domingo, 10 de março de 2024

Comandando homens livres (23/05/1937)

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Comandando homens livres (23/05/1937)

Plínio Salgado

Desde ontem, realiza-se em todo o Brasil o plebiscito promovido pela Acção Integralista Brasileira, para que os camisas-verdes se manifestem sobre o nome de sua preferência a ser indicado ao sufrágio da Nação.

Esse comício eleitoral interno terá a duração de quarenta e oito horas, encerrando-se na noite de hoje. Reservo-me para falar aos integralistas na hora do encerramento, às 23 horas, pelo microfone da Rádio Sociedade Fluminense, em conjunto com a Rádio Transmissora do Brasil, desta capital, com a Radio-Club de Petrópolis e a Cruzeiro do Sul, de São Paulo.

Naquele momento, direi aos integralistas e à Nação as palavras necessárias e indispensáveis ao esclarecimento dos espíritos conturbados ou iludidos pelos falsos pregoeiros da democracia.

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Nestas colunas eu quero me dirigir aos camisas-verdes, que estão levando os seus votos aos Núcleos integralistas do país. Quero lhes dizer que a minha alegria hoje é imensa, porque estou sentindo esta coisa que nenhum político do meu país pode sentir: eu comando homens livres!

Um homem público não pode ter maior prêmio, não pode aspirar uma glória maior. Sinto-me plenamente pago de todo o esforço de quatro anos de atividade evangelizadora e de organização do único partido nacional do Brasil.

Existe uma consciência integralista. Existe uma corrente volumosa de brasileiros que já não segue homens, porém uma doutrina. Uma corrente de opinião que tem verdadeiramente opinião sobre os problemas nacionais.

Não jogo com figuras de retórica: jogo com realidades. Quando digo "a opinião dos integralistas", sei que estas palavras não são vãs, para discursos de banquetes ou orações de plataformas. Elas exprimem, não uma verdade ideal, mas uma verdade concreta. O que era um pensamento no cérebro dos primeiros doutrinadores, tornou-se um fenômeno evidente, um fenômeno social que só os loucos poderão negar ou desconhecer.

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A existência dessa "opinião" é que me levou a determinar se realizasse este plebiscito. A coletividade Integralista não precisa de tutores. Adquiriu maioridade. Afirmou-se em capacidade deliberativa. Seu guia é uma doutrina. Sua opção decorre do conhecimento e do sentimento dessa doutrina.

Nenhum interesse material ou de qualquer outra natureza subalterna reúne esses homens de camisa-verde.

Todos eles são independentes. Não precisam de mim, nem das autoridades do seu Partido para coisa alguma. Em vez de lhes dar qualquer coisa, exijo deles todos os sacrifícios. Em troca desse sacrifício, esses brasileiros recebem, muitas vezes, como prêmio, as perseguições dos bolchevistas ostensivos ou encapotados, que ainda têm força e prestígio neste país.

Homens e mulheres assim, que, espontaneamente, num ato de liberdade, juraram seguir este nosso caminho, fiéis à doutrina que professamos, podem realmente dizer que são livres.

Se eu não comandasse criaturas livres, não iria perder tempo ordenando a realização de um gigantesco e comovente comício eleitoral, a fim de que cada um viesse dizer claramente, ostensivamente, como deseja que se resolva este caso da apresentação do nome do nosso candidato à presidência da República.

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Poderiam fazer isso os chefes dos partidos regionais que infestam este país?

Evidentemente que não, porque para se fazer isso é necessário, antes de tudo, esclarecer as consciências, através de uma doutrinação continua. Foi assim que procederam os partidos? Não; eles só procuram os seus eleitores nas vésperas de eleição. Durante todo o ano esses partidos não publicam, já não digo livros, como nós fazemos, nem mesmo algum folheto elucidativo do programa que eles têm em vista realizar. O povo ignora completamente o pensamento filosófico ou sociológico dos chefes de partidos. Também os chefes de partidos ignoram qualquer coisa sobre o estado de consciência em que se encontra o povo. O seu sistema de aliciamento é o das engrenagens dos interesses administrativos, que vão da órbita provincial à área municipal, com as algemas dos empregos e os instrumentos de suplício das perseguições.

Como, pois, consultar esses eleitores? A maior parte deles está minada pela doutrinação integralista, e se fosse responder, no caso impossível de lhe ser facultada liberdade, a resposta não agradaria aos chefes de partido...

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Só, portanto, a coletividade integralista pode realizar um plebiscito, como o que se efetua desde ontem, e ao qual comparece cada um dos camisas-verdes para dizer sem medo o que pensa.

O camisa-verde é livre porque se esclareceu a respeito dos problemas nacionais e não pode ser ludibriado por ninguém. O camisa-verde é livre porque sabe que a doutrina integralista vai buscar o fundamento do seu conceito de Estado forte e deliberativo no próprio livre-arbítrio do homem. O camisa-verde é livre porque ninguém o obrigou a entrar para o Integralismo. O camisa-verde é livre porque coisa alguma lhe poderá acontecer se ele, por ordem do Chefe, manifesta livremente a sua opinião, acerca de qualquer assunto sobre o qual é chamado a se pronunciar. O camisa-verde é livre porque o Chefe foi escolhido por ele, e não imposto, como acontece nos partidos em que meia dúzia de dirigentes faz o que bem entende. O camisa-verde é livre porque, quando o Chefe tem diante de si os problemas máximos do Movimento, chama um por um dos integralistas para que dê a sua opinião.

Uma coisa apenas exijo durante a realização deste plebiscito: a mais plena liberdade.

Que cada um dê o seu voto livremente, espontaneamente.

Que cada um, dando o seu voto, experimente a íntima alegria que a outros brasileiros não lhes Ilumina o coração. A alegria da liberdade em exercício pleno. A alegria da vontade em deliberação efetiva. A alegria da dignidade em afirmação. A alegria da personalidade em consciência. Do sentimento sem peias. Da inteligência engrandecida. Do caráter assumindo uma atitude. Da alma traçando uma decisão.

Porque isso, para mim, é comandar homens livres.

E esse é o meu modo de chefiar.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 23 de Maio de 1937.


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