terça-feira, 28 de março de 2023

Índices culturais (07/03/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal.  Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Índices culturais (07/03/1936)

PLÍNIO SALGADO

Acabo de receber do Ceará, uma bela revista dos camisas-verdes. Chama-se “Synthese”. Abre com um trecho de “A Quarta Humanidade”, onde afirma que, para o homem moderno, do século XX, não há “direita” nem “esquerda”, tal a compreensão do Universo que hoje nos distingue da mentalidade dos séculos anteriores.

Essa transcrição indica-me o rumo da revista dos integralistas cearenses. Começo a folhear o interessantíssimo periódico. Encontro estudos de grande valor, ferindo aspectos doutrinários, técnicos, desenvolvendo comentários sobre assuntos da vida brasileira sob novos e originais pontos de vista de uma geração criadora e potente.

Lendo “Synthese”, orgulho-me do nosso movimento. Um grande entusiasmo ferve no meu coração. E pergunto a mim mesmo:

- Quando foi que se fez um movimento assim neste país?

Mas então não é extraordinário, fantástico, isto que está organizado, funcionando, com energia criadora e racionalização de eficiências, com a precisão de um maquinismo?

Nós temos tido no Brasil muitas iniciativas EFÊMERAS e PARCIAIS. Movimentos literários passageiros; movimentos científicos, ocasionais; campanhas educacionais; obras de beneficência; organizações artísticas; correntes politicas.

Cada coisa, porém, isolada, separada completamente de outras atividades. Todas para uma emergência, com duração limitada.

E o Integralismo? Esse realiza uma prodigiosa máquina, TOTALIZADORA e PERMANENTE!

Não é formidável?

Construção grandiosa no ESPACO e no TEMPO, na COMPLEXIDADE de seus objetivos e na MULTIPLICIDADE de seus efeitos.

Admiram-se todos pelo simples fato de ser a “Ação Integralista Brasileira” o único Partido Nacional, sob todos os aspectos: legal, ideológico, eficiente, real, concreto, abrangendo todo o território da Pátria, sem preocupação de fronteiras provinciais.

Isso, realmente, já é um assombro, si considerarmos que nem no Império e nem na República se teve uma coisa igual. As tentativas frustradas de homens eminentes como Pinheiro Machado, Ruy Barbosa, Nilo Peçanha, no sentido de se criar um “partido nacional” tornam esta realização do Integralismo ainda mais imponente.

Mas isso, que espanta aos que estudam o nosso movimento como partido, é apenas um pormenor da organização muito mais ampla, constituída pela “Ação Integralista Brasileira”.

O nosso movimento contém o “partido nacional”, que, de si mesmo, é grandioso; porém o movimento é muito maior, muito mais profundo, extenso, intenso, complexo, totalizador e eficiente em todos os ramos da atividade do país.

É movimento filosófico; é movimento de nova cultura jurídica; é movimento de renovação da Economia; é movimento literário; é movimento artístico, abrangendo todos os campos das atividades estéticas; é movimento educacional e cívico; é movimento de educação física; é movimento de assistência social; é movimento de mobilização da mulher brasileira; é movimento criador de nova orientação militar; é movimento proletário; é movimento universitário.

A penetração do Integralismo na alma brasileira pode-se avaliar mediante os algarismos: 2.028 núcleos disseminados pela carta geográfica do Brasil; 103 jornais semanais; várias revistas ilustradas; 5 jornais diários; duas revistas de cultura, “Panorama”, em São Paulo, e “Synthese”, em Fortaleza; mais de 40 livros publicados; núcleos universitários em todas as escolas superiores e centenas de escolas secundárias; núcleos nos quartéis, nos navios, nas fábricas, nas fazendas...

A revolução espiritual que o Integralismo vem realizando, não há quem, honesto, de boa fé, não admire. Temos criado uma disciplina, uma capacidade de renúncia, uma solidariedade perfeita, um poder de sacrifício, uma unidade de pensamento e de sentimento.

A atitude do Integralismo logo se destaca na massa informe: é ereta, viril, desassombrada, iluminada por um espiritualismo que o eleva a Deus, por um ardor místico da Grande Pátria, que o dignifica, por uma correção moral que o blinda contra as misérias de uma sociedade corrupta.

Pode haver exceções, pois os traidores, os indignos, em todos os tempos, sempre conseguiram se infiltrar nas fileiras de todos os heróis; mas o padrão geral é de tão superior estofo, a onda revolucionaria é tão assoberbante, que os hipócritas dificilmente se aguentarão entre os camisas-verdes: ou se sentem mal, e fogem expontaneamente, ou são esmagados pela força do movimento.

Tudo isso está feito. Está aí. Já ninguém, pode contestar, porque a nossa realidade é dominadora.

Somos uma grandiosa massa de perto de um milhão de brasileiros: velhos, moços, mulheres, crianças; operários, estudantes, marinheiros, camponeses: gente de todas as profissões, de todas as regiões brasileiras; gente da cidade e dos sertões. Vultos os mais eminentes no pensamento, nas letras, nas ciências do Brasil; multidões as mais humildes e obscuras de analfabetos e desamparados.

Fulgurando como uma promessa de futuro radioso, a mocidade da Pátria! Que maravilhosa! Como, ela exprime bem o tipo de “homem novo”! Ela, a juventude integralista, já não tolera o tipo do moço materialista, gozador, improbo, indiferente aos destinos da Nação, fútil, preocupado com todas as exterioridades ridículas através das quais se judaíza um povo; ela, a juventude do Sigma, quer ser pura, quer ser forte, quer ser vigorosa. quer ser culta, quer saber sacrificar-se, ama os perigos, glorifica a vida no esplendor das batalhas, ilumina-a à luz de um ideal superior.

Essa mocidade aí está. É uma realidade. Viram-na em São João d'El-Rey, maravilhosa de força e de glória.

Vendo o que essa juventude brasileira está pelo milagre do Integralismo, realizando no terreno cultural, eu me orgulho do meu país.

Lendo “Panorama”, de São Paulo, “Synthese”, de Fortaleza, sinto que a obra que empreendi realizar tem sólidos alicerces.

Não edifiquei uma barraca, um rancho, um galpão, de emergência, não tive pressa, trabalhei devagar; a luta foi penosa, excruciante, mas foi bela. Bati o aço da minha raça e dele se desprenderam centelhas maravilhosas.

Hoje, o que o Integralismo já é, representa, apenas, isto: o maior movimento da Historia, já não digo como volume, extensão, profundidade espiritual, complexidade, totalidade, mas por isto que tenho diante dos olhos, dentro das páginas destas duas revistas: cultura!

 

Publicado na A OFFENSIVA em 07 de Março de 1936.

Um grande documento (04/02/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal.  Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Um grande documento (04/02/1936)

PLINIO SALGADO

A entrevista que o sr. Felinto Muller concedeu a esta folha, domingo último, é um documento da maior relevância, não só pelo seu contexto, como pelo fato de partir de uma autoridade da República, digna do máximo respeito de todos os brasileiros, pelos serviços que tem prestando, fora e acima dos partidos, nos supremos interesses da ordem pública e da honra nacional.

O sr. Felinto Muller é e brasileiro de cerne, cioso pelos brios da sua Pátria, clarividente na sua atuação, firme e seguro nos seus propósitos de extirpar do organismo do país os elementos que tentam decompô-lo e destruí-lo.

Os integralistas, mais do que ninguém e, talvez, na massa civil, apenas os integralistas, poderão dizer do que tem sido a ação desse homem enérgico, infatigável, vigilante e tenaz. Porque, em meio às multidões dos displicentes, dos comodistas, dos eternos otimistas que não creem nos perigos que ameaçam a Nação, os integralistas trabalham pela ordem, sacrificam-se pelas famílias, morrem muitas vezes no cumprimento do seu dever para com o povo brasileiro. E, como, nesse mistér sagrado, os camisas-verdes costumam estar sempre insones às horas graves e sempre atentos em lugares arriscados, só eles entre os civis, podem afirmar que, também, nas horas incertas e circunstâncias ásperas, sempre encontraram o chefe de Policia da Capital da República, inalterável no seu humor de bravo, sereno no cumprimento da mais nobre missão, que é zelar pelas famílias, pelos lares, enquanto os políticos fazem a sua politica e a burguesia boceja tranquilamente.

A palavra do capitão Muller, fazendo justiça ao Integralismo, atestando, as qualidades da mais competente das autoridades no caso em apreço, vale por um "veredictum" da própria Historia.

É um documento que ficará para os filhos, os netos e bisnetos dos camisas-verdes. É um ferro em brasa sobre todos os que neste grave instante do país, pretendem perseguir, caluniar, humilhar e condenar o Integralismo, apontando-o como extremismo, justamente porque extremo é o sentimento de amor ao Brasil e à honra da Pátria no coração dos camisas-verdes,

Podem agora os políticos se mexerem. Podem pedir o fechamento da Ação Integralista. Podem concertar planos para destruir essa luminosa força da Nacionalidade, que é a juventude magnífica do Sigma. Podem torturar os caboclos, os operários, os estudantes que vestem camisa-verde.

A palavra do chefe de Policia da Capital da República vale como uma condecoração ao valor dos bravos.

Ela repercutirá por todo o território nacional. Servirá de elemento de provas aos juízes e tribunais. Orientará as consciências, esclarecerá os espíritos.

Grande palavra e grande julgamento, grande atestado da legalidade integralista.

Grande documento, não por ser de um chefe de Polícia apenas, mas por ter sido firmado por um homem de bem, de bravura, de lealdade, o único que pode testemunhar a atuação dos camisas-verdes, porque os camisas-verdes são os únicos que podem testemunhar quem é e o que tem sido para o Brasil o capitão Muller,

 

Publicado na A OFFENSIVA em 04 de Fevereiro de 1936.

sexta-feira, 24 de março de 2023

A palavra mais autorizada (03/02/1937)

 Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal.  Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/ 

A palavra mais autorizada (03/02/1937)

Plínio Salgado

No dia de hoje, após a grandiosa, gigantesca manifestação dos camisas-verdes de Guanabara às esposas e filhinhos dos integralistas baianos, presos pelo governador da Bahia, e que ontem chegaram a esta Capital, eu sei que os soldados do Sigma querem ler nestas colunas a palavra do Chefe.

A Chefia Nacional, porém, considera, no dia de hoje, como a mais autorizada das palavras, aquela que partiu, sob a emoção mais profunda, da esposa de Araújo Lima, o valoroso Chefe Provincial da Bahia, encarcerado pelo crime de ser o inimigo número um do comunismo naquela unidade da Federação.

Essa palavra da senhora Araújo Lima é um desabafo e um testemunho. É um desabafo de seu nobre coração abalado pelo espetáculo grandioso que assistiu ontem, após tantos meses de martírio, com seus filhinhos, separada de seu esposo. É um testemunho do que ontem se passou no Cais Mauá. E é, principalmente, um testemunho das disposições com que esses 22 homens comparecem perante o Tribunal de Segurança: as magnificas disposições dos que têm a consciência tranquila, dos que sa- bem quem são os verdadeiros conspiradores contra o Governo da Republica, dos que confiam na Justiça, perante a qual se apresentam, não em atitude de desacato, como aqueles que são visitados por governadores, na prisão, mas em atitude serena, respeitosa, confiante e digna.

Foram estas, as palavras que escreveu, ontem. para a A OFFENSIVA, a senhora Araújo Lima:

“Apesar da coação que, desde setembro do ano próximo findo, sofrem os integralistas da Província, hoje denominada “mártir”, mas na verdade bem compenetrada dos seus deveres, - a despedida do povo baiano aos companheiros que expiam o crime de corajosamente confessar a fé que depositam nos destinos do Brasil, muito confortou aqueles que comungam a mesma e nobre ideia do Sigma e a todos quantos ainda não estão pervertidos.

A viagem foi magnífica, e à bordo todos se extremaram no sentido de tornar a situação dos presos políticos a mais agradável possível. O próprio inspetor da polícia baiana, sr. Sá Pereira, foi correto para com os presos que conduziu.

Sinto-me feliz entre os camisas verdes de Guanabara. Esta Província é constituída de elementos de grande projeção social e milhares de operários, estudantes e militares. Ela não destoa das demais Províncias, na sua fidelidade à Ideia Nova e ao Chefe Nacional.

Ainda sob a impressão da grandiosa manifestação e da solidariedade dos companheiros e companheiras de Guanabara, eu e minhas companheiras, as esposas daqueles que se encontram presos com meu marido, queremos exprimir os nossos agradecimentos profundos.

Não seria lícito silenciar a nossa imorredoura gratidão ao Chefe Nacional, que quis, com a sua presença, significar o seu aplauso aos companheiros da Província da Bahia, dando, ainda, magnífico exemplo de simplicidade e interesse pela sorte de seus comandados.

Ocorre-nos ainda dizer que confiamos na integridade dos dignos Juízes que compõem o Tribunal de Segurança, e estamos certos de que, brevemente, a Verdade será conhecida.

Gratas, ainda, pela obsequiosidade do grande jornal A OFFENSIVA, saudamos, por seu intermédio, por nós e por nossos esposos presos, os nossos companheiros de toda a Pátria e particularmente de Guanabara, com os nossos “Anauês” cujo timbre é cada vez mais forte, mais firme, mais decidido, pelo Bem do Brasil. (a) Joaquína Gomes de Araujo Lima”.

É assim que fala uma blusa-verde da Bahia, que viaja com três filhinhos, transtornando toda a vida normal do seu lar, para acompanhar no transe por que passa o seu esposo, cujo crime é ter prestado os mais relevantes serviços à Ordem em novembro do 1935.

É assim que falam, com essa mesma convicção, as esposas de Meirelles e de Jaqueira, que também ontem chegaram por entre as aclamações dos integralistas cariocas.

E todo esse sofrimento e essa fortaleza de ânimo têm o objetivo supremo da salvação nacional. Foi preciso que o martírio entrasse nalguns lares, para que os lares brasileiros se salvassem dos perigos com que os ameaçam gentes do soviete.

E é com esse espírito, essa mística, esse heroísmo que a Mulher Brasileira se levanta, na mais poderosa das afirmações, pela dignidade, pela felicidade, pela glória do Brasil.

Publicado na A OFFENSIVA em 03 de Fevereiro de 1937.

quinta-feira, 23 de março de 2023

A QUESTÃO DO PETRÓLEO (06/03/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal.  Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

 

A QUESTÃO DO PETRÓLEO (06/03/1936)

PLÍNIO SALGADO

“Politique d’abord!”- exclamou Charles Maurras referindo-se a todos os problemas de ordem social e econômica, decorrentes do regime liberal-democrático.

Essa exclamação é de uma clareza meridiana. Nenhum problema poderá ser resolvido si se não resolver preliminarmente o problema político.

Nós, integralistas, entendemos que a nossa única e absorvente questão no momento brasileiro é a solução do problema político. No meio da anarquia, não teremos administração. No meio da luta dos partidos, não teremos autoridade nacional. Não havendo autoridade nacional, teremos de assistir indefinidamente a luta de particulares, defendendo seus pontos de vista, seus interesses pessoais ou de grupos financeiros organizados.

No prefácio de um livro sobre o petróleo, um escritor brasileiro, apaixonado louvavelmente pela questão do petróleo, afirma que os seus patrícios vivem como idiotas, preocupados com LIBERALISMO, COMUNISMO, PATRIONOVISMO, INTEGRALISMO, ANARQUISMO, quando deveriam só se preocupar com o petróleo.

Isso, em bom português, significa, mais ou menos, o seguinte: “O dinheiro é uma coisa muito boa; só nos devemos preocupar com o dinheiro; estamos amarrados por uma corrente de ferro, a um poste; não devemos, porém, preocupar-nos em cortar a corrente, o dinheiro está ali, a vinte metros; é pensar nele e não na corrente que nos prende”.

Esquematicamente, é esse o raciocínio do escritor. Ora, ninguém contesta que o seu entusiasmo pelo petróleo é muito justo. Todos nós sabemos que, pelo menos, durante estes próximos trinta anos, o petróleo ainda valerá muito, uma vez que estamos ainda tão atrasados, que ainda não nos utilizamos de outras fontes de energia. Ninguém dirá o contrário do que afirma o escritor em questão, no tocante à necessidade que temos de descobrir o petróleo. Ninguém, de bom senso, também afirmará que no Brasil não há petróleo. Todos nós sabemos que há e estamos de acordo com ilustre literato: é preciso furar o chão brasileiro.

Nós, integralistas, porém, de há muito nos convencemos de que, no estado atual de coisas, não se resolverá, de modo definitivo, nenhum problema de ordem prática, Haverá sempre os interesses de terceiros influindo na administração, no governo, Travar-se-á a luta entre grupos adversários, à revelia do governo. O povo brasileiro jamais seria beneficiado.

Enquanto não tivermos o Estado Forte, o Estado Soberano, o Estado Capaz, o Estado Responsável, é inútil pretender a solução de problemas dessa natureza.

Estamos com Charles Maurras. Preliminarmente o problema politico: em seguida, os problemas de administração, de técnica.

E estamos de pleno acordo com o escritor que prefaciou o livro sobre a questão do petróleo, quanto à importância do assunto, que é fundamental. Não negamos que exista petróleo no Brasil,

Dizer, porém, que o petróleo é o único problema é subordinar a tese ao seu corolário. Lamentamos que o literato a que me referi não conheça coisa alguma do nosso sistema econômico, não tenha nenhuma vaga noção de economia integralista, sobre à qual publicamos já alguns livros. Si ele tivesse ciência da nossa doutrina econômica, financeira, social e política, não escreveria o que escreveu.

A OFFENSIVA, a respeito do petróleo, abriu um inquérito. Enquanto o Integralismo não é governo, deseja que todos os interessados em matéria de petróleo falem livremente, o que será sempre útil ao país.

Não tomamos partido. Não temos nem predileções, nem interesses. Queremos que o Brasil resolva essa momentosa questão. Sabemos que não será possível com a situação política atual.

Nunca sairemos da discussão estéril, entre interessados e amadores.

O inquérito que este jornal abriu visa, principalmente, focalizar tão importante problema.

Todos devem ser ouvidos. Não apenas os de uma determinada corrente, mas todos os técnicos, todos os versados em matéria de tão alta relevância.

Que ninguém veja na atitude de A OFFENSIVA um compromisso, que seria indigno à nossa orientação de órgão político, ao modo de pensar desta ou daquela facção de técnicos do petróleo. Que todos compreendam, entretanto, o interesse que pomos no debate de um assunto ligado profundamente à economia nacional.

Um assunto de tamanha relevância, como é o do petróleo, deve despertar todas as atenções e mobilizar todas as competências.

É o que esperamos, contando ouvir as opiniões mais contrastantes, em debate franco, esclarecedor, que terá, pelo menos, a vantagem de chamar à atenção do povo brasileiro para um dos mais graves problemas da sua economia.

Publicado no A OFFENSIVA em 06 de Março de 1936.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Inquietação Juvenil (19/11/68)

 

Esclarecimento: O Artigo abaixo foi publicado em jornal pelos “Diários Associados”, mas, o recorte que dispomos não trazia a data da publicação. Felizmente, graças ao impressionante trabalho de pesquisa sobre o Integralismo em fontes primárias, o brilhante pesquisador Matheus Batista pode nos informar que a data da edição foi 10 de Novembro de 1968.

 

Em breve, o Companheiro Matheus Batista publicará uma sensacional Obra sobre o Integralismo. Aguardem!



Inquietação Juvenil (19/11/68)

Plínio Salgado

Tenho recebido, com frequência, de alunos do curso médio, questionários relativos às preocupações que absorvem os adolescentes neste instante assinalado pelo inconformismo da juventude em face do que existe, como forma, processos didáticos e estilo de relações entre aprendizes e mestres, em nossos estabelecimentos de ensino.

Todas as perguntas, quando não insinuadas por professores ou pessoas, com fins inconfessáveis, exprimem uma encantadora candura, em manifestação de honesta sinceridade e revelando irrestrita confiança na resposta que esperam.

Esta semana me veio de uma estudante ginasial, que frequenta as aulas de um dos melhores colégios de São Paulo (o “Dante Alighieri”), duas perguntas, que respondi da seguinte maneira:

1) Quais são as causas da inquietação estudantil?

Resposta: Não deveremos dizer, “inquietação estudantil”, mas sim “inquietação juvenil”, por que os estudantes se agitam por serem jovens e não por serem apenas estudantes. Essa inquietação origina-se de causas que podemos chamar. “bio-fisiológicas” e de outras que designaremos como “psicológicas”. As primeiras são visíveis e evidentíssimas se observarmos o que se passa em todas as espécies animais no período do seu crescimento até a idade adulta. É olhar os cabritinhos, os bezerros, os potrinhos, a saltar nos campos, os gatinhos e cãezinhos a pular atrás de uma bola de papel, e verificamos a prodigiosa dinâmica vital que os impele, aliando o movimento à curiosidade, a qual exercita os sentidos em constante exploração do mundo em que os novos seres se integram e que lhes parece cheio de mistérios.

Essa desordenada movimentação, à proporção que o animal vai atingindo a idade adulta, ordena-se gradativamente, até se compor na expressão de equilíbrio que define a personalidade para o resto da vida.

Se isto acontece com os chamados irracionais, o mesmo se dá, em proporções maiores, com o ser racional. A criança, o menino e o adolescente, o jovem, passam por fases idênticas às por que transitaram os animais de todas as espécies, no referente às necessidades de movimento e de curiosidade, mas esta se amplia abarcando o mundo dos conhecimentos sobre a natureza e sobre o que existe de intelectual e espiritual no ser humano. Ao passo que os irracionais se detém nos limites da identificação das coisas, o homem busca a essência dessas coisas, as suas origens, a sua estrutura mais íntima, a sua significação e finalidade. Procura, não só conhecer o Universo mas também, e muito mais ainda, a sua própria pessoa, as razões de sua existência e indaga tudo o que diz respeita ao seu fim último. Tal inquérito permanente sobre o mundo exterior e sobre o misterioso mundo interior, que existe dentro de cada um de nós, gera uma inquietação, que se manifesta em todas as filosofias e as numerosas interpretações dos fenômenos das quais decorrem os critérios de comportamento social e individual.

Na idade juvenil, essa inquietação é muito maior do que na idade adulta, quando o ser humano, além de haver completado o ciclo evolutivo de sua constituição orgânica, também completou, pela experiência, o ciclo do desenvolvimento intelectual. O jovem ainda está no período da “procura”, da “dúvida”, da “perplexidade” diante do que lhe vem sendo ensinado e do que estuda por si próprio. Não sabe, com segurança, para onde se dirigir, nem como se comportar em face do que já aprendeu e do que vai aprendendo, Traz ainda consigo o dinamismo da infância e da puberdade, que se traduz no desejo de ação e movimento. Não se conforma com os conselhos da experiência dos pais e dos mestres. Quer agir, fazer algo de novo, esquecendo-se de que o “novo” não passa do “velho”, que já foi “novo” em gerações antecedentes.

Essa é a causa que denominamos no início destas considerações, “psicológica”. Ela cria um estado de espírito que determina três procedimentos nos jovens: 1º - o de uma atuação anárquica, instável e inconsequente; 2° - o de uma passividade, sujeitando-se ao comando dos elementos subversivos e contrários à ordem moral e social vigentes; 3° - o de um séria, auto-determinativa, esclarecida disposição de estudos dos problemas de atualidade, preservando os valores eternos da nacionalidade vinculados às normas morais que devem reger a personalidade de cada qual e conjugados ao ideal do progresso da pátria e bem-estar humano.

Todos os estudantes por serem jovens, estão classificados nestas três atitudes e orientações. As duas primeiras podem ser denominadas “a da desorientação” e “a da subordinação”; a terceira é a dos jovens quo adquiriram uma consciência de seu próprio valor e se fizeram fatores positivos da construção nacional.

2) Como veem os adultos a juventude atual?

Resposta: De minha parte, vejo-a como acabo de expor.

Acredito que os adultos, na sua generalidade, não se dão ao trabalho de uma análise tão necessária para a compreensão das inquietações da juventude.

quinta-feira, 16 de março de 2023

O INTEGRALISMO EM S. PAULO (05/03/1936)

 


Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças a generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando Melo, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal.  Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

O INTEGRALISMO EM S. PAULO (05/03/1936)

Plínio Salgado

O Integralismo realizou a sua primeira marcha no planalto de Piratininga, na tarde de 23 de abril de 1933, alguns meses depois do aparecimento do Manifesto de Outubro de 1932, que, sobre as cinzas da guerra fratricida, desfraldou a bandeira da mocidade da Pátria.

 

Nesse lugar onde Anchieta iniciou a evangelização das selvas; nesse lugar onde se processaram os primeiros caldeamentos étnicos; nesse lugar de onde partiram um dia os Bandeirantes para romper com o meridiano das Tordesilhas e dilatar os limites da futura Grande Nação; nesse lugar onde, mais tarde, D. Pedro I, às margens do Ipiranga, proclamava a independência do Brasil alguns estudantes e operários, em torno de mim, prepararam-se para a grande obra de disseminação da doutrina do Sigma.

 

No meio da tristeza e dos ressentimentos, que criavam um complexo de inferioridade lamentável, renunciante dos grandes ideais e do sentido superior de construção de uma Pátria sobre os alicerces lançados, trezentos anos antes, pelos rudes sertanistas, eu saí à rua com aqueles homens que acreditavam, que confiavam, que marchavam com a firme certeza de que estavam, naquele instante, iniciando uma radiosa epopeia da raça.

 

O Integralismo, em seguida, pela nossa ação constante, pela sementeira das palavras de fé que as nossas “entradas” lançavam sobre o coração brasileiro, irrompeu gloriosamente em todos os recantos do país.

 

Somos hoje 2.023 núcleos em toda a carta geográfica da Pátria. Somos uma força nacional. Na Amazônia, no Nordeste, no Centro, no Litoral, no Oeste e no Sul, está desfraldada a bandeira azul e branca e homens de camisa-verde, se reúnem para pensar juntos, para sentir juntos, para juntos lutarem contra as forças de dissolução e de ruína, para juntos se prepararem para o advento de uma Grande Era de realizações nacionais.

Σ

Agora, que o Integralismo cresceu por todas as províncias; agora que é a única força nacional organizada; agora que não somos nós, porém, a justiça eleitoral que, através das apurações das eleições municipais, vai contando, dia a dia, o número dos brasileiros que envergam a camisa verde e que, já em seis Estados, levaram mais de 80.000 votos; agora que moços, velhos, mulheres e crianças, formando uma só corrente de pensamento e sentimento, realizam um milagre histórico sem precedente, eu fui rever o interior da terra paulista e verifiquei até que ponto em São Paulo o Integralismo é uma força.

 

Corri algumas cidades da Araraquarense. O numero de camisas verdes é muito grande e aumenta dia por dia. Tomei informações preciosas. Sei que em Rio Preto, grande cidade do sertão, o nosso movimento tomou um impulso notabilíssimo. Sei que Monte Aprazível, Tanabi, Catanduva, Pindorama, oferecem índices notáveis do progresso do nosso movimento. Sei que Matão continua sendo um primor de crescimento e de força do Sigma. Recebi a visita de uma comissão de Santa Adélia. Abracei companheiros de Ibitinga. Em Monte Alto, vi uma sede nova, um departamento feminino cantando as nossas canções com admirável entusiasmo, novos inscritos, espíritos de luta. Em Taquaritinga, o ambiente que encontrei desta vez é notável de interesse, por parte da população, e as adesões se multiplicam de um modo impressionante, tendo eu assistido ao juramento de 10 novos companheiros por ocasião de uma conferência que fiz. Em Araraquara foi um esplendor.  Lancei ali a campanha eleitoral para os próximos pleitos municipais.

 

Dezenas de chefes de municípios, vários governadores de regiões estão presentes. Ao jantar, vejo em torno de mim as cidades de uma das zonas mais belas de São Paulo. Na mesa, que se estende, verdejante de camisas integralistas, sinto a força, o esplendor desta ideia e, ao mesmo tempo, evoco a magnificência da terra, a energia destas cidades novas e vibrantes de trabalho e de esperança.

Σ

Posso anunciar aos integralistas da Pátria, aos meus queridos camisas-verdes de todas as províncias, que eu evoco, cheio de saudade, olhando o mapa do meu Brasil, que em São Paulo o Integralismo é também uma força. De todas as regiões me chegam telegramas, solicitando minha visita: Alta Sorocabana, Baixa-Sorocabana, Central do Brasil, Noroeste, Mogiana ...

 

Quanto mais pretendem perseguir o Integralismo, mais ele cresce. Quanto mais lhe criam dificuldades, mais se anima. Nunca paralisa o número de inscrições. Todos os dias, novos juramentos. Um profundo espírito de renovação empolga as cidades paulistas.

 

Estou observando que os partidos estaduais vão se enfraquecendo, visivelmente. Seus eleitores votam por votar, sem amor. Seus chefes locais dizem para quem quiser ouvir, que estão acompanhando “isto” por não ter outro remédio, devido a compromissos assumidos e que logo que se desvencilhem deles, tratarão de ingressar no Integralismo, única salvação nacional.

 

O “moral da tropa” adversária, para aplicarmos uma expressão militar a esta luta politica, o “moral” está muito abatido. Porque, no fundo, todos admiram o Integralismo. Todos nos olham com simpatia. Todos nos respeitam, pelas nossas convicções e, principalmente, pela linha de coerência política mantida, desde 1932, sem alteração, pelos camisas-verdes.

 

O povo paulista é observador e desconfiado. Ora, desde 1932, o Integralismo foi a única corrente política que, através de suas atitudes, demonstrou uma unidade de orientação, quer em doutrina, quer na prática, absolutamente consoante à grande altivez deste povo.

 

Olhados com desconfianças, no começo, os camisas-verdes prosseguiram. Os fatos foram demonstrando que não se tratava de oportunistas. Para o povo piratiningano não adiantava alegar, proclamar as virtudes do nosso movimento. Ele é como São Tomé: quer ver para crer.

 

E viu. E está acreditando. Três anos de coerência política firmaram o prestigio moral dos soldados do Sigma.

 

Os paulistas de brio votarão com eles. Eu confio nas próximas eleições municipais.

 

Transcrito de A OFFENSIVA de 05 de Março de 1936.

domingo, 5 de março de 2023

O PRESTÍGIO DE JOSÉ NO EGITO

 

O Prestígio de José no Egito

Humberto de Campos

Em encontro que tivemos na rua pouco depois de 24 de Outubro, dizia-me um revolucionário histórico, daqueles que não haviam obtido ainda nem cartório nem lugar de diretor, ou de advogado, de companhia poderosa:

- O mal que o Washington fez a este país foi maior do que vocês imaginam. E vocês, que foram derrubados com ele, devem votar-lhe maior ódio do que nós. Porque a verdade é que ele privou a nação da maior parte dos seus melhores elementos, anulando para o serviço público as figuras mais representativas da mentalidade nacional.

E como eu não compreendesse bem:

- Sim, digamos as coisas com franqueza. O que o Brasil possuía de melhor estava em grande parte com o gênero: os homens mais experientes, os espíritos mais ponderados e, sobretudo, as melhores inteligências. É verdade que o governo não os atendia e eles não exerciam sobre as coisas públicas a menor influência; mas é verdade também que, fulminando indiferentemente os adversários, a Revolução vai em breve, bracejar no mesmo caos. O Washington não utilizava os homens de talento porque não queria; e a Revolução não os utilizará porque não os tem, ou, pelo menos, porque não os possui na medida das suas necessidades.

Dias depois era esse revolucionário indicado para duas comissões rendosas. Não o vi mais, depois disso. Acredito, entretanto, que, após o aparecimento do seu nome na lista dos premiados, ele tivesse mudado de opinião, admitindo que a Revolução começava a possuir, e a utilizar, já, os homens de talento... O certo, porém, é que as suas palavras anteriores, me ficaram dançando na memória, e a promover confrontos entre as figuras e os atos dos dois regimes, dos quais tirava as conclusões mais diversas.

- O homem tem razão, - dizia eu; - a Nova República está fervilhando de boas intenções, mas faltam-lhe os homens capazes de executá-las. Ela tem as partituras e o instrumental, mas os seus maestros ainda não aprenderam a música. Daí, sair-lhes o “Tanhauser”, o “Parsifal” e o “Lohengrin” quando eles anunciam a “Tosca”, e escutarmos a marcha triunfal da “Aida” sob o título de “Sinfonia do Guarani”.

E de mim, comigo:

É a tal banda de música do Xá da Pérsia...

O aparecimento do manifesto da “Legião Revolucionária” de S. Paulo, vem, parece, agora, dar inteira razão àquele revolucionário despeitado que me falava em outubro. Peça literária de fino lavor, em que se entrelaça,, em uma trama de lã e seda, a graça e a ironia, a elegância e a força, o sorriso de Paris e a sutileza ateniense, - quis o ilustre romancista sr. Plínio Salgado, que o redigiu e assinou, deixar patente que a Revolução, rica de homes de boa vontade, não podia ser mais pobre, naquele Estado, de homens de ideias. É, pelo menos, intuitivo que, si houvesse entre os revolucionários uma pena límpida e ágil como a sua, capaz de concretizar o ideal dos que se rebelaram contra as forças políticas dominantes na terra paulista, eles não iriam procurar entre os vencidos, nas fileiras do P.R.P. derrotado, entre os jovens capitães que representavam na Câmara estadual aquela agremiação política, o intérprete público do seu pensamento, e o arauto oficial do que se convencionou chamar o novo pensamento brasileiro.

Telegramas de S. Paulo publicados na imprensa carioca têm procurado comprometer, é certo, perante os seus antigos admiradores e correligionários, o brilhante e agudíssimo romancista do “Estrangeiro”, apontando-o como desleal à causa que até há pouco defendia. Eu sou, todavia, dos que lhe interpretam diversamente a atitude. Acho, mesmo, que ele, emprestando a sua pena, o seu estilo e o seu talento criador àqueles que derrubaram o partido que o fez deputado, acaba de prestar um serviço considerável, de ordem moral, a esse partido, mostrando que os vencedores, por maior que fosse o orgulho advindo da vitória, tiveram de capitular no terreno da inteligência, apelando para o adversário da véspera no momento em que precisaram de espírito claro, brilhantes, harmonioso, para. Através dele, falar à consciência nacional.

É Emile Gebhart quem conta, si me não engana a memória, um episódio de que espanhóis tiraram, no século XVII, uma das suas canções populares. Nas lutas persistentes entre turcos e venezianos pelo domínio do Adriático, sucedeu uma galera de infiéis aprisionar outra de Veneza, metendo a ferros toda a tripulação. Os turcos vitoriosos não eram, porém, homens afeiçoados ao mar, acostumados ao trato da navegação, mas, soldados que voltavam de uma das ilhas do Arquipélago, e que se haviam desgarrado do grosso da frota no dorso traiçoeiro das ondas. Navegando sem rumo, desconhecendo a direção dos ventos e das correntes marítimas, descem eles aos porões, e trazem de lá o piloto veneziano, a quem entregam a direção da galera. E logo as velas se enfunam, a proa corta as águas marulhantes, e os bárbaros, levados pelo seu prisioneiro e palinuro, amanhecem, um dia, diante... de Veneza!

Eu não acredito que o brilhante romancista de S. Paulo pratique uma felonia política, procurando conduzir a nau dos turcos, isto é, a galera revolucionária, ao porto militar do P.R.P. Uma vitória, porém, e ela, está obtida: quando os revolucionários, donos do governo, do tesouro, de todos os bens materiais, quiseram um homem que soubesse dizer com elegância e brilho literário o que eles pensavam e sentiam, tiveram de submeter-se: fizeram como aqueles patrícios romanos do início da decadência, que tinham o pão, e o vinho, e o ouro, e os perfumes, e as mulheres, e a púrpura, e as coroas de rosas, mas, que, quando pretendiam dirigir-se pela palavra escrita aos que se achavam longe, tinham de recorrer ao estilo dos escravos ou dos libertos.

E foi assim que, dentro mesmo de Roma, Juvenal encontrou o grego vencido traçando o destino do vencedor.

Demo-nos, pois, nós, os elementos da Velha República, os mais vivos e festivos parabéns. Os filhos de Jacob, trazidos, trazidos da Mesopotâmia, são escravos do Faraó.

Mas é José, escravo, quem governa o Egito!

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CAMPOS, Humberto de. Notas de um Diarista. 2ª Série. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936; transcrito das págs. 15, 16, 17, 18, 19, 20 e 21.