quarta-feira, 20 de março de 2024

A hora dos fortes (30/05/1937)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

A hora dos fortes (30/05/1937)

Plínio Salgado.

A doutrina política do Integralismo sempre foi desde o primeiro dia, aquela que afirma o primado do Espírito sobre a brutalidade das lutas sociais, consequentes de injustiças e desigualdades, de desequilíbrios econômicos, desorganizações financeiras, egoísmos ferozes.

Afirmámos, desde o primeiro dia, que a Revolução não pertence aos materialistas, porque, pelo simples fato destes negarem o Espírito, subordinam-se ao determinismo cego do mundo objetivo. Sustentámos, na hora primeira desta luta, a capacidade espiritual do Homem de intervir nos fenômenos sociais, para alterá-los, o poder da liberdade humana de modificar o curso da História, a faculdade criadora da Inteligência iluminada pela sagrada luz dos deveres.

O primeiro livro que apareceu coordenando as linhas do pensamento integralista foi uma pequena brochura chamada "O que é o Integralismo". Ali se dizia que entre a mentalidade materialista burguesa, na sua crueldade e na sua opressão contra os fracos e a mentalidade materialista das massas orientadas por uma doutrina de ódios, de rancores surdos, proclamávamos o direito da razão ordenadora, da razão construtora, da razão esclarecedora de equívocos, da razão disciplinadora das atitudes, da razão confraternizadora, da razão apaziguadora, da razão justiceira, da razão, a um tempo experimentalista, especulativa e moralista.

***

Não levantei a bandeira do Sigma para que ela se tornasse a servidora humilhada do comodismo e da crueldade do reacionarismo burguês: não a levantei também para que ela se tornasse a flâmula das "jecqueries", e conduzisse multidões brutalizadas pelo próprio pensamento do burguesismo capitalista e tangidas pela demagogia tão cheia de impiedade como a alma de uma sociedade cujo esplendor disfarça as mais horrendas podridões.

A bandeira integralista foi levantada como expressão do Espírito. Ela não se confunde com os imperialismos nacionalistas nem faz causa comum com o paganismo daqueles que expulsam Cristo da sociedade na hora da reconstrução nacional.

 A firmeza dos princípios que lancei ao alvorecer deste Movimento dos camisas-verdes, tem sido minha fonte de amargura, mas também tem sido minha fonte de consolações.

Criar neste país uma Nação. Fazer dessa Nação uma síntese de harmonias econômicas, sociais, políticas, intelectuais, morais e espirituais. Oferecer um dia esta Pátria, no esplendor, Àquele que nos ensinou diligenciássemos pelo Bem, tudo isso foi, é e será meu objetivo, a razão de ser da minha vida, meu conforto nos momentos em que a consideração dos sofrimentos humanos me ensina que misteriosos destinos oferecem a cada homem uma tarefa a cumprir.

*

* *

A grande tortura dos que estão construindo alguma coisa para o Futuro está em que o seu Pensamento, no que ele tem de mais profundo, de mais delicado, de mais puro, nem sempre pode transparecer aos olhos profanos, através do terra a terra dos fatos quotidianos, das manobras indispensáveis à objetivação final de um plano pré-estabelecido. O êxito de uma obra desse vulto vem menos da compreensão das massas do que na sua fé no condutor. As sucessivas vitórias do Integralismo eu as atribuo mais a essa fé, que se torna a misteriosa linguagem das intuições.

É essa linguagem muda das massas que consola, conforta, anima, revigora, estimula, entusiasma o construtor.

O homem inteligente, o homem de leitura, nem sempre conserva em estado de perfeição essas antenas sutis. É que lhe falta a liberdade plena, a grande liberdade essencial dos espíritos virgens.

A imponente grandeza do Integralismo na hora presente procede dessa extraordinária capacidade de intuir das massas humildes, principalmente das massas camponesas, as mais sofredoras, as mais humilhadas, as mais indigentes nos grandes países de vastas áreas territoriais.

 Essa massa humana revela-se, dia a dia, como a força principal do Movimento do Sigma. Ela se levanta com uma firmeza admirável, com uma força incomparável.

Enquanto os homens da chamada alta sociedade, do mundo político, do mundo industrial, dirigem-me perguntas, essas populações nada perguntam e põem-se a marchar comigo. Enquanto os intelectuais leem várias brochuras por semana, discutem mil aspectos das questões sociais, embrenham-se pelos meandros das filosofias e refinam-se ao contato das literaturas mundiais, os humildes, os simples, no seu sofrimento sem artificialidade, na sua angustia sem transcendências, erguem-se, dão os primeiros passos decisivos, e já na param, porque se integram definitivamente num sentido novo de vida e de destino.

E contando com essa força das massas, que o Integralismo pode agora entrar numa luta magnífica.

***

Realmente, é uma luta sem precedentes na História do Brasil. É a luta contra dois inimigos rancorosos, fortes, ameaçadores. É a luta contra o capitalismo, a plutocracia, a organização técnica de uma campanha, todo o poder do dinheiro de fortes grupos financeiros, de um lado; é a luta contra o caudilhismo, o estadualismo oficial, a prepotência de governadores do outro lado.

Para esta luta, em que estamos sozinhos, tocamos a rebate e chamamos a postos os fortes. Tudo o que temos feito de agora para trás foi uma obra de doutrinação, de preparação, de fixação de diretrizes práticas, de colocação no terreno da batalha. Mas, de agora em diante, é a batalha mesma.

Anteriormente, tínhamos uma vida inicial de organização, de adaptação de quadros internos, de experimentações, de composição e de recomposição de setores. Mas, agora, vamos ter uma vida de ação efetiva, de avanço no campo adverso, de contenda política, atacados por todos os lados, pelos flancos, pela retaguarda, pela vanguarda.

O fogo de dois adversários que se enfrentam e se odeiam reciprocamente, volve-se em conjunto contra nós. As razões do interesse político os separam; as razões de ordem doutrinária os unem contra o inimigo comum, que somos nós.

*

* *

O Integralismo neste instante da vida nacional lembra o episódio da Tragédia do Calvário. O tetrarca da Judeia, Herodes, e o procurador romano, Pilatos, reconciliam-se pelo simples fato de Cristo ser enviado de um para outro. O velho Herodes que recebera Jesus no seu Pretório, devolve-o vestindo-lhe uma túnica branca. Era o sinal da Paz.

Essa passagem tem uma aplicação profundamente significativa na hora presente. Mas, há ainda o terceiro elemento do glorioso poema bíblico. Entre o palácio de Herodes e o de Pilatos estão os fariseus, os saduceus, os agitadores da massa. Eles, muito mais do que os dois potentados, odeiam o Cristo. São eles que exigem o seu sacrifício.
Na hora nacional que vivemos, somos nós, integralistas, também, enviados do Palácio dos Governadores do Sul para o dos Governadores do Norte. Mas, entre o Palácio dos Campos Elíseos e os da Liberdade e da Aclamação, há os agitadores da revolução de novembro. São esses que pretendem conduzir a massa. São eles que falam na defesa da democracia. São eles que clamam pelas liberdades. São eles, traidores da Nação, que aguardam o instante para dar seu bote certeiro, a fim de escravizar as populações sofredoras à experiência soviética; são eles, os fariseus, os falsos intérpretes da Lei, os que renegaram no fundo do seu coração toda a dignidade e toda a bondade.

E é essa a luta que se nos apresenta. Por isso é que esta é a hora dos fortes. Por isso é que eu toco a rebate. Conclamo. Mobilizo. Que se levante a minha gente e venha porque é chegada a hora das grandes definições.

Contra o capitalismo internacional, contra as forças conjugadas da plutocracia, contra os poderosos que dispõem de dinheiro e de todos os elementos materiais para agir contra o Integralismo; contra o regionalismo que ameaça a Unidade da Pátria, os mórbidos sentimentalismos da gleba política; contra as oligarquias opressoras que constituem os partidos situacionistas em todos os Estados; contra o comunismo disfarçado, encapotado; contra todos os elementos que se afirmam em brutalidade, em crueldade, em materialismo, estamos de pé e sozinhos.

Isto é grandioso.

Isto é arrebatador.

***

Que nenhum integralista perca um minuto. Urge a nossa gloriosa ação, a nossa coragem enérgica, a nossa decisão.

A bandeira que desfraldamos é aquela mesma que agitei nos ventos de Piratininga na tarde de 23 de abril de 1933. É a mesma sob cujas dobras o Manifesto de Outubro resplandeceu nos olhos de todos os Idealistas sinceros. É a mesma que levei ao Norte, semeando a Ideia Nova. É a mesma atrás da qual marchamos nas ruas de Fortaleza, a cidade onde primeiro se organizaram os camisas-verdes das regiões setentrionais da Pátria. É a mesma que triunfou no Congresso de Victoria.

Por ela jurámos vencer ou morrer. Com ela deverá morrer ou vencer o Brasil. Ninguém entra iludido para as nossas fileiras, por mais rico, poderoso ou sábio que seja, ou por mais humilde e sofredor que se apresente. Essa bandeira fala uma só linguagem. Reflete um só pensamento. Exprime um único destino. E é pelo seu milagre que agora centenas de milhares de homens e mulheres se levantam, convencidos de que nesta luta magnífica encontraremos as horas sagradas dos fortes, dos que não duvidam, dos que não esmorecem, dos que, tendo uma alma inquieta, um coração torturado, sabem superar inquietações e torturas íntimas, para viver nesta fé, nesta atitude, nesta firmeza.

A bandeira azul e branca está aberta. É um pensamento desfraldado. É uma convicção em marcha.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 30 de Maio de 1937.

Nenhum comentário:

Postar um comentário