domingo, 29 de maio de 2022

A Posição do Integralismo no Brasil (1934), de Plínio Salgado

 

A Posição do Integralismo no Brasil (1934)

Plínio Salgado

O caso do Brasil é diferente dos da Itália, da Alemanha, da Rússia, dos Estados Unidos e demais países.

Não podemos, em absoluto, equiparar a situação brasileira àquelas em que se encontraram a Itália e a Alemanha, antes e durante a luta desencadeada pelo fascismo e pelo nacional-socialismo.  Muitos nos citam aqueles exemplos, insinuando-nos atitudes, providências e processos. Esses conselheiros evocam as figuras de Mussolini e de Hitler, que são índices e tipos adequados a determinado lugar e tempo. Aqui, no Brasil, as cousas são muitos diversas. Qualquer daqueles dois grandes condutores, se houvesse de aplicar os seus processos entre nós, fracassaria. Conquanto os males que sofremos tenham a mesma origem da enfermidade de todos os povos modernos, a maneira como se apresenta o problema político-social em nosso país é diversíssima.

Geografia – Demografia – Transportes

A superfície territorial da Itália é de 310.000 km². Cabem 27 Itálias dentro do Brasil, que tem 8.511.189 km². Do ponto de vista, pois, da extensão do movimento, o integralista tem de ser 27 vezes maior do que o fascista.

Tendo de ser extensivamente maior 27 vezes, o integralismo não conta com a facilidade de penetração em massas populares densas. Nossa população é rarefeita. A densidade da população italiana é de 148 habitantes por quilômetro quadrado, enquanto nós, para cada quilômetro quadrado, contamos apenas 5 habitantes. Sob este aspecto, portanto, o esforço do integralismo tem de ser 29 vezes maior do que o fascismo.

É preciso compararmos os nossos meios de comunicação.

Para 8.511.189 km², temos 31.333 km de estradas de ferro. A Itália, para 310.000 km² tinha, antes do fascismo, 17.300 km de ferrovias. Para cada 1.000 km². A Itália apresentava 55 metros e 80 cm de trilhos; e nós possuímos, para cada 1.000 km², apenas 3 metros e 68 cm.

A nossa propaganda encontra, pois, mais esse embaraço. E já não quero falar das estradas de rodagem que cortam em todos os sentidos o país peninsular, onde o trânsito de automóveis, de motocicletas e bicicletas é intensíssimo, nem das comunicações por mar, que são excelentes. No Brasil, a situação, sob esse aspecto é bem precária.

Imprensa e comunicações

A penetração, portanto, de qualquer ideia ou doutrina, no Brasil, é muito mais difícil do que na Itália, que tomamos como padrão, para essas comparações. Os algarismos seriam mais eloquentes, se tomássemos a Alemanha, ou os Estados Unidos por paradigma.

Para evidenciar a dificuldade da propaganda de qualquer ideologia no Brasil, basta dizer que não temos imprensa de irradiação nacional, mas várias imprensas de exíguas influências regionais. O “Corriere della Sera”, de Milão, atinge 600.000 exemplares diários; “Il Popolo d’Italia”, “O Giornale d’Italia”, “Resto Del Carlino”, “Gazzetta de Venezia”, “Il Tevere”, tiram todos mais de 200.000 exemplares diários. Os grandes jornais franceses avançam a um milhão de tiragem quotidiana; a vários milhões se elevam os diários ingleses, norte-americanos ou japoneses; o próprio “Diário de Notícias”, de Lisboa, apresenta uma tiragem de 150.000 exemplares. No Brasil, nenhum jornal consegue alcançar aquelas cifras.

Cumpre acrescentar ainda que toda a Europa está traçada por uma rede telefônica muito boa. Num país de pequena extensão como é a Itália, Mussolini pode comandar toda a marcha sobre Roma, dentro de seu gabinete, ao lado do telefone que é hoje mostrado aos que visitam “Il Popolo d’Italia”, como um objeto histórico.

Temos visto, através dos filmes, como Hitler, na Alemanha, pode falar, viajando em avião, em três ou quatro cidades no mesmo dia.

No Brasil, dada a hipótese de que o integralismo dispusesse de recursos financeiros, ainda assim as comunicações seriam dificílimas.

(1º Congresso Integralista – VITÓRIA – Prov. Espírito Santo – 1934)

Transcrito da Revista Panorama, São Paulo: Ano I – Julho de 1936 – nº7; págs. 1 e 2.