sábado, 6 de abril de 2024

Direito e dever de exigir (03/11/1936)

 

Esclarecimento: A publicação do Artigo abaixo só foi possível graças à generosa colaboração do Prof. Paulo Fernando, conhecido Líder Pró-Vida, profundo pesquisador da História do Brasil, possuidor da maior Pliniana existente, que nos permitiu o acesso a sua Hemeroteca; e, atualmente, é Deputado Federal pelo Distrito Federal. Aos que desejarem conhecer mais o trabalho do Prof. Paulo Fernando indicamos: https://www.instagram.com/paulofernandodf/

Direito e dever de exigir (03/11/1936)

Plínio Salgado

Os próprios integralistas não têm, não podem ter noção do volume do Movimento a que pertencem. Nem mesmo os Secretários Nacionais, cujo trabalho é enorme, podem avaliar o que seria em conjunto, o funcionamento desta máquina colossal que é a Acção Integralista Brasileira.

Se eu dispusesse de grandes recursos financeiros, por certo que o meu trabalho seria diminuído em pequena parte. Mesmo assim, ficar-me-ia uma tarefa gigantesca. Quanto mais que, como tem sido desde o primeiro dia, supro com atividade permanente as deficiências materiais.

É preciso considerar que o Integralismo, além de ser um partido político de âmbito nacional, o que, só, cumula de trabalho contínuo e absorvente a um homem na sua chefia, é também uma sociedade civil com fins múltiplos: de assistência social, de educação moral e cívica, de cultura filosófica, científica e política, de cultura artística, de propaganda no Exterior.

Cada um desses setores se subdivide. Assim, o sector de assistência social se subdivide em assistência médica, assistência judiciária, colocações, assistência econômica, assistência à infância. O setor de educação moral, cívica e física, subdivide- se em organizações da infância, da juventude e de adultos, abrangendo variados cursos. O sector de cultura geral, abrange todo um movimento de cursos, conferências, edições de livros, departamentos e secções de pesquisas e estudos. O sector de cultura artística abrange a literatura, a pintura, a escultura, a música, a arquitetura.

Temos uma Secretaria de Arregimentação Feminina, uma Secretaria de Propaganda, uma Secretaria de Assistência Social, outra de Finanças, outra de Corporações e Serviços Eleitoris, outra de Doutrina e Estudos, outra de Cultura Artística, outra de Imprensa, outra de Educação Física e Cívica, outra de Relações com o Exterior.

Além desses serviços, cada um dos quais exige um exército de funcionários, temos ainda o formidável expediente da Chefia Nacional.

Estou em contato com as dez Secretarias Nacionais, com os membros do Supremo Conselho Integralista, com a Câmara dos Quarenta e suas cinco comissões, com os 23 Chefes Provinciais, cada qual com uma infinidade de assuntos a tratar comigo.

Só no tocante ao partido político que é a A.I. B., isto me dá um trabalho colossal, pelo crescimento, cada vez maior do integralismo e complexidade de seus serviços. Temos o trabalho eleitoral e o trabalho sindical, a luta com os nossos adversários, não se falando no tempo que gasto em atender a próceres políticos não integralistas ou personalidades que me procuram. O trabalho político é feito por intermédio da Secretaria das Corporações e Serviços Eleitorais mas uma infinidade de coisas me vêm para serem resolvidas por mim, diretamente, e não há outro remédio.

Os meus patícios precisam ter em vista queu não sou apenas o Chefe de um partido nacional, mas o Chefe de uma organização nacional de numerosos serviços de natureza diversíssima. Além disso, chefio um Movimento cultural, que oriento filosófica e politicamente. Oriento uma revolução no campo do pensamento e várias revoluções em vários setores, porque o Integralismo é um "método" a se aplicar a todos os ramos das atividades intelectuais humanas.

No Brasil já houve um chefe político que cuidava de assuntos políticos no Brasil inteiro. Chamava-se Pinheiro Machado. Mas cuidava só de política. No Brasil já houve filósofos, como Farias Brito, Sylvio Romero, Tobias Barreto, mas cuidavam só de filosofia.

No Brasil já houve e á Jornalistas que dirigiram ou dirigem um, dois ou mais jornais, mas cuidavam e cuidam só do jornalismo.

No Brasil já houve e há sociólogos, que pesquisam sobre as realidades brasileiras, mas cuidaram ou cuidam somente de sociologia.

No Brasil já houve oradores, como Ruy Barbosa, que fazia campanhas políticas pronunciando duas dúzias de discursos numa campanha, mas esses só cuidavam dos discursos, sendo a parte de organização e de direção prática afeta a outros.

No Brasil já houve e há propagandistas de campanhas nacionalistas, mas só cuidaram de campanhas nacionalistas.

Quem publica livros, só publica livros, quem faz jornalismo, só faz Jornalismo; quem chefia partido, só chefia partido; quem faz discursos não faz outra coisa; quem dirige sociedades beneficentes ou culturais, não tem tempo para dirigir outras coisas.

Pois eu ando há quatro anos chefiando partido (e partido nacional); publicando livros (e neste tempo já pus dez a lume); fazendo discursos, e já realizei cerca de 800 conferências; dirigindo um plano de assistência social e de educação popular; e trabalhando em jornal (aqui compareço diariamente, não se falando nos outros jornais em que escrevo).

Isto é um trabalho colossal. Só o tempo que gasto em atender os que me procuram, em ler as cartas e telegramas que recebo (os mais selecionados, pois o grosso é lido pelos Secretários) é um tempo enorme.

Acrescente-se que faço frequentes viagens, que presido a congressos, que leio regulamentos, diretivas, que presido a trabalhos de comissões, e meus patrícios terão uma pequenina ideia do que é o meu serviço.

Conheço pessoalmente a milhares de Integralistas de todo o país, resolvo casos pessoais, atendo paternalmente os que me procuram, ando em dia com o Movimento em todos os Municípios do Brasil e estou a par da quase totalidade dos aspectos políticos municipais.

Ainda arranjo tempo para ler jornais, dar entrevistas no país e no exterior.

Fazendo tudo isso, dar-me-ei por satisfeito se conseguir evitar que o Brasil se esfacele no separatismo ou se avilte ao comunismo, e se as gerações de hoje lançarem os sólidos alicerces de uma nova civilização, de uma cultura, de uma política genuinamente brasileira.

Não trabalho num país pequeno como a Alemanha ou a Itália, como a Bélgica, ou Portugal, como a França, ou a Áustria. Trabalho num país que tem o tamanho da Europa, sem meios de comunicações fáceis.

Não recebo dinheiro do Soviet, como esses covardes que se dizem liberais democratas, defensores do regímen, enquanto preparam na sombra o golpe contra a República. Não tenho à minha disposição tesouros de Estados, como certos governadores metidos a Messias em discursos e atitudes de pais da Pátria. Não prometo emprego; nem dinheiro, pelo contrário, exijo sacrifício, disciplina. Não vivo agradando nem fazendo salamaleques a ninguém. Não peço a ninguém para vir para o Integralismo. Lanço a doutrina da dignidade nacional e do sentimento de humanidade, de justiça, de espiritualismo.

Esse é o meu trabalho. Não o faço por ambição, pois não sou daqueles que pedem cousas à Pátria, mas daqueles que querem dar à Pátria, sem paga de espécie alguma.

Não estou fazendo nenhuma questão, nem de atingir o Poder, nem de chefiar este Movimento. Não fico agradecido a quem quer que seja pelo fato de vestir a camisa-verde. Seria uma indignidade para mim e para esse alguém, que eu lhe agradecesse pelo fato de cumprir um dever de honra, de brio, de honestidade.

Fazendo o que faço, entendo que os que assim não fazem não são dignos do Brasil nem dos seus descendentes. Estamos num momento decisivo. Ou damos tudo pelo Brasil, ou nos aviltamos perante a nossa própria consciência. Essa é a palavra de um homem que trabalha 18 horas por dia, há quatro anos, sofrendo toda a sorte de injúrias covardes e diatribes infames, aguentando caladamente o peso dos maiores padecimentos, e que, nesta hora, sente-se com o direito de se dirigir de cabeça erguida aos seus patrícios para lhes dizer: quem não estiver comigo não esta com o Brasil, porque eu nada quero senão a grandeza e felicidade do meu Povo, pois o prêmio não o busco na efemeridade deste mundo nem na fraqueza dos corações humanos, senão no seio d'Aquele por cujo amor desejo uma Grande e Luminosa Nação.

Publicado originalmente n’A OFFENSIVA, em 03 de Novembro de 1936.

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