quarta-feira, 24 de abril de 2024

Camisas-Verdes incendiadas (24/04/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Camisas-Verdes incendiadas (24/04/1936)

Plínio Salgado

Na melancolia do Brasil presente, fulgura uma luz maravilhosa, prenúncio de um grande dia radioso. É a fé ardente dos camisas-verdes.

Eles não se preocupam com as coisas imediatas, com os resultados imediatos que uma luta política lhes poderia dar. Pensam, exclusivamente, no dia de amanhã. Trabalham para o Futuro.

A tristeza não lhes penetra a alma. Ela está blindada pela esperança. O abatimento não os esmaga, porque uma força misteriosa os põe sempre de pé.

Podem rugir as ameaças de todas as perseguições, podem procurar deprimi-los todas as guerrilhas surdas da mediocridade em rebelião. Os camisas-verdes continuam impavidamente a sua marcha, porque sentem na predestinação dos seus passos a segurança dos que possuem um roteiro.

As trevas das incertezas tombam pesadamente sobre os espíritos, inquietam os timoratos, desorientam os que lutam perdidos, nesse grande pântano moderno de paixões e de crimes, de traições e perfídias. O camisa-verde, porém, não teme nem as trevas nem a confusão tremenda dos dias nervosos que transcorrem: seu caminho será sempre iluminado pela Via-Láctea dos destinos nacionais, desses destinos que ele sabe serão gloriosos na força e no esplendor das gerações vindouras.

Os camisas-verdes não possuem mais tambores, porque sua Milícia, formalmente, extinguiu-se; não a quiseram os adeptos de Moscou, Mas ontem eu vi o rumor dos passos dos moços da Academia Esportiva em Cascadura, com o mesmo timbre dos passos de oitocentos mil camisas-verdes da Nação. O rumor desses passos falava qualquer coisa sublime. A certeza de um objetivo. A glória de uma consciência esclarecida. A alegria da vitória, que já está sendo alcançada, como força moral inconteste na hora transcorrente. O sentido profundo das intimas deliberações nacionais, que se processam no rebojo do subconsciente da Pátria.

Sabemos de onde viemos: das inquietações de um Povo.

Sabemos onde estamos: nos sonhos da Juventude

Sabemos como iremos: com a segurança das ideias claras, definidas, através de uma campanha feita de franqueza e lealdade, sacrifício e heroísmo.

Sabemos para onde vamos: para o início de uma Nova Civilização.

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É por isso que os camisas-verdes se preocupam, tanto com as crianças. Há mais de cem mil crianças que vestem a camisa-verde. Crianças de todas as idades. Desde aquelas, em cujo olhar já lampeja o alvorecer de uma Consciência Nova: ardentes meninos e meninas, vibrantes de entusiasmo e de alegria, até aquelas que, de bracinhos rechonchudos, de cabecinhas louras, ainda nos braços de suas mães, erguem as mãozinhas e exclamam "anauê!”.

Os camisas-verdes veem nessas crianças a Grande Nação que eles, os pioneiros, os vanguardeiros, os sacrificados, estão construindo, pedra a pedra, sobre os alicerces de um nacionalismo como jamais existiu no país, e segundo os lineamentos harmoniosos de um espiritualismo, que encontra as fontes supremas de inspiração nas tradições da Pátria.

A Pátria do Futuro! Que grande Pátria será o Brasil!

Esse milagre ninguém mais poderá dizer que os camisas-verdes não o realizaram. Pois tudo o que se manifesta hoje, mesmo fora do âmbito de sua ação tenaz, no sentido de afirmar os valores da nacionalidade e defende-los contra seus inimigos internos e externos, tudo, por mais que queiram negar, é o resultado da influência integralista, da atmosfera criada pelo calor da fé integralista, da pressão moral exercida pelos integralistas, do prestígio formidável que os integralistas hoje gozam no seio das famílias brasileiras.

Esse milagre já está realizado. Os camisas verdes sabem que o Brasil, agora, já não será no futuro uma pequena República. A força arrancada dos recessos da alma patrícia, pelos soldados do Sigma, cresceu de tal forma, multiplicou-se tão rapidamente, que se fortalece todos os elementos de defesa da Nacionalidade, em todos os setores das atividades de um Povo.

Incendiado de amor ao Brasil, o remoto sertão vibra hoje nas verdes labaredas anunciadoras da próxima alvorada. No recesso das fábricas, dos quartéis, das escolas, nos bairros proletários, nas pequenas cidades e nas grandes metrópoles, arde um fogo novo, um fogo sagrado. Ele, a princípio, era uma centelha. O sopro divino, suscitador dos grandes acontecimentos históricos, perpassou sobre ela. Como essas grandes queimadas de Agosto, que barram os horizontes de clarões de apoteose, lastraram as chamas sagradas. Quem, hoje, poderá detê-las?

Numa cidade pequena da Bahia, a polícia varejou as casas dos camisas-verdes, arrecadou cento e poucas camisas, embebeu-as em querosene, incinerou-as na praça pública, num verdadeiro auto de fé inquisitorial.

Que grande cena épica. Maravilhoso espetáculo resplandecendo, na noite do sertão baiano, como a flama de uma pira votiva!

No peito do sertão, no silêncio, do sertão, sob os céus estrelados do sertão, diante dos olhos humanos, exprimindo as longas dores do sertão, que poderíamos nós, camisas-verdes da Pátria, oferecer ao Altíssimo, como os antigos sacerdotes orientais ofereciam sobre as aras do sacrifício?

Ao Senhor Deus dos Exércitos, ao Senhor Deus que aos brasileiros ofereceu um altar de estrelas no firmamento, com a Cruz do seu Suplício e da sua Glória; ao Inspirador de todos os triunfos, ao condutor de todos os povos aflitos; ao Eterno, que oferece à melancolia da paisagem noturna as refulgentes barras brancas das alvoradas e o rutilante rubor das auroras: que poderíamos nós oferecer, num rito misterioso e profundo, num gesto de suprema beleza épica, senão esse holocausto?

Sim! Os Incas sacrificavam ao Sol diante dos primeiros sinais do dia. Nós, também, pressentimos os primeiros alvores da glória do Brasil, da liberdade do Povo Brasileiro, do sonho humano de felicidade: Devemos sacrificar a Cristo Rei do Brasil, que os camisas-verdes mais alto entronizarão, quando formos uma Nação Forte, uma Potência no Mundo, devemos sacrificar a Ele o que nos é mais caro.

Nos dias iniciais do mundo, Abel escolhia as ovelhas mais nédias, mais belas, para levá-las à ara do Senhor. Para nós, camisas-verdes, nada é mais sagrado do que a nossa camisa simbólica.

A polícia do Capitão Juracy oficiou como um magno pontífice no sertão da Bahia. Aquelas camisas estavam embebidas do suor dos que lavram a terra, dos que gemem na gleba, dos que lutam contra as secas, dos que choram no desamparo, dos que vestem humildes calças e paletós esfarrapados, dos que aspiram uma vida melhor, que sonham uma Pátria mais justa, dos que trazem consigo as tragédias sertanejas, o peso dos sofrimentos, curvando-lhe os ombros, os desesperos de quatrocentos anos de história nacional, de lutas ásperas, escravidões dolorosas e esperanças malogradas!

Daquela fogueira, certamente, desprendeu-se o cheiro daquele suor. Um cheiro de Terra e de Sangue. Um cheiro de mata, de caatinga, de poeira de caminhadas, de pólvora de todos os crimes, lamas de inundações, rescaldo de secas atrozes, aroma de chiques-chiques, de mandacarus, de palmas de chapadões, de oiticica e de juazeiro.

Cheiro de Brasil. Cheiro da grande tragédia secular. Fumo denso, subindo para o céu, como um apelo de misericórdia erguido por um povo escravo e sofredor. Crepitar de chama como soluços de populações aflitas, de lares infelizes, de magoas recalcadas.

Voz da Raça. Voz da História. Clamor do sangue.

Fogo vivo de uma fé. Fogo de camisas-verdes incendiadas! Que espetáculo soberbo a Bahia Mártir, a Bahia Integralista, a Bahia, hoje, ídolo de todos os soldados do Sigma, da Pátria, nos ofereceu!

Esse quadro passará para o Futuro. Para o Futuro, que nós construiremos. Para o Futuro que, pela voz dos filhos dos nossos filhos e dos netos dos nossos netos, exaltará o sacrifício da geração presente e cantará a glória imortal do camisa- verde do Brasil!

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 24 de Abril de 1936.

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