Victor Emanuel
Vilela Barbuy
O
prestigioso jornal O Lince, do Município de Aparecida-SP, veículo no qual tenho
tido, aliás, a imensa honra de colaborar, publicou, na última edição, artigo da
lavra do Sr. Leandro Pereira Gonçalves, a respeito de Plínio Salgado e a Ação
Integralista Brasileira, que merece alguns reparos e esclarecimentos.
Em
primeiro lugar, ao definir o Integralismo como sendo um movimento
“essencialmente autoritário”, o autor deveria ter explicado o verdadeiro
significado do termo “autoritário”, que diz respeito àquele que afirma o
princípio de Autoridade, pressuposto da Ordem e da Liberdade, nada tendo que
ver com arbitrário e, menos ainda, com totalitário.
Isto
posto, cumpre ressaltar que, se, por um lado, Plínio Salgado (que nasceu em
1895 e não em 1885), como expôs o autor, se entusiasmou com as realizações de
Mussolini na Itália – como, aliás, tantos homens de seu tempo, de Fernando
Pessoa a Chesterton, de Ezra Pound a Mircea Eliade, de Emil Cioran a T.S.
Eliot, de Hilaire Belloc a Knut Hamsun, de Oswald Mosley a José Antonio Primo
de Rivera, de Céline a Carl Schmitt, de Drieu La Rochelle a Octavio de Faria,
de Charles Maurras a Hendrik de Man, de Maurice Barrès a Whyndham Lewis, de
Corneliu Codreanu a Alceu Amoroso Lima, de Gandhi a Winston Churchill -, por
outro, ele jamais deixou de condenar certos aspectos da doutrina fascista e de
ressaltar as diferenças existentes entre esta e o Integralismo, sobretudo no
que diz respeito à concepção de Direito e de Estado.
Registre-se,
ademais, que, ao contrário do que afirmou o Sr. Leandro Gonçalves, o
Integralismo jamais pregou um “nacionalismo agressivo que impusesse a hegemonia
brasileira na América do Sul”. Ao contrário, o Integralismo sempre defendeu um
nacionalismo sadio e edificador, ou, como diria o próprio Plínio, “equilibrado
e profundo, justo e lúcido”¹, e sustentou a integração harmoniosa do Brasil com
seus vizinhos. Com efeito, já em 1934, em A Quarta Humanidade, Plínio Salgado
pugnava pela formação de uma verdadeira confederação latino-americana,
sustentando a necessidade da “união mais íntima entre os americanos
meridionais” e da “suspensão de todas as barreiras alfandegárias entre esses
povos e o mais íntimo intercâmbio cultural e espiritual”².
Quanto
ao Ministério da Educação, oferecido por Getúlio Vargas a Plínio Salgado ou a
quem por ele indicado, cumpre ressaltar que o autor de O estrangeiro o recusou,
sendo então indicado Gustavo Barroso para tal Ministério, por decisão de
líderes da Ação Integralista Brasileira. Mas o Ministro da Justiça, Francisco
Campos, encarregado de transmitir a decisão a Vargas, acabou não o fazendo, de
modo que o Ministério da Educação acabou indo para as mãos de Gustavo Capanema,
que não pertencia à AIB.
Isto
posto, é forçoso sublinhar que, ao contrário do que afirmou o Sr. Leandro
Gonçalves, o Levante de 11 de Maio de 1938 não foi “um levante promovido pelos
integralistas com o objetivo de liquidar Vargas”, mas sim uma precipitação do
Movimento que, reunindo integralistas, liberais e militares descontentes,
pretendia depor e prender Vargas e restaurar a Constituição de 1934 e o regime
democrático. Com efeito, tal levante representou, como reconheceu o historiador
Glauco Carneiro, a única reação armada contra a ditadura estadonovista até a
deposição de Vargas, em 1945³.
No
que tange ao Partido de Representação Popular (PRP), insta assinalar que, ao
contrário do que afirmou o Sr. Leandro Gonçalves, não foi Plínio Salgado quem
criou esta agremiação após seu retorno ao Brasil, em 1946, mas sim um grupo de
militantes integralistas, em 1945. Ademais, tal partido não teve participação
tão tímida na vida nacional quanto alega o Sr. Leandro Gonçalves, havendo, com
efeito, elegido diversos Deputados Estaduais e Federais, Vereadores, Prefeitos
e mesmo um Governador (Jorge Lacerda, de Santa Catarina), sendo importante
frisar, ainda, que, em 1955, quando candidato à Presidência da República,
Plínio Salgado foi o candidato mais votado no Paraná e teve votação expressiva
em diversas outras províncias brasileiras.
Por
derradeiro, cabe enfatizar que, diversamente, uma vez mais, do que afirmou o
Sr. Leandro Gonçalves, Plínio Salgado não “apoiou de maneira incondicional” o
regime instaurado a partir de 1964, havendo se oposto, por exemplo, ao Ato
Institucional nº 2, de 1965, que extinguiu todos os partidos até então
existentes.
Notas:
1 SALGADO, Plínio. O
pensamento revolucionário de Plínio Salgado (antologia organizada por Augusta
Garcia Rocha Dorea). 2ª ed. ampl. São Paulo: Voz do Oeste, 1988, p. 97.
2 Idem. A Quarta
Humanidade. 1ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1934, p. 79.
3 CARNEIRO, Glauco.
História das revoluções brasileiras. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Record,
1989, p. 360.
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