sábado, 27 de abril de 2024

CARTA AOS BAIANOS (29/04/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

CARTA AOS BAIANOS (29/04/1936)

PLÍNIO SALGADO

Eu compreendo, camisas-verdes baianos, as razões dos castigos que estais sofrendo, nas cidades humildes do vosso interior. Seria um absurdo que não recebêsseis o pagamento por tudo quanto tendes feito, desde que desfraldastes, junto ao mar ou junto às selvas, sobre as areias das vossas praias ou sobre o peito dos planaltos e chapadas, a bandeira azul e branca do Sigma.

Se nada sofrêsseis pelo que tendes praticado, isso apenas significaria que o Integralismo era uma coisa perfeitamente dispensável e que a vossa campanha não tinha nem oportunidade e nem utilidade. Se todos os vossos patrícios vos compreendessem e respeitassem, eu perguntaria: então, para que o Integralismo, se todos já são bons?

Assim, ao contrário, sofrendo as perseguições mais tremendas, tornais patente quanto se faz mister cresça o nosso movimento e empolgue todos os espíritos, uma vez que existe ainda quem vos odeia pelo crime de amardes o Brasil, de que sois acusados.

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Estais no banco dos réus, camisas-verdes baianos.

Tendes de responder, perante a Nação, pelas nossas faltas. Quais são elas, que merecem tanta violência na repressão a que vos submetem?

Estais acusados, Integralistas baianos, de crime hediondo que cometestes na tarde em que arrancastes violentamente das mãos dos comunistas a Bandeira Nacional e marchastes, em seguida, levando à frente o pavilhão sagrado, todo pintalgado de dizeres obscenos com que o profanaram os adeptos de Moscou.

Lembrai-vos? Que dia glorioso: A população da vossa Capital veio para as ruas, para vos aclamar. Passastes pela rua do Chile, por entre o tempestuoso clamor dos aplausos e as lágrimas das famílias baianas, que viam no vosso gesto, mais do que uma atitude de bravura, traduzindo a mística da Pátria, pois éreis, naquele instante, a própria garantia dos lares em face das ameaças dos bárbaros de Moscou.

Que grande crime: Tomar a Bandeira Nacional das mãos dos bolchevistas que a vilipendiavam!

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Sois também acusados de haver arriscado as próprias vidas durante o temporal que arrasou a vossa Capital, para salvar mulheres e crianças, tomando do alvião e da enxada, para remover os entulhos do beco do Frazão. Respondeis pelo pecado de haver recolhido centenas de infelizes em vossas sedes, proporcionando-lhes abrigo e, mais do que abrigo, o vosso carinho fraternal. Cai sobre vossos ombros o grave libelo articulado por todos os que assistiram vosso empenho em angariar donativos para os infelizes sem teto.

Como pretendíeis passar incólumes, depois que a Câmara dos Deputados da Bahia, sem discrepância de uma só voz, reconheceu de público o vosso gesto arrebatador, votando, por unanimidade, um louvor aos heróis da verde milícia, que comoveram e empolgaram a alma desse povo generoso? As palavras com que fostes consagrados no Parlamento provincial, e que tiveram a aprovação de todos os partidos, devem ter ficado ecoando nos céus da Bahia, a reclamar o castigo dos deuses estrangeiros, inimigos da Pátria!

Atingir tão alto e com tanta honra os degraus da benemerência pública; tornar-se ídolos da população da Capital; ser consagrados por aqueles que o povo elegeu seus representantes; conquistar a confiança das famílias; receber as bênçãos de infelizes, - por certo que tudo isso traria suas consequências, as consequências que estais sofrendo, agora que vos prendem, vos espancam, vos atormentam e vos humilham.

Também Cristo padeceu suplícios atrozes, porque restituíra saúde a enfermos, enxugando as lágrimas dos aflitos.

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O crime mais hediondo que cometestes, porém, foi em novembro. Cooperastes com o governador Juracy, para fazer abortar a revolução comunista. Tudo estava preparado. Vás vos infiltrastes na Brigada Estadual e aqueles que por baixa da farda traziam o sinal que vos identifica, não permitiram que o vírus bolchevista pudesse fazer levantarem-se batalhões contra o Governo Baiano. Fizestes mais. Aqueles que, no Exército Nacional, trazem também por baixo das suas fardas um coração integralista, articularam os camisas-verdes com a mais alta autoridade da Região Militar. Por vosso intermédio e em harmonia de ação com um inspetor de Tiros de Guerra, evitastes uma rebelião. Estáveis alerta sobre os conspiradores da península de Itapagipe, os comunistas de Massaranduba, que pretendiam fazer explodir os depósitos de combustível da Cidade Baixa e auxiliar o grupo de rebeldes que deveria assaltar quartéis. E fizestes mais, além de descobrir esse plano: à voz do Chefe Nacional oferecendo ao presidente da República cem mil homens para a defesa da Ordem, vosso Chefe Provincial colocou à disposição do Comandante da Região, coronel Delfino, trezentos homens escolhidos em duas horas e dez mil (10.000), desde que lhes fossem dados transportes. Tudo isso que fizestes é um crime que deve ser realmente punido. A estas horas Moscou deveria estar governando o Brasil pela mão de ferro de um técnico soviético, depois de fuzilados todos os brasileiros que tivessem ajudado o triunfo miserável dos comunistas. A estas horas deveriam os lares estar conspurcados, as igrejas incendiadas, a soberania nacional morta, a vergonha do Brasil esmagada e enlameada. E vós concorrestes, tanto quanto vossos irmãos de outras Províncias, no intuito de prestigiar o mais possível o Governo Estadual que agora consente a vossa perseguição e que então se achava empenhado em rechaçar o inimigo estrangeiro.

Porém, a série de vossos crimes é interminável...

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Fostes ao sertão. Ali, o sertanejo estava desamparado de todo conforto moral. Já não sabia bem o que significa a palavra Pátria. Ensinastes ao sertanejo a mística do Grande Brasil. A demonstração que todas as zonas do sertão baiano fizeram por ocasião do vosso Congresso Provincial foi impressionante. Com que vibração toda essa gente brônzea e forte cantava o Hino Nacional:

Não! Não era possível que os políticos de aldeia pudessem perdoar isso, o esclarecimento das consciências. E não era possível que os partidos da República pudessem tolerar a gigantesca manifestação com que o povo baiano, acompanhando-vos no mesmo entusiasmo, recebeu, em São Salvador, o Chefe do Integralismo Brasileiro! Dizem aí que nem mesmo Ruy Barbosa, na campanha civilista, no esplendor do seu gênio, na glória universal de seu valor e sob o ardente afeto da gente de sua Província, presenciou uma coisa igual. Foi, realmente, uma tarde maravilhosa de esperança, de fé; foi uma apoteose à ideia da Pátria Total, da Pátria Unida, do Brasil Forte e Poderoso.

Os políticos não vos podem perdoar essas coisas. É muito. Estais condenados. Deveis sofrer Justo é que sofrais. Necessário é que se triture vosso coração. Fica assim demonstrado que o Integralismo é uma necessidade nacional. Há ainda muitos brasileiros que devem ser conquistados. Entre eles, o próprio governador da vossa Província.

Comovei vossos perseguidores com o vosso suplício. Que a aureola de mártires, que ilumina as cabeças dos camisas-verdes da Bahia, possa enviar uma centelha aos corações de vossos adversários. Vossos padecimentos serão fecundos. Eles estão comovendo toda a Pátria. Espancados, humilhados, tendo vossa camisa verde arrancada do corpo, ameaçados por todas as formas, não injuriais, não articulais senão vossos gemidos, que chegam até aos ouvidos do vosso Chefe.

Esses gemidos chegarão até ao Altíssimo. E do mesmo modo como vos tenho conquistado, como de 40 homens chegamos a 800 000, também nutro a esperança de que, pela vossa dor, tocarei as almas de vossos inimigos. Eles serão ainda integralistas. Eles se sentirão tocados pela graça suprema do amor ao Brasil,

A vós, camisas-verdes da Província Mártir, envio a minha palavra incitando-vos, se é possível ainda mais à firmeza. Firmeza nas convicções. Firmeza na esperança. Certeza da vitória. Será com a alma triturada de dores que acenderemos a grade luz. A luz que resplandecerá sobre o Brasil. E criará a Civilização do Futuro.

Essa é a minha palavra de glorificação à Bahia. Essa é a minha previsão. Essa é a voz que escuto no íntimo de meu espírito, anunciando-me a vitória próxima. Voz que eu transmito aos longínquos sertões, para que ela retumbe como um clarim e levante todos os camisas-verdes, sob o estímulo e a alvorada que representa para ele a voz do Chefe.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 29 de Abril de 1936.

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