primeira ordem, alguns mesmo alheios ao movimento. Organizamos a Sociedade Anônima Excelsior, completamente separada "Acção Integralista Brasileira" e a A OFFENSIVA passaria a imprimir-se, não mais nas oficinas do "Diário de Notícias", mas nas oficinas da "Excelsior".

A Excelsior realizou-se brilhantemente. E daí temos, com absoluta solides financeira, instaladas as oficinas de onde sai o jornal diário dos camisas-verdes.

É forçoso que cada integralista prestigie o nosso jornal por todos os meios ao seu alcance. Que compreenda a importância fundamental para o nosso movimento, que é a existência de um diário na Capital da República, com irradiação por toda a carta geográfica do Brasil.

*

* *

A minha palavra de ordem será agora diária. No tempo em que o nosso jornal era semanário, os camisas-verdes ficavam tristes si, em algum numero, faltava a colaboração do Chefe. Pois bem: o Chefe, agora, fala diariamente pela A OFFENSIVA.

O nosso movimento cresceu muito. Os núcleos se multiplicaram por todas as cidades do país. Já me é praticamente impossível visitar a todos os núcleos. Este ano vou viajar pouco, para não fazer a injustiça de visitar uns e deixar de visitar outros. A culpa não é minha, porém, do próprio Integralismo, que cresceu demais,

Nestas condições, como poderei estar em contato permanente com todos os núcleos do Brasil, com todos os camisas-verdes da minha Pátria?

Pela A OFFENSIVA. É, de agora em diante, a minha tribuna diária. É o meu encontro com os integralistas. É a minha trincheira. E que trincheira! Aquela justamente em que tenho ferido minhas maiores batalhas.

Foi em 1933 que despertei em mim o orador e adormeci e Jornalista. Andei por toda a parte, no meio das multidões, em 1934, 1935. Este ano, acordei novamente o jornalista. Ele viverá simultaneamente com o orador. Uns e outro batalharão. Mas enquanto e orador não poderá estar em todas as cidades ao mesmo tempo, o jornalista em todas elas estará presente, dizendo as mesmas palavras.

Daí a importância da A OFFENSIVA no presente instante da nossa luta. E o dever de cada integralista de difundi-la.

*

* *

Aos domingos, teremos o número exclusivamente integralista, dedicado aos camisas-verdes, com reportagens desenvolvidas dos progressos do nosso movimento. Diariamente, A OFFENSIVA fará Integralismo de uma maneira prática, objetiva, concreta, Isto é, na maneira de tratar os assumptos da vida brasileira.

Não podemos mais nos fechar nas quatro paredes do nosso credo. Temos de respirar a grande vida nacional pondo-nos em contato com todos os fatos, refletindo em nossas colunas todos os acontecimentos, comentando-os, fazendo aplicação constante de nossa doutrina.

O Integralismo cresceu muito e tornou-se adulto. Não é mais um menino, é um homem. Tem de tomar contato com a vida da Nação. Tomá-lo-á, principalmente, pela A OFFENSIVA.

Aqui falarão, além de Chefe, Gustavo Barrso, Miguel Reale, Jehovah Motta, e outros vultos do movimento integralista. Aqui estarei eu, principalmente, dirigindo-me aos camisas-verdes. E o grau de estima pelo Chefe eu o saberei, em cada cidade, pelo número de leitores da A OFFENSIVA diaria.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 09 de FEVEREIRO de 1936.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

AGITAÇÃO (20/02/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

AGITAÇÃO (20/02/1936)

Plínio Salgado

Basta abrir os jornais. Correr os olhos pelos telegramas que as agências transmitem, naturalmente, profissionalmente, pelo mundo. Uma inquietação profunda abala os nervos da Humanidade. Há um mal-estar generalizado. Tem-se a nítida impressão de que alguma coisa está mudando.

Alguma coisa está, também, morrendo. E outra, nasce, numa grande alegria radiosa, sobre os escombros de um Passado, sobre a agonia dolorosa de um Presente confuso, crepuscular.

A Espanha está em plena revolução. Revolução de rua, de massa, indefinida como a desorientação dos intelectuais e políticos daquele país. Presentemente, raro é o país que tenha, como a Espanha, se instabilizado tanto espiritualmente. Uma obra de dissolução sistemática minou aquela Pátria. Seus pensadores, os mais interessantes, os mais argutos, os mais brilhantes, não têm uma diretriz segura a respeito de um conceito de vida ou de política. São "contra". São, muitos deles, aficionados de um amadorismo de cultura. A Espanha se distinguiu, nestes anos mais recentes, como um centro de divulgação universal. Durante a Grande Guerra, foi neutra, e ali se defrontaram os espiões de ambos os contendores. Após a Conflagração Europeia, tornou-se um "rendez-vous" de ideias as mais contrastantes e díspares. Os costumes na Espanha também se modificaram muito. Na política e na vida normal do país.

A moderna Castela oferece-nos os tipos mais irritantemente reacionários, ultramontanos; oferece-nos também os tipos mais abjetos do revolucionarismo sem objetivos, niilista, cruel, rebelado e confuso, legítimas forças de vanguarda do bolchevismo, para adotarmos a expressão de Lenine. No meio de tudo isso, uma turba intermediária de politiqueiros do "centro" - sociais-democratas do tipo de Weimar; socialistas puritanos do tipo de Kautski; socialistas moderados do tipo de Vanderverde; liberais-democratas de todo jaez. Estudantes desorientados. Comerciantes de mau humor. Operários magnetizados por demagogos anarquistas, sindicalistas. O regionalismo separatista lavrando. Um movimento inicial de nacionalismo sadio, chefiado por José de Rivera; um movimento de reação entrosado lamentavelmente com a política imperante, capitaneado por Gil Robbles. Uma imprensa bem parecida com a de certos países onde a "manchete" substituiu o pensamento. E isso é a Espanha.

*

* *

A França continua em transe. As organizações da "esquerda" estão pondo as manguinhas de fora. Até há pouco, eram, como em certos países nossos conhecidos, apenas defensoras das liberdades populares. A palavra de ordem de Moscou tinha sido, como para certas Câmaras de Deputados, em certas Repúblicas, a de se fazer guerra às organizações patrióticas, à mobilização das energias sãs da nacionalidade, para constituírem a barreira viva e inexpugnável contra o Soviét.

Como preliminar, bastava guerrear os camisas-azuis, os "camelots du roi", os "Croix du Feu". Exatamente como em certas Repúblicas: a Frente Única Antifascista; o bloco parlamentar pró-liberdades populares, a Liga Anti-Guerreira, o liberalismo abespinhado contra toda reação orgânica e saudável das forças vivas da Nação.

Agora, os "esquerdistas" franceses vão mais longe: cantam a Internacional pelas ruas. Assumem a atitude de combate preconizada pelos bolcheviques da Rússia de 1917.

E, dessa maneira, a França nos oferece nos dias desta semana o panorama de uma angústia generalizada, de uma agitação das ruas, de uma inquietação aflitiva dos espíritos.

*

* *

Na África, prossegue a guerra ítalo-abissínia. No Extremo Oriente, chocam-se as tropas russo-japonesas. Há uma grande superexcitarão no Egypto, por parte dos nacionalistas anti-britannicos. Na América do Sul, há estado de sítio, no Chile e no Brasil. E, para culminar, a revolução paraguaia.

Essa revolução no Paraguai traz todos os característicos das rebeliões sul-americanas. É do mesmo tipo da mais recente revolução do Uruguai. Tem semelhanças profundas com a última revolução brasileira. Não difere das quarteladas do Peru, do Equador, da Bolívia, ou do Chile.

Mas o fato é que o Paraguai está com uma revolução vitoriosa. Qual o sentido dela? Não se sabe ao certo. Provavelmente não tem nenhum sentido, como todas as revoluções latino-americanas.

O comunismo, por certo, que se aproveita dessas masorcas. O perigo do comunismo na América do Sul é exatamente esse: o de se revestir da forma de golpes militares.

*

* *

No meio de toda a agitação da hora presente, e quando, sorrateira, na sombra, a conspiração permanente e incorrigível age para solapar nossa Pátria, só não explodindo pela força contentiva de um brasileiro que, no momento, tornou-se o baluarte da ordem contra a desordem, o Argus vigilante, de mil olhos abertos e o patriota que sabe sacrificar-se pelo bem da Pátria (o sr. Felinto Muller); e enquanto dentro do nosso Exército, as figuras mais eminentes se esforçam por suscitar a ressurreição de novas energias capazes de sustentar a República, que fazem os políticos?

Fazem política.

Há, para eles, problemas mais importantes. O prestígio, o mando, em seus respectivos galinheiros estaduais. A probabilidade de eleger um apaniguado para a successão do sr. Getúlio Vargas. Cargos. Empregos. Posições. Negócios. Perseguições aos adversários. E nada mais.

Diante da agitação do mundo e da angústia do Brasil, eles só sabem falar, fazer uma coisa: política.

E é por isso que o Integralismo cresce, dia a dia. Cresce e se impõe ao respeito. Ele é a única esperança da Nação. A palavra e a atitude nova. A força que se levanta consciente. Consciente da hora grave que o mundo atravessa e que se reflete na vida nacional.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 20 de Fevereiro de 1936.

domingo, 15 de outubro de 2023

O LOBO COM A PELE DA OVELHA (06/03/1937)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

O LOBO COM A PELE DA OVELHA (06/03/1937)

Plínio Salgado

O escritor espanhol Jacintho Benavente encabeça com seu nome um abaixo-assinado de intelectuais de seu país, apelando para os seus colegas do mundo inteiro, no sentido de lhes solicitar pleiteiem, perante todas as Nações, pelos direitos das populações civis barbaramente bombardeadas pela artilharia e pela aviação do general Franco.

Tratando-se de uma proclamação dirigida aos escritores de todos os países, quero responder ao sr. Jacintho Benavente e seus acólitos, não como Chefe do Integralismo, porém como escritor.

Pergunto-lhe, preliminarmente, se a doutrina comunista, de que é adepto o governo de Madrid, dá alguma importância aos sentimentos de humanidade, ao cavalheirismo, ao respeito que se deve ao adversário, à sua família e à sua religião.

Pergunto-lhe por que foram incendiadas igrejas espanholas? Por que foram massacrados os sacerdotes? Por que foram violentadas as mulheres? Por que foram saqueadas casas particulares? Por que foram mortos, a coronhadas, inocentes civis? Por que foram invadidos e depredados os conventos? Por que foram vilipendiadas as freiras? Por que foram pobres camponeses queimados vivos? Por que se untou de gasolina, ou de pez, tantos paisanos, aos quais se ateou fogo, para que padecessem uma morte horrível? Por que foram profanadas as sepulturas? Por que a guerra vermelha não respeitou nem a paz dos mortos?

Isso tudo se deu nas cidades ocupadas polos soviéticos. Isso tudo é do conhecimento do mundo civilizado. Isso tudo é a repetição do que se fez na Rússia, do que se fez na Hungria. É processo velho dos vermelhos, conhecido por todos os povos.

Como vem agora o sr. Jacintho Benavente pretender comover os escritores do mundo, pelo fato de serem bombardeadas as cidades que os comunistas transformaram em fortalezas?

O sr. Jacintho Benavente está muito condoído pela sorte das populações civis? É muito fácil: em vez de se dirigir aos seus colegas de outras Nações, julgando que eles são idiotas, procure o governo de Madrid, pedindo-lhe que faça as populações civis evacuarem as cidades transformadas pelos soviéticos em praças de guerra.

O sr. Benavente esquece-se de que hoje os serviços de reportagens dos grandes jornais e das grandes agências estão muito aperfeiçoados, e que o rádio transmite facilmente o resultado dessas reportagens. Estamos a par do que acontece na Espanha, e julgamos uma afronta o apelo do sr. Benavente.

Aliás, a atitude dos covardes bolchevistas sempre foi essa, em toda a parte, quando lutando com adversários corajosos e leais. Toda a sua técnica é a técnica da covardia. Seu método é a traição. Sua arma predileta é a cilada. Suas ofensivas são sempre resguardadas por dissimulações Indecorosas. Sua perversidade não conhece outro processo senão esse: o de se fazerem de vítimas, enquanto matam pelas costas.

O bolchevismo é a mais evidente, a mais eloquente e a mais palpável das provas de que Satanás existe e atormenta os homens. Pois, Satanás é o arcanjo tenebroso da mentira, do embuste, da perfídia, da felonia, da hipocrisia, da espreita, das ciladas, das surpresas, das escamoteações, das sinuosidades, dos despistamentos, da confusão, do perjúrio, da negação e da ruína. E o bolchevismo é tudo isso.

O bolchevismo ilude os operários, levando-os para a escravidão, para a opressão, para o chicote, sem precisar algemá-los fisicamente, mas algemando-os pela alma, onde apaga a única luz, a luz do espiritualismo, que garante, sustenta e defende a liberdade do homem.

O bolchevismo engana os governos fracos, desmoralizados, fingindo-se inimigo de si mesmo, bancando o defensor das liberdades democráticas, o sustentador das instituições. A mesma coisa que ele faz com o operário, levando-o, de mansinho, para o abismo, também faz com os governos tolerantes, os governos desprevenidos, os governos em disponibilidade espiritual. Destacando alguns bolchevistas para manterem o fogo sagrado, declarando-se abertamente comunistas, Satanás reserva os seus melhores adeptos para os postos onde eles desempenham o papel de inimigos do extremismo. Esses afirmam sempre que não são comunistas. O formalismo liberal-democrático, não encontrando provas escritas em contrário, solta-os. E eles agem, segundo os métodos de Satanás, mentindo, mentindo, mentindo...

O bolchevismo engana a burguesia. Destaca numerosos adeptos, que se vestem bem, frequentam os lugares elegantes, ocupam postos de relevo na sociedade, dizem-se até inimigos do Soviete. A esses incumbe desmoralizar a família, fazer a apologia da vida pagã. Eles andam pelos cassinos, pelas praias pelos apartamentos elegantes, pelos "halls" dos hotéis suntuosos, pelas redações dos jornais, pelas rodas literárias, pelos chás, pelos bailes, pelos recitais, nas corridas, nos clubes, nos restaurantes, até nas igrejas! E destroem de mansinho. Enfraquecem as forças da resistência nacional. Desfibram os caráteres. Dissolvem os sentimentos da Pátria. Pregam, pelo exemplo de uma vida de êxitos fáceis, a filosofia do oportunismo, do aventureirismo, do arrivismo.

O bolchevismo engana os Exércitos. Entrega a alguns militares a tarefa de combater toda e qualquer infiltração de ideias políticas nas Forças Armadas. Sendo os militares, de acordo com as leis do país, eleitores, não se sabe porque cargas d’água esses agentes de Moscou meteram na cabeça de certas patentes que os oficiais e suboficiais, eleitores pela lei e pela lei obrigados a votar, não podem pertencer a partidos políticos registrados à luz do dia, que agem com objetivos claramente definidos e conhecidos. É a manobra de Satanás, para impedir que os leais, os francos, os sinceros, os de cabeça erguida, os de peito aberto, os que fazem confissão pública de nacionalismo, impermeabilizem as tropas contra a infiltração secreta, a infiltração subterrânea da propaganda vermelha. É o mesmo método. É o mesmo processo. A mentira, a mentira a mentira.

O bolchevismo engana as religiões. Habilmente se insinua nos diferentes credos religiosos, para criar incompatibilidades contra toda e qualquer corrente nacionalista que pretenda unir todos brasileiros para a obra de salvação da Pátria. Invariável nos seus métodos, em todos os sectores de atividade, o bolchevismo é o próprio Satanás, arcanjo da insídia, da intriga, das trevas criminosas que se manifesta neste século, impudente, cínico, descarado.

A patifaria bolchevista dissemina-se, desenvolve-se, prolifera e multiplica-se, principalmente nos setores onde menos se suspeita da atuação soviética. Veja-se o caso do protesto de um grupo de católicos em Paris (falsos católicos, infiltrados nas hostes militantes da Igreja) contra o bombardeamento das cidades espanholas pelas tropas heroicas do general Franco...

Mas, para responder à mensagem de Jacintho Benavente, tenho um fato que se passou comigo mesmo. O conflito de Bauru.

Os comunistas de Bauru, em número superior a oitocentos, cercaram o hotel onde eu me achava, todos armados e em atitude agressiva, explodindo em vaias. Os integralistas, que vieram cumprimentar-me, não chegavam a oitenta. Eu os passei em revista, tendo esse pequeno grupo à minha esquerda e tendo à direita a massa dos bolchevistas, que me vaiavam sem cessar. Pusemo-nos, em seguida, em marcha.

Mal tínhamos caminhado uns duzentos metros, começámos a ser alvejados por um forte tiroteio, que logo derrubou alguns companheiros nossos, feridos. Dispusemo-nos à reação. Nesse momento, um quadro horroroso se nos deparava. Os comunistas puseram na sua frente, como trincheira, mais de duzentas crianças. Por detrás delas é que atiravam. Estávamos impossibilitados de responder ao fogo.

Foi nesse momento que caiu morto nosso companheiro Nicola Rosica. E nós nada podíamos fazer, ainda que estivéssemos muito preparados para uma luta, porque mataríamos as crianças!

Lembrei-me desse fato, lendo a mensagem de Jacintho Benavente, escritor espanhol que a todos os escritores do mundo julga tão idiotas a ponto de acreditar na sua choramingas.

O melhor que Jacintho Benavente deveria fazer neste momento seria dirigir-se aos Azanhas, Companys, aos Cabaleros, lacaios do judeu que Moscou enviou para matar espanhóis, dizendo-lhes que não se entrincheirem atrás de mulheres, velhos e crianças, numa guerra em que, do outro lado, batem-se homens bravos e leais.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 06 de Março de 1937.

sábado, 14 de outubro de 2023

O Partido Nacional (19/02/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

O Partido Nacional (19/02/1936)

Plínio Salgado

De tempos a tempos, para quebrar a monotonia dos vaivéns da politicagem estadualista, dos palpites, das intrigas em que se consome a atenção do pobre povo brasileiro, surge uma voz, de político ou de jornalista, exclamando a frase que já se tornou conselheiral:

O que nos infelicita é não termos um Partido Nacional, uma organização que sobrepaire aos interesses dos partidos de região.

Como é da praxe, o que distingue os Conselheiros desde o respeitabilíssimo Acácio, de saudosa memória, é dizer as coisas que todo o mundo sabe, sem avançar a mínima novidade em qualquer assunto. Uma outra característica dos Conselheiros é ignorar, ou fingir ignorar o que se passa em torno deles. Nunca manifestam a sua opinião na hora do acontecimento, ainda que se trate de um incêndio, um naufrágio, uma batalha, um terremoto. Eles continuam graves e bojudos, tomando o seu rapé, e a gente nem mesmo se apercebe deles, nas horas nervosas e trepidantes, pois os Conselheiros são invisíveis nesses casos, não porque imitem o personagem de Wells, mas apenas porque ninguém dá por tão conspícuas. figuras.

Os Conselheiros gostam de bater sempre numa tecla, a propósito de tudo. Neste caso brasileiro, por exemplo, a tecla é o Partido Nacional. O Partido Nacional vem a propósito de tudo. A propósito do calor, do Carnaval, da Abissínia, do preço das batatas.

Limpando o suor e endireitando os óculos, o nosso Conselheiro, diante da reclamação a respeito do preço das cenouras, ou da questão da falta d'agua, ou ausência de gosto de um filme cinematográfico, exclama:

Ah! minha senhora, tudo isso é porque não temos um Partido Nacional!

O Conselheiro amanheceu reumático, puxa a perna, o dia está cinzento. Abre os jornais, de mau humor, e murmura:

-Si ao menos tivéssemos um partidozinho nacional...

A única coisa que o Conselheiro ignora é que o Partido Nacional já existe. Não é por falta dele que as múmias políticas ainda se agitam. Elas se agitarão até o dia em que esse Partido Nacional, julgado inexistente, fizer sentir a sua existência, substituindo o pacato rapé que o Conselheiro usa, por um pouco de pimenta malagueta, afim de que ele possa, atendendo ao Padre Vieira, "acender uma candeia no entendimento"...

Mas que Partido Nacional é esse? Tem ramificações em todos os Estados? Quantas cidades do país possuem núcleos organizados desse Partido Nacional? Quantos adeptos já conta esse partido, que é o único na República?

Esse Partido Nacional é apenas isto: realizando-se as eleições municipais em apenas 6 Estados (Paraná, Rio Grande do Sul, Espirito Santo, Alagoas, Pernambuco e Bahia), já levou às urnas sessenta e poucos mil votos.

Cumpre notar que formidáveis redutos desse Partido, como Santa Catharina, Ceará, S. Paulo, Minas, etc., ainda não deram a amostra do pano, por que naqueles Estados não se realizaram por ora, as eleições. Esse Partido Nacional já elegeu apenas naqueles Estados, mais de 150 vereadores. Deverá eleger mais de mil em todo o país. Tem representantes eleitos por S. Paulo, Ceará, Acre, Alagoas, nas Câmaras federal e estaduais, e si mais não elegeu foi porque na ocasião das eleições o Partido estava em início. Agora sua força eleitoral já centuplicou.

Esse Partido Nacional gasta, mensalmente, em todo o país, somando-se as despesas dos 2.023 núcleos que funcionam desde o Acre ao Rio Grande do Sul, cerca de mil contos de réis por mês. Foi essa a soma que a sua Secretaria Nacional de Finanças efetuou com os balancetes enviados. Esse Partido Nacional publica um Jornal diário na Capital da República; outro em Alagoas; outro em Pernambuco; outro na Bahia; outro em Santa Catharina. Publica, também, 102 semanários em todo o país, uma revista ilustrada, na Capital da República, varias outras nos Estados, e uma grande revista de cultura em S. Paulo. Esse Partido Nacional mantém estádios, campos de esporte, tecnicamente admiráveis, em grande número, em todo o Brasil. Esse Partido Nacional mantem mais de duzentas escolas primárias em todas as Províncias, lactários, ambulatórios médicos, de serviços irrepreensíveis, achando-se vários instalados nos diferentes bairros do Rio. Esse Partido Nacional está há três anos realizando uma obra de cultura, já publicou mais de 40 livros de doutrina, tem realizado conferências, cursos de extensão universitária, mantem uma Secretaria de Cultura Artística, que já realizou vários concertos e uma exposição. Esse Partido Nacional já realizou 2 grandes Congressos Nacionais (em Vitória e Petrópolis), reunindo brasileiros de todas as procedências, já realizou 28 Congressos Provinciais; recentemente promoveu no Rio (aqui mesmo) uma Convenção Sindical, com operários de todas as regiões do país; em S. João del Rey, reuniu universitários de todas as Escolas Superiores do Brasil, coisa jamais vista entre nós.

Esse Partido Nacional está em foco diariamente, na imprensa do país, notadamente no jornal onde o Conselheiro escreve, cujas "manchetes" são célebres pelo tamanho e espalhafato. É o mais discutido. É o mais combatido. É o mais exaltado. É o que mais impressiona.

Pois bem. O Conselheiro ignora, ou finge ignorar tudo isso. Ou antes: nem finge nem deixa de fingir, não sabe nem deixa de saber, porque é da natureza dos Conselheiros serem apalermados, e todo o seu prestígio vem exatamente dessa palermice que uns interpretam como simples "morrinha", outros como dispepsia.

O Conselheiro sempre foi assim, e si não fosse, não seria Conselheiro. Si chove, ele nem finge, nem deixa de fingir que sabe estar chovendo, e diz o chavão que serve para a chuva ou para a seca:

- Isto, o que nos falta é chuva.

Em se tratando deste caso do tal Partido Nacional outra não podia ser a frase do Conselheiro. Um Partido para ser realmente partido deve ter um arsenal de sobrecasacas, de óculos, de guarda-chuvas, de urotropinas para os artritismos, sal de frutas para o figadozinho, retratos a óleo, um carregamento de "ex", (ex-senador, ex-ministro, ex-presidente, ex-futuro candidato ao Catete), uma sobrecargazinha de banquetes laudatórios, um bom sortimento de "medalhões"... Isso sim, é um Partido, segundo a concepção do Conselheiro.

Mas o Conselheiro vê as coisas mal paradas. O raio deste progresso tem arrasado tudo o que era tradição e brilho no país. Antigamente, um deputado era um deputado. Hoje, eles andam por aí, na Avenida, e é preciso até certo cuidado para não se pisar nos calos deles, pois se vulgarizaram tanto... Antigamente, um ministro era um Bonzo. Hoje é só ir ao Cassino da Urca e pedir por boca. Outrora, um. "nome nacional" era um "nome nacional", que enchia a boca e cujas sílabas, o Conselheiro pronunciava untuoso e litúrgico, diante dos profanos; mas hoje, até o sr. Borges de Medeiros, que nunca saíra do seu Tibet., que nos aparecia como um hierático Dalai-lama no himalaico Irapuazinho, já anda de aeroplano, e outro dia (ó prosaísmo irritante do Século!) foi atropelado por um automóvel!

Este Século do radio, do avião, dos autos voando no circuito da Gávea, vulgarizou os deuses e exigiu novos deuses!

Os deuses atuais são de tipo diferente. Nada de hieráticos. Accessíveis. Simples. Modestos. Humanos. Sem pose. Misturados com a turba. Sentindo o acre sabor da luta moderna. Sofrendo as dores profundas das massas. Ágeis. E, principalmente, sem dar nenhuma importância aos "ex", aos adjetivos arcaicos e consagradores: egrégio, eminente, ilustre, emérito, adjetivos tão sonoros e gratos aos ouvidos conselheiraes!

Um Partido Nacional com urgência exclama o pobre Conselheiro, com o mesmo grito de angústia com que pede um sal de Carlsbad para os seus flatos, um supositório para sua justificadíssima neurastenia.

E, logo pela sua cabeça, passa toda a Arca de Noé dos velhos medalhões, sem os quais, pensa o Conselheiro, nada se pode fazer neste país, para que se moralize a praia, se barateie as batatas e o pão não venha tão estragado pela manhã.

Longe de nós dizermos ao Conselheiro que já existe um Partido Nacional, o único, o possível, o real, o já estruturado, já realizado, já forte. Ele, o Conselheiro, Impando os óculos, com as pálpebras molengas, perguntaria:

O chefe é algum ministro, governador, general? É velho? Toma sal de frutas? Que remédio usa para seus flatos?

Estamos, na verdade, no fim de uma época e no começo de outra. Duas gerações se despedem. Duas interpretações da vida brasileira se chocam. Cai um crepúsculo de morte. Em compensação, na grande noite misteriosa da Pátria, marcham as estrelas dos destinos novos. E, mais cedo do que pode supor o Conselheiro, uma alvorada se levantará.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 19 de Fevereiro de 1936.

Bolhas de sabão (14/05/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Bolhas de sabão (14/05/1936)

Plínio Salgado

É incrível como esses homens que envelheceram nas lutas políticas deste país; esses homens que tiveram mil oportunidades para estudar e compreender a índole do nosso povo e do nosso regime; esses homens que, afinal de contas, não podemos apontar como impatriotas, uma vez que assistimos aos seus desesperados esforços no sentido de tudo fazer pela sua Pátria, vivam alimentando-se de ilusões, prejudicando o Brasil com essas próprias ilusões que só fazem retardar as soluções definitivas ao caso nacional!

Quem vê as marchas e contramarchas dos próceres de partidos políticos regionais; suas conversações infindáveis; seus encontros; seus gestos lançando, cada dia, novas fórmulas, tem a impressão de que se trata de novatos em política, de moços inexperientes dos mistérios regionais e nacionais. E, no entanto, são homens que há vinte, trinta, quarenta e até cinquenta anos, no louvável empenho de bem servir a sua Pátria, mexem e remexem a mesmíssima sopa requentada, no velho caldeirão da liberal-democracia.

Sempre a afirmar que estamos no melhor dos mundos, esses eternos Pangloss muitas vezes têm de substituir o sorriso beatífico pela carranca mais dolorosa com que se podem exprimir seus músculos faciais. São as decepções que os abatem. Decepções que amargam suas bocas, de onde sai a invariável exclamação: "este País está podre!" Passam-se alguns meses, alguns dias. Novas ilusões os fascinam. Novas crenças os arrebatam. Inimigos de ontem reconciliam-se. Há qualquer coisa de dramático, de comovente nessas reconciliações periódicas. Defrontam-se os que ontem se atassalhavam: "venha de lá um abraço!" O abraço vem. Um lenço vai saindo do bolso. Para enxugar as lágrimas furtivas. Amigos! Sim, novamente amigos! Apareceu uma fórmula! Uma fórmula salvadora. O Brasil vai salvar-se!

Numa azafama, num açodamento, todos correm de um lado para outro. Pazes feitas! Pazes feitas! Alvíssaras! E a grande novidade rastilha, crepita, acendendo risos joviais por todos os campanários políticos. Agora sim!

De repente, quando menos se espera, um estouro. Estragou-se completamente tudo. Dir-se-ia que uma magia diabólica diverte-se a apoquentar, a desorientar os políticos brasileiros...

É o caso atual do Rio Grande do Sul. Quanta viagem, perdida! Quantos almoços, quantos jantares, quantos aviões para baixo e para cima! Entrevistas nos jornais; declarações; cartas de suave enlevo; comentários. As rotativas trabalham. Os jornais publicam "manchetes" sensacionais. Temos diante de nós uma experiência que se pode aplicar ao Brasil inteiro.

Depois de um dia de reuniões definitivas, assentadas as bases da frente única, cai a noite feliz e refrescadora. Todos respiram contentes. Pelos céus do Brasil, os Anjos do Senhor, cavalgando as ondas hertzianas, cantam a canção de Belém: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade".

Sim; a boa vontade é geral. O Rio Grande está unido. Amanhã se dará o mesmo em todos os Estados. Depois de amanhã se dará o mesmo em todo o país. Todos se fundirão num só anseio, numa só aspiração de grandeza do Brasil...

Sonho efêmero, que não comparamos às rosas de Malherbe, porque a imagem está muito batida... Sonho que durou bem pouco. Os telegramas do sul nos anunciam que a crise estourou. Foi arte do mágico diabólico, que se diverte com os políticos da nossa terra. A varinha de condão de um gênio mau da floresta.

E, assim, mais uma desilusão.

Mas eu pergunto: têm os políticos o direito de dar ao povo brasileiro do mesmo ópio que sorvem nos seus velhos cachimbos?

Depois de mil experiências, ainda acreditam em qualquer remédio dentro das velhas normas de um sistema que está aniquilando um regime? Não tiveram tempo para verificar que, com os sistemas usuais, se afundará a democracia? Não reparam que a salvação da democracia está numa nova estruturação, num novo processo de captação da vontade popular?

Não estão vendo que os partidos estão levando à ruina completa a Espanha e França? Não volvem os olhos para traz, para aprender no livro das realidades históricas, as lições que decorrem dos mil fracassos, das mil tentativas de outros políticos sagazes, que se afundaram, mau grado um esforço imenso?

E, eles próprios, políticos envelhecidos na sua luta, não tiveram centenas de desilusões idênticas? Que mais esperam? Que pretendem fazer do Brasil?

É por isso que, dia a dia, cresce a força moral do Integralismo. O povo tem intuição. O povo sabe observar. Decepcionado, a, cada fracasso desses homens, que, no fundo, são bem intencionados, mas completamente alheios às realidades do país e cegos diante dos perigos que ameaçam a Pátria, o poro vae vestindo a camisa verde.

Depois, ficam os políticos muito admirados do nosso crescimento. Sim esse crescimento é um fato. Depende muito do nosso trabalho, da nossa propaganda. Mas deve, grande parte do seu êxito, aos próprios desastres que os adversários do Integralismo apresentam ao país cada mês, cada semana, como atestado da insuficiência e incapacidade de um sistema de política que está, dia a dia, atentando contra o prestígio do regime.

Acordos políticos! Paz de partidos! União dos espíritos! Sem base doutrinária, sem intransigência de ideias, sem mística da Pátria: bolhas de sabão! Sobem, deslumbram por um momento, desaparecem à menor aragem...

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 14 de Maio de 1936.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Sonhar, querer: e fazer! (07/10/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Sonhar, querer: e fazer! (07/10/1936)

Plínio Salgado

No dia 3 de julho de 1930, na cidade de Milão, eu escrevia a um amigo particular, residente na cidade do meu nascimento, uma longa carta, que ele guarda preciosamente. Nessa carta, pus, entre outros, estes períodos:

"Estou hoje convencido de que o Brasil não pode continuar a viver na comédia liberal-democrática Aí, eu já era um descrente, em relação a liberdade e honestidade eleitoral. A eleição que aí fizemos juntos, inspirou-me uma profunda repulsa. O artigo que, logo depois, escrevi no "Correio", contém, nas entrelinhas, o cavalo de Tróia do meu pensamento revolucionário".

(Eu me referia às eleições presidenciais de 1 de março de 30; o jornal de que falava era o órgão oficial do governo, em S. Paulo).

"De há tempos que me impressiona"- continuava eu - "o enfraquecimento do Poder Central; as unanimidades em torno dos presidentes de cada Estado; a política financeira e econômica de cada Estado, consultando interesses de grupos regionais; a falta de unidade no aparelhamento da instrução pública, da higiene, da justiça; a situação deprimente dos nossos parlamentares, lacaios do Poder, ou demagogos democráticos, verdadeiros sonâmbulos, que não atinam com as causas fundamentais dos males da Nação, e feiticismo das fórmulas constitucionais, burladas pelos seus adoradores, mas cultuadas como Budas, o que ocasiona descrença do povo; a nossa defesa nacional sem eficiência alguma, um exército roído de conspirações; as lutas em cada sucessão presidencial desorganizando a vida do país e gastando rios de dinheiro com os jornalistas venais e os políticos que tresandam a podridão; a imprensa com tantos órgãos vergonhosos; a advocacia administrativa, cancro nacional, e a proteção política, lepra deformadora. Numa situação como essa, os "dois perigos", que os governos não veem, não. creem: o espírito regionalista, que se acentua dia a dia e nos leva a caminho do "separatismo", e questão social, que aí dizem ser caso de polícia, e que nos arrastará, de um momento para outro, para o "bolchevismo". Os que têm a noção dessas cousas são aí chamados "loucos", sonhadores e poetas Os homens de juízo são os inconscientes, de espírito burocrático, os administradores de fachada e os homens de negócios...

(Note-se bem, que eu escrevia em 5 de julho. de 1930, muito antes de se falar em separatismo ou comunismo).

“o que há de pior no Brasil" - continuava eu naquela missiva - "é o materialismo grosseiro em que aí vivemos, a falta de coragem, a incapacidade para o sacrifício, a ausência absoluta de espírito nacional. O. Império legou à República um país homogêneo, vibrando pelo mesmo coração: a República, com mais vinte ou trinta anos, terá completado a sua obra de dissociação É necessário agirmos com tempo de salvar o Brasil".

Aos que dizem que copiamos, chamo a atenção para estas linhas da carta que já foi exposta ao público, por ocasião do nosso II Congresso Nacional Integralista:

"Tenho estudado muito o fascismo: não é exatamente esse regime que precisamos aí, mas é cousa em alguns pontos semelhante. O fascismo, aqui veio no momento preciso, deslocando o centro de gravidade da política, que passou da metafisica jurídica, para as intuições das realidades imperativas. O Estado Fascista, sendo uma concepção mais ampla do que os limites traçados ao conceito do Estado nos regimes de índole liberal-democrática, veio interferir em várias atividades, modificando lineamentos anteriores do Direito Constitucional, do Direito Administrativo, e influindo mesmo na esfera civil, comercial e criminal. Porque o fascismo não é propriamente uma Ditadura (como está sendo o governo da Rússia, enquanto não chega a prática pura do Estado Marxista), e sim um regime. Penso que o Ministério das Corporações é a máquina mais preciosa. O trabalho é perfeitamente organizado. O capital é admiravelmente controlado. O Parlamento constituído pela representação de classes. Esta última coisa seria preciosa num país novo como o Brasil, por dois motivos: teríamos a precisão "técnica" nas leis, e amorteceríamos, não só o espírito regional do Parlamento Federal, como o espírito de clã, de aldeola, nos Parlamentos Estaduais. Há outras cousas interessantíssimas aqui.

Volto para o Brasil, disposto a organizar as forcas intelectuais esparsas, coordená-las, dando-lhes uma direção, iniciando um apostolado. Contando eu a Mussolini o que tenho feito, ele achou admirável o meu processo, dada a situação diferente do nosso país. Também como eu ele pensa que, antes da organização de um partido, é necessário o movimento de ideias.

Aliás, a minha orientação não teve nenhuma influência fascista".

Como se vinha processando em meu espírito a decisão de vir organizar um grande movimento salvador de minha Pátria? Vejamos estes pequenos trechos da carta em questão:

"Uma manhã, no alto do Janículo, junto à arvore de Torquato Tasso, com o panorama de Roma a meus pés - o Coliseu e o Vaticano, o Fórum Romano e as Termas de Caracala, o Aventino e o Palatino, e os palácios seculares que sobem e descem pelas colinas, eu senti uma saudade imensa do Brasil. E. sentindo este amor da Pátria, pensei em todas as marchas da Cidade Eterna, e refleti sobre a necessidade que temos de dar ao Povo Brasileiro um Ideal, que o conduza a uma finalidade histórica".

"Voltarei para combater esse combate, cheio de entusiasmo".

No dia 4 de outubro desse ano, cheguei ao Rio de Janeiro e no dia 5 do mesmo mês desembarquei em Santos, No dia 7, escrevi um artigo sobre Unidade Nacional, no "Correio Paulistano" De 7 a 24, passei refundindo o esboço de um Manifesto, que eu escrevera em Paris. Em dezembro, emprestei esse Manifesto à Legião Revolucionária. Ella afundou-se e desapareceu, o Manifesto ficou. Em Janeiro de 1931, realizei uma reunião de intelectuais no Rio, num salão do Palácio Hotel. Foi a primeira tentativa, que fracassou. Voltei para S. Paulo, iniciei a doutrinação pelas colunas do diário "A Razão", fundado por Alfredo Egydio. Em fevereiro de 1932, fundei a Sociedade de Estudos Políticos. Em maio desse ano, os políticos empastelaram aquele jornal e eu fundei, como uma secção da Sociedade de Estudos Políticos, a "Acção Integralista Brasileira". Escrevi o Manifesto básico. Articulei os primeiros apóstolos de vários pontos do país. Em julho rebentou a revolução paulista. Precisei parar. Em outubro terminou a revolução. No dia 7 desse mês, publiquei Manifesto, que tomou nome de Outubro. Em dezembro desse ano, proclamei às correntes revolucionárias que o facho da revolução estava comigo. Em abril, dia 22, realizei a primeira marcha dos camisas verdes, com menos de uma centena de companheiros. Em maio desse ano, fundei Integralismo na Capital da República. Em seguida, publiquei dois livros de doutrina, um para o povo e outro para os cultos, e parti em peregrinação evangelizadora para o Norte do país. Percorri os sertões, visitei as capitais O Movimento alastrou-se. Multiplicaram-se as bandeiras de propaganda Em 1934, março, realizei o primeiro Congresso Nacional Integralista Renunciei três vezes a Chefia. Impuseram-me esse logar. Exigi disciplina em troca do meu martírio constante, ininterrupto. O Movimento cresceu. Atingiu, cidade a cidade, o mapa da Pátria. Éramos uma centena, somos hoje um milhão. Somos a partido nacional, somos o maior Movimento da História do Brasil.

Aí está, brasileiros, o que fiz para minha Pátria.

Agora já se canta o Hino Nacional. Agora já existe um sentimento ligando brasileiros de todas as latitudes. Agora já despertou uma mocidade, para a vida heroica. Agora já escutamos as clarinadas de idealismos revitalizantes. Аgora о Brasil começa a tomar conhecimento de si próprio.

A ideia integralista está vencedora. Aqueles mesmos que nos odeiam ou perseguem podem combater-nos como pessoas, não nos combatem mais como pensamento. O pensamento está triunfante. Os próprios discursos com que nos atacam são escritos com o nosso estilo, neles se empregando nossas palavras, nossas frases inteiras.

Somos uma atmosfera de nacionalismo. Somos a escola de espiritualismo. Somos, na verdade, os soldados de Deus e da Pátria.

O que eu sonhei eu quis. O que eu quis eu fiz.

Quando sonhei, foi o Brasil que falou em mim, no mais recôndito do meu coração. Quando eu quis, foram as forças misteriosas da minha gente forte, da minha boa gente brasileira que agiram no recesso de minha própria vontade. Quando eu fiz foi o Brasil que fez, abençoado por Deus.

Possa eu continuar este trabalho - quatro anos já se passaram de fecundo esforço - possa eu continuar esta obra que pertence aos nossos pósteros, e ver-se-á o que o Integralismo ainda fará para honra, glória, triunfo imortal do Brasil.

O Integralismo não é apenas uma grande doutrina, uma grande campanha de educação moral, cívica, física, um movimento cultural esplêndido, uma organização técnica admirável, um partido nacional e nacionalizante, uma barreira ao comunismo, uma vigília gloriosa pela dignidade da Nação. O Integralismo é uma prova de que a sua doutrina é verdadeira, isto é, o homem pode interferir na História e modificar o seu rumo. O Homem tem poder para modificar o ritmo determinista do evolucionismo materialista dos fatos sociais. Eu sonhei e quis. Querendo, atuei. Atuando, perseverei. Perseverando, sofri, sofrendo, fortaleci-me. Fortalecendo-me, multipliquei, segundo o tempo e o espaço, a minha eficiência E, agora, estou mais do que nunca, certo de que o Homem pode querer e pode fazer, porque Deus lhe deu certos poderes de criar que ele pode empregar com êxito.

Essa demonstração deve valer à mocidade da Pátria. Que todos os que são moços tomem nota disso e que os pais guardem essa lição para as crianças que ainda estão no berço. Que um optimismo sadio levante os caráteres, que a confiança em si próprias incendeie os corações e multiplique as próprias energias físicas. Que as novas gerações se convençam de que esta obra de construção nacional deve prolongar-se pelos séculos em fora, que uma Pátria se engrandece num plano sistemático, executado por muitas gerações.

Que cada uma dessas gerações cumpra o seu dever. Que ninguém deserte da sua geração. E que ninguém deserte do Brasil.

Seja o Brasil o "pão nosso de cada dia" para o nosso sentimento e o nosso pensamento. É preciso pensar sempre, sem cessar, mas pensar com força, com energia, com espírito vitorioso e dominador sobre o objeto da nossa criação. Foi assim que fiz. É assim que os integralistas estão fazendo. Será assim que, pelo nosso milagre, a Pátria será grande.

Camisas-verdes! Olhai para nossa Bandeira e exclamai: "Se o Chefe soube, quis e fez, nós agora, sobre o que já está feito, sonhamos muito mais, sobre esse sonho elevaremos nossa vontade e sobre esta vontade, contra todos os descrentes, os desiludidos, os traidores, elevaremos o Brasil!

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 07 de Outubro de 1936.