sexta-feira, 26 de abril de 2024

Questão de honestidade (27/10/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Questão de honestidade (27/10/1936)

Plínio Salgado

Suponhamos que temos diante de nós um Jornal de Paris. Esse jornal traz um artigo sobre o Rio de Janeiro. O artigo diz assim:

"O Rio de Janeiro é uma cidade populosa, com quinhentos mil habitantes. É banhada pelo Oceano Pacífico, que forma ali a graciosa baía chamada Porto Seguro. Algumas montanhas emolduram a paisagem daquela capital, entre elas as Montanhas Rochosas, salientando-se um vulcão chamado Chimborazo. Na ocasião em que visitamos aquela cidade argentina, que é capital de S. Paulo, não pudemos apreciar a arborização das avenidas, porque estávamos em pleno inverno, achando-se as arvores completamente desfolhadas. O povo do Rio de Janeiro é constituído por negros da raça Moçambique e Peles Vermelhas da raça dos Incas. Há também japoneses, cuja colônia é considerável, e chineses, em menor escala. Entre as belezas naturais se encontra um lago denominado Mar de Espanha e uma cascata cujo nome é Sete Quedas. A cidade possui vários monumentos, entre os quais uma estátua em honra a Napoleão Bonaparte, que fica no bairro do Bom Retiro, à rua da Praia, próximo ao elevador da Bahia. Um dos passeios mais interessantes é o que se faz pelo rio Amazonas, sendo muito pitoresca a ilha de Martim Garcia. Etc. Etc.".

Lidas estas linhas, o leitor, que mora no Rio de Janeiro, tem nos lábios, apenas, esta palavra, incandescida pela revolta:

Desonestidade!

Pois bem. Em relação ao Integralismo é o que lemos todos os dias.

Os nossos inimigos nos atacam diariamente. E, todos, sem exceção, demonstram desconhecer completamente o assunto de que tratam.

Querem dar aos seus leitores a descrição de um aparelho telegráfico e descrevem, para esclarecê-los, uma máquina de descaroçar algodão. Querem explicar o que seja uma máquina de escrever e descrevem uma cafeteira.

Poderíamos dizer: é ignorância. Não podemos, porque se trata de homens que sabem ler e escrever. Temos de empregar outro termo. E o termo é este:

- Desonesto.

O Integralismo já publicou 52 livros. Esses livros já têm sido objeto de estudos, de críticas, de elogios, de divulgação na Argentina, no Chile, no Uruguai, na Venezuela, em Cuba, nos Estados Unidos, em Portugal, na Alemanha, na Itália, na França. Ainda há dias me contava o herói da aviação francesa, Mermoz, que ele próprio, que pertence aos "Croix du Feu", já traduziu um livro de Gustavo Barroso. O reitor da Universidade de Cuba me escreveu, há cerca de um ano, pedindo mais livros integralistas, pois já conhecia outros. No "Diário de Notícias", de Lisboa, Malheiros Dias, grande intelectual e diplomata, publicou um longo estudo sobre os meus livros integralistas. Revistas do Chile transcrevem capítulos de nossas obras. Em Buenos Aires é publicado em castelhano o "Manifesto de Outubro". Dias atrás, o escritor Leon de Poncins enviava a mim e Gustavo seus livros, com referências entusiásticas aos nossos. Enfim, seria escrever páginas e páginas para contar um pouco da repercussão dos livros integralistas no Exterior.

Quanto ao Brasil, basta dizer que, somando-se as edições de todos os livros Integralistas, já atingimos uma tiragem de mais de trezentos mil exemplares, e não sou eu quem o afirma. Que os honestos, - é claro que não me refiro aos nossos detratores que são homens sem moral, sem dignidade e charlatães do jornalismo e da tribuna - peçam os dados estatísticos aos seguintes editores: "Civilização Brasileira", "Schmidt Editor", "Editora José Olympio", "Livraria Odeon" (S. Paulo), Antunes & Cia., Revista "Panorama", "Editora Verde Amarelo" e verificarão que os mercados brasileiros consomem centenas de milhares de nossos livros. Além disso, publicamos vários jornais diários e cerca de uma centena de semanários. Todos falam da nossa doutrina.

Porém fazemos mais: realizamos semanalmente, em cada Núcleo do país (e são 3.000) conferências doutrinárias, são 12.000 conferências por mês. São 144.000 por ano.

Do "Manifesto de Outubro" publicamos, desde 1932, mais de dois milhões de exemplares; do "Manifesto-Programa", desde o começo deste ano, mais de 200.000 exemplares.

Note-se que todos os Núcleos fazem publicações de folhetos e panfletos doutrinários.

Aqui no Rio, temos realizado vários cursos sobre História, Direito, Economia, Finanças, Filosofia, Arte.

Tudo isso para explicar o que é o Estado Integral, muitíssimo diferente do Estado Totalitário. Tudo isso para demonstrar que não adotamos a técnica de Sorel, pois Sorel é darwinista, é materialista, e nós somos espiritualistas.

Tudo isso para provar que não somos inimigos da Democracia, pelo contrário, somos os seus salvadores, pois a Democracia foi morta por insuficiência de seus órgãos, e nós queremos criar novos órgãos para revitalizar a Democracia.

Tudo isso para tornar evidente que respeitamos a "pessoa humana", que fundamos nossa doutrina no principio do livre-arbítrio, que a liberdade do homem é o maior dom de Deus e que nós queremos justamente um sistema democrático que possa garantir a intangibilidade da pessoa humana.

Repetimos mil vezes que nada temos que ver com fascismo nem hitlerismo, que somos coisa diferente.

Miguel Reale escreve um livro notável que é elogiado pelos homens mais cultos do país e do Exterior; Gustavo Barroso que encanta os espíritos mais cultos e elevados deste e de outros países; Jayme Regalo prova, em centenas de páginas claras e insofismáveis, que desejamos uma Democracia; eu escrevo, escreve uma plêiade de valores novos. Tudo está batido e rebatido, pisado e repisado, já nos fatigamos de chover no molhado. E, ao cabo de tanto escrever e de nossos editores lançarem ao mercado edições sobre edições, pois somos hoje a mais procurada literatura nas praças do país, vem um idiota pretendendo dar lições a homens do valor de mais de uma centena de professores de Faculdades Superiores do Brasil, a querer ensinar o Padre Nosso para o Vigário, explicando que o Estado Totalitário vem de Hobbes e quejanda.

A palavra "idiota" não calha bem. Desonestos é que são todos aqueles que discutem sem conhecer o assunto de que tratam.

E é isso exatamente o que está desgraçando com o Brasil. A falta de honorabilidade dos foliculários e dos discursadores chegou ao extremo neste país.

Que sejamos atacados, está muito bem. Mas que sejamos atacados pelos que conhecem o que seja o Integralismo, e conhecendo, tenham competência para discuti-lo.

A desonestidade neste país de articulistas sem caráter só conhece dois métodos: atacar sem conhecer; ou atacar, conhecendo e torcendo, mentindo, miseravelmente.

A inteligência de certos jornalistas passados da moda, dessas solteironas da Imprensa, que se tornam histéricas diante dos valores novos que surgem, é uma inteligência de voo rasteiro, incapaz de acompanhar os surtos do Pensamento Novo.

Não poderei explicar a essas bruxas de jornal o que seja Estado Integral, porque elas não compreenderiam e levariam toda a noite a coçar as próprias orelhas com os cascos; não poderei dar a essas comadres alcoviteiras uma ideia da diferença entre o Estado Totalitário e o Estado Integral, pois a menopausa lhes perturba o entendimento.

Dir-lhes-ei, pois, sinteticamente, para que guardem e aproveitem esta definição:

Senhores Jornalistas ignorantes ou venais, o Estado Integral é aquele dentro do qual os senhores, ao invés de estarem aborrecendo a paciência dos que querem trabalhar pela Pátria, estarão na cadeia, que é a lugar dos que vendem a consciência aos sindicatos estrangeiros.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 27 de Outubro de 1936.

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