sexta-feira, 8 de março de 2024

CERTEZA DE DIREÇÃO (11/05/1937)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

CERTEZA DE DIREÇÃO (11/05/1937)

Plínio Salgado.

O prestígio do Integralismo neste instante procede de um fato que ninguém poderá negar: a sua linha impecável de coerência política.

A Nação Brasileira tem sido testemunha dessa uniformidade de atitudes, que revela, no Movimento do Sigma, uma unidade doutrinária absolutamente singular no panorama partidário do país.

Nunca nos, afastamos um milímetro do documento inicial com que nos apresentamos perante a Nacionalidade: o "Manifesto de Outubro".

Basta apreciar, uma por uma, as nossas sucessivas posições em diferentes fases do nosso drama político. Só os desonestos poderão sofismar sobre as diretrizes que temos adotado em face dos acontecimentos. Não haverá homem de bem que possa apontar uma única falha na orientação segura desta marcha integralista.

É que não defendemos homens e, sim, princípios. Não nos interessam os partidos e, sim, as ideias que eles porventura pudessem condicionar. Não procuramos cargos, proventos, prestígios ou proteções oficiais; o que ofertamos à Nação, na hora da construção serena ou dos perigos iminentes, ofertamo-lo de graça, porque ela precise ou mereça, e não estendemos a mão aos detentores do Poder, a reclamar alvíssaras e propinas a que estão habituados os "patriotas" de ocasião.

Assim sendo, não estamos com pessoa alguma, por mais poderosa que seja, ou mais contemplada pelo vaticínio dos hierofantes como próxima herdeira dos conchavos que se processam à revelia do Poro.

Estamos com a nossa doutrina. Da nossa doutrina não sairemos, porque sem ela já não é possível servir ao Brasil.

Enganam-se quantos julgarem que nos alimentamos de lisonjas e que, inebriados por louvores cálidos, sacrificaremos a nossa linha de coerência doutrinária, que se afirma, principalmente, pela Unidade da Pátria e pelo princípio da autoridade do Estado.

Quem estiver com a Nação estará conosco: quem trair a Nação será nosso adversário. Entendemos Nação tudo o que supera os interesses estanques dos regionalismos e os arbítrios isolados dos governadores. No mapa do Brasil não concebemos fronteiras internas. Podemos considerar, quando muito, as linhas marcantes de circunscrições administrativas, nunca, porém, os limites de antagonismos políticos ou as bases territoriais das transações nefastas ao princípio da Unidade Nacional.

Esta doutrina não é de hoje. Desde o "Manifesto de Outubro" de 1932 ela se tornou largamente conhecida em todo o país. Em janeiro de 1936, concretizamo-la nas linhas do "Manifesto-Programa", aplicando-a no plano das transformações objetivas.

Todo aquele que pregar pontos dessa doutrina, estará prestigiando parcialmente, ou totalmente, o Integralismo. E quem assim o fizer não se diminuirá aos olhos da Nação, antes crescerá, porque a consciência brasileira está hoje convencida de que não há salvação fora do Sigma.

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O fato do Integralismo se sentir apoiado através de alguns de seus postulados, por estes ou aqueles brasileiros portadores de altas patentes militares ou altas credenciais no governo do País, não significa adesão dos camisas-verdes a quem quer que seja e por mais patriota e digno que seja. Porque tudo neste mundo é suscetível de aderir: menos uma doutrina. A inteligência, livre e esclarecida, pode aderir a uma doutrina; mas uma doutrina não pode aderir à mais poderosa inteligência humаnа.

Nestas condições, o Integralismo não será subsidiário incondicional de qualquer governo, embora esteja sempre disposto a prestigiar, feitas as necessárias reservas doutrinárias, o governo que se manifeste interessado em defender certos princípios coincidentes com as linhas puras do pensamento de Sigma.

A prova disso tem sido a colaboração que temos dado, desinteressadamente, ao Governo Federal, no combate a comunismo e na sustentação do princípio da Ordem baseado na autoridade – que desejaríamos sem contraste - do Poder Central.

A perfeita compreensão dessa atitude do Integralismo por parte do sr. presidente da República tem sido evidente. Sabendo que conta conosco nas emergências em que estiver perigando a Nação, s. excia. jamais nos insinuou, ainda que de leve, a possibilidade de uma colaboração de nossa parte nessas combinações políticas em que falam os mais variados interesses, menos o interesse da Pátria.

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O problema da sucessão presidencial que se resolve, fora do Integralismo, entre governadores, à revelia do povo, à revelia mesmo dos eleitores dos partidos estaduais, será resolvido nas fileiras verdes da maneira mais democrática possível.

Com o nome saído dos comícios plebiscitários, compareceremos ao pleito presidencial. Iremos sozinhos. Lutaremos sozinhos, Sustentaremos sozinhos a nossa doutrina, os nossos princípios.

Seremos uma voz clamando pela Unidade Nacional, pelo fortalecimento do Poder Central. Não Importa saber quem assumirá o Poder Central, Baseamo-nos num princípio de Ordem e de Defesa Nacional. Seremos uma voz clamando pela mística da Pátria. Esse exemplo há de servir para as gerações futuras. E o Integralismo terá cumprido o seu dever na História.

Vencedores, executaremos nosso programa, que não foi engendrado de afogadilho ao rumor da cabala, mas foi publicado em janeiro do ano passado. Vencidos, daremos ao Poder que se constituir -seja ele qual for -, o mesmo apoio nos pontos pacíficos de doutrina, que temos dado sem compromissos políticos, ao governo atual. Para isso, não exigimos compensações, nem cargos, nem posições eminentes: exigimos apenas as legítimas liberdades que nos competem mediante o cumprimento da Constituição e das leis. Porque dentro de normas pacíficas pretendemos desenvolver a propaganda de nossas Ideias e conquistar o Brasil para os brasileiros.

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Essa atitude doutrinária do Integralismo tem nos valido sacrifícios dolorosos em Estados onde os governadores enxovalham a Constituição e as leis. Temos preferido as longas e exasperantes marchas dos processos através das instâncias judiciárias e das diversas alçadas do país, durante cujas formalidades suportamos o tripudio da coação sobre o Direito, a adotarmos remédios facílimos e rápidos, cuja eficácia a nossa força numérica e material assegura. Não é por medo ou insuficiência de meios que assim nos temos conduzido, mas porque destarte procedendo, firmamos, na prática, a nossa doutrina, que nos manda reclamar perante a Justiça enquanto houver Justiça e confiar na Lei enquanto houver Lei.

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Esse modo de agir está conforme os nossos gestos em instantes graves de ameaça do bolchevismo contra o Brasil. O Governo Federal sabe e altas patentes militares o atestam, de público, dos serviços que temos prestado à Ordem. O telegrama que passei ao sr. presidente da República, em novembro de 1935, oferecendo-lhe cem mil camisas-verdes, para a luta do Brasil contra a Rússia, não deixa dúvidas a esse respeito. Era e é sem compromissos políticos de espécie alguma a nossa colaboração com a Autoridade Nacional na defesa da dignidade da Pátria.

E ainda naquele momento não éramos nós que aderíamos; tratava-se, bem analisando, de uma resposta digna e leal a um governo que, assumindo atitude enérgica e firme contra o Soviete, instantaneamente consagrava como norma de conduta um dos postulados que vínhamos defendendo desde 1932.

De acordo com os princípios norteadores de nossas atividades educacionais, temos emprestado todo o prestígio à obra da Liga de Defesa Nacional, da Liga Naval Brasileira, do Ministério da Educação, quando essas entidades comemoram grandes vultos e grandes datas da Pátria. Idêntica atitude temos adotado em relação ao Aero-Club do Brasil e a entidades cívicas do gênero do Centro Carioca. E isso não quer dizer que tenhamos aderido a nenhum dos promoventes desse culto; encontrando-os em nosso caminho, estendemos-lhes lealmente a mão.

Tudo, pois, evidencia que daremos sempre o nosso apoio àqueles que exaltarem princípios contidos em nossa doutrina. Esse apoio não envolve nenhum compromisso além do inerente ao objeto doutrinário em apreço.

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O Integralismo e os integralistas estão livres de qualquer peia de compromissos políticos. Todo o seu dever de juramento é para com a sua doutrina.

Tudo o que estiver dentro da nossa doutrina será apoiado. Tudo o que estiver fora dela será combatido.

Que cada Integralista traga no bolso um "Manifesto de Outubro" e um "Manifesto-Programa"; e quando lhe perguntarem com quem nós estamos, exiba aqueles impressos e afirme: "estamos com estes documentos".

A limpidez dessa linha de conduta é única na História do Brasil. Mais tarde, muito se falará desse grande fato histórico.

De facto; nada é mais belo no Brasil do que este movimento que exprimiu, numa hora triste de interesses mesquinhos, traições, perfídias, hipocrisias, mentiras, engodos, velhacarias, patifarias, comodismo, oportunismo, - a glória de uma orientação segura e de uma eloquente honestidade.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 11 de Maio de 1937.

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